M  E  T  E  M  P  S  I  C  O  S  E

I

JOANA havia conduzido as duas filhas ao zoo lógico no período após IIª Grande Guerra. O dia solar de uma 5ª feira prenunciava um verão de sol a pino. Na jaula dos primatas uma mãe Gorila tinha acabado de parir gêmeos. Ela ficou a observar o quanto de carinho o animal simiesco dedicava aos filhos. O abraço protetor denotava uma enorme dedicação à filiação recém-nascida.

A GORILA Rebeca olhava as filhas gêmeas de Joana. O olhar surpreso da gorila se intensificou sobre as gêmeas humanas do outro lado da jaula. Houve um momento em que a identidade entre todas elas se fortaleceu sobremaneira. Elas, por instantes ficaram absortas entre si e trocaram fluidos “psi” de remota profundidade.

A MENTE de Joana passou repentinamente a selecionar vestígios evidentes de memória. Como se em transe sua mente iluminava-se de “hot flushes” contínuos, incessantes, que ela não conseguia traduzir. Como saber o que significavam??? Uma certeza se lhe intensificava: esses “flushes” tinham muito a ver com ela, mas não sabia como explicitá-los. Lutava em vão por uma memória perdida voltar à vida em sua consciência.

JOANA temia a escuridão que de sua mente se apossava ao querer trazer à tona lembranças, talvez de vidas passadas, que lutavam por permanecer ausentes no dilúvio subterrâneo de imagens que assaltavam seu subconsciente sobrecarregado de experiências intensamente traumáticas que ela não conseguia trazer à tona.

NUMA sala laboratorial de experiências sádicas do doutor Joseph Mengele, no campo de concentração de Auschwitz, em maio de 1943, duas jaulas se interpunham frente a frente na área compartilhada de experiências com gêmeos das quais ele e havia participado anteriormente no Instituto de Herança e Higiene Racial de Frankfurt.

UMA GORILA com duas crias movimentava-se numa dessas jaulas. Na outra, uma mulher com duas meninas e um menino. Mengele já havia torturado mais de mil crianças gêmeas e outro tanto de prisioneiros vitimados por seu pensar supostamente científico deformado, que usava substâncias químicas experimentais nas pessoas aprisionadas também em outros campos de extermínio, que eram mandadas a Auschwitz em vagões da ferrovia do Reich.

A MULHER e suas crias permaneciam nuas nas jaulas e se alimentavam de uma herbívora, frutas, brotos e insetos. A mulher tinha tipo sanguíneo B, igualmente ao tipo sanguíneo dos exemplares gorilas. A dieta pobre em proteínas visava a não acumulação de gordura no corpo do exemplar humano e do casal de filhos.

OS ASSISTENTES do doutor Mengele retiravam do exemplar gorila cinco litros de sangue, com igual procedimento de retirada de plasma sanguíneo do corpo da mulher. O sangue retirado da mulher era inoculado no corpo do primata e vice-versa. Um Atlético exemplar de supremacista branco da “raça superior” introduziu-se na jaula da Gorila que estava sob efeito de analgésicos, iniciando ato sexual entre ambos.

A BELA exemplar de Gorila semiadormecida, não esboçou reação à introdução do membro humano nela no experimento de Mengele, mesmo porque estava sob efeito narcótico. O estupro não é singularidade da espécie humana. Biólogos afirmam que a cópula coagida é registrada entre orangotangos, chimpanzés, bonobos, patos e humanos. As fêmeas gorilas não menstruam, mas exibem aos machos os genitais inchados, sinal inequívoco de fecundidade.  

GORILAS E humanos compartilham 98 a 99% do DNA, o que faz dos gorilas um dos parentes mais próximos dos seres humanos. O acasalamento acontece em qualquer época do ano. Mas raramente as gorilas ficam grávidas de gêmeos. O normal é a gravidez semelhante à humana e um filhote por parto. Têm alta taxa de mortalidade infantil. Apenas metade deles sobrevivem até a idade adulta. Se um gorila desafia e vence o macho Alfa do bando numa luta, matará todos os recém-nascidos do grupo.

SÃO SOCIÁVEIS e vivem em grupos de trinta indivíduos. Pesam em média 200 kg e dispõem de aproximadamente 220 litros de sangue em circulação orgânica. O macho Alfa se reproduz com todas as fêmeas do grupo. No nascimento de gêmeos, não é raro o mais fraco morrer logo. O cenário evolutivo indica que fêmeas preferem machos menos agressivos, isso prejudicou o desenvolvimento dos mais fortes.

OS GORILAS têm o órgão sexual mais mal dotado das espécies primatas. Fêmeas primatas são usadas como prostitutas em bordéis asiáticos e países tais que Alemanha e Tailândia. O abuso sexual de orangotangos na Ásia não é incomum.

APÓS O orgasmo do exemplar nazi suprematista, o experimento se repetiu diariamente por uma semana. Nove meses depois o bebê híbrido nasceu da mãe gorila. Ao crescer, desenvolveu uma inteligência semelhante à humana. Foram necessárias intervenções cirúrgicas na cabeça, tronco e membros para que o exemplar resultasse em uma criatura de aparência humana feminina e sedutora.

A EXPERIÊNCIA de Mengele visava introduzir a criança híbrida nos EUA, via um casal de migrantes. Não sabiam ao certo quanto tempo viveria entre humanos. O gorila Colo, por exemplo, viveu 55 anos em cativeiro. A expectativa de vida da Gorila filha de Rebeca estava em suspenso. Colo teve três filhos, 16 netos, cinco bisnetos e três trinetos.    

APÓS A derrota nazista na 2ª Grande Guerra, Mengele teve de optar entre suicidar-se, ser preso pelas forças armadas dos Aliados, ou fugir. Optou pela terceira alternativa. Trabalhou por quatro anos numa plantação de batatas no sul da Alemanha sob o pseudônimo de Fritz Ullmann. Em junho de 1949 desembarcou na Argentina, onde se estabeleceu sob o nome de Helmut Gregor.

QUANDO A Alemanha pediu sua extradição, fugiu para o Uruguai. Em 1959 migrou para o Paraguai e em 1961 pisou o solo do Brasil. Nascido de família rica, Mengele contava em todos esses países com a ajuda de conhecidos e de outros ex-oficiais nazistas que também haviam fugido da Alemanha após derrota dos países do Eixo. Empresário da indústria farmacêutica na Argentina, faturava muita grana com essa atividade.

ESSA FOI a trajetória do médico monstro Mengele depois de fugir de Auschwitz em 17 de janeiro de 1945, algum tempo antes da chegada das tropas do Exército Vermelho da então União Soviética. Seu pai era um rico industrial na área de produção de equipamentos agrícolas. Acreditava ele ter inserido no coração dos Estados Unidos uma criança que se tornaria adolescente em meio à “elite” da sociedade americana: a menina Emanuelle.