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DOIS VELHOS COMENDO SOPA — GOYA (1819)
DOIS VELHOS COMENDO SOPA — GOYA (1819)

A REPRESSÃO social promovida pela ditadura reinava nas ruas, praças e avenida das cidades apavoradas. As pessoas espancadas nas praias por simplesmente estarem fumando e dialogando sobre os últimos acontecimentos. Nas salas de espera de cinemas e teatros, lá estavam os valentões das FFAA a ameaçar pessoas que estivessem a trocar ideias numa roda viva de amigos.  Logo eram ameaçadas:

— “Vamos circulando, comitês estão proibidos. Vamos, vamos logo, vamos circulando, se não quiserem dormir na delegacia do Dops”.

NÃO É POSSÍVEL escrever este texto sem estar deprimido com a condição existencial de meus familiares. Cada um deles, meus irmãos e irmãs, eram portadores genéticos do direcionamento emocional cego deletério, deteriorado por uma intenção perversa de fazer de mim um “Bode Expiatório” de suas intenções, as mais perversas. Também não é possível a leitura deste texto se não for na condição perceptiva da polissemia. A Arte literária, e qualquer outra forma de Arte, induz o leitor à leitura conotativa.

AREDITO MESMO que Mãezona representava a Maria que motivava os ritos satânicos do Vaticano, dedicados à mulher que cedeu às piores intenções para com seus filhos e a sua descendência. Uma mulher que não aceitou a condição de Mãe benevolente e compreensiva. Mas, ao contrário, se dedicou a reinar numa comunidade de uma família e sociedade emocionalmente destrutiva. Essa Maria rejeitou a circunstância benevolente da maternidade. A oração dela, ela professava consciente ou inconscientemente:

AVE MARIA/Cheia da chalaça/O senhor do mal é contigo/Maldita sois vós entre as amantes/Maldito é o fruto do vosso ventre/Satã. Malvada Maria, mãe da maldade/Rogai por vossos pecadores/Agora e na hora de vossa extinção/Amém.

MAS, QUEM É Satã, senão a própria Sombra??? As atividades e desejos devassos, obscenos e violentos que ela, Mãezona, não aceitava no nível consciente de sua personalidade tosca??? Seu lado obscuro, negro, que ela projetava em mim, quem sabe em outros filhos, e negava nela mesma, porque não tinha coragem de se encarar. Ela tinha medo da manifestação deles na prole: seus recalques reprimidos. Todas as pessoas têm um lado sombra. Sombra: arquétipo do Inconsciente Pessoal, herança do Inconsciente Coletivo: o complexo kit de estruturas inatas, herança do conflito entre instâncias do Inconsciente Coletivo. Este, promove os conflitos que dão sentido e movimentam à vida. Vida que nela era tortuosa e inaceitável.

A FAMÍLIA É A plataforma principal da sociedade. Mas, certamente, esse tipo de família não se faz benéfica à continuidade dela mesma e da sociedade à qual pertence. Ela é a cartomante que planta nos corações e mentes de seus membros, uma portabilidade genética totalmente dotada de inconsequentes desejos de domínio e sedução. Sedução e desejos que extrapolam os limites da melhor civilização e da cultura. Tornando essa civilização e essa cultura uma condição de sobrevivência deletéria de seus membros. Sócios, familiares e parceiros de uma condição de convivência simplesmente sub-humana. De intenções inconfessáveis e as mais suburbanas possíveis.

ACREDITO QUE A inconsciência de seus atos é movida por mecanismos orgânicos que elas próprias desconhecem como gerir. Acredito que não foram, essas mulheres, programadas para transcender o pior do que há na genética delas mesmas.  São, com certeza, seres biológicos com DNA programado, desde a primeira fêmea da espécie sapiens, Eva, para engravidarem de extensões da estirpe e linhagem da família, dita humana, destinada ás finalidades familiares e sociais que hoje vemos acontecer nas mais diversas instâncias das instituições de uma sociedade autodestrutiva.

NOSSO CÉREBRO É uma máquina de aprendizagem quântica. Não foi, não é e não será educado para se monitorar e a seus dependentes familiares e sociais, de maneira adequada à uma sobrevivência fora da possibilidade de extinção da espécie. O que Paizão Coisinha e Mãezona aprenderam com a suposta civilização e cultura sapiens??? Aprenderam, tal como estamos sabendo pelo comportamento deles e da maioria de seus descendentes, a repetir a agregação de laços afetivos de parentesco familiar e social, semelhantes aos trogloditas do tempo da caverna dos brucutus.

COMO PODERIAM, os membros dessa família, permanecer em estado de respeitabilidade própria e de socialização, se seus indivíduos, quase todos, aceitavam a escravização mental acrítica entre si mesmos, a partir do “eu” de referência dos pais, perversos, sadomasoquistas e irresponsáveis??? Que afinidades eletivas poderiam, no futuro promover enquanto eles também pais de família??? Como poderiam distinguir-se do parentesco por afinidade, a se estabelecer pelo casamento, no parentesco consanguíneo por descendência???

O LAÇO NEURAL entre pais e filhos, uma vez degradado pelas impertinentes e repetitivas sessões paternas de sadismo e morbidez sodomita, como extirpar a memória desses eventos traumáticos a muito longo prazo??? As milhares denúncias de práticas sodomitas entre clérigos e pastores de igrejas e templos, não têm nada de minimamente cristão. O laço neural que os une é a falta de controle, é a carência de afetividade. A elaboração mórbida dos compromissos paternos resulta numa sociedade da qual somos partícipes de seus crimes de responsabilidade familiar, política, econômica.

ESSE TIPO DE pais faz, todos os dias, o upload das adversidades que de há muito afligem as crianças e a descendência da espécie. Esses Laços de Família mantêm uma espécie cênica de simulação de respeitabilidade. Como cantava a canção de Belchior:

“NO CENTRO DA sala/Diante da mesa/No fundo do prato/Comida e tristeza/A gente se olha/Se toca e se cala/E se desentende/No instante em que fala/Cada um guarda mais o seu segredo/Sua mão fechada/Sua boca aberta/Seu peito deserto/Sua Mãezona parada/Lacrada/Selada/Molhada de medo/Pai na cabeceira...”.

É HORA DO ALMOÇO/para os familiares do Bozo/Eu ainda sou bem moço/Para essa tristeza/Minha mãe me chama/Minha irmã mais nova/Loura cabeleira/Minha trisavó me chama/É hora do almoço/Pra que toda essa tristeza/Onde está nessa união/A vida ou coisa parecida/Que nos arrasta, moço/Sem ter visto e sentido/Na vasta manhã, o sabor da vida/A juventude perdida/Na hora do almoço/Dessa forma perdido, o alimento se mastiga na boca/Sem sabor ou aroma.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 13/01/2023
Alterado em 13/01/2023
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