AOS HOMENS DA TERRA (VALIANT THOR)

A FISSURA no tempo que havia experimentado há poucos momentos, quando ela soprara o pó do vodu na minha cara, era apenas outra das muitas ameaças contra minha integridade física e psicológica. Era uma advertência de que eu devia “pisar nesse chão devagarinho”, como dizia a canção do Caetano. Ou poderia simplesmente ser exterminado subitamente pela adversidade circundante. Talvez fosse um problema para mim enfrentá-los. Mas eu deveria fazer isto do mundo interior, subterrâneo, para que não vissem que eu reagiria sempre às suas demandas contra mim.

CONHECE-TE a ti mesmo!!! Você tem coragem de se encarar em profundidade??? A verdade é que precisas de coragem para se ouvir, analisar e mirar-se. Os ecos do mundo em redor se fazem ouvir. E você, como se fosse a ninfa Eco, não pode calar-se, apenas repete os últimos sons da voz que lhe chega. A frase na entrada do Templo de Delfos estimula a reflexão a olhar-se em ti. O patrono da sabedoria clama por si mesmo.

PRECISAS de coragem para se inscrever em ti mesmo, para se amar, se ousar. Coragem de dedicar seu tempo não apenas para sobreviver. O café da manhã está cheio de manhas, assim como o almoço, os lanches, o jantar. Ir e voltar ao trabalho, voltar para casa, adormecer, sonhar, ter pesadelos. Você é mais do que namorar, se apaixonar, casar, ter filhos para criar, envelhecer à luz da idade, morrer.

VOCÊ É mais que órgãos internos e pele sobre ossos. És mais que aparências num mundo hostil e tempestuoso onde o barco de Caronte navega á espera de sua alma. Não é fácil compreender a complexidade da simples realidade do mundo. O mundo brasileiro não é uma exceção. A cultura nacional está inserida no espaço globalizado da influência supremacista. Colonial. Machista. Branca. Protestante. Rica. Do olho azul. Os supremacistas brancos foram abortados da crença na falsa ideia da superioridade natural do homem originário de países caucasianos. São empanturrados de ideias racistas, do narcisismo e primado hegemônico. Creem-se um grupo privilegiado, descendente da raça de deuses nórdicos.  

VOCÊ É mais que trabalho, salário e aposentadoria. Você é mais que correr atrás por aprovação. Além dos limites do medo, conhecer-se. O medo de ser mais que um ouvinte dos Beatles e do macaquear de palco dos Rolling Stones. És mais, muito mais do que uma pedra rolante. Mais do que um espectador das pirâmides. Mais que um bobo admirando-se com Stonehenge ou a cultura Maia. Não és apenas um cadáver semovente em direção ao cemitério. És mais que um outro habitante da necrópole do pão e do circo. És mais do que uma criança que ensaia a entrada no portal da adolescência. E que se alimenta em direção à vida adulta e à senilidade.

SE VOCÊ não cobrar seus direitos, não será nada mais do que mais uma cabeça de gado na manada. Espectador juvenil entusiasta de Guerra nas Estrelas. Um habitante tonto por habitar a megalópole, na metrópole de Nossa Senhora do Oh. Saber-se não é para qualquer náufrago que rabisca trovas e poemas cheios de sentimentalismo brega. Saber-se não é para os que se vestem de fantasias carnavalescas para a diversão de turistas. Não é para dançarinos de frevo ou passistas de maracatu.

QUEM É você!!! Um pintor de telas, um ator de novelas, um autor de textos para serem encenados e provocar dores de cotovelos??? Quem és??? Um analista de sistemas, um espectador embasbacado da série Alienígenas do Passado??? Um leitor interessado nas descobertas de von Däniken e demais teóricos da conspiração??? Um pato pasmo fixado nas linhas de Nasca, no Mapa de Piri Reis, nas Pedras Ancestrais do Peru??? Nos deuses astronautas psicopatas??? Nas ruínas de cidades antigas, nas construções extraterrestres??? Nos curiosos e astronautas mestrados em mistérios da Área 51???

VOCÊ É mais um cara do mal, do bem, um crente admirador da pedra Bem Ben do templo de Heliópolis??? Tente-se e atente, quando estiver só, para um contato telepático com Valiant Thor. Você não é apenas um organismo biológico, uma coisa saída das entranhas, por vezes estranhas, produzido por um orgasmo feminino com um propósito vantajoso de levar vantagem sobre outros bípedes. Você não é apenas uma coisa produzida pela sensação repentina de prazer, pela ejeção de fluido na ejaculação do esperma na vagina.

VOCÊ NÃO é apenas um sobrevivente carente de pão e circo que vota num candidato tipo Bozo, um criminoso nato que quer você armado, pronto a atirar em seu semelhante. E ainda se diz católico casado com fêmea protestante. A arma do homem que não é também um covarde, é o Conhecimento. E o conhecimento de si mesmo. Países se armaram para matar milhões de seres iguais a eles considerados pelo poder de governos, adversários de seu egoísmo produzido pela sexualidade humana. Seus espermatozoides chegam aos óvulos, produzem orgasmos e filhos para alimentar a usura dos mercadores do mercado hereditário de traidores da própria espécie.

VOCÊ NÃO precisa de muito mais do que tornar seu corpo digno do espírito que te ocupa. Sua juventude e vida deveriam ser a fonte do pensamento que te liberta das mais nefastas influências de habitantes armados das casernas da alienação. Você não precisa ser dócil e nem votar num político que te prepara para assumir a violência da qual é consequência, por ser proveniente da cultura agressiva, perversa e odiosa do treinamento das casernas.

ESSA GENTE armada das piores intenções são seres bizarros, vulgares, que cumprem rotinas de trabalho dentro de uma hierarquia que, com o Bozo, virou uma anarquia de direita, com seus extremos empenhados em enfraquecer as instituições da democracia. Seu propósito é o desgaste da alma dos eleitores que o querem transformar em produtos escravizados para seus sórdidos objetivos, em e medíocres intenções totalitárias.

NO MUNDO da pós-Guerra Fria, as instituições foram desmoralizadas para dá lugar às incertezas e a desolação dos ideais falidos e expostos à uma moral crepuscular, que tem por finalidade a derrocada do que há de humano na cultura e na civilização. Eles, os militares armados de bombas nucleares nas grandes potências, ameaçam essa cultura e civilização tão duramente afirmadas, com a simples destruição. A dominação pelo medo de povos e países. Não há neles sede de Conhecimento e espiritualidade. Não há neles respeito próprio nem autoestima.

ELES DIZEM defender a liberdade quando, em realidade, lutam com suas armas para ver a terra devastada pelo desespero, a fome e a privação da educação e da cultura, de modo que possam esconder-se sob a farsa de uma democracia de aparências: uma farsa que satisfaz às peculiaridades de uma “elite” sem caráter, sem projetos humanitários reais. Projetos que deem lugar, em plenário do século XXI, à saída da pobreza, da miséria, da aridez de suas supostas origens arianas de dominação globalizada por uma quadrilha de poderosos da economia e da política do “venha a nós”. "Ao nosso reino popular", nada do que não seja uma metáfora da recreação ordinária e da mediocridade da fanfarra.