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OS HIPPIES, A PAULICÉIA DESVAIRADA E OS SATANISTAS
OS HIPPIES, A PAULICÉIA DESVAIRADA E OS SATANISTAS

SATANISTAS SÃO astutos, estão sempre em formação de grandes reuniões em grupos. Dizem ter contribuído para fazer a Revolução Francesa, a Independência brasileira, entre muitas outras. Eles são, sobretudo, mitomaníacos, ardilosos, caramboleiros, hipócritas, ladrões de joias, impostores, fraudulentos, mitos de terreiros.

NÃO BASTASSE, são cúmplices declarados de Satã e Asmodeus. Estão sempre armando seus seguidores com armas de fogo. Tramam incansavelmente contra as instituições e princípios democráticos. Eles boicotam sistematicamente aqueles autores, artistas, escritores, dramaturgos, que estão a querer afirmar mundividências coerentes com alta cultura e civilização. Civilização que supera os objetivos dos brucutus, militares armados com tacapes de pólvora da Idade da Pedra.

VOCÊ QUER um exemplo de como agem esses criminosos??? Vejamos: escrevi um romance titulado “A MOCHILEIRA”, em 1995. Ele foi impresso em tipo tipográfico pequeno, que não facilita a leitura por pessoas, mesmo aquelas que têm avista boa. O romance conta a história de um jovem paulista do interior do estado, em busca de uma forma de se encontrar a si mesmo, num mundo em convulsão. A guerra-fria estava em seu auge. A ditadura militar perseguia, prendia, espancava e, por vezes matava seus opositores políticos e ideológicos.

O JOVEM paulista adere ao movimento hippie, depois de ler autores da geração beat, seu livro mais marcante: “On the Road” (Pé na Estrada). Passou à defesa de uma sociedade naturalista e libertária, o que não é fácil para alguém que nasceu na meca do consumismo latino e sul americano: São Paulo. Ele vivencia conflitos que, naquele momento, são próprios da juventude influenciada pelos beats, punks e hippies, Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs.

SEU IMENSO conflito interior extrapolava os limites da cultura padrão vigente na cidade SP capital e em cidades do interior de São Paulo. Os generais se sucediam sucessivamente no poder executivo. Os presidentes do país eram eleitos sem que houvessem eleições. Os brasileiros estavam proibidos de votar. Os patrões armados da ditadura militar no Brasil, e demais ditaduras no continente americano, tinham em sua atuação social, a marca registrada da intimidação, do medo, do terror.

OS SATANISTAS apoiavam a ditadura armada, a tortura nos quarteis, a sádica afirmação ideológica da extrema direita vigente em todos os lugares: escolas, ruas, quarteis, universidades, instituições públicas e privadas. Não era nada descomplicada a vida de um jovem exilado dentro de seu próprio país. Criou-se então o Brasil alternativo das tendas nos acampamentos da juventude nas praias. A propaganda política boca a boca espalhava que esses jovens de “cabelos longos e ideias curtas” deviam mesmo ser reprimidos.

DIZIAM QUE essa juventude não fazia outra coisa senão fumar cannabis sativa, copular (transar), empoleirarem-se no interior das barracas. Quando não estavam a tomar banho de sol ou fazer o bailado da tribo conhecido pelos movimentos lentos do kempô. Tais movimentos tinham por princípio ativar a potência vital do corpo, os pensamentos que se tornavam fluentes de uma para outras mentes, a transmitir conhecimentos metafísicos primários, das ideias sensíveis, ainda não chegadas à percepção consciente.

A MOVIMENTAÇÃO normal das pessoas nas ruas em busca de emprego, de um ganha-pão, na tarefa desesperada de estudar e passar num concurso público para a Petrobrás e outras companhias estatais, era considerada pelas pessoas do movimento libertário hippie, a movimentação de um caos existencial com o único fito, propósito ou finalidade de enredarem-se no caos do consumismo desvairado da Pauliceia Desvairada.

MÁRIO DE ANDRADE, em 1922, havia editado uma coleção de poemas, que também circulava entre as opções de leitura nas barracas à beira das praias. O uso livre da métrica por Mário de Andrade induziu os poetas improvisados da literatura de Estrada, que dificilmente serão conhecidos dos brasileiros, a imitar as ideias modernistas europeias que faziam acontecer os movimentos literários na Europa e Estados Unidos. A paisagem urbana de São Paulo ganhava um novo componente: os outsiders de cabelos longos e ideias para depois do ano 2000.

AQUELE JOVEM paulista buscava a realidade de uma nova e insustentável leveza do ser. Ele sentia na pele bronzeada a pressão impositiva de uma cultura e de uma civilização que lançavam a juventude do momento num redemoinho destrutivo da individualidade. O jovem paulista lutava com todas as suas forças para não ser eclipsado pelas forças obscuras do totalitarismo vigente na História do Brasil. Ele se sentia uma espécie de Et, um extraterrestre tentando encontrar-se em meio à voragem do vórtice cultural de uma civilização dedicada ao Ter. Ter isso, ter aquilo, ter mais do que o outro. Ele não queria se permitir consumir pelo consumismo.

O JOVEM PAULISTA, personagem do livro “A MOCHIELEIRA” desejava que sua vida tivesse um sentido mais significativo do que a vivência e a anuência às ideias estereotipadas da cultura dos quarteis, dos generais das gerais da “Revolução”. O jovem paulista renunciava a cada gesto que não tivesse a causa e o objetivo da liberdade de expressão. A irrealidade do mundo real era como que uma afirmação de outra dimensão do existir. O “efeito manada” estava a viger. Não para ele.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 02/09/2023
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