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A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE (REVELA AÇÕES) — XXV —
A MOÇADA DA PERCEPÇÃO BLUE
(REVELA AÇÕES) — XXV —

MÃEZONA NÃO poderia esconder suas mais íntimas intenções, depois deste evento que revelou nela as mais baixas configurações de sua incrível maldade materna. Ela me chamou e começou a me acariciar as cabeça, coisa que ela não fazia. Eu logo desconfiei que havia algo errado nela a se revelar.

— Meu filho, disse ela, você gosta mesmo de sua mãe???
— Gosto sim, você sabe. Por estás perguntando???
— Porque sua mãe quer ter certeza de que você está dizendo a verdade.
— A mamãe vai fazer tudo por você, mas você não vai querer sair de perto dela. Você ama mesmo sua mãe???
— Sim, amo.
— Nunca vai querer sair de perto de mim para toda a vida??? “Formiga quando quer se perder cria asas”, lembre-se disso. ficar em casa é a coisa mais certa que um filho que gosta da mãe precisa fazer.

A MÃO DELA continuava a me acariciar a cabeça. Mas a tonalidade de voz denotava uma afirmativa e perversa falsidade na entonação. Eu estava à mercê de suas intenções, quaisquer que fossem. Ela não se fez esperar:
— “Levante a cabeça, olhe nos meus olhos, respire fundo”. Ao dizer isto, ela simultaneamente soprou uma vasta quantidade de pó amarelado (ou acastanhado, ou alaranjado, não lembro exatamente porque fazem seis década). Minha visão se turvou, quer pelo pó, quer pela surpresa do súbito susto.
— Tossi, passei a mão no rosto enquanto sentia a visão turvar. A voz dela ficou longe.
— Respire, respire.

COMO QUE de repente fui lançado numa outra configuração perceptiva. Como se tivesse sido ejetado de um lugar para outro o qual desconhecia. A intensa estranheza durou alguns momentos os quais não sei definir quanto tempo. Um mundo paralelo me capturou no ciclo quântico do estranhamento. Quando tive alguma consciência de que estava a retomar a percepção do lugar em que costumava estar, a visão da casa em que vivia, esta cognição me trouxe, simultaneamente, à realidade de uma esfera familiar hostil onde havia uma exuberância de atitudes de hostilidades, as quais mantinham minha vida em risco.

A FISSURA no tempo que havia experimentado há poucos momentos, era apenas outra das muitas ameaças contra minha integridade física e psicológica. Era uma advertência de que eu devia “pisar nesse chão devagarinho”, como dizia a canção do Caetano. Ou poderia simplesmente ser exterminado subitamente pela adversidade circundante. Talvez fosse um problema para mim enfrentá-los. Mas eu deveria fazer isto do mundo interior, subterrâneo, para que não vissem que eu reagiria sempre às suas demandas contra mim.

NÃO SEI SE houve uma relação entre o fato de eu ter mostrado a ela, no dia anterior, histórias escritas por mim, com personagens influenciadas nas HQs, e o fato de ela temer que eu, futuramente, pudesse escrever sobre as sessões de pedofilia parcial do marido e de seus filhos ultrajados sexualmente no colo dele, praticamente todos os dias.

AO MOSTRAR as historinhas que escrevi, ela, ao invés de me incentivar a continuar a escrevê-las, buscou logo me dissuadir da tarefa de escrever, dizendo:

— Meu filho, não queira escrever não. Artistas são pessoas com doença mental. Eles são perturbados, o compositor Wagner se vestia com tiras de panos coloridas quando estava a compor no piano, e se drogava. Ficava dias sem falar com ninguém e bebia muito. Hemingway se matou com uma espingarda de dois canos que enfiou na boca. Ele também bebia demais. Artistas não regulam bem, têm parafusos a mais ou a menos na cabeça. Não queira escrever não.

QUE PODERIA uma criança responder??? Eu fiquei decepcionado. Gostaria de que ela tivesse, de alguma forma, elogiado meus textos escritos com entusiasmo criativo. Eu, menino, mostrava ter talento para criar histórias. O que nem toda criança quer. Alguma coisa que a distinga das demais que estão nas escolas de padronização perceptiva.

FIQUEI CALADO, silenciosamente a divergir dela e de seus argumentos. Muito tempo depois, já adulto, fiquei a matutar sobre por que ela havia mencionado logo um compositor alemão, Wagner??? Orgulhosa de seu sobrenome, Hohmann, ela revelava a convicção fanática de pertencer à raça que se dizia soberana sobre todas as outras: a alemã. No âmbito biológico identifica-se categorias humanas socialmente definidas:

DIFERENÇAS DE cor da pele, discriminação racial, tipo de cabelo, conformação facial, cranial, ancestralidade e genética. No fundo, no fundo ela, Mãezona, se considerava de origem racial ou étnica superior, descendente do panteão divino nórdico, composto por duas famílias principais de deuses: os Aesir e os Vanir. Durante a era Viking os Aesir tornaram-se as divindades mais importantes. Suplantaram os antigos deuses Vanir que lhes originaram. Quem se julga descendente deles, se afirma da fé Viking que não tinha livros sagrados, dogmas ou sacerdotes.

ELES DAVAM importância aos rituais de devoção a seus deuses. Rituais que incluíam sacrifícios humanos. O clã dos Aesir era chefiado por Odin, criador do universo e chefe dos deuses guerreiros habitantes de Asgard, um dos nove mundos mitológicos. Os Vanir, habitavam em Vanheim e eram reféns dos deuses guerreiros imortais. Um enorme pênis era objeto de culto. Anões, duendes, mitos sem pais conhecidos, uns cegos, outros sem olhos, braço ou com rosto desfigurado, eram exímios ferreiros e artesãos. Os elfos, aristocratas abastados, gozavam dos privilégios de uma vida sem tensões.

AS VALQUÍRIAS, servas de Odin, conduziam os mortos em combate ao panteão dos heróis: Valhalla. Um grupo de gigantes remanescentes dos Vanir ameaçava os deuses Aesir que promoviam a batalha em curso, Ragnarök, o Apocalipse Viking que acabaria definitivamente com o velho mundo e daria início ao novo. Odin tinha o poder de ver o passado (dera um olho para obtê-lo). Ele previa o futuro e criara o alfabeto das runas. Elas tinham o poder de alterar o destino dos seres humanos sob sua poderosa influência.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 03/06/2022
Alterado em 03/06/2022
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