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A DESOLAÇÃO POÉTICA —III—
A DESOLAÇÃO POÉTICA —III—

Em “A Terra Desolada” estamos em contato com a síntese da história do pensamento ocidental: literatura europeia, indiana e a Antiguidade clássica. O poema, em seus 400 versos, alimenta as bases do modernismo. Ainda que Eliot se considerasse um classicista. O potencial destrutivo das civilizações humanas é infinito. Elas vivem de se hostilizar, gostam de matar, entrar em guerras.

Dizer que a humanidade é humana não lhe parecia certo. E a você, caro e raro leitor, que lhe parece??? Que os fazedores de guerra estão em recesso??? Não, certamente não: Lembremos os mais de sessenta milhões de cadáveres da IIª Grande Guerra. Ucrânia X Rússia, Hamas X Israel... As dezenas de países em conflito esconso ou declarado. “A Terra Devastada” foi editada pelo autor em 1922, quando Eliot estava internado num hospital suíço, vivendo uma crise pessoal intensa na vida matrimonial e profissional. Ele era funcionário de um banco. Um banco que, em escala industrial lucrava com os horrores espantosos da Primeira Grande Guerra Mundial.

A cultura ocidental aliava engenhos bélicos e científicos, com engenhosa destruição a seus oponentes contra eles mesmos, “os outros”. Os opositores. Os divisores das terras e águas que queriam para si e os seus, as riquezas em matérias-primas que lá estavam abaixo dos espaços aéreos, nos territórios e regiões que queriam conquistar para o registro em seus ativos financeiros. Os territórios e zonas de influência geopolítica, o petróleo e outros óleos que no subsolo deviam extrair para a exuberar as suas contas bancárias de seus deuses de suas pátrias e famílias.

A “Terra Devastada” causou impacto na geração perdida de escritores tais como Fitzgerald, Gertrude Stein, Hemingway, entre muitos, muitos outros. Eliot reconheceu a influência da poesia francesa, em particular, Baudelaire. “The Waste Land” comparou-se, entre os eruditos literários da época, ao romance Ulisses, de James Joyce.

Neste despretensioso ensaio, tenho em mente evidenciar a Terra Devastada das famílias brasileiras, no particular doce lar das regiões norte-nordestinas, sob a influência do deus escondido nas lojas de varejo de seus comércios sob a influência do todo poderoso Bodemé. A montanha secreta de seus feitos pariu não um rato, mas uma ninhada inteira. A ratazana vidrada em futebol, em cerveja, nos papos melosos dos botecos nas esquinas.

A Terra Devastada dos prestidigitadores de uma cultura do Clube das Meninas. A agremiação mais povoada do planeta: aqueles torcedores que correm em massa para o Coliseu da cidade de carne em que vivem, em busca de um lugar para torcer por suas Marias Chuteiras. O Coliseu da cidade povoada por uma multidão de capetas.
A Terra Devastada da Cidade/Sertão em total integração com as necessidades e interesses dos capitães e coronéis de areia que dirigem o gado do sofá da sala de jantar para o Coliseu da 4ª feira e do fim de semana. Depois do jogo de seus perdedores, as cinzas. Aí estão o amor e a guerra dos pais de família, seus deuses, e patriotas do Bozonagro. Aí estão os que se socorrem no “efeito manada” que em 8 de janeiro devastaram as salas dos Três Poderes da República. Aí estão os jagunços da extrema direita que votaram no Bozo.

A Terra Devastada do jaguncismo no Sertão Brasil. O larbirinto espontâneo em meio a narrativa na Terra Devastada da Cidade/Sertão. Cada torcedor do time do Riobaldo zigzagueia na narrativa Roseana em luta contra os antípodas de outros grupos Jagunços. O time de futebol do Zé Bebelo contra o time de futebol do Joca Ramiro. Aí sim está a Terra Devastada da cultura da Literatura.

É nesse momento que entra em cena os prestidigitadores do Salão do Livro do Piauí. Os bate-papos literários, palestras e shows no Espaço Cultural Rosa das Ventosidades. O evento livreiro dos comerciantes de papel. A cabeça das pessoas que o frequentam continua igual após o último dia das festividades.

Eu, freudianamente lembro das pobres mães, sempre embuchadas por um Bodemé. Mãe, pobre mãe, o bibelô central do matriarcado familiar patrocinado pelo patriarcalismo mais arcaico que existe: os povoadores da Cidade/Sertão da sala de jantar do sofá. A dominação social dos falsos homens que utilizam a sexualidade como “recurso sem recurso”, visando o aumento exponencial da população escrava.

A Terra Devastada da Cidade/Sertão sempre em busca de um esconderijo, tipo Salipi, para mostrar ao público a cultura mágica do ilusionismo educacional paleolítico. As escolas públicas municipais, estaduais e federais vão continuar fazendo de conta que ensinam. Os alunos, sempre vão fazer de conta que aprendem. As universidades vão continuar criando a ilusão de que seus discentes não foram programados para continuarem na fila da procissão dos desempregados. Ou professores com salários que nunca vão equivaler aos salários dos corsários vereadores e deputados.

Leiamos, caros e raros leitores, outro recorte do poema “The Waste Land”:  

“E outros murchos vestígios do tempo/Sobre as paredes o passado evocava/Expectantes vultos recurvos se inclinaram/Silenciando o quarto enclausurado/Passos arrastados na escada/A luz do fogo, sob a escova em seus cabelos/Eriçavam-se em agulhas flamejantes/Inflamavam-se em palavras/Depois, em selvagem quietude mergulhavam/"Estou. mal dos nervos esta noite. Sim, mal. Fica comigo/Fala comigo. Por que nunca falas? Fala/Em que estás pensando? Em que pensas? Em quê? /Jamais sei o que pensas. Pensa.”

“Penso que estamos no beco dos ratos/Onde os mortos seus ossos deixaram/"Que rumor é este?"  O vento sob a porta/"E que rumor é este agora? Que anda a fazer o vento lá fora?"/Nada, como sempre. Nada. "Não sabes"/Nada? Nada vês? Não recordas. Nada?" /Recordo-me daquelas pérolas que eram seus olhos/"Estás ou não estás vivo? Nada existe em tua cabeça?".
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 14/11/2023
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