ARCAICOS & ROCOCÓS
ARCAICOS & ROCOCÓS
OS AFETOS se esvaem entre filhos e pais com o passar do tempo. As crianças crescem e não são mais para seus pais os bebezinhos de berço com sorrisinhos bonitinhos. O crescimento deles e a crescente autonomia que adquirem, os capacita a ver os pais como sujeitos que adquiriram uma certa quantidade de obsoletismo, tanto devido à idade como à consequente e gradual redução de sua influência na educação dos filhos.
A CRESCENTE aquisição de experiências de um jovem com grupos juvenis dos que passam a fazer parte de sua turma, habilita tal jovem ver os genitores enquanto partes de um mundo que caiu na obsolescência. As falas dos mais velhos são uma constante mostra de “Déjà Vu”. Sensação por vezes estranha, de uma familiaridade monótona que se repete sempre na proximidade de pessoas que se esbarram no desencontro de corpos de gerações diferentes, quando se cruzam na cozinha do larbirinto, no corredor, na sala de jantar.
ESTÃO, AS gerações, cada dia mais distantes entre si. A pesada força inercial da presença dos pais, não possui referencial que atraiam e motivem os filhos, em relação a motivação inercial deles, pais. A atração mimética que produz semelhanças de apreensão e ordenação do mundo, não apenas enfraquece, ela simplesmente passa a inexistir. Não mais são indissociáveis no processo da educação deles, filhos.
AS RELAÇÕES de poder exercidas dos pais com relação aos rebentos deles descendentes, perderam a ênfase que imaginavam fortalecer. A hierarquia da influência e da solidariedade não mais obedece ao ajustamento hierárquico, à integração padronizada que se problematizou de forma irreversível com as mudanças tecnológicas produzidas pela cultura high-tech.
AS AGENDAS pais e filhos não se assemelham. Ao contrário, asa relações são cada vez mais instáveis. Os interesses cada dia mais desiguais, dessemelhantes. As persistentes diferenças entre eles só aumentam de intensidade. O planejamento reprodutivo dos pais não, não persuadem ou afirmam o controle dos filhos. As razões e intenções da geração mais antiga, ao contrário, se afirmam e afinam no distanciamento de interesses divergentes. Os filhinhos de papai, as filhas da mamãe se encarnam no desencontro.
EXISTE UMA diáspora, uma intenção de crescente afastamento entre pais e filhos. Um deslocamento emocional forçado em direções diferentes. Por vezes opostas. Os filhos estão mais próximos ao nascer do sol, ao despertar de suas inteligências de acordo com as sugestões e solicitações presentes em seu tempo. Os pais, cada dia mais, estão próximos ao sol poente. A proximidade de valores conservadores não rima com o passar dinâmico do Tempo. As influências de uma geração tendem as gerar a negação da negação.
UMA GERAÇÃO tende à negação da filiação anterior. Os valores mudam com as solicitações diferentes de um Tempo que passa com relação ao Tempo que passou. Papei envelheceu, mamãe caducou. Quanto mais radical é a afirmação de valores obsoletos por uma mãe fanática da educação que a mãe dela lhe proporcionou, mais dificuldades de adaptação às solicitações novas de uma nova geração e suas solicitações de um Tempo outro, diferente, um Tempo em que a tecnologia influencia a mentalidade de seus filhos na direção transformista deles: a transformação de humanos em Androides com celulares em mãos e entretenimento trivial, vulgar, pueril, fútil, nas cabeças ocas sem racionalidade pertinente ao upgrade necessário..
A EVOLUÇÃO da história, proporciona a melhora, por vezes suposta, das condições materiais de existência (não apenas das ideias) e pavimenta o caminho para as mais bizarras manifestações de eventos e fenômenos PSI inauditos, sem precedentes, ímpares. Singulares, originais, estranhos. Acredito que todas as profecias, teorias e postulações sobre o futuro se encontrem na síntese de todas elas: o fim de um Tempo. O início de um outro Tempo, com solicitações que sepultam qualquer noção de antiguidade. Conservadorismo de uma dialética sem amanhã.
AS FORMAS de encarar o mundo de ontem não servem para a promoção do mundo de hoje. Os Tempos se distanciaram na velocidade da lua entre si. As solicitações do passado não retornam ao dia de hoje. As mentalidades passadistas, retrógradas morreram e foram sepultadas pelo Tempo, mas a maioria delas ainda não se deram conta dessa realidade que salta aos olhos, mesmo aos olhos que se recusam ver. E os ouvidos a ouvir.
PORQUE O coração deste povo está endurecido, e ouviu de mau grado com seus ouvidos. E fechou os olhos, para que eles não vejam, e não ouçam seus ouvidos. O coração não compreende. Este povo não se converte ao Novo, e, portanto, não há quem os possa curar de suas mazelas passadas, presentes, futuras. Elas tendem a se repetir infinitamente. No Evangelho de Lucas (11:34), nele lemos: "Os olhos são a candeia do corpo. Quando os seus olhos forem bons, igualmente todo o seu corpo estará cheio de luz. Mas quando forem maus, igualmente o seu corpo estará cheio de trevas".
OS QUE VEEM o mundo com olhos obsoletos, de uma mitologia conservadora, de uma mitologia que se recusa ver que o passado é uma necrópole sem esperança para seus mortos. Para eles não há bonança. Para eles, que não veem que o Tempo passar, que não compreendem o Senhor do Tempo, que não veem o que é transitório e que só ele, o Tempo, é eterno, estes, como podem solicitar salvação??? Não há transcendência para a carne que apodreceu nas sepulturas. Os vermes e o tempo não preservaram também seus ossos. O Senhor do Tempo terá esquecido seus mortos???
— NÃO. Eles terão migrado para outra dimensão. Seus espíritos para outros multiversos.
Você que tem olhos, veja. Você que ouve os sons das trombetas, creiam.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 05/04/2025
Alterado em 05/04/2025