Textos

Três Itens Propostos Para Análise Pela Academia De Letras No Curso De Especialização Em Língua Portuguesa E Literatura
ITEM 5:

Dentro desse grande tema/assunto (monografia), você consegue pensar em algum problema, alguma situação que incomoda você? Que você vê como algo “ainda mal resolvido” na área em questão? Que poderia ser mais estudado e detalhado para auxiliar no desenvolvimento da área em questão?

RESPOSTA: Sabemos que monografia é um instrumento de investigação científica específico. Normalmente é trabalho de conclusão de curso, investimento parcial do discente que faz um curso de especialização. O principal problema do aluno, presumo, são as condições de estresse (contas a pagar, horários de trabalho, condição de mobilidade urbana até a Universidade, conflitos afetivos de ordem interna, problemas de convivência em sala de aula).

O outro lado da moeda é que monografia não é bicho de sete cabeças. É simples memória dos fundamentos teóricos que a definem, apresentação do corpus, contextualização do tema, apresentação de objetivos teóricos, mostra do estado atual da pesquisa, contribuição do discente para que esta pesquisa se amplie com sua própria cota de subsídio literário e científico.

— Se há algo de mal resolvido num texto monográfico é, por vezes, a extrapolação argumentativa do Resumo, que simplesmente deve dizer de seu objetivo e indicar a teoria de base que motiva o trabalho da monografia, assim como seus conceitos mais relevantes.

— O desenvolvimento argumentativo da monografia depende exclusivamente do posicionamento interativo do aluno e da sua disposição em dialogar com os teóricos que contribuem com opiniões pessoais e questionamento da teoria através da citação dos autores. Daí, fica a critério do discente desenvolver suas opiniões e, quem sabe, contribuir de modo efetivo para a ampliação discursiva da base teórica da mesma. Monografia.


ITEM 6

Elabore cinco perguntas que instigam você em relação a esse tema/assunto:

RESPOSTA: — Todos sabemos que qualquer teórico da educação que faz jus a esse nome, divulga a informação pertinente de que as academias nas áreas das ciências exatas, biológicas e humanas precisa incentivar a produção de conhecimento e não apenas o armazenamento do mesmo.

Em qualquer curso de graduação ou pós-graduação, os processos criativos de modo geral deveriam fazer parte da argumentação docente em sala de aula. E sugeridos, os processos literários criativos, enquanto corpus de monografias. Principalmente numa sala de aula que estuda e dialoga com textos literários. É possível considerar essa possibilidade do docente se envolver com esse processo criativo de cada autor, motivando os discentes também eles ao exercício dos processos criativos? Sem o conhecimento deles, processos criativos, como incentivá-los (os discentes) à criação literária?

— O envolvimento docente, suponho, com os contextos dialogais de autores, com os personagens de suas obras, motivação do contexto histórico das mesmas, estudo das condições existenciais dos mesmos autores quando da criação de suas obras, condições essas que permitiram a criação dessas obras literárias, parece carecer de mais motivação em sala de aula. Há possibilidade do docente entrar nessa seara dos processos criativos dos autores?

— Normalmente o docente não valoriza a evolução da arte e da técnica da criação literária por não ser ele, docente, um criador de obras literárias, mas apenas um estudioso dedicado à dissecação teórica das mesmas. Por não criá-las, não sabe como desenvolver um discurso que motive seus alunos em sala de aula à prática da criação de seus próprios textos. Esse contexto de ensino pode incluir esse tipo de motivação à criação de obras literárias pelos discentes? Em suas monografias?

— Os docentes parecem temer as verdades por trás da criação de uma obra de arte literária. Talvez inconscientemente desaprovem os processos de natureza interna e externa que conduziram os autores dessas obras a escrevê-las. Esse posicionamento docente poderia mudar? No sentido de valorizar as verdades por trás dos processos criativos dos autores? Esse procedimento estaria criando a possibilidade de surgir novos autores com interesse literário em dizer o que têm calado, por não saber dizê-lo. O corpo docente dessa Academia não poderia considerar esta possibilidade?

— Os processos de criação de obras literárias e outras, são, normalmente, transgressores dos processos burocráticos nos quais estão envolvidas as pessoas que deles não participam, mas que têm grande curiosidade em saber como esses processos criativos nascem e se desenvolvem. Por que não se incentivam produções de monografias e artigos científicos sobre eles, processos criativos? Literários!

Acredito mesmo que a maior parte dos discentes que se dirigem à uma sala de aula numa Academia de estudos literários, gostariam, também eles, de saber como escrever seus próprios textos e torná-los disseminados na sociedade. Mas, onde estão os incentivos docentes pertinentes a essa atitude inexistente nas academias do ensino e estudo de textos literários?

Eles, discentes, possivelmente, têm muito a dizer, mas não sabem como fazê-lo. Por quê? Porque as verdades que deveriam fazer parte do dialogismo acadêmico sobre a criação e o desenvolvimento dos processos criativos, são simplesmente ignoradas em sala de aula. Ignoradas pelo corpo docente.

Isto acontece, talvez, por faltar aos docentes a dedicação, o envolvimento com as verdades de natureza pessoal e histórica (biográfica e bibliográfica) dos procedimentos e questionamentos que originaram as obras de seus autores. A partir do estudo de como seus autores chegaram a escrevê-las. O que fizeram para desenvolver seus talentos de escritores. Os docentes parecem não estar minimamente interessados nisso. Essa atitude faz parte da política de ensino institucional nas academias de letras?

— É possível ao discente encarar que, sem essas verdades que os docentes ignoram ou escondem por debaixo dos panos (por ignorância ou conivência com a política de ensino vigente na academia que paga seu salário) dos processos criativos desenvolvidos por autores de obras literárias, não haverá uma melhor compreensão de como conseguir realizar esses processos criativos! Realizá-los por eles, discentes! Também através de pesquisa para textos de monografias e artigos científicos.

ITEM 7:

Agora pense: por que seria interessante discutir esse problema? Para quem seria interessante? Quais benefícios as respostas dessa discussão trariam para o contexto acadêmico? E para o educacional ou para seu contexto de trabalho? Por que alguém escolheria ler seu trabalho após concluído? Por que alguém se interessaria por ele? O que já foi pesquisado em relação a esse problema?

RESPOSTA: — Por que é interessante encarar esse problema? Por que esse problema está na raiz da motivação que conduz grande parte dos discentes às salas de aulas dos cursos de Literatura. Os que merecem tal denominação. Parece-me óbvio que alunos de literatura desejam aprender a escrever porque, maior parte deles têm coisas importantes a dizer mas não sabem como fazer para vencer os bloqueios que os impedem de dizê-las. Escrevê-las. Criar. Através do processo de criação literária ficcional.

— Seria interessante motivá-los a escrever não apenas a partir da análise teórica da produção de escritores que valem ser denominados escritores (cânone). Seria interessante para as pessoas, para os grupos sociais aos quais pertencem, para a sociedade de modo geral e seus questionamentos de ordem política, social, jurídica, que permanecem sem vez e sem voz. Por que os docentes esnobam de uma maneira insofismável essa possibilidade de incentivar os discentes à análise, através de monografias e artigos científicos os processos criativos de autores literários?

— Por que aqueles que poderiam tornarem-se autores literários não sabem como fazê-lo? —Porque inexiste interesse político em motivar uma atitude didática diversa dos procedimentos acadêmicos coniventes com as políticas educacionais vigentes nesse sentido! Por que não mudar esse paradigma nefasto e conceder oportunidade àqueles que desejam externar, através da literatura, seus questionamentos pessoal e coletivo? Através da criação literária!

— O desenvolvimento dos processos educativos depende desses questionamentos que permanecem calados por que não há uma política de educação que se importe realmente em divulgar as verdades que precisam ser disseminadas em sala de aula. As verdades dos processos criativos de autores que merecem este nome. Seus questionamentos pessoais, suas dificuldades em tornarem-se criativos. Suas motivações de ordem pessoal. Seus procedimentos sociais, suas obras, a maneira com que foram usadas, exploradas sem que se considerasse os interesses de sobrevivência e a dignidade pessoal e social que esses autores deveriam merecer da sociedade em que viveram. Ou vivem.

— Por que a sociedade de uma época não leu ou valorizou seu trabalho, exceto quando ele, autor (que merece este qualificativo) saiu dessa para “a melhor”. Consideremos a possibilidade dos editores, como se fossem corvos, urubus e gaivotas famintas por lucro, esperarem as obras caírem em domínio público para investirem em edições das mesmas. E a preços fora da realidade aquisitiva das pessoas. Essa política vigente nunca é questionada pelo corpo docente das academias de letras. Por quê?

— Cada pessoa contemporânea dos autores deveria, presumo, se interessar pela leitura dos mesmos porque, simplesmente, eles conseguem dizer e questionar  esse aprendizado do dizer e do criar que tornou-se para eles uma realidade. Pessoal. E as pessoas buscam uma educação literária acadêmica não apenas para arquivarem saberes em suas mentes, mas para exteriorizá-los. Socialmente. Por que os docentes ignoram essa realidade? E não a questionam em sala de aula?

— Os discentes, presumo, têm muito o que dizer, mas não dizem porque seus professores (por questões de natureza as mais diversas), não sabem como motivá-los. Ou não movem uma mínima palha no sentido de vencerem as políticas educacionais que são educacionais apenas na teoria. Por que, como sabemos, a prática da educação na teoria é outra. E vice-versa. As pesquisas, nacionais e internacionais, sobre letramento, interpretação de textos, redação dos mesmos, têm uma avaliação péssima em todas as instâncias do processo educacional: fundamental, média e dito superior.

— O que já foi pesquisado em relação a esse problema? Ora, isso não é uma questão de pesquisa. É uma questão de superação prática das políticas oficiais das academias de literatura que entravam e bloqueiam os interesses de manifestação intelectual dos dissentes, dos alunos. Isso porque são, consciente (alguns) inconscientes (outros) de que a mudança de paradigma educativo em sala de aula não depende das políticas oficias, mas de uma atuação pessoal no sentido de superar os bloqueios mentais, intelectuais, impostos por essas políticas que fazem de tudo para manter esse país nas trevas. Políticas ditas educacionais que fazem de tudo para manter a educação tipo “faz de conta que eu ensino. Faça de conta que você aprende”.

— Os docentes, nesse contexto específico, não precisam pesquisar nada, mas apenas exercitarem a transmissão de conhecimentos e verdades que muitas vezes não têm (conhecimentos). Nem se interessam em obtê-los.  Por que temem em ensinar algumas verdades sobre processos criativos, para não perderem suas parcas mordomias profissionais se as divulgarem a seus alunos no ambiente pseudamente dialogal das salas de aula. Das academias de letrinhas.

Ao responder a essas questões considerei a possibilidade da existência de alunos que desejam superar a condição de meros receptores de supostos conhecimentos acadêmicos que não levam a nada, exceto à aquisição de um pedaço de papel chamado certificado ou diploma e à possibilidade de incluírem no currículo de um concurso público esse pedaço de papel. Que nem na higiene pessoal pode ser usado. Na realidade do conhecimento intelectual e da criação de obras literárias, não serve para nadica de nada. Por que os docentes não incentivam o estudo, através de monografias e artigos científicos, do fazer literário? Da criação literária?

Ou será que será que os discentes são também coniventes com essa política? Perderam a vontade de expressar seus questionamentos internos que os levariam a uma situação emocional e psicológica mais saudável?

Se é isso que acontece, os discentes são coniventes com tudo o mais. Tudo o mais que a atual política educacional oferece para boicotar intelectualmente seus interesses, pessoal e social, e os faz permanecer na mais cruel dependência de um ensinamento docente atrelado à política vigente que investe no não desenvolvimento intelectual, emocional: pessoal e coletivo.

E as políticas literárias dos gabinetes continuam a prevalecer. De maneira nefasta. Deletéria! Sobre todos os interesses acadêmicos pertinentes à criação literária. Êta Brasil! Que país é esse? Que país é este? Que educação é essa? Que educação é esta? Por que não uma educação literária padrão FIFA?

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 30/01/2014
Alterado em 07/04/2014


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