ADMIRÁVEL MUNDO NOVO — ADMIRÁVEL MUNDO MORTO
ADMIRÁVEL MUNDO NOVO
ADMIRÁVEL MUNDO MORTO
QUE PODE um jovem contra as evidências de que o mundo, a alma do mundo está vigilante, ou pode estar distante de seu existir??? Quem está a controlar seus pensamentos, palavras e ações??? Que fazer para ter controle sobre eles!!! Como pode a juventude na proa conquistar o prazer do leme???!!!
SE VOCÊ ACREDITA mesmo que demônios não existem, é porque suas ações e intenções já se confundem com as deles. Você não pode vê-los com seus traumas, recalques e complexos, porque se tornou parte da intencionalidade deles. Mãezona tinha um repertório imenso de músicas de ninar. Ela gostava muito do encanto que surgia de sua voz maviosa ao cantá-las. Ela simplesmente encantava. A emoção vinha de um lugar de grande profundidade emocional. Quem a ouvia se encantava. Como se ela fosse uma sereia que conduzia seus ouvintes a seus abismos emocionais encantadores. E traiçoeiros.
MÃEZONA CANTAVA e encantava. Talvez por isso quisesse parir tantos filhos e filhas. Parir despertava nela uma intensa orgia de emoções que externava nas canções de ninar. A letra cantada do Acalanto de Brahms, era exemplar. Quando cantava ela transmitia suas próprias e profundas percepções da emoção que a motivava acreditar que era uma divindade, que estava a povoar o mundo, a criar o mundo familiar ao seu bel-prazer. Ela talvez se acreditasse uma deusa mãe que queria, ao parir os filhos, direcionar cada um deles para a vivência de um mundo que existia apenas nas ilusões perdidas dela.
A PROFUNDA idade da emoção que ela externava ao cantar as canções de ninar, exteriorizava uma manifesta lamentação por não poder direcionar suas criações filiais em direção a um mundo que não fosse o mundo cão que elas teriam de viver ao crescer. Alguma coisa interior naquela mulher estava radicalmente associada à uma outra dimensão do existir. Longínqua. Ao mesmo tempo presente e alhures. Ela cantava e, por vezes, parecia estar tão distante quanto se concentrava em dá laçadas em cada nó numa linha pertencente a um pedaço de pano onde parecia querer prender alguma coisa. Eu desconfio que cada alma, de cada filho. Ela estava a prender a alma de cada filho ou filha que estivesse a reagir às suas inconfessáveis intenções.
POR QUE prendê-las??? Aquela mulher vivia num ambiente interno de grande frenesi, pandemônio e depressão. Sua solidão era contagiosa, tal qual a solidão que a paisagem pintada por Van Gogh no Campo de Trigo Com Corvos, transmitia. Uma solidão que comunicava toda a desolação que havia dentro da alma pessoal dela. Da alma social de seu mundo cão. Toda a perturbação mental dela estava camuflada na suave cantoria das canções de ninar. Na deliberada emoção de quando cantava outras canções, a exemplo de “A Noite do Meu Bem”, lamentosa e nostálgica composição de Dolores Duran:
“HOJE EU quero a rosa mais linda que houver/E a primeira estrela que vier/Para enfeitar a noite do meu bem/Hoje eu quero paz de criança dormindo/E abandono de flores se abrindo/Para enfeitar a noite do meu bem/Quero a alegria de um barco voltando/Quero ternura de mãos se encontrando/Para enfeitar a noite do meu bem/Ah, eu quero o amor/O amor mais profundo/Eu quero toda a beleza do mundo/Para enfeitar a noite do meu bem/Ah, como esse bem demorou a chegar/Eu já nem sei se terei no olhar/Toda a ternura que eu quero lhe dar”.
EU A OBSERVAVA: ela estava completamente absorvida num astral de um universo paralelo. Ela, ao dá cada nó na linha que pertencia a um pedaço de pano maior, estava a prender a energia vital de alguém, eu talvez, por achar que eu devia ficar prisioneiro numa arapuca de tempo e espaço dela. Só dela. Por vezes o pedaço de pano tinha vários seguimentos ao redor.
NESSE TEMPO E espaço no qual se refugiava dos problemas que ela mesma criava. No tempo e espaço de seu larbirinto, ninguém podia divergir dela. Semelhante ao canto lendário e sedutor das sereias, na narrativa de Homero, quem a ouvia sentia-se atraído pela emoção transbordante. Ulisses sabia que, uma vez atraído por elas, sereias, seus cantos, isso o conduziria à morte. Seu canto, seu “nó”, era uma metáfora da alma do mundo em busca da cessação de vida que não fosse a dela. Da vida que ela não havia vivido. Da vida que ela negava ao filho.
A REALIDADE que ela criava naquele universo paralelo em que se concentrava, coexistia com a realidade do mundo normativo no qual ela direcionava os destinos dos filhos, e controlava, até certo ponto, os desdobramentos de suas vidas, numa realidade paralela, separada da geografia do tempo e do espaço onde vicejavam seus corpos. Em minha compreensão, ela estava tão absorta e concentrada na região etérea de seu psiquismo ionizado por uma mediunidade facécia, em que o Barco de Caronte navegava. Como se já estivessem mortos.
ELA TALVEZ achasse que tinha o poder de direcionar a força quântica da alma daqueles a quem pariu, em direção a universos paralelos nos quais existiu. Ou no qual existiram seus ancestrais. Ela não atinava nada das mudanças que do mundo real, exterior às suas frívolas percepções: ela se fechara às realidades do mundo exterior ao mundo superficial de suas bailarinas e príncipes, que ela manipulava com pinça quente na pele de seus bonecos e bonecas. Nesta dimensão do existir, seu DNA não estava nada confortável.
MÃEZONA SE achava empoderada de suas ações que reforçavam a força determinada de sua vontade de poder sobre aquelas criaturas que ela havia parido. Cada filho dela era dela. Dela e de ninguém mais. Até onde ela pudesse resguardá-los da vida real do mundo exterior. Ela havia gestado cada um deles por nove meses. Haviam saído de sua barriga, de seu ventre. Ela os havia alimentado desde o líquido amniótico. Eram dela, até onde ela poderia retê-los. De ninguém mais.
TALVEZ, QUEM sabe, Mãezona estivesse agindo conforme uma vontade externa, superior à vontade dela. Alguma entidade astral, criada e mantida dentro dela, a partir de suas expectativas radicais de comandar as vidas que dela saíram. E que dela dependeram completamente quando hóspedes do líquido amniótico. Não havia nenhuma conduta moral a observar. A vontade dos outros, suas programações de DNA não poderiam nunca, superar às programações dela. Ela era incontestável em suas deliberações de surdina.
NA FAMÍLIA só poderia haver uma vontade: a dela. Desconfio que Mãezona pertence à uma rede mundial de computadores orgânicos, biológicos, com “Soft” emocional especializados nos conteúdos que interessam a um matriarcado sobrenatural. Os portais desse matriarcado se afirmavam e confirmavam para promover a continuidade de uma dominação matriarcal que vem de longe, muito longe, criada por astronautas de outros sistemas solares. Sabe-se lá, de outras galáxias. Seu coração era duro igual a rigidez do Q-Carbon. Seus compostos carbônicos talvez tenham sido criados para ser, através dos séculos dos séculos, sempre os mesmos.
ELA ERA PRODUTO específico dos compostos orgânicos, ditos humanos, formados por moléculas de carbono, manipuladas em laboratórios criadores de várias formas de vida. Laboratórios Ets destinadas a povoar esse planeta. Entre outros. Veja-se o livro de Aldous Huxley, “Admirável Mundo Novo”. O fim do Homo sapiens não apenas se inicia, mas já está em ávido processo de substituição de paradigmas geracional antanho.
A ESPÉCIE à QUAL Mãezona pertenceu, em breve será substituída pelo homem cibernético. Em sua estrutura psicofísica anacrônica de primata Homo sapiens. A espécie dela, em poucas centúrias de anos, passará a existir apenas em museus. Que pode um jovem contra as evidências de que o mundo, a alma do mundo, está vigilante de seu existir??? A controlar seus pensamentos, palavras e ações??? Que fazer!!! Como pode a juventude na proa do Tempo, conquistar o prazer do leme???!!!
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 27/12/2022