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BODAS VINTAGE REPTILIANAS
BODAS
VINTAGE
REPTILIANAS

A noiva estava linda, vestida com tecido, tecido do cimento armado tradicional dos vestidos de noivado, apertou a mão de seu querido e aluado namorado, e disse:

— Querido, esses punhos de Chitãozinho nesse elegante terno aveludado, está tão bonito que eu, ao te ver nele, até ne comovi e chororei.

— Querida, você motivou minha vida. Antes de você eu invejava quem namorava. Com você reencontrei a ficção na realidade do casamento.

Neste mesmo momento ouviu-se uma voz engasgada, presa, perturbada, a dizer, vinda da sacristia da pequena ermida, onde o padre guarda os paramentos: uma arara, que nem um papagaio, falava:
— “Parabéns paisano, vale tudo no ânus. Craaahahah, Quackre, Craaahahah”!!!

O sacristão enrubesceu. Ele havia comprado a ave na feira, preço módico, para presentear o padre que oficiava na paróquia de Nossa Senhora dos Partos. Não sabia, nem de longe, que o bicho falava coisas pouco edificantes. Monsenhor estava de aniversário, completava 69 ânus. Ele caminhava em direção ao altar, mas voltou-se surpreso ao ouvir a ave falar. Desviando os olhos da sacristia, caminhou em direção ao altar. O noivo, elegante e perfumado, querendo agradar a escolhida, responde à pergunta do padre: — “Sim, eminência”. Mais que tudo mais na vida.

Nesse instante um jegue soltou zurrado alto e longo, como se estivesse zombando do sagrado evento. O zurro do brito durou um tempão e se repetiu duas, três, quatro vezes. Quando todos tinham certeza que o jegue tinha parado de surtar, ele começou a zurrar outra vez, com a mesma disposição de antes.

Madona Aldenora, mãe do distinto noivo, que o criara bem dotado, a custo não conteve o riso e ao mesmo tempo o vexame. O burro, mostrando acintosamente os dentes, parecia estar em crise de surto, não parava de zurrar, escoicear e mostrar os dentes, talvez numa crise de vera felicidade sem explicação racional. Exceto pelo surto. Ameaçou recomeçar a série de zurrados, mas seu Mundico, tio da noivinha e guardião do patrimônio, tinha pegado um cipó de ayahuasca e lenhou o lombo do bicho com vontade de tangê-lo para um lugar o mais longe possível. O burrico saiu escoiceando e peidando que nem um bicho que estivesse esconjurado.

— Toma tento, criatura, se acalma animal dos infernos, para com esse bafafá, estrupício. Mundico tangeu o animal para longe da capelinha onde se casava o casal, agora se sentindo um tanto quanto agastado.
Após a cerimônia nupcial, o casal e o núcleo do evento festivo se posicionaram num cercadinho enfeitado de flores donde recepcionavam os convidados. Dali atendiam os convivas e seus presentes. Para cada conviva, uma rosa vermelha perfumada artificialmente com odores de Chanel Five.

O quintal do casarão fervilhava de vera festividade. Os pais de Evita, a noiva, apartaram, com a ajuda de dois ou três peões de galinheiro, a baderna que um filho de uma égua causou ao espalhar o boato de que a noiva não era mais aquela. A dupla sertaneja “Xôtãozinho & Procotó”, vendo tudo de longe, parecia estar divertindo-se, sentada numa mesa próxima ao palco montado para o show musical em homenagem aos convidados.

Um cavalo preto, chamado Afrodescendente, apareceu em meio às mesas frente ao palco, galopando, desembestado. De quando em vez parava o galope e escoiceava o ar, como se estivesse com ciúmes da atenção de todos para o casal cerimonial. Estaria sentindo-se excluído??? Pouco tempo depois o animal, a escoucear o ar, foi contido e levado ao curral do qual se distanciara. O bicho exibia, para o desconforto das famílias supostamente conservadoras presentes, o enorme pênis vascular desembainhado. O tônus erótico do garanhão não ficava flácido facilmente. Algumas madames, admiravam o pênis do bicho com as mãos levadas à boca, outras tapavam os olhos em atitude de pasmo envergonhado.

Os relinchos intermitentes finalmente pararam quando a dupla sertaneja “Cabritinho e Carijó”, começou a cantar, programada para anteceder a apresentação de “Xotãozinho & Procotó” e da dupla “Matraca & Matriarca”. A dupla ocupava os microfones enquanto os amplificadores levavam o som dos músicos para os confins das mesas dos convivas mais distantes do palco.

Seu Mundico, zelador do sítio, zelava pela saúde dos animais de quatro patas, aproximou-se de Tarik, o Afrodescendente, e o acalmou com palavras berradas de repreensão, e ao mesmo tempo de alento, como se ele, trata dor, soubesse o que havia causado essa mostra de inquietação e fúria do corcel. Havia um código de comunicação entre eles: o cavalo e seu trata dor. O corcel Tarik, uma vez acalmado, seu Mundico pode laçar o animal, encabrestá-lo, e sair da proximidade do palco ao ar livre, enquanto continuava a dialogar com ele, ainda parecendo repreendê-lo, enquanto caminhava a puxar firme o cabresto.

Madona Aldenora sempre a observar as conversas do trata dor com o garanhão, buscava, mais que ouvir, assuntar, aprender como Mundico fazia para ser ouvido pelo animal, como se as conversas entre eles tivessem uma afinidade que ela não conseguia explicar: Aldenora assuntava a comunicação, a prosa de conversa ativa, telepática, que parecia haver entre eles: os cavalos com seu Mundico. A amizade entre ele e o garanhão Branco não passava despercebida de Aldenora.

No momento, ela tinha de prestar atenção no desenrolar da celebração do casamento do filho: a receptividade, os convivas, as badalações distrativas, as conversinhas de pé de ouvido entre as comadres e a parentela da noiva, agora mulher do filho. Ela queria prever, mas não previa totalmente, os desdobramentos do casamento, até a lua de mel. Aldenora facilmente se entranhava na alma do filho, aprofundando-lhe os sentimentos.

“Lua de Mel”. Essa pronúncia ecoava longe, na profundidade distante do psiquismo mais longínquo dela. A noiva de seu filho dele se apossara. Ela, que o carregara por nove meses no ventre e o criara, não teria mais como tê-lo sempre perto, na intimidade dela para consigo mesma. Ensimesmada, ela guardava certa mágoa por ter sido trocada por outra, pela noiva. Mesmo sabendo que, com o passar dos anos, o amadurecimento teria de levá-lo para longe dela. “É, são as coisas da vida”, murmurou de si para consigo mesma.

Madona Aldenora pensava: de alguma forma ela também era a noiva, a mulher nobre que parira o filho e merecia dele toda dedicação. Sem ela, ele não existiria. A melhor vitalidade dele, deveria ser dela. Deveria ser dela o big-gang orgasmo da noite de núpcias. Lembrou-se da amizade entre Mundico e o corcel Branco. A transmissão telepática que os unia nas conversas na baia, ou quando o montava no passeio matinal. Ela estava a assuntar na cavalariça subjetiva de sua mente de mãe e nubente. Mas ela sabia, não poderia ser a esposa sempre ao lado do filho. Mesmo sabendo que, onde quer que ele estivesse, sempre seria ele, o menino dela. O homenzinho dela. Sempre por ela rastreado. Sempre por ela dominado em suas percepções de mãe, mulher dedicada.

Não haveria na mente de Aldenora paz, nem céu azul, se o produto da criação dela, o filho, o noivo, o marido, não pudesse satisfazê-la, mais e melhor, do que a qualquer outra fêmea. Ela, a mãe, ela, a noiva, ela, homenageava, desde o nome, o deus Alden. Ela, a mais nobre das mulheres da família dos quatrocentões: seu nome tinha peso social: Aldenora Leme do Prado Furquim Almeida Castanho Freitas Cunha Gago, herdeira, por parte de mãe, dos Dias Arruda Botelho.

Ela se julgava a mais nobre da espécie. Elas, as outras, nunca poderiam usufruir do lugar memorial no qual se encontrava. Agora. Aqui. Nos confins significativos da libido, da percepção aberta em sua mente, do portal ancestral do tempo perdido, proustiano. Ela vivia dele, no tempo glorioso do passado. Aprendeu, com Proust, memorizar-se.

As pessoas, os convivas, as autoridades jurídicas e políticas, as demais mães e suas filhas, falsas sibilas, sem o poder da profecia, do conhecimento e da iniciação que ela, Aldenora prezava. Ela observava as mulheres viventes no mundo supostamente casto da contenção, da miúda mente da burguesia que se queria herança da realeza europeia.

A hipocrisia plugada na fixação de ter sempre mais. Jamais, nenhuma delas poderia criar as condições para o surgimento do ser esconso, do ser oculto nas mentes, pesquisado na ciência dos doutos, badalado no silêncio e na gnose dos cultos, na erudição dos sábios estultos. Esse ser, dela saído, mas jamais revelado, exceto no mundo físico do armazenamento na nuvem de sua mente. A tecnologia dos aflitos não teria acesso à memória imemorável dela.

Seu Mundico, de seu pequeno mundo pessoal, espreitava a ânsia dos que vinham da cidade. Pareciam sempre atazanados, como se partícipes da alimentação antropofágica, na corrida concorrida de cães raivosos. Seu Mundico acreditava se encontrar num lugar de calmaria, onde podia exercitar a percepção do 3° olho que a tudo, a partir dele, a todos via e ouvi. Até mesmo com seu sexto sentido aguçado.

Nas baias separadas da cavalariça estava a presença insubmissa da mais natural das tecnologias primitivas, intuitivas: a força arrasadora dos nervos e do físico, do espírito insubmisso desse animal, o Grano, o Cavalo Branco, que lhe segredava segredos do insuspeito mundo das mulheres humanas. Sua imaginação no trato dos cavalos lhe revelava muitas coisas. Os equinos eram telepatas emissores. Ele, um telepata receptivo. Também emissor de mensagens em direção às mentes equinas.

O Grano, o Cavalo Branco lhe tinha dito que Aldenora guardava no mundo, quase inacessível para a maioria das mulheres de seu conhecimento, a memória milenar dos relacionamentos físicos com os Nefilins e as mulheres humanas do tempo bíblico citado em Gênesis e Números. Os Nefilins, seres antediluvianos, que um dia dominaram terrivelmente a Terra habitada também por elas. Elas, as fêmeas humanas eram facilmente sodomizadas por eles, como se fossem brinquedos abusados. Os machos humanos, nem de longe, poderiam competir com eles, eles, eles filhos dos Anjos Caídos com madonas terrenas. Aldenora, no fundo de seus quereres, ainda guardava a memória daqueles seres. Com uma dose cavalar de sadomasoquismo nos nervos.

A memória milenar da posse de seu corpo indefeso. Como poderiam reagir à pegada desproporcional deles, filhos dos Anjos Caídos??? Deles, filhos gigantes do conluio bestial entre Anjos Ets e fêmeas da espécie humana. O Grano, o Cavalo Branco inquieto na baia, dizia, diretamente à mente do tratador Mundico, por meio de entranha forma animal de telepatia, que a memória de Aldenora desses eventos, anteriores ao Grande Dilúvio, voltava a surgir em seus momentos de fruição erótica da relação sexual presenciada por ela, entre cavalos e éguas no cio.

Aldenora adaptara a memória daqueles eventos bestiais entre os filhos de Anjos Ets Caídos, com mulheres humanas, à sua própria realidade de mulher sedutora. Sedutora e fêmea que também, à revelia deles, se servia, a seu modo, desses seres. O desejo sexual nela se acentuava, quando sentia as mensagens telepatas do Grano, o Cavalo Branco ganhar sua mente e inundar seu corpo de um desejo mórbido e desproporcional, advindo dos tempos antediluvianos. A telepatia emissora do Grano, o Cavalo Branco lhe dizia, na quietude dos rápidos relinchos, que ela lembrava da posse dos corpos das mulheres antediluvianas, posse de seus corpos indefesos, diante da investida desigual dos Nefilins e seus órgãos sexuais não mencionados no Livro de Enoque.

O Grano, o Cavalo Branco em sua baia, esperava tranquilo o momento de realização maior da mágica façanha desejada por Aldenora. Ela se imaginara sendo possuída pelo membro ereto de 50 cm do cavalo preto, o Afrodescendente. Seu filho que se unira na cerimônia de casamento com a noiva Angelita, singela, donzela, não tão virginal, estava longe de saber que seu noivo tinha sido produto do sêmen e da mórbida relação sexual dela, Aldenora, com o garanhão Branco na baia, numa madrugada chuvosa e sombria, apesar dos relâmpagos e trovões que assombraram a herdade, lá estava el excitada perto dele.

A herança dessa memória maldita, ancestral, por ela preservada nos confins de sua mente inconsciente, talvez tenha originado a peste do “vírus emocional sodomita” que assola a espécie sapiens e seus longínquos descendentes dos Nefilins. Os Anjos Ets israelitas Caídos, teriam sodomizado também os filhos do sexo masculino das mulheres que com eles coabitaram.  Espécie Homo sapiens ainda paga por seus desregramentos.

Aldenora tinha em mente que os judeus do Templo de Salomão, administravam um portal para demônios e satanistas, descendentes dos sodomitas os escravizados, por quatrocentos ânus, no Egito. Eles e os negros negreiros, por trezentos ânus sodomizados pelos senhores e feitores da Casa Grande, são seus mais característicos descendentes e sucessores. Herança cultural ancestral dos Nefilins. Aldenora se tinha como sendo uma Sacerdotisa do Antigo Templo da Serpente Narciso.

A festividade parecia envolvida num circuito de eventos bizarros, a começar pelo momento em que o padre terminava a cerimônia de casamento, e ouviu-se a voz, outra vez engasgada, presa a uma pronúncia cava, quase afônica, que parecia ironizar o sagrado ofício litúrgico, a repetir:

— “Parabéns paisano, vale tudo pelo ânus... Craaahahah, Quakreka, Craaahahah,”!!! “Sim, eminência”. A pergunta à noiva fora respondida, mas não sem um senão de vexame e perturbação da cerimônia. Para completar a vexação, o zurrado intermitente do brito, com uma disposição de fôlego dos diabos. Disposição contida com o cipó de ayahuasca de seu Mundico.

O cérebro reptiliano de Aldenora convocava e conversava com o cérebro límbico dela e dizia: “uma mulher, uma fêmea humana ou não humana, nasce para ser Sacerdotisa da Serpente Narcísica da Criação”. Um macho humano nunca teria como seduzir uma mulher da satisfação insana que delas fazia brotar a penetração uterina e anal de um Nefilins. Um Nefilins poderia chegar a cinco metros de altura. Ela pensava: “qual a dimensão de seus pênis”??? Nem o Livro de Enoch mencionara essa informação. Mas ela, mórbida mente imaginava.

O Grano, o Cavalo Branco na baia havia capturado a memória ancestral de Aldenora. Sabia ele de suas necessidades mais esconsas, dos pensares que mais a afligiam.  O que ela escondia nas reentrâncias de seu cérebro agitado, reptiliano??? Ele, Grano, o Cavalo Branco, sabia.

O transtorno maníaco-depressivo de sua própria alucinação, Aldenora buscava controlar. Ela pensou naquela mulher alegrete, aparecida na Tv visão: sempre animada, agradável, simpática, de sorriso largo, uma verruga no meio da testa, parecendo sempre mexida e estimulada, animada por estranha e íntima alucinação, como se fosse uma marca registrada da sua 3ª Visão. Sem saber por que, a memória empática mudou o paradigma, no pensamento mais interiorizado dela.

Aldenora olhava, na festa, com certa admiração, a figura da atriz sempre risonha, de vera promiscuidade gratuita, assanhada, safada. Por quê??? Ela se perguntava. Seria porque ela, ocasionalmente, a viu no Bigbrother d Globo e se impressionara com sua exagerada entrega da mulher de programas que ela era??? Da mulher sem freios que ela, Aldenora, sempre desejou ser???
  
De repente ela, Aldenora, mudou, outra vez, o paradigma do se pensar. A atriz do sinal na testa tomara assento entre os convivas na mesa das autoridades onde, do vereador ao governador, tomaram assento os supostamente ilustres na comemoração matrimonial.
        
As realidades se misturavam na tela mental perturbada dela. Por mais que tentasse controlar os acontecimentos da festa, os eventos menores surgiam e perturbavam o bom andamento do que seria normal ocorrer na celebração. As memórias sobrepostas a inquietavam. Na simples aparência, ela parecia imperturbável. Mas, as circunstâncias festivas não permaneciam em curso de normalidade.

O pênis vascular ereto de Tarik, o cavalo Afrodescendente, a desfilar frente a mesa dos convivas, indicava que algo estava errado no geral dos acontecimentos. O orgasmo do Grano, o Cavalo Branco a lambuzar a entrada e os arredores de sua vagina, na madrugada por ela memorizada nove meses antes do nascimento do filho, a anamnese recorrente dos Nefilins, as memórias se mixavam em seus pensamentos, tentando harmonizá-los.

As pessoas que a rodeavam eram necessárias, mas também a perturbavam. Talvez ela estivesse sendo tomada pelo “efeito manada”: muitas pessoas juntas perturbavam as mentes. Por trás dos sorrisos simpáticos e da descontração geral promovida pela ingestão de cervejas e do whisky Grano, o Cavalo Branco, a frágil rebeldia da realidade em sua interioridade, achava brechas para se manifestar. A veracidade de sua alma perturbada teimava em fortalecer presença. O significado de seu nome estava a cobrar dela uma inquietação inusitada: “aquela que vive de sonhos”. Mas, quem não vive de sonhos??? A própria matéria é feita de sonhos. Por vezes, preciosos sonhos.

Mas, por que a sensação comunicada a ela pela mente telepática do Grano, o Cavalo Branco lhe dizia, com poderosa insistência, que a festa era uma armadilha??? Suas culpas a atemorizavam. A antiga, obscena, impiedosa e persistente sensação reptiliana de nostalgia. Não, não poderia a ela se abandonar, decisões inconscientes poderiam advir daí, ela poderia perder o controle do que estava por vir. A afeição pelo passado mais remoto. A manifestação imemorial dos Nefilins. A aparência antiga e reptiliana dos convivas, como se eles, sem querer, estivessem a revelar suas verdadeiras faces. Os arquétipos mais originais que dominavam o psiquismo deles, sem que soubessem.

O governador de sorriso que traduzia a supremacia de um réptil. A visão penetrante de Aldenora a fazer aparecer a real idade por detrás da aparência rejuvenescida pelos cosméticos. A realidade manicomial dos convivas revelava-se por trás da máscara facial de suas formas humanas. Ela se questionava. Não havia ingerido nenhum alucinógeno. De onde vinha esse superpoder de ver o que as pessoas estavam, inconscientemente, a esconder??? Da mente telepática do Grano, o Cavalo Branco!!! Só podia ser.

Seria essa a realidade destorcida uma emanação da mente do Grano, o Cavalo Branco??? Todas essas pessoas eram personagens de uma realidade proveniente de dimensão outra??? Entidades não humanas estariam a se manifestar no esconderijo da aparência humana??? Estavam essas pessoas vendo o que ela estava vendo???  Por que a visão dela ultrapassava os limites das aparências e a visão dos convivas não??? Estariam também eles vendo o que ela via???

A área reservada aos políticos parecia a mais animada. O governador se aparentava um réptil de dissimulada aparência disforme e malcheirosa. O sorriso largo tinha a intenção de abrandar e disfarçar a real e odienta intenção do disfarce reptiliano. Seria ele um Androide híbrido Et, a se esconder por detrás da aparência humana??? A orgulhosa demonstração de poder não conseguia esconder-se por sob a simpatia simulada do sorriso pretensamente favorável às demais autoridades que o cercavam. A intenção aliciante sempre presente em suas falas, ele não podia esconder. Pelo menos para ela, Aldenora, a que vive esse pesadelo. Seria uma explicação por ser também ela uma reptiliana???

O odor reptiliano somente ela sentia??? O medo da migração reptiliana de latino americanos para os EUA, estaria a motivar a política paranoica do Trumpismo??? Estaria a mente paranoica de Trump deportando, não seres humanos, mas reptilianos criados por seus problemas psíquicos, por seu delírio político sistematizado??? A Teoria da Conspiração que cerca os republicanos estaria a motivar a perseguição paranoide e a esquizofrenia dos membros republicanos de seu partido???

Estaria Aldenora, ela também, influenciada por esquemas e estratégias PSI que estariam induzindo pessoas a acreditar numa invasão reptiliana do mundo por Ets quejandos??? Esses répteis estariam infiltrados no Inconsciente Coletivo da Espécie Sapiens??? Teria essa espécie Alien projetos políticos e tecnológicos de dominação planetária em curso??? A conspiração reptiliana teria tido início nos répteis que deram origem à espécie humana a partir de mutações que tiveram início nos animais rastejantes saídos do mar há milhões de anos???

Aldenora lera “A Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky. Estariam seus pensamentos influenciados pelas referências aos homens-dragão, reptilianos que tiveram uma civilização que dominou a Terra a partir do continente lemuriano???  Portadores de poderes PSI e habilidades mentais que ainda hoje se manifestam na configuração atual da sociedade secreta dos Illuminati???

Estes, Illuminati usam a forma externa do 3ª Olho reptiliano, a afirmar que um poder amplo e definitivo nos observa a todos em todos os lugares. O pensar múltiplo de Aldenora a inquietava sobremaneira. Talvez ela sofresse da Síndrome do Pensamento Acelerado, descrito no livro “Ansiedade” de Augusto Cury.

Todas essas ideias vieram à mente de Aldenora, sobrepondo-se umas às outras, como se em um átimo de segundo, no tempo PSI de sua percepção alterada. Ela sentia o poder do Inconsciente Coletivo na Festa. Parecia estar consigo a vontade de parecer civilizada, apesar do inflexível interesse em firmar a dominação que se sobressaía der suas entranhas antropofágicas e reptilianas. O governador e seus pares circundavam a atriz e modelo risonha, a da verruga na testa. Ela ostentava uma pinta na testa, um sicoma verrugoso, a representar uma possível visão do 3ª Olho, símbolo Illuminati.

O coração da mulher Aldenora batia forte, acompanhando a pressão desumana que emanava do ambiente coletivo festivo. A privacidade se esconde nas aparências. O sorridente governa a dor de uma sociedade desgovernada, governa de seu palácio político privado, uma cidade com mil problemas sociais, os quais ele apenas faz de conta querer solucionar. Em verdade o governador governa para seus interesses privados e os de seus milionários de estimação. Ele se diz de um partido conservador, na realidade é um bandalho que não controla seus instintos, os mais depravados.

O governa a dor da sociedade do Estado mais rico do país, gostava mesmo de bancar o jogo dos ricaços fascistas que apoiavam o líder da extrema direita nacional ao qual serve de modo subserviente. O templo filisteu no qual se alojara, seu Palácio, ele cuidava de conseguir, quando muito, manter as aparências, ao esconder a corrupção endêmica que o sustenta, a qual busca ostentar o menos possível.

Aldenora monitorava todas as dependências do rancho na fazenda. Seus segredos eram uma questão de mantê-los sob sigilo por uma questão de sobrevivência. Ela precisa devorar a delícia do bolo abastado, luxuoso, educadamente comê-lo sem deixar que muitas migalhas caiam da mesa dos milionários, para que o banquete dos mendigos não seja farto o bastante para revigorar suas forças. É preciso conservar o poder conservador oculto operando nas sombras. O que há de social, político e econômico nele, precisa permanecer fora dos olhos curiosos da imprensa, do público. Das milhares de vítimas, dos milhões de eleitores enganados por suas lideranças extremistas.

O mundo Cão invisível da corrupção precisa preservar-se dos olhos críticos. Ao olhar para a aparência risonha e ávida do governador, Aldenora podia ver o olhar antropofágico, radical, canibal, com o qual o político devorava a paisagem geral do ambiente festivo.

Por que então os reptilianos não tinham se mostrado tal qual eles eram??? Por que escondiam as aparências, mostrando-se como se fossem humanos??? A hostilidade dos reptilianos para com as famílias humanas se mostrava, exatamente, na paciente dominação da sociedade pelas aparências humanas. Os humanos se acreditavam humanos, quando, realmente, não passam de reptilianos disfarçados. A manada dominada sob seus comandos que mantêm a farsa.

Os répteis desenvolveram uma tecnologia de camuflagem high-tech: os humanos parecem humanos, realmente são reptilianos. O objetivo é a obtenção da vitória final sobre eles, humanos. Na realidade o objetivo é a tortura dos mesmos em prisões do Estado onde podem ser supliciados pelo governo ditatorial que querem implementar. A submissão deles vale mais do que a morte dos mesmos. O sofrimento pela tortura invalida sus esperanças, humanas.

O chefão do governador elogiava constantemente o coronel Brilhante Ustra, um sádico que submetia os prisioneiros políticos da ditadura a vexames físicos e psicológicos inomináveis, nos podrões do poder gerido por generais quatro estrelas e pelo sadismo anônimo de seus subordinados. Aldenora via o governador e comentavas, de si para consigo: “o verdadeiro poder e o dinheiro dos políticos nunca aparecem em público. Eles, fisicamente, sim”. A aparência sorridente do governador não revela as alianças e as negociatas que moldam as tendências do mercado e que, em parte, dependem dele e de sua politicagem de extrema direita, para se tornarem operacionais. O governador, de si para consigo pensava com sua mente reptiliana, enquanto olhava, sorridente, o desdobramento dos eventos na festa:

— “A transição da água para a terra dos répteis, hoje com aparência humana, se forjou a 320 milhões de anos. Desde o período carbonífero existo. Do lagarto que fui aos dias de agora, a evolução em mim fez seu orgulhoso trabalho. Hoje, em todo o mundo, meus conterrâneos se dedicam a beber o sangue dos humanos no conteúdo de garrafas de vinho Grand Cru Montrachet, com uvas colhidas em plantação de 23 milhões de euros (R$ 130 milhões) por hectare. Ontem meu tutor político recebeu um presente precioso, de uma liderança política asiática, a garrafa do Domaine de la Romanée-Conti 1945, custa US$ 558.000. Eu não mereço tanto, mas ele deve ter feito por onde merecer”.

Mulheres, mais que homens têm muitos “eus”. Um desses “eus” de Aldenora detestava profundamente o governador. Isto porque parentes próximos dela haviam falecido devido a falta de vacina da Pfizer, quando esse laboratório ofereceu ao governo federal de seu político preferido, as vacinas: aquele que o indicou a candidato ao governo do Estado, não as comprou a tempo de salvá-los da Covid-19. O governador ficou excessivamente grato ao seu padrinho político, ex-presidente da República, pela indicação. Ele foi eleito por um eleitor conservador e ignorante das consequências da eleição a longo prazo.  A extrema direita se fortaleceu no país, também na América Latina e no mundo. A Covid-19 terminou por fazer mais de 700 mil mortos no Brasil. Entre a parentela dela, e em colaboradores e fornecedores da fazenda.

A mente reptiliana de Aldenora teve medo de perder, ela também, a vida, desde que esteve infectada pela Covid. O filho, Miguel Leme do Prado Cunha Gago, o Miguelito, que ora se casava, fora internado no Albert Einstein. Miguel tinha problemas pulmonares decorrentes do HIV. A noiva, agora mulher dele, ignorava a infecção. Se ele havia contado a ela, que estava infectado, Aldenora não sabia. Preferia não se meter na intimidade do filho. Poderia atrapalhar sua estratégia de vida;      
O tempo do casamento passou, Daniela, mulher de Miguel, tinha parido um menino. Ela, Aldenora, agora era avó. O tempo passara, o Grano, o Cavalo Branco e o Afrodescendente não mais se mostravam a concorrer na passarela do exibicionismo erótico. Seu Mundico observava as mulheres que tratavam dos cavalos e a obsessão delas no fixa-los, como se esperassem que um dia, pudessem ser as éguas que absorveriam em seus corpos os cinquenta centímetros de seus membros.

O Grano, o Cavalo Branco começou a se agitar na baia. A cavalariça estava estranhamente agitada. Aldenora pressagiava acontecimentos que, fora de seu controle, estavam próximos a acontecer. Seu Mundico pressagiava estranhamentos que estariam perto de acontecer. O Grano, o Cavalo Branco tinha 15 anos, Tarik, o Afrodescendente, 17. Mundico havia lido um registro no Guiness Book. Esse registro dizia que o cavalo Old Billy, criado em Lancashire, Reino Unido, viveu 62 anos. Ele torcia para que o Grano, o Cavalo Branco, o que mais se comunicava com ele, pudesse ter vida longa, e Mundico pudesse continuar usufruindo de seus benefícios vindos da “mediunidade” telepática dele.  

Os convidados, como se fossem pessoas, meninos e meninas bem comportados, sentiram, de repente, uma corrente de vento perpassar todo o ambiente festivo, uma aragem vinda de algures. Aquela festa já tinha se passado. Os convivas dela se afastaram para suas vidas, em suas rotinas diárias. Mas a memória do estranho evento, de uma maneira também estranha, de alguma forma os confrontava com a passada experiência festiva.

Mundico lembra: enquanto os cavalos se agitavam nas baias, o Grano, o Cavalo Branco iluminou sua mente, dirigindo-a em direção aos convivas. De suas mentes surgiram pássaros estranhos, com cabeças que lembravam ossadas de sáurios. Eles levantavam voo, como se buscassem um lugar no horizonte para onde dirigiam o voo. Saíram eles de seu campo de visão por alguns longos segundos, quando voltaram, se arrastaram no chão, cosmo se estivessem com seus corpos esgotados por grande esforço de voo. As asas cansadas rastejavam no chão da principal arena da festa rodeada pelas mesas dos convivas. Aos poucos foram se transmudando de volta às suas aparências originais.

Onde quer que estivessem, aquelas pessoas, autoridades, gentes que da festa do casamento de Miguelito e Daniela tinham participado, como que sentiam que delas se tinha apossado uma espécie de memória retroativa incômoda, importuna. A perturbação de uma experiência que havia acontecido, mas que era de difícil recordação. Como se não tivessem eles acesso ao que houve na continuidade da festividade e em seus bizarros desdobramentos. Era como, posteriormente aos acontecimentos, eles não tivessem acontecido. A sensação de estranhamento, sobrenatural.

A dificuldade de processar o acontecimento impedia também que outros pensares viessem à tona, à consciência. Flashes de memórias aleatórias se apossavam, de repente, de suas mentes, ausentando-se da realidade circunjacente: Eva, nua no Paraíso, sendo abordada pela serpente com um rosto amável, sedutor, simpático, convincente. Memórias recorrentes da antiguidade de eventos míticos. A terrível sensação de amortecimento dos sentidos, como se a realidade se passasse em câmera lenta.

Os flashes da memória atual não se fixavam na mente naquelas pessoas, exceto por alguns segundos, sendo elas, subitamente, substituídas por memórias antigas. Durante essas experiências sentiam-se mais traumatizadas por memórias vividas mais recentemente.  Tinham a sensação de que a realidade se tornara mais difícil de suportar, devido vivências mais anteriores, algumas dessas mais traumáticas. Elas não tinham nenhuma lembrança das pessoas que conheciam, como se atacadas por uma mente afetada pelo Alzheimer. Aldenora, aflita, se perguntava como era possível estar nessa inacreditável condição: crianças, adolescentes, adultos de todos os sexos, idosos, todos expostos às culpas que até então ignoravam ter vivenciado. Os animais quadrúpedes também manifestavam estranhamentos comportamentais, como se recém saídos de outra dimensão.

As memórias de um passado aleatório, por vezes distante, apareciam em flashes na tela mental daqueles que participaram da festa do casamento. A sensação de que aquelas pessoas faziam parte de uma sociedade secreta especial, ainda que involuntariamente. Os demais eventos de suas vidas, por mais importantes que tivessem sido, não pareciam ter, agora, nenhuma mínima importância.

O quê, ou quem, estaria tendo o poder inquestionável de estar a manipular dessa forma inusitada suas mentes??? Seriam estes um sintoma de demência, em algumas delas, precoce??? De qualquer forma esse tipo de perturbação não poderia continuar a perturbar suas vivências, suas cotidianidades, suas existências no mundo social dos eventos formais, protocolares no cotidiano da família e do trabalho.

As sensações esquisitas persistiam. O amplo lugar em que se realizavam os eventos começou a ser perpassado por névoa de coloração esverdeada. Fluxos de energia vital começaram a migrar de um para outro corpo, de um paras outro cérebro. As vontades e vivências começaram a se entrelaçar e estressar. A mistura de ideias e intenções se transtornavam, afligindo e confundindo as interações psico lógicas.

A energia eletromagnética dos corpos, que as fotografias Kirlian mostravam, migrava de um para os demais corpos presentes na festividade de casamento. A circulação dessa energia criou um alo magnético luminoso ao redor dos convivas. Essa energia normalmente é invisível a olho nu. A câmara Kirlian as registra. A descarga elétrica de alta voltagem perpassava o “campo unificado” da festividade. Os partícipes trocavam entre si suas “consciências ocultas”. Suas forças invisíveis e secretas se desnudavam. Tornaram-se visíveis uns aos outros. Estavam partícipes de acontecimentos para eles de significados inalcançáveis, exceto pela justificativa de visões do Apocalipse. Estavam os convivas da festa de casamento sendo partícipes involuntários de delírios persecutórios inexplicáveis a seus entendimentos.

Os organizadores da festa estariam tramando contra os convidados??? Quais os motivos para isto??? Essas percepções estavam afetando suas vidas de um modo que eles não poderiam prever as consequências. Se tinham dificuldades de acreditar uns nos outros, agora desenvolviam comportamentos agressivos contra eles em cenários de antiguidades antigas, por vezes paleolíticas. Massacres sangrentos de tribos contra habitantes de cavernas, visando a posse das mesmas e a expulsão de mulheres grávidas, crianças e demais habitantes que, até então ocupavam o lugar cavernoso.

Agora se surpreendiam partícipes de salões de festas babilônicos, onde os convivas tramavam contra si mesmos, em risonhas e bisonhas situações de olhares voluptuosos em aproximação dos corpos que cediam à libido de bacanais regadas a vinho e à disseminação de antigas drogas usadas em rituais religiosos. Os convivas que mantinham uma certa ilusão de estar sob controle consciente dos acontecimentos, estes também perdiam a noção de espaço e de tempo que se intercambiavam entre si, de modo aleatório.

A sensação de que um emissor de ondas de rádio alcançava todos os receptores delas, pessoas no ambiente das festividades. Todos se comunicavam entre si, sem que pudessem fazer alguma coisa para parar a continuidade dessa comunicação. O governador revelava uma ambição pessoal descomunal. Revelava que pretendia continuar a governar o Estado mais rico do país, em troca de amealhar fortunas em participação pessoal dele obras de engenharia do Estado, visando os gastos futuros com a possível candidatura à presidência.  Situação política era incerta, mas ele investia nos acontecimentos.

Flashes de Aldenora apareciam como raios na mente dos convivas. Os flashes dela na cama em companhia de um marmanjo humano com a cara desproporcional do Grano, o Cavalo Branco colada em seu rosto surpreendentemente erotizado, as mãos a segurar as orelhas do animal, pressionando-as freneticamente. Ela usufruía o prazer que da relação emanava.

Seu Mundico aparecia com ambas as mãos dos lados do rosto, como que encobrindo o horror que todos aqueles flashes lhe causavam. A ele, um católico praticante. Jovens apareciam em poses eróticas, como se estivessem em filmagem de filme pornográfico. Salões de boates com dezenas de pessoas dançando e se divertimento, muitas delas visivelmente drogadas. O Subconsciente Coletivo da Festança se tornara visivelmente incômodo a todos os convivas. Flashes da intimidade de autoridades políticas fazendo sexo com michês de aparência hiper máscula, se tornavam evidentes na tela da mente dos partícipes. Eles nada podiam fazer para parar o desdobrar das imagens.

Talvez estivesse acontecendo entre eles o que em Psicofísica se chama “ruptura mental antigravitacional”. As informações saltando de mente para mente como se estivessem sendo impulsionadas por mútuo eletromagnetismo PSI, até então inexplicável em termos de um acontecimento social festivo.

O evento bizarro da festa de casamento, a nuvem esverdeada que os envolvia, cobrava de seus convidados demandas reprimidas, desejos que, até então, não tinham sido atendidos devido à falta de conhecimento de uma solução para eles. Antes desse momento seus desejos demonstravam relutância na manifestação. Agora entravam em ação sem nenhum pudor. Os corpos buscavam solução para suas demandas até então reprimidas, impulsionadas por uma malignidade a serviço de fixações inconscientes inconfessáveis.

Um flash mostrava o governador a correr em direção ao Cavalo Afrodescendente com o pênis vascular à mostra. Garotas adolescentes risonhas, equilibravam-se no dorso do Grano, o Cavalo Branco a trotar em círculo por entre as mesas do evento, o pênis vascular à mostra. O prelado que realizara a cerimônia de casamento patinava no ar, dois metros acima do chão, tentando, em movimentos de pernas rápidos, não cair. Os violeiros sertanejos agarravam-se a seus instrumentos musicais. Eles pareciam querer fugir de seus alcances. As cordas das violas enroladas em seus braços e pescoços. Garrafas de bebidas flutuavam por sobre as mesas. As senhoras de mais idade mostravam-se particularmente afetadas. Olhavam soldados da guarda pretoriana do imperador vergastar o corpo de Cristo a sangrar de forma abundante.

Muitos corpos mais que a flutuar, estavam em chamas. O Grano, o Cavalo Branco a escoicear o ar, lançava as garotas longe de seu dorso. Elas caíam desconjuntadas por sobre as mesas. O governador agarrara-se ao rabo do Cavalo Afrodescendente e parecia não querer soltá-lo, até que, numa manobra, foi jogado em direção às mesas. Dentro da casa, uma senhora idosa, vestida de seda negra, num ambiente íntimo que parecia estar se aquecendo próxima numa lareira. Soldados romanos vergastavam impiedosamente o corpo sangrando de Cristo. Cardeais no Vaticano sentados na sala do Conclave. Dois Papas, de mãos dadas, em sala no Vaticano sorriam sem graça. Multidão em protesto na cidade de Los Angeles.

Hominídeos paleolíticos ao redor de uma fogueira aquecem seus corpos de Homo erectus no Vale do Rift na Etiópia. Suas feições se parecem, à aproximação curiosa de seu Mundico, com os rostos de Netanyahu, Milei, gal. Heleno, gal. Braga Neto, Bozo, Putin, Xi Jinping, Trump. Seu Mundico se aproxima, pasmo, superlativamente curioso ao se aproximar da fogueira paleolítica, onde também parecem estar agachados os três últimos Papas. Ele, seu Mundico, reconhece o rosto do ministro Alexandre Moraes a olhar os demais hominídeos ao redor da fogueira com olhos expressivos e espreitadores.

Uma voz calma se faz ouvir em meio ao caos ambiental instalado, sem que ninguém entre os convidados saiba exatamente de onde vinha. Qual a proveniência da fala??? A voz reverberava no interior da mente dos partícipes do banquete: “há dois milhões de anos o mais antigo antepassado do povo judeu teve sua mais primitiva diáspora: o Homo erectus se dispersou nas mais diferentes regiões do mundo: Ásia, Europa e Oceania, dando início às tecnologias mais primitivas e ao uso do fogo”.

— “Das quatro forças fundamentais da natureza, duas delas, supostamente, estariam presentes nesse extraordinário e insólito evento”.

A opinião entre aspas, manifesta por Sibila, uma psiquiatra que liderava a iniciativa de reunir os membros do grupo que, posteriormente a esses estranhos acontecimentos da festa de núpcias, se encontravam para tentar explicar os flashes que ainda surgiam, pontualmente, em suas mentes conscientes por algum motivo, por alguns segundos. Por vezes por longos e enigmáticos minutos.

Sibila tinha experiência em análise de pacientes que se diziam abduzidos. Ela fazia parte dos convivas que podiam se dar ao luxo de, de quando em vez, abrir suma garrafa de Goût American, ao custo de seis mil euros, cerca de R$ trinta e oito mil. Mantinham o prazer saboroso dessa degustação. As pessoas do grupo a princípio eram duas, depois cinco, três semanas depois eram nove. Quarenta e cinco dias depois chegaram a doze.

Como que para confirmar as apreensões de Aldenora comunicadas a ela pela mente telepática do Grano, o Cavalo Branco, eis que surge uma repentina mudança de tempo, indetectável pelo sistema de previsão meteorológica. Sua memória revelou a presença de um nevoeiro esverdeado que adentrou as dependências do ambiente da festa. De uma série de nuvens carregadas de eletromagnetismo, saíam raios por todos os lados. O nevoeiro envolvente teve ação tão rápida, que mal houve tempo dos convivas ficarem pasmos ao vê-lo adentrar e envolver os ambientes todos do lugar. Pensaram eles que seria parte dos efeitos especiais das apresentações sertanejas de palco dos músicos. Mas não era.

O acontecimento estranho certamente provinha de alguma central sobrenatural de manipulação a partir de um padrão tecnológico de eventos desconhecidos. Quem são os manipuladores??? Perguntavam-se algumas mentes que ainda não haviam perdido a consciência. Quis seriam seus motivos??? O Grano, o Cavalo Branco compartilhava com a mente de Aldenora, imergindo-a num estado sonambúlico de ondas alfas através das quais dizia que existem forças Ets que estão interessadas no bem maior da humanidade.

Essas forças estavam agindo sobre os convivas visando talvez conseguir usá-los enquanto ferramentas para sustar o impulso incontrolável de conteúdo político perverso, que visa submeter um país aos seus interesses. Como o Grano, o Cavalo Branco sabia disso??? Inte4rrogava-se ela. A resposta brotou em sua mente como uma semente que se abre em botão: “a espécie que habita esse continente precisa ser motivada a criar inteligência, pessoal e coletiva. Precisa aprender a penetrar o vazio de suas vidas com projetos de afirmação da moralidade perdida”.

Como é que um Cavalo pode saber disso e um humano não??? Aldenora, uma pessoa obsessiva compulsiva, tinha crises de obsessão. Pensamentos estranhos lhe ocorriam, independente de que ela os quisesse. Os contatos telepáticos com o Grano, o Cavalo Branco causavam nela angústia e ansiedade. Ela era uma pessoa dedicada ao ter e ao poder. Seu autocondicionamento mantinha nela a ilusão de que poderia manter-se ganhando altos salários para promover a estratégia de dominação política e econômica cultura local.

O grupo ao qual pertencia a mantinha como secretária de cultura de governos que se sucediam, mas ela sempre mantinha seus cargos, dela e de sua equipe. Seus cargos, seus salários e a fidelidade canina à política de manutenção do baixo nível da mentalidade cultural de seu Estado. Os representantes políticos principais ao grupo ao qual pertencia estavam presentes ao banquete. Ela estava longe de compreender o que o Grano, o Cavalo Branco queria dizer quando afirmava: “a espécie que habita esse continente precisa ser motivada a criar inteligência, pessoal e coletiva. Precisa aprender a penetrar o vazio de suas vidas com projetos de afirmação da moralidade perdida”.

E o Grano, o Cavalo Branco continuou: “sem moralidade, não é possível haver projetos que possam incentivar a consciência de uma coletividade que não seja produto da manipulação de seus feitores. A Casa Grande conta com novos membros manipuladores: sicários, personagens negros negreiros, delinquentes e jagunços que ganharam um status de respeitabilidade na sociedade branca, às custas da subserviência ao poder dela, mantido pela ancestralidade israelita”.

Ela, Aldenora, não estava a compreender onde as mensagens telepáticas do Grano, o Cavalo Branco, estavam querendo chegar. A história atualizada dos negros negreiros se harmonizava com a história de dominação social dos banqueiros judeus sodomitas, que desde a mais antigas antiguidades exercitam as estratégias de dominação dos povos que lhes cercam, em busca de riqueza e poder. Os quatrocentos anos de escravização dos judeus aos faraós egípcios, se equivalem, proporcionalmente, aos trezentos anos de escravização dos negros negreiros nas Senzalas submersa nos interesses da Casa Grande.

Os povos, judeus brancos e negros, sobreviventes dos referentes formais de escravização, têm, na mais profunda memória racial, ressentimentos que não podem ser contidos contra brancos que não são judeus e negros que, por sua própria raça, continuam sendo escravizados, e brancos que se encontram abaixo de suas conquists sociais. Estes são movimentos inconscientes, que não podem ser contidos pela mera compreensão de sua história e da racionalidade consequente.

O Grano, o Cavalo Branco continuou a compartilhar na mente de Aldenora a afirmação de que judeus e negros negreiros não têm um código de Ética e moralidade vigentes. Uma vez fora dessa Ética e desse código de moralidades, ambos os grupos étnicos obtiveram poder político, social e econômico, sem que tenham a intenção de usar esse poder de forma, de alguma forma benéfica à sociedade em que vivem. Tornou-se impossível à visão deles, a simples função do humanizar-se. Os ressentimentos escravos estão por demais cristalizados no fundo do poço memorial de sus almas forjadas nos relacionamentos das Casa Grande e Senzala.

À Aldenora pareceu que sua mente fora capturada pela mente do Grano, o Cavalo Branco. Tudo que ela pensava ele sabia e pensava anteriormente a ela.  Mesmo quando ela não queria uma resposta, lá estava, por vezes, a mensagem telepática do Grano, o Cavalo Branco a pulsar em sua mente. Ela supunha que ele possuía um 3° Ouvido que ouvia tudo. Um 3° Olho que tudo via. Um sento sentido do qual nada escapava. Ela se perguntava insistentemente, mesmo após o evento da névoa verde que invadiu as dependências da fazenda nas bodas do filho, por que o lugar onde se realizava a festa fora escolhido. Em sua mente pulsou um som que dizia: “no Lácio selvagem de seu mundo, compartilha-se o invisível que, de outra forma não pode ser compartilhado. "Salus Carnis: A Carne Do Mundo Do Homem Precisa Voltar A Desejar Ser Saudável”.

“Os dias da névoa”, é como as pessoas que fizeram parte desse evento, ao se reunirem para falar sobre ele, na tentativa de compreendê-lo e fazer emergir na consciência as sensações que ainda estavam incompreensíveis e subterrâneas.  Esss pessoas continuavam não sabendo quanto tempo durou o evento que as fez sair numa viagem pelo Tempo. Pessoas foram queimadas ao vivo, outras não. Por quê??? A memória do evento estava sendo, gradativamente, recuperada.

A resposta não demorou a pulsar em sua mente: “Ao atravessar fronteiras entre dimensões, o corpo está sujeito à uma transição semelhante a um transtorno bipolar. O humor é elevado a níveis incompreensíveis, muito acima da capacidade de compreensão de alguém. É uma situação de alteridade PSI complexa, distante da experiência de conhecimento de uma pessoa que não tem referências de como assimilá-las. O ininteligível se torna inacessível. A energia envolvida em curso de salto quântico, de uma dimensão para outra, aquece o espaço em volta. O medo e a culpa queimam a pessoa de dentro para fora numa espécie de combustão humana espontânea. Dela nada sobra. Por vezes sobra apenas um pé”.
Aldenora não se dá por vencida e completa sua pergunta anterior:

—  Por que não aconteceu a mesma coisa com todas as demais pessoas, se estavam todas expostas às mesmas circunstâncias???
— “” Porque o medo e a culpa nelas não eram nelas prevalentes”. O vórtice temporal que permite viagem no Tempo é um “buraco de minhoca”. A transição entre uma e outra dimensão precisa, em algumas pessoas, de certo tipo de proteção, quando estão expostas a essas singularidades””.
— Não entendi nada, responde Aldenora.
— “Uma singularidade entre duas dimensões, alude a um ponto numa região onde as leis convencionais da matemática e da física não são aplicáveis. Valores infinitos e comportamentos anormais ocorrem...”.

Aldenora pensou de si para consigo:
— O Grano, o Cavalo Branco deve estar pensando: “como são fortes os delírios dessa mulher”. Como ela é brito, burra. Dessa vez não houve resposta em sua mente. O Grano, o Cavalo Branco calou o compartilhar de sua voz, de seus pensamentos.

Ambos os animais, inquietos em suas baias, escoiceavam desesperadamente as portinholas das mesmas, elas começaram a rachar, a madeira a ceder. Dentro do ambiente de um teatro, após a peça terminar, os espectadores não conseguiam sair, não obstante houvesse qualquer impedimento. É como se estivessem presos por uma força que não conseguiam ver nem explicar. Nos EUA, em Whashington, acontecia a mesma coisa. Ninguém, dos funcionários graduados do presidente, ninguém conseguia sair dos aposentos da Casa Grande e Branca. A assessoria do presidente ligando para o Pentágono, mas lá, diziam as respostas, estava acontecendo a mesma coisa: os funcionários civis e militares não conseguiam sair de suas salas. Como se as saídas estivessem interditadas por um campo de força invisível.

Cenas dos Intocáveis e de um carrinho de bebê descendo escadarias de Odessa com música de Telmo Marques. Ambos os cenários se intercalavam. Aldenora visualiza essas imagens mentais sem que elas tivessem em sua mente uma organização de significados. Que queriam essas imagens lhe dizer??? A névoa esverdeada invadira as dependências da Fazenda, por certo estava causando todas essas distorções em sua mente bagunçada e tensa, em busca de uma explicação para esses acontecimentos.

Os cavalos galopavam em meio ao amplo ambiente ao ar livre onde as mesas dos convivas e o palco dos cantores sertanejos deviam estar a comemorar as bodas do casal. A dimensão do que seria a realidade mesma se mesclava e intercalava com visões de outra dimensão no tempo incomum de ambas as realidades que aconteciam simultâneas. O Tempo parecia, ora seguir em direção a um futuro, ora voltava ao passado. Os corpos queimados quando em movimento na direção do que poderia ser de uma outra dimensão, voltavam das cinzas, como se não tivessem sido carbonizados.

Na mente confusa de Aldenora um diminuto clarão se fez presente, dizendo-lhe: “o horror, não há limite do quanto se pode suportá-lo”. O Grano, o Cavalo Branco voltara a se comunicar telepaticamente com ela.

Numa sala de hospital, com equipamentos de uma tecnologia muito avançada, médicos e enfermeiras promovem um parto. Uma mulher com pernas abertas sobre uma mesa operatória: de sua vagina surge a cabeça de uma criança. Uma enfermeira a pega nos braços, sorridente, olhando para um bebê com aparência mecânica de um robô. As imagens de um feto projetando-se em direção à Terra, lembra as cens do filme 2001, Uma Odisseia No Espaço, quando o astronauta, muito idoso, sobre a cama num quarto Renascentista, estende a mão para tocar o monolito negro com a ponta dos dedos, e o monolito se transforma num feto a se dirigir à Terra.

O próximo passo evolutivo está em curso. Imagens dos sacerdotes do Sinédrio excitando a multidão e incitando-a a dizer: “Barrabás, Barrabás”, jogando Jesus Cristo em mãos dos torturadores e crucificadores do império romano. Esse conjunto de imagens se sucedem na cabeça confusa de Aldenora. Um insight se faz presente nela, ela ouve: “o amor é uma descoberta que não se sabe. Ele é mais transcendente e presente do que parece”.

“Você é uma descoberta que inda não se sabe”. Esse estalo em sua cabeça pareceu nela despertar uma sugestão singular: ela sempre esteve correndo atrás de tudo que lhe parecesse bens de consumo, posse de coisas, de interesses manipuladores de seu psiquismo. Ela parecia agora querer a posse de si mesma. Ela parecia compreender que, até então, sempre esteve sendo levada pelo atrevimento de se querer poderosa. Ela se surpreendeu envolvida por uma mente imensa, uma mente galática, um psiquismo cósmico. Ela sempre esteve conectada, de modo metafórico, a tudo e a todos. Mas seu pensamento raso, provindo de seu Inconsciente Pessoal, sempre a conduziu a um lugar coisificado de posse. Um lugar confinado, que sempre a excluíra dos direitos básicos da coletividade à qual pertencia. Pr ela só seus direitos importavam.

No Kremlin, o líder russo, o Putinho, não conseguia sair de dentro de sua fortaleza. Vaidoso de suas conquistas, ele mantinha a mente presa às suas solicitações de incrível vaidade pessoal, vontade ter e poder manter suas posses, aumentando-as, se possível, à conquista de toda a Europa. Mas ele também estava prisioneiro da força invulgar, antinatural, alienígena, que não permitia que ele pudesse sair de si mesmo. Ele, um prisioneiro de sua própria fortaleza. Ele, um diminuto homenzinho, produto e subproduto de suas espertezas, adquiridas de seu tempo de condicionamento na KGB.

Os fiéis evangélicos que estavam dentro do Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus, também estão tentando sair dele, após a realização do culto dominical. Mas nenhum deles consegue sair. Estão presos num lugar que era para ser de libertação espiritual. Mas os mantêm prisioneiros de suas próprias armadilhas. A força monumental que os domina de dentro de sus almas cooptadas, os mantém prisioneiros de um falso líder espiritual que consegue mantê-los prisioneiros de si mesmos, de uma esperança que nunca se realizará: eles se confinam no confiar-se ao deus dará. Parecem não saber que o deus que buscam fora dele, num Templo, está no Templo de suas almas confusas.
    
— “A Legião de líderes de povos, os mantêm isolados das demandas dos demais outros povos. Todos esses povos buscam a paz, mas estão presos por suas lideranças pela enganação militarizada do poder econômico e político que os prendes aos conflitos, e os oprime com guerras”. Essas frases soaram com nitidez no interior da mente de Aldenora.
Aldenora era imune ao significado do que estava a acontecer. A mente dela não processava a moral social dos acontecimentos, nem na luz da filosofia, e muitos menos à luz da ciência. Mas os incidentes bizarros ela não poderia ignorar. Mesmo que não tivesse acesso ao que significavam, ela participava ativamente deles. Ela organizara a festa de casamento, selecionara os convivas e o posicionamento dos mesmos nos locais mais adequados à presença deles. Quisesse ou não, ela estava envolvida. Enquanto tentava organizar dentro da mente essas peripécias inexplicáveis, ela ouviu um leve cicio no interior craniano:

— ““A moral burguesa é uma imoralidade contra a qual há de se lutar; essa moral que se baseia nas instituições sociais mais injustas, a religião, a pátria, a família e a cultura, em suma, o que se denomina os pilares da sociedade.”

Um jogo importante no campeonato mundial de clubes terminara, mas os milhares de pagantes, os torcedores dos times não conseguiam sair do estádio. O tempo passa e a tensão aumente na multidão. Os torcedores ficam cada vez mais raivosos ao sentirem uma situação opressiva, estando eles inexplicavelmente presos após o jogo. Suas falas expressam uma crescente ira. A irracionalidade parece brotar de suas entranhas já muito excitadas durante o decorrer do jogo.

As equipes esportivas dos jornalistas transmitem as ocorrências que envolvem as hostilidades sempre crescentes entre grupos mais excitados de torcedores. As emissoras de Tv visão noticiam os enfrentamentos entre torcidas e os conflitos menores que são gerados devido à proximidade de pessoas que se debatem com as pressões decorrentes do “efeito manada”.
  
O comportamento de rebanho gera desentendimentos entre grupos rivais de torcedores. Os policiais entram em conflito com os mais exaltados. Alguns são presos e algemados. À proporção que passa o tempo, a situação se torna mais e mais insustentável. Os banheiros têm filas intermináveis. Muitas mulheres não podem esperar a fila andar para satisfaze suas necessidades, as mais primárias. Elas levantam as saias ou baixam as calças, e abrem a porteira à vista dos demais. Os homens urinam nos locais mais impróprios, à vista dos demais. Os jornais Tv missivos aludem aos acontecimentos bizarros.

— “Não podemos sir daqui” Ouve-se repetidamente.
— “Não há como sair dessa arapuca”.
— “Como é que pode estar acontecendo isso”???
— “Quem é responsável por isso”???

A situação vai se agravando à proporção que os suprimentos nos locais de venda de bebidas, doces e salgadinhos esgota os estoques de mantimentos. Os odores mais inapropriados advindos dos banheiros e espaços abertos utilizados para a satisfação de necessidades básicas, tornam o estádio um coliseu em dia de disputa a céu aberto. Cristãos são devorados por leões. O Anfiteatro Flaviano, usado porá o combate entre times de futebol, ficava a cada hora, num estado mais deprimente de falta de conservação. A imprensa noticiava o evento em seus jornais, revistas e emissoras de rádio e Tv visão. O imperador dos EUA não tinha opinião, sem respostas para os acontecimentos estranhos.

Cenas do filme de Buñuel, “O Anjo Exterminador”, em que as falas das personagens mostram a perda crescente da racionalidade, devido a frustração que sentem, cada vez mais intensa, ao não conseguirem sair de dentro dos ambientes de socialização em que se encontravam. Por vezes alguém grita em desespero, ao desabafar o sentimento de impotência devido a privação da compreensão aberrante da anômala situação. A mente de Aldenora se esforça por conseguir compreender os acontecimentos. Em vão.

A consciência de Aldenora não alcança a compreensão do porquê essas imagens se superpõem em sua mente. Ela não compreende que essas cenas são representações sensoriais, estímulos subjetivos à sua percepção melhorada do mundo interior em que vive, do mundo exterior no qual vegeta.

A compreensão ampla e profunda da realidade sempre lhe escapou. Ela nunca fez nada para melhorar a percepção do mundo a partir de seus sentidos. Não desenvolveu suma consciência maior de si mesma e dos outros. Suas expectativas de vida eram meramente convencionais. O Narciso nela era mais forte, pactuado com os padrões e os patrões estabelecidos. Foi criada pelo pai médico, socialmente detentor de uma respeitabilidade de fachada. Por detrás dessa fachada estava um poderoso chefão do tráfico de coca, protegido pelos coronéis da polícia militar.

O peso avassalador da realidade, sua cultura, seus privilégios, a conduziram ao exercício de postos chaves dentro da realidade local. Postos esses, um dos quais a Secretaria Estadual de Cultura, na qual garantia que a cultura local não tivesse acesso ao conhecimento literário que denunciava os caminhos tortuosos, para que a realidade social, econômica, política e financeira, continuasse a privilegiar uma casta de ricos mandatários. Mandatários milionários e seus sicários policiais, que exploram os recursos econômicos à disposição dos políticos, para manter a mentalidade de manada de uma sociedade roubada, subtraída de suas melhores ambições.

As imagens bizarras, os estranhamentos que a névoa verde provocara nela, em seus sentidos, na percepção dos sentidos de seus convidados, a memória mórbida dos Nefilins que ela teima em se fazer lembrar, talvez para satisfazer a morbidez de seus instintos sexuais primários, todas essas coisas juntas deveriam nela provocar uma inquietação exasperante. Mas ela, para sua própria surpresa, se mantém calma e focada na esperança de tradução possível dos acontecimentos. Com seus vieses, os mais primitivos.

O Grano, o Cavalo Branco e Tarik, o Afrodescendente, circulam o lugar de festa mostrando-se, ambos, numa inquietação incontida. Um e outro ganham velocidade e saltam por sobre as mesas, assuntando os convidados, e depois sumindo ao adentrar-se no vasto relevo do lugar. A outra dimensão parece exercer atração sobre eles. O medo de serem atraídos por ela, e queimados na transição de uma para outra dimensão, os mantêm focados, tanto quanto possível, no que acontece ao redor.

O significado de todos esses eventos lhe escapa à compreensão. Ela se surpreendia presa nas pressões sociais passadas para ela por seus pais. Seus antepassados se serviam dela de tal forma, que ela não sabia, na real, separar quem era ela mesma, quem era serviçal automatizada pelo subconsciente deles, nela. Atuando de dentro de seus sentires, de suas fixações, de seus prazeres, de seus lazeres, de seus sentires e pensares. Ela, com certeza, sabia, antes desses estranhos acontecimentos, que ela não era ela mesma. Que personas passadas se movimentam dentro dela. Ela sempre fora conduzida por conexões neurais, as quais não tinha como explicar-se.

Aldenora nunca teve acesso a ela mesma, exceto na administração de seus cosméticos e de sus vaidades. Nem nunca se provocou a ter-se. Ela pensava, e não estava errada, que isso acontecia com todo mundo. Por isso não deveria preocupar-se em mudar esse cenário interior. Ignorava que as demais pessoas não tinham acesso aos meios políticos que a mantinham em seus cargos burocráticos, e senhora toda poderosa das mordomias estatais.


Agora lhe parecia que viajava no Tempo. Agora era ela personagem de ficção científica, conduzida alhures, sem nenhum mínimo domínio dos aconteceres. Por que estava a vivenciar essas coisas muitos estranhas??? Sairia ela viva desses aconteceres??? Para onde estaria indo??? Por que estava nesse barco vintage, formidável, trôpego??? Qual o propósito desses acontecimentos??? Seriam essas coisas resultados da influência dos meios de comunicação, de sua fixação nos celulares???

Seriam produtos da memória dos Nefilins no mais antigo passado a que tivera acesso sua memória. Anamnese desses surgires, desses aconteceres. A verdade é que tinha uma imensa saudade, uma imensa sensação de antiguidade, como se fosse uma peça semovente num Museu Capitolino. A nostalgia incomensurável como se descobrisse ser ela um fóssil, tipo Lucy, um Australopithecus Afarensis com 3,2 milhões de anos. Resistiria ela a todas essas pressões inauditas da memorização anciã???

O certo é que jamais ela estaria sujeita aos papos furtados de mesas de bar, aos papos furados, falatórios sobre verdades de liquidificador. Ela, uma vez conquistada, conquistaria o feroz vencedor??? Os manipuladores das realidades planetárias cristalizados no Inconsciente Coletivo dos Povos, estariam eles atuando na realidade desses seres horríveis, cuja realidade virtual, orgânica, é o Inconsciente Natural Sobrenatural, simulando ser humano???

Ela viu os Cavalos, o Branco e Tarik, o Afrodescendente, a saltar de forma arrebatada, impetuosamente inflamada, sobre a linha fronteiriça que a ela pareceu ser o Horizonte de Eventos, que limitava a fronteira entre duas ou mais dimensões. O significado mis amplo de todas essas visões lhe escapava, como se ela fosse uma vaca no pasto do Inconsciente, ainda limitada por uma percepção hominídea de há 3 milhões de anos. Seus ossos pareceram sofrer mutações quânticas, numa velocidade indescritível, talvez na velocidade da luz, já que ela poderia estar viajando no Tempo. Ela era a Lucy que se transformara em Aldenora na atualidade de suas percepções. Na realidade ela não sabia nada do que estava acontecendo.

Em sua mente surgiu, ou melhor faiscou: ““não é o homem que conquista a natureza, a natureza sempre conquistou, em todas as “moradas do Pai,”” os homens.

Ela estava no epicentro dos acontecimentos, mas o significado deles lhe fugia à compreensão. Ela sempre esteve conectada em seus propósitos de vida, em realização pessoal e bem-estar, na busca incessante por gratificações constantes, sem reflexão de valores mais profundos da consciência. Ela vivia da própria inconsciência. Essa inconsciência era uma força interior com a qual ela gostava de conviver. Talvez por isso sempre estivera curiosa da força muscular dos cavalos, da comunicação que seu Mundico parecia manter com os cavalos, especialmente com o Grano, o Cavalo Branco.

Nesse momento de vivências raras, extraordinárias, ela conseguia ter saudades de um tempo muito infantil, passado, no qual vivia de se divertir, do brincar, da falta de envolvimento responsável que caracterizava a vida adulta. Ela nem desconfiava porque pronunciava, repetidamente, a palavra “Rosebud, Rosebud, Rosebud”. Lembrava-se vagamente de já ter ouvido esta palavra anteriormente, não sabia aonde. Talvez, pensava, fosse o nome de um filme, de um brinquedo. De qualquer forma não com seguiu recuperar a memória de onde ele vinha.

Imagens mentais diversas, representações sensoriais, o campo visual e a extensão auditiva simplesmente lhe escapavam. Era como se estivesse num limbo, no interior de um estado de indecisão, incerteza, esquecimento, à margem de tudo o mais. Num lugar em que as almas vagavam em busca de afirmação própria, mas sem ter como se encontrar. Não entendia a insólita situação. Seus sentidos normais, seu sexto sentido eram mistério, pandemônio, agitação. A mais ampla realidade, suas perspectivas não convencionais, totalmente lhe escapavam. O humano, o natural, o artificial, o espiritual e o sobrenatural estavam para ela inalcançáveis.

O espacial e o atemporal traziam, ao redor dela, existências existentes apenas nas mitologias, seres intermediários do limbo. Tudo e todas as coisas parecem uma abstração, uma aberração, com suas realidades no mundo convencional, perdidas. Como poderia ela se psicanalisar, se a própria natureza de sua realidade parecia irreal??? Sentia-se ela uma escrava, uma marionete, quem, que entidade jogava dados com sua alma??? Que valores regiam e esculpiam essas paisagens de tirania, essa escravização mental???
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 22/07/2025
Alterado em 23/07/2025
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