DO BRUCUTU AO
AO COTTON PROJECT

As masmorras cavernosas que deram origem às espécies, estiveram por milênios estagnadas em sua própria sopa de sobrevivência, antes mesmo dos tempos paleolíticos nos quais não havia uma mera chance de escolha, senão continuar. Subsistir sendo o troglodita que se familiariza com a proximidade das próprias fezes no interior das cavernas paleolíticas que deram origem à arte rupestre.

Do período da pedra lascada para a idade perdida da pedra polida, até a idade dos metais, a caça, pesca e colheita de frutos antecederam a descoberta do fogo, mais importante para a espécie humana do que astronautas dando pulinhos na lua. O homem moderno nascia ao iniciar a prática da agricultura. Os hominídeos tornavam-se sedentários. Chegara ao Neolítico. Os brucutus não mais eram nômades. Fixavam-se em lugares dos quais não saíam tão cedo. Animais começaram ser domesticados. Frutas e legumes plantados.

O mestiçamento vem de longe, muito de longe mesmo. A miscigenação de raças cresceu no sangue da perdição. Desenvolveu-se no pega-pega entre marmanjos babando por sobre as noivas estupradas na marra, que nem sabiam que seriam mães, e o que significava essa coisa, surpresa, a barriga começar a crescer sem que soubessem ao certo o que estava a acontecer. Sim, tudo acontecia por obra e graça da magia do existir. O existencialismo existia muto, muito distante no tempo, da filosofia de Soren Kierkegaard e Jean Paul Sartre. O livre arbítrio corria solto antes mesmo de ser mencionado na Bíblia.  

O primata sapiens vive hoje a ignorar, talvez, que está no limiar de uma nova “Revolução Neolítica”. Há uma série de habilidades físicas e tecnológicas que estão a permitir a possibilidade do controle definitivo da espécie humana pelos que detêm os meios de produção de bens e serviços. Quem, naqueles idos perdidos no tempo, sabia dominar minimamente a natureza??? O processo histórico que ainda estava na pré-história, fazia deles, brucutus das cavernas, o que eles eram. Sem questionamentos filosóficos. A filosofia ainda não surgira para questionar o que a natureza fazia deles, ser tal qual eram.

Estariam os brucutus a, simplesmente, sobreviver às suas necessidades??? Sabiam eles o que era isso, essa coisa palavrosa: “necessidade”??? Não sabiam, mas a viviam. Martin Heidegger e Friedrich Nietzsche ainda não tinham embuchado de suas matriarcas. Nem possibilidades eram ainda. O Homem de Neandertal já vivia enquanto símio, mas ignorava ser descendente do macaco propriamente dito.

O existencialismo estava longe de surgir. O homem das cavernas paleolítico não havia sido popularizado. Eram, esses homens, ignorantes de que “o existir” existia no mundo da existência. O sentido de suas vidas eles encontravam vivendo a correr atrás de ratazanas no mato, quando, de cócoras, a fazer suas necessidades, eram por elas atacados, tendo o estômago a roncar de fome.

Não havia tempo para a má circulação nos pés, nem distúrbios no coração primitivo dos vasos sanguíneos. A Academia “Smart Fit” de musculação e aeróbicos estava ali, bem perto deles: bastava raiar um novo dia e sair em busca do mastodonte, com presas de mais de metro e meio, que teriam de enfrentar para controlar a fome dos que ficavam à espera nas cavernas.

Os neandertais conviviam em regime de coexistência, não tão pacífica, com o Homo sapiens nas cavernas, vales e regiões montanhosas da Europa. Afinal, os proto-humanos e suas ferramentas com tecnologia de pedra lascada, haviam migrado da África há um milhão de anos. Daí, ganharam o mundo. A espécie Neandertal, surgida há 400 mil anos no continente europeu, Oriente Médio e Península Ibérica, fora extinta há, aproximadamente, trinta mil anos.

No Paleolítico da Pedra Lascada, surgiu a primeira grande grife da moda: a produção artística de vestimentas que foi se estabelecendo desde há 2 e meio milhões de anos até 10 mil anos atrás, quando nasceu o Raul Seixas. A moda de vestimentas foi evoluindo, evoluindo, até chegar ao século XIX com Louis Vuitton e a Burberry. Quando surgiram eram exclusivas da “elite”, feitas sob encomenda. Com o viger das décadas, começou a produção pop em larga escala, sendo acessada, no Brasil, pelas vadias, mulheres de traficantes dos morros e bairros chiques das cidades, principalmente RJ e SP.

Mas, os descendentes modernosos da migração afrodescendente ganharam a Europa e as Américas nos porões catinguentos e pestilenciais dos navios negreiros que, neste país, desembocaram nas Senzalas. Aquelas raças ou espécies muito antigas, que conviveram e se miscigenaram há milênios, continuaram a se hostilizar, também no universo das grifes da moda, pelos séculos da modernidade. A moda Pret-à-Porter (Ready-To-Wear) surgiu no início do século XX. Nos anos cinquenta do mencionado século, Pierre Cardin e a onda designer de Yves Saint Laurent agilizaram a Alta-Costura.  

Surgiram então as marcas das novas tendências dos artigos de couro e do vestiário: Chanel, Saint Laurent, Sanson, Schiaparelli, Lanvin: dos bens de couro aos artigos de viagem. Louis Vuitton e Hermés são as mais antigas referências. A moda das cavernas paleolíticas se foi afirmando no Pret-à-Porter do consumo e da publicidade, até chegar aos requintados modelitos da Versace, Calvin Klein, Ralph Lauren, Valentino, entre muitas outras.