MANUSCRITO ACHADO NO METRÔ (VI)
MANUSCRITO ACHADO NO METRÔ (VI)
JÁ ERA TARDE, havia muito pouca gente nas estações, por isso, talvez, aquele projeto de livro foi “esquecido” propositalmente para que fosse achado e lido por qualquer pessoa que o achasse??? Pensei em devolver o documento para os “achados e perdidos” na estação do metrô, mas havia uma página solta que me isentavas dessa possibilidade, dizia: “você não precisa devolver este manuscrito. Se a leitura dele for, de alguma forma de seu interesse, tenha a liberdade de com ele fazer o que de melhor lhe aprouver”.
A ANOTAÇÃO estranha, inesperada, teve efeito súbito, imprevisto. Vivenciei a sensação imediata de ser proprietário do caderno. Isto me motivou à leitura dele, ainda que eu não fosse um sujeito domesticado no hábito da leitura. Pareceu-me, o caderno, um achado que bem poderia resultar em algo proveitoso. Daí, estou ainda ocupado em sua leitura. Agora mais atenciosamente.
TODOS SABEMOS que brasileiro, pela própria influência da cultura da molecagem, da sacanagem, do futebol, da pornografia, da corrupção de atitudes, da cerveja ou do chope no boteco da esquina, não é chegado à leitura nem de jornal. Os jornais nacionais impressos têm um índice muito baixo de compradores em bancas de revista ou na assinatura deles. Os barões das finanças, os políticos, os profissionais liberais, vivem todos num processo ancestral de progressiva deterioração mental em decorrência da baixa autoestima, pessoal e coletiva. Continuei a leitura das páginas escritas com caneta esferográfica, numa caligrafia boa, legível:
“ENTRA AS causas da baixa autoestima nacional está a tradicional falta de compromisso com a cultura literária, com a moralidade diária, o respeito próprio e mútuo. As facções criminosas prosperam a olhos vistos. Não são mais apenas locais, regionais e nacionais. Tornaram-se internacionais. Com interesses parecidos aos interesses das grandes corporações, com as quais mantêm vínculos em diferentes países, gerando emprego e renda para suas populações de dependentes químicos”.
“OS JORNAIS televisivos estão inflacionados com notícias de barbaridades cometidas por pessoas que se consideravam normais, até começarem a praticar crimes hediondos, dos quais não se julgavam ser capazes. A culpabilidade intensa desses criminosos tem raízes no Brasil colonial, na vigência dos donos de terras e usinas, dos feitores e barões das plantações de cana de açúcar. Os chefões da Casa Grande e de sua total capacidade de cometer toda espécie de barbaridades contra os africanos transportados para o Brasil nos navios negreiros”.
“A EXPLORAÇÃO sexual de meninos e meninas, moços e moças, com início no século XVI na vigência do Período Colonial, ainda hoje, nos dias do século XXI, produz seus efeitos nefastos. Os indígenas e descendentes africanos são, em sua grande maioria, os detentores desse carma submisso, aonde foram e ainda são vitimados pelas taras do homem branco europeu”.
“O RESULTADO é que eles também, de descendência indígenas e negra negreira, se tornaram opressores daqueles que, de alguma maneira, por circunstâncias de diferentes solicitações sociais, assumiram as habilidades degeneradas de seus tutores da Casa Grande. As raízes europeias ainda hoje, agora, mantêm o Brasil na condição pouco civilizada de uma imensa Senzala, familiar e social, sujeita aos desmandos de “mitos” que depressa se apropriam das mentes acostumadas a todas essas coisas da cultura e da civilização brasileira. Se sé que se pode chamá-las desta forma”.
““A CONDIÇÃO cultural dos fiéis evangélicos que proporcionaram a ascensão do Bozo na política, é a mesma dos tempos proustianos. Relativamente. O tempo em que essas multidões periféricas de repente, não mais que de repente, descobriram a memória traiçoeira do tempo voltado sobre si mesmo. Do tempo voltado em que foram condicionados a ser os atuais miseráveis travestidos em crentes do slogan canalha de Bozonagro: “deus, pátria, família” e muita safadeza homicida e negacionista””.
“A MEMÓRIA enquanto elemento e ferramenta privilegiada pela literatura de Marcel Proust. Relativizemos nela, transposta para a realidade brasileira, a profundidade da tristeza (ludibriada alegria, alegria) dos membros das raças indígena e negra, que ainda hoje vêm e veem o tempo passar lentamente e parar em suas entranhas: o Inconsciente Coletivo Nacional, seu carma histórico pesado na balança das iniquidades cometidas contra os direitos fundamentais de gerações. Gerações do amálgama nacional, tornado maldito, das três raças híbridas de nefasta memória no Tempo Perdido, processado pela submissão familiar e social aos interesses do comércio e da economia da sociedade do “american way of life”.”.
“O “AMERICAN way of life” de há muito superou os horrores da IIª Grande Guerra. Da IIª GG que lhe permitiu a grande supremacia sobre todas as economias do mundo. Supremacia essa que se afirmou sobre todos os demais países americanos, transformando-os em submundos de seu poder atômico e de sua riqueza e poder supremacista. Poder e riqueza representados nos dias de hoje pela ascensão do bilionário “Elon, o Senhor das Moskas”, aliado ao neo-nazifascismo do Gorila louro eleito presidente dos EUA”.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 21/12/2024