A CIDADE AMARELA
A CIDADE
AMARELA
Folhas amarelas, quem repara??? São da cor de gente que está sendo varrida pelo tempo e pelo vento, para os campos de concentração do esquecimento.
Folhas amar elas, preenchem as ruas do outono de olvidamento, desmemória. As pessoas abandonam os sonhos varridos, os tempos idos na varanda da cidade velha.
Quem lembra do sabor dos frutos comestíveis, das flores, das cores vívidas, da culinária dos grãos a cozinhar no fogo brando dos fogareiros do bem-estar???
Quem se dá conta dos quantas de vida que na mala da vida carrega??? A cidade construída sobre a cidade difamou, soterrou para além da memória.
A clorofila não mais produz o verde das folhas. O outono chegou. A luz solar não mais funciona como nítido nutriente. A água da chuva não molhou a paisagem.
Quem se deu conta do que o tempo levou??? Há pessoas que figuram ainda na fotografia na parede que amarelou. A válvula do rádio de Mariazinha queimou.
Ninguém, notou a falta de vida no jardim, antes viçoso, que secou. Para onde foi a vida que na mala e no jarro de barro virou vapor???
Quantas de “quantas” unidades há em cada dezena que a professora ensinou??? Ninguém lembra mais o nome dela. Ela também o vento levou.
Os animais enriquecidos de bens varreram para debaixo de seus tapetes, as vítimas de seus espermacetes. A baleia mãe que embarrigava todo ânus perdeu seu cachalote.
Os filhos foram varridos para debaixo dos lenços que não mais servem às lágrimas das mães. Essas, com o tempo passando, viraram pedras chorando.
As ofertas de afeto e sorrisos, a vergonha das mãos espalmadas no rosto, agora comemoram a eleição do novo Papa no Conclave. As emoções se substituíram.
Mas ninguém poderá resgatar a vida abandonada das mães das Praças de Maio que perderam seus filhos, abandonadas na beira da estrada, sentadas no banquinho da cozinha.
Sentadas, seus olhos não mais choram a cortar cebolas, nem mais se emocionam ao descascar batatas. Só lhes restou a solidão ao sol do desamor.
As flores amarelas amarelaram. Aqueles que as acolheram e nelas penetraram, esqueceram por quem foram criados.
Carinhos e mimos dez vezes desvalorizados. Nem mais restaram os sorrisos amarelos nos jardins das Belas Artes afogados pelo passado.
Outros, descendentes desse passado, cultuam noutro tempo as rosas que do estrume brotaram. Mesmo as flores que hão de nascer, já nascerão amar elas. Amareladas.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 09/05/2025
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