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OI, QUERIDA LEITORA
OI, QUERIDA LEITORA

Um prazer ter lido a cartinha sobre sua leitura do romance “A Mochileira”. Você me motivou a escrever esta resposta às suas indagações sobre os motivos que me levaram a escrever este romance. Sim, uma das razões é a permanência da verdade histórica que a parte narrativa realista do livro se atém à possibilidade daquelas vidas que estavam na Estrada, num momento de repressão, familiar e social, incontrolável e sufocante.
“A Mochileira” investe na memória desse período de Estrada que os livros de História do Brasil jamais mencionarão. Ele está escrito não para agradar ou desagradar leitores, sejam eles de qualquer idade. A memória daquela parcela da juventude, presumo, precisa ser   valorizada minimamente, Já que totalmente esquecida pela narrativa dos livros oficiais de História do Brasil.
As histórias nele desenvolvidas, ao contrário do que você insinua, não estão nem um pouco obsoletas. Elas constam de um período datado na década de setenta do século passado, mas são muito atuais. Aquela juventude vivenciava conflitos nunca dantes experimentados. O país estava subjugado pelo autoritarismo militar. Este, estava em todos os lugares: dentro da família, dentro das escolas, nas universidades, nas igrejas, nos clubes, nas ruas, nas salas de teatro, nas bibliotecas, nos cinemas. A opressão da ditadura era ampla, total e irrestrita. E também onipresente.
Não era apenas a Pauliceia Desvairada que estava acossada. Era o país inteiro que estava comprimido, alucinado. A juventude na Estrada, nos acampamentos próximos às praias, buscava no divã das conversas ao ar livre, “caminhando contra o vento, sem lenço sem documento, num sol de quase dezembro”, vivenciando a canção do Caetano. A parte menos condicionada da juventude, sufocava, reprimida por uma educação familiar caduca, por uma escola com professores que ensinavam em sala de aula, como se adaptar à coleira de uma cultura para boi e vacas dormirem, sob os sons da música popular brasileira e de uma Tv visão que engatinhava.
O país inteiro estava sob a repressão de uma política ditatorial, que o ex-presidente Bozonagro queria fazer voltar. Você, nos dias de hoje, talvez nem desconfie como era difícil viver num país sob a dominação de milicos com cultura de capitães do exército Brancaleone extraordinariamente repressivo. Na família, a cultura tumular dos ancestrais estava imersa nas condições culturais de um passado que não mais fazia sentido.
Enquanto os vermes do tempo corroíam os cadáveres dos jovens assassinados pela ditadura, os costumes internalizados pela cultura gagá estavam sendo questionados na leitura de livros dentro das barracas próximas às ondas nas praias, onde a Maria Joana era acolhida pelas mentes ávidas de espaço interior para expandir os pensamentos anteriormente represados.
A juventude da época tentava abrir espaço na “couraça de caráter” das certezas caducas que lhe foram impostas por uma cultura que já estava diluindo-se com as mudanças impostas às cabeças confusas que não estavam a compreender o que lhes acontecia. A cultura e a civilização estavam danando-se dentro das moringas que buscavam um refrigério no distanciamento dos coronéis familiares de plantão. Eles sempre estiveram cheios de certezas caducas.
O romance “A Mochileira” é sobre essa fronteira difícil de atravessar. Onde o policiamento era invisível, mas mais concreto do que o Muro de Berlim derrubado em 1989. Este muro invisível continua existindo. Só que agora, devido aos pioneiros que o derrubaram às custas da uma marginalização perversa das rotinas sociais dantescas, ainda hoje vigentes. O fogo cultural do inferno da repressão queimava em todos os lugares. Nos corações e mentes de todas as gerações.
Ou jovens vivenciavam a Estrada, ou ficavam agonizantes dentro das criptas no larbirinto, boiando na corrente do rio caudaloso da História: ao desamparo, ao desabrigo. O mausoléu de seus antepassados estava a chama-los do desabrigo, para os abrigos cheios de tapurus. Eles estavam em estado larval, no conforto do lar abrigados pelas moscas-berneiras. Ou a juventude caminhava pelas areias úmidas das praias, ou permaneceria próxima às substâncias orgânicas tóxicas em franca e inexorável decomposição.
Permita-me sugerir a leitura de livros atualmente editados sobre a maconha.  Seus autores Sidarta Ribeiro, Carolina Nocetti e Bruno Levinson. Carolina defende o uso terapêutico da canabis. Sidarta, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é um neuro cientista, jornalista e produtor cultural. Bruno Levinson é autor teatral, roteirista e diretor de programas de televisão. Estes autores poderão te ajudar a superar os preconceitos arraigados, fixados na mente sobre o uso da canabis.
1 CARINHOSO ABRAÇO
DECIO GOODNEWS

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 19/01/2024
Alterado em 21/01/2024
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