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“BIRTH” — POLLOCK (1941)
“BIRTH” — POLLOCK (1941)

MEU MEDO ERA não poder sair desse mundo familiar, desse inferno de vulgaridades. Aquela pequena burguesia da cidade, tinha mais que medo, tinha horror de abandonar seus mais primitivos impulsos e se distanciar de seus mortos: eles não se levantaram mais, porque já tinham se levantado e estavam no encosto de suas nucas. A estrada, o jogo e a indecência eram para muitos poucos. Ninguém disposto a me ouvir. Uma criança a viver acossada pela ossada direcionada dos familiares ancestrais materializados neles.  Aprendizado de rato num larbirinto. O bloco de construção básico de meu universo infantil familiar fluindo na inutilidade imposta do tempo deles. Quem poderia dar-me a mão, sem cobrar o café da manhã, o leite e o pão???

TODOS NO larbirinto da família estavam envolvidos no diagnóstico dos extrovertidos e introvertidos narcisistas do manifesto calado dos maníacos depressivos. Criaturas infinitamente perturbadas. Produtos de uma coisa, um esquema, uma linha de montagem de produção em massa com engenharia em outro mundo.  Filhotes padronizados, mão-de-obra para serviços e compromissos com os barões do mercado consumidor da produção industrializada e da política tiririca. Trabalhadores de políticas interplanetárias                                               atuando neste planeta Terra. Crianças para crescer até virarem rapazotes modelo “Ford de Bigode”. Um processo que revolucionou a colonização planetária em orbes tipo sistemas solares de 5ª Grandeza.  

A SINFONIA universal esotérica era para ela, Mãezona, uma realidade totalmente fora da compreensão de mundo de suas misérias mil. E a doutora Rozen, proveniente dos campos de concentração nazistas da IIª GG, a encher sua cumbuca de “ideias de jerico”. Ela era apenas uma máquina de produção de bebês, crianças, jovens e adultos que de nada serviriam para ela depois de crescerem. Não seriam mais as bonequinhas e bonequinhos da mamãe. Não eram mais engraçadinhos. Não estariam sujeitos às suas fantasias de principados deteriorados por sua vontade de fazê-los permanecer pequeninos, anões para seu lazer. Não seriam mais seus brinquedos enfermiços.

ELA ERA UMA máquina orgânica aprisionada à sua própria rotina cíclica de morbidez existencial. Prisioneira dentro de casa. Subordinada ao marido e ao mesmo tempo subordinando-o A impotência sexual se estabelecera definitivamente. As gemadas de ovos batidos com açúcar e leite quente não mais faziam efeito. Seu filho primeiro não obedecia ás suas fantasias, à sua imaginação doentia, não estava a fazer parte seus projetos fantasiosos imersos em insanidade.

ELA FAZIA parte do país caricato e burlesco. De qualquer jeito não era o país dela, de seus projetos, instintos e desejos. A grande comédia familiar de sua vida seguia um roteiro que não era o dela. Como não??? Então não foi ela que os pariu??? Que os carregou nove meses, após as noites simuladas de prazeres??? Ela, na real, não passava de uma piada para a plateia de vizinhos e amizades de fachada. Ela não poderia fazer de conta que sua vida fazia algum sentido. Tudo que aprendera durante toda sua ineficaz inexistência, foi parir. E isso é coisa que nem escola nem faculdade ensinam. É natureza fazendo seu papel.

OS FILHOS cresceram, mas sua mente embotada por milhares de anos vivendo em cavernas, convivendo com seus pares trogloditas, essa sim, continuava sendo sua sociedade, seu país de verdade. Sua antiguidade renovada nessa encarnação. Ela não mais podia fingir que era algo mais do que uma máquina na linha de montagem: mulheres elaboradas por uma engenharia de produção para fabricar ou parir robôs de carne e osso para trabalhar o progresso que não era dela, a ordem política e econômica que a jogara no lixão da história das mariposas casadas.

ELA, MÃEZONA, não se somaria às quase um milhão de pessoas que tiram as próprias vidas todos os anos. Uma morte a cada 20 segundos??? Ela teria de suportar o peso de ser quem foi, quem é. Quem será ela, ela sabia: nunca seria nada. Trocou a quantidade pela qualidade. Nenhum de seus rebentos não mais serviria para diverti-la. Eles cresceram. Agora tinha por filho que a divertia aquele Coisinha Júnior, o Tonho Ratazana, que desenvolveu o instinto de roubar tudo e todas as coisas que estivessem próximas a ele. Ela se identificava com ele e com Dulce It “A Coisa”, por quê??? Porque Tonho Ratazana plantou nela e no marido a certeza de que ia suicidar-se. Enche-os de culpa.

A IDENTIFICAÇÃO com esse plano de vida fora imediata. Que mais ela mesma ou o marido tinham a fazer na vida, após perder o respeito e a compaixão dos filhos??? Era, o casal, nada mais do que máquinas orgânicas aprisionadas a própria vergonha de suas rotinas agora envelhecidas e envilecidas. Não poderiam esconder dos filhos o passado que os envergonhava a todos. Como aceitar esse amontoado de tensões, perturbações, ansiedades e desassossegos??? “A Coisa” estava enlouquecida a não mais poder. Por isso ambos eram seus zumbis favoritos. Deles, ela poderia continuar sendo mãe.

BEM AO LADO da janela do quarto do casal, Paizão havia plantado um pé de sapoti. Árvore nativa do sul do México e da América Central. Ela atrai morcegos, presença importante no ecossistema. Eles são noctívagos. E polinizadores, tal como as abelhas. Vê melhor que os humanos ao entardecer e quando amanhece, quando a luz do sol ainda não surgiu no horizonte. Simbolicamente eles são vampiros. Chupam sangue de pequenos roedores. São considerados símbolos de longevidade e ancestralidade: existem há mais de cinquenta milhões de anos. Os humanos estão na Terra há 2,8 milhões de anos. Na China são considerados símbolos de sabedoria, desde a antiguidade.  

NÃO SEI SE consciente ou inconscientemente, a lição que Paizão quis passar tendo essa árvore, o sapotizeiro, por símbolo, plantada em seu quintal, é que morcegos se aglomeram, se empoleiram uns próximos aos outros, para se sentirem protegidos. A mais evidente de suas habilidades é a mestria em manobrar, como se quisessem afirmar:

— Se o que vem em frente não é adequado e pode ser nefasto e contraproducente, manobre e siga em noutra direção. Crie distintos resultados em seu voo. Aleatório.

NO GÊNERO ficção científica, há histórias que afirmam: a humanidade teria sido dominada na antiguidade por uma espécie Et de vampiros. Essa espécie teria, alimentando-se de sangue hominídeo por muito tempo, contaminado os primeiros primatas com seu DNA. Iniciou-se a partir de então, há mais de dois e meio milhões de anos, a descoberta do planeta Terra por outras espécies Ets igualmente interessadas em experiências de DNA híbrido.

A PARTIR DE então, espécies hominídeas conviveram simultaneamente umas ao lado de outras num ambiente de promiscuidade sexual. Por meio da seleção natural, os organismos mais bem adaptados ao ambiente canibal selvagem, criaram as chances de sobrevivência supremacista uma sobre as demais. Estas, entraram em processo gradativo de extinção. Essa espécie antiga de supremacismo ainda vigora hoje, no século XXI, representada por primatas tipo o Trumpqueiro nos EUA, a Lagartixa Caucasiana na Rússia e o nazifascista Bozo Mussolini no Brasil.

SEGUNDO DARWIN, a seleção natural afirma a sobrevivência da espécie mais selvagem, antropofágica, posteriormente mais moderada, sobre as demais. As ciências biológicas confirmam as ideias centrais da “Origem das Espécies”: a evolução e a seleção natural. Na série “Alienígenas do Passado” cientistas defendem a tese da “Lei do Contágio”, segundo a qual os organismos melhor adaptados ao ambiente indócil, feroz, vândalo, indômito e descontrolado, têm mais chance de sobrevivência.

A NATUREZA É sábia e/ou implacável??? Nos jogos de convivência no processo de evolução e sobrevivência, o espaço de subsistência dos mais fracos é reduzido. As pessoas que foram vitimadas, pela convivência social, com outras mais privilegiadas no aspecto financeiro e econômico, foram direcionadas à submissão da libido, por serem mais frágeis. A longo prazo essas pessoas serão removidas do tabuleiro evolutivo???

DO MUNDO dito natural se afirma uma notícia hórrida, medonha: um fungo que afeta cigarras, coage e sujeita seus hospedeiros a acasalar depois de suas genitálias se desfazerem, após se fragmentarem, desagregarem-se. Seus corpos se tornam simulacros para uma moléstia ou patologia que se espalha e extermina todos na toca. O fungo, “Massapora cicadina’, compele os insetos a se procriarem em ritmo de cólera, grande excitação e ansiedade, movidos por compostos químicos psicoativos. Numa espécie de surto psicótico incontrolável.

OS COMPOSTOS químicos causam mutações enfáticas de comportamento. As cigarras contaminadas produzem esporos em seus próprios corpos, contaminando outros membros da espécie. Os espécimes contaminados produzem bolsas tumorosas salientes, sobrecarregadas de esporos. Elas dobram o peso dos insetos. Os esporos multiplicam a transmissão que, em pouco tempo, afeta toda a população. Estaria a espécie Homo sapiens fadada à uma destinação semelhante??? A possibilidade não é, de todo, descartável.

SE O HOMO sapiens, sapiens não soube dirigir sua cultura e civilização no sentido de realizar um ideal de saúde física e mental, beleza e harmonia possíveis à maior parte de seus descendentes, a ponto de a subjetividade humana ter se degradado a esse limite irracional ao qual chegamos, que mais se pode presumir, senão a extinção da espécie???  “Birth” sugere um progresso, um andamento evolutivo, um acesso, um portal emocional direcionado ao autoconhecimento. Um portal de entrada ao Inconsciente Pessoal, ao Inconsciente Coletivo:” quando estou em minha pintura, não tenho consciência do que estou fazendo”. O Inconsciente Universal seria talvez um Portal de Salvação”???
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 08/03/2023
Alterado em 08/03/2023
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