Dos 331 Deputados Não Fica Um, Meu Irmão!!!

Façamos um exercício heurístico: imaginemos por um momento que Thomas Jefferson redivivo aparecesse numa sessão da Câmara no Congresso Nacional e pedisse a palavra. Após a primeira fala “A Arte De Governar É A Arte De Ser Honesto...” ele ouviria de cara estrondosas gargalhadas. A princípio risotas contidas daqui e dali. E logo depois um tsunami de deboches, galhofas e troças das excelências em plenário.

Thomas Jefferson, sabedor do baixo nível moral dos parlamentares nacionais não se daria por vencido e concluiria a frase: “...a arte de governar é a arte de ser honesto. Busquem cumprir seus deveres e a humanidade lhes dará crédito por suas falhas. Todos terão inteira liberdade religiosa. Ninguém será obrigado a freqüentar ou manter qualquer instituição religiosa...”. — Um certo silêncio se fez ouvir em meio à zorra parlamentar.

Jefferson olhou a cambada congressista no recinto plenário e continuou: “...todo governo degenera quando confiado apenas aos governantes do povo. Somente o próprio povo é seu guardião seguro. Qual país existiu durante um século e meio sem uma rebelião? A árvore da liberdade precisa ser regada com sangue. Sangue dos patriotas e tiranos. É o seu adubo natural”. — Dito isso o ex-presidente americano como que fora abduzido e sumiu da vista de jornalistas, curiosos, cinegrafistas e demais presentes na Câmara.

Voltemos ao texto fora do paradigma ficcional: no evento Transparência Internacional realizado no Panamá, Deltan Dallagnol, procurador da República, afirmou: “o Congresso Nacional destruiu o pacote das 10 MEDIDAS CONTRA A CORRUPÇÃO”. E destacou que o Brasil caminha a passos largos para a aprovação de leis que favorecem sobremaneira os crimes do colarinho branco.

Combater o combate à corrupção parece ser a meta e o objetivo urgente urgentíssimo do Congresso Nacional. Talvez Thomas Jefferson, se continuasse sua fala à horda congressista tivesse complementado suas considerações dizendo: “mais vale um grama de exemplo do que uma tonelada de palavras”.

Enquanto isso o representante das FFAA, general Gentes-Boas, em rede nacional de TVvisão depreciou os brasileiros que acreditam em Intervenção Constitucional Militar ao chamar os intervencionistas de “malucos e tresloucados”. Em flagrante desrespeito à confiança deles no papel constitucional e no patriotismo das FFAA não chegadas ao verde-oliva melancia.
O procurador Dallangnol em entrevista reafirmou sua convicção e a consciência dos demais procuradores da República ao dizer: “aqueles vários e poderosos parlamentares investigados por corrupção sabem bem o que fizeram: conseguiram influenciar de modo poderoso a Câmara dos Deputados para aprovar um projeto que caminha para combater o combate a corrupção no Brasil”.

Continuei dirigindo na Avenida Paulista e, indignado com essa notícia mudei da estação de rádio e fiquei a ouvir o samba pagode de Bezerra da Silva: “se gritar pega ladrão/não fica um meu irmão/se gritar pega ladrão/não fica um.../você me chamou para esse pagode/e me avisou/”aqui não tem pobre”/até me pediu pra pisar de mansinho/porque sou da cor/eu sou Mulatinho/aqui realmente está toda a nata/doutores, senhores, até magnatas...”.

Pensei no conceito de “sincronicidade” (Jung) e continuei a atinar na letra do samba: “com a bebedeira e a discussão/tirei a minha conclusão: se gritar pega ladrão...”.