MANUSCRITO ACHADO NO METRÔ (VII)
MANUSCRITO ACHADO NO METRÔ (VII)
NO CADERNO AZUL parecia, pelo tamanho, não caber toda essa informação publicada nestas inclusões de texto encontrado no metrô, editado em sete vezes no Recanto das Letras. Não sei ao certo a intenção, ou intenções, do autor. Sabemos ter sido proposital o abandono do “caderno blue” no recosto do assento no vagão em que eu me encontrava. Outra pessoa poderia ter encontrado, mas o acaso quis que fosse eu. Acredito que o autor gostaria que fosse divulgado. Dos sete textos, este me parece o mais estranho:
“NEM DE LONGE nem de perto os espíritos se amam. Eles têm um repertório imenso, universal, cosmológico, de maneiras mil de se incorporar nos corpos humanos. Eles saltam de um para outros corpos, e, devido ao fenômeno mediúnico, podem controlar também o médium. Essa é uma forma considerada, por várias religiões, legítima, a recorrente conexão entre as dimensões física e a espiritual”.
“PARA OS ESPÍRITOS, humanos são arquétipos que não podem abandonar a forma de seus corpos, o padrão físico associado à demanda formal: o herói, o sábio, a mãe, o mito, a donzela, o Gorila Trapaceiro, o mentor, o jovem rebelde... Os arquétipos influenciam os comportamentos padrões. Os espíritos podem interferir nesses comportamentos, não poucas vezes de maneira Inconsciente. Eles podem alterar e até mesmo alterá-los, em caso de possessão”.
“A ALTERAÇÃO de hábitos, atitudes e costumes, tem propósito de modificar os rumos existenciais de uma pessoa, de uma família, de um culto religioso, as tendências políticas de instituições tais como Câmara, o Senado, ou mesmo de uma sociedade, direcionando-a para o exercício de comportamentos que podem estar de acordo com uma demanda sobrenatural que não se explica facilmente. Vide os 58 milhões de votos no Bozo, ou a eleição” dos Trump para a presidência nos EUA”.
“COMO EXPLICAR que tipos tão intensamente antidemocráticos, narcisistas, com um discurso totalitário instrumentalizado, possam ter tantos fanáticos seguidores??? Seus seguidores os admiram por serem, eles mesmos, pessoas intensamente medíocres que se projetam melhores do que são, quando se querem apoiar em seus “mitos”, tentando com isso uma proximidade incoerente com eles. Essas pessoas perderam o controle sobre pensamentos, palavras e costumes, vivem num mundo de fantasiar lideranças políticas que querem apenas aproveitarem-se de sua ignorância e ingenuidade”.
“ESSAS PESSOAS fanzocas de negacionistas da ciência das vacinas, da democracia, vivem na periferia mais atrasada da mentalidade consumista. Não se dão conta de que estão sendo impiedosamente lesadas. Desconhecem a realidade de que são perversamente manipuladas por seus aproveitadores. A modernidade delas se resume em se aliar cegamente a eles. Atitude essa que tem muito a ver com a “síndrome de Estocolmo”, um estado psicológico em que as vítimas (agressão, sequestro, abuso) desenvolvem intensa simpatia, amor, admiração, amizade platônica, por seus agressores. O medo e a repulsa são sublimados, mudam de estado, inconscientemente, tal qual a água muda de estado sólido para o líquido ou do líquido para o gasoso”.
“ESSAS PESSOAS, desde a mais remota antiguidade, se habituaram a seguir suas lideranças. Elas sempre estiveram cheias de insegurança, timidez, pavores. Elas sempre estiveram no rastro dos que aparentavam ser menos medrosas e covardes do que elas. Essas pessoas buscam desesperadamente um amuleto, uma muleta na qual possam sentir-se amparadas, ainda que provisoriamente. Desconhecem o que é integridade, decência, determinação existencial fora de seus interesses de sobrevivência, os mais mesquinhos”.
“ADMIRAM OS gorilas louros que ficaram ricos explorando a vulnerabilidade dos mendigos. Os miseráveis das periferias evangélicas brasileiras, norte-americanas, latinas, nunca quiseram ou souberam aprender a pensar e a avaliar o porquê de suas carências, de seus vexames, de suas vidas sempre precisadas da muleta de seus supostos apoia dores. Essas pessoas eleitoras do Bozo, do Trump, não são necessariamente miseráveis, mas são sim, necessariamente e corruptas. Espiritualmente solícitas à própria condição de antiguidade mórbida, da antiguidade atualizada por seus medos que não diminuíram”.
“OS ESPÍRITOS que nelas, nessas pessoas habitam, transcenderam os corpos carcomidos pelos vermes e tacurus. Corpos silenciados em vida, engarrafados no trânsito, obstruídos por uma cultura nefasta, uma cultura de futebol, boteco, cervejarias, bar da esquina, música popular par a embalar gays e meninas do trottoir, educação de 5ª categoria, exclusão social, direitos desumanizados, detritos humanos... A cultura pop do besteirol sambalêlê, das escolas samambaias da Marquês de Sapucaí”.
“OS ESPÍRITOS descendentes do período colonial negro negreiro, se amalgamaram nos corpos escravizados das três raças em busca de prazer, pão, cachaça e fantasia. No que resultou numa cultura larval, de velhas cachimbeiras e seus filhos indígenas, negros negreiros e brancos vadios. Eles se conectavam ao mundo espiritual fumando ervas nativas, ingerindo chás alucinógenos que lhes proporcionavam a incursão em mundos de outras dimensões”.
“A SABEDORIA sobrenatural de Tupã, da deusa Jaci, de Guaraci, de Rudá. Os deuses dos negrinhos do pastoreio e seus Orixás, a mitologia branquela dos marinheiros pedófilos e sodomitas provenientes da cultura europeia greco-romana. Toda essa panaceia passou pelo liquidificador no mormaço da paisagem tropicalista de uma cultura que estruturou o tropicalismo musical de Gil e Caetano. Quem sabe ao certo se essa cultura tropicalista não teve origem também na cultura dos deuses Vulcanos, provenientes do universo fictício de Star Trek ou dos Alien de Star Wars”.
“”“ AFINAL DAS contas, o “Senhor das Elon Moscas” e o “Senhor dos Anéis” são filmes que contam narrativas mais reais, se você bem pensar (fora do cercadinho cultural que te aprisionou), eles são mais reais do que ficcionais. Se você melhor pensar, esta conclusão há de chegar. A ficção, sabemos, só existe enquanto projeção de realidades que podem ser imaginadas pela mente real de quem as imaginou”””.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 22/12/2024