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HOLOCAUSTO NUNCA MAIS (PSICity) ROTEIRO DE CINEMA (3ª REDAÇÃO) 13
157. EXT. ACAMPAMENTO NA SELVA AMAZÔNICA — NOITE

(Após horas de intensa e por vezes incômoda romaria, as mochilas descem dos troncos. Arranjos estão sendo feitos. Rapidamente o acampamento é montado. HERMANN e VASSARI armam armadilhas em volta. Uma fogueira arde escavada sob a superfície. ADRIANE E ROSSI LEE estão ao lado nas tendas improvisadas. NORTON espia os arredores do “camping”).


158. EXT. ACAMPAMENTO NA SELVA AMAZÔNICA — NOITE

  ADRIANE TAUIL
             (olhando em volta)

Percebe? Há uma energia estranha permeando esse lugar.

     ROSSI LEE
(questionando a opinião da fotógrafa)

Cansaço, tensão, ansiedade, devem ser a causa dessa sensação. Realmente estranha! Não se permita acalentar por ela.

     ADRIANE
(admirando-se)

(Ela vê um menino, uma criança enorme entre a folhagem na mata, observando-a).

     ROSSI LEE
                (circunspecto)

Esses subterrâneos Amazônicos mencionados no Arquivo Jângal fazem parte da mesma cultura que construiu a necrópole do sítio arqueológico em Gran Pajaten... Terão terraços, escadarias e dezenas de hectares com decoração de seres e animais incomuns?  

      ADRIANE
(afirma e contesta a fala de ROSSI)

Gran Pajaten está a 2.440 metros de altitude andina. Há menção de quantos metros estão os mosteiros subterrâneos?  Quem os construiria? Com que finalidade?

(A conversa do casal de jornalistas de quando em vez se esquiva em súbitas observações em direção aos arredores. A atenção dirige-se, subitamente, a ruídos rumorosos e muito apressados na mata em volta).



159. EXT. PATAS SE AGITAM EM DIREÇÃO DO ACAMPAMENTO — NOITE.

(A vegetação a apenas um quilômetro próxima a eles está sendo pisoteada pelo tropear de animais raivosos. Os sons ofegantes, saídos de gargantas e bocas ansiosas. Não são exatamente nem bramidos, nem uivos nem latidos, emitidos por animais coléricos que, rapidamente parecem dirigir-se ao local onde a Expedição está acampada).



160. EXT. CLAREIRA. PROXIMIDADE DAS TENDAS — NOITE

    ROSSI LEE
(nota a inquietação da fotógrafa)

É normal. Roedores, predadores noturnos de pequeno porte. Fugindo de um predador maior.

     ADRIANE
(com justificada apreensão, fala)

Sei! Não poucos Ph.Ds em arqueologia afirmaram a nítida presença de uma cultura de “EBEs” de “gigantes ancestrais” em sociedades remotas. Nesses e em muitos outros locais.

    ROSSI LEE
  (olhando para a selva um tanto quanto cismado)

No “sítio das casas redondas” de Chachapoyas, dos “guerreiros das nuvens” a 2990 metros acima do nível do mar foram encontradas entradas subterrâneas. Longas escadarias. Acredita-se que ninguém nunca desceu até seus últimos degraus.

   ROSSI LEE
    (os músculos tensionados)

(Interrompendo a narrativa ele olha fixo e atônito em direção a um lugar na selva onde, o que lhe pareceu uma enorme criança, movimentou-se entre a folhagem)

       ADRIANE
  (ainda apreensiva, ouve outros ruídos na mata)

Esses lugares costumam abrigar os restos mortais da existência fóssil de seres com uma anatomia “EBE”.

     ADRIANE
(reportando-se à dança do Xamã quando um menino nativo traduziu as palavras do Pajé quando este, braços e pernas tencionados parou os movimentos e, olhando para o alto exclamou palavras ditas com grande convicção, mas ao mesmo tempo sussurradas)

(A criança nativa traduziu, naquela ocasião, a fala em dialeto havaiano: “EKEWAKA saúda o novo nascimento do bem-aventurado menino guardião dos tempos. Os dias da ilusão findam quando ele vem”).


161. EXT. LUA CHEIA. CLAREIRA NA SELVA — NOITE

(O casal de jornalistas troca olhares desconfiados e apreensivos. Sombras rapidamente saltam de um para outro lugar entre a vegetação mais fechada da floresta. Os membros da Expedição Norton estão sob o olhar selvagem de animais que os fixam sem que eles percebam sua proximidade. Têm a boca entreaberta, os dentes à mostra, a língua para fora e a expressão ofegante. Parecem lobos. A distância os mantêm ocultos. Saem de suas gargantas um ruído feroz e ameaçador. Ao longe se faz ouvir uma espécie de uivo. Alguns desses animais cercam o acampamento  de maneira veloz e inquieta).



162. EXT. FOGO CREPITANDO NA CLAREIRA, PRÓXIMO ÀS TENDAS — NOITE
     ROSSI LEE
(ele vê que o grupo de NORTON está em prontidão, pegando em armas. Sua voz é um alerta quando se aproxima de ADRIANE)

O “Arquivo Jângal” menciona a semelhança entre esses monastérios e as Viharas, ou monastérios, construídos  esculpidos na rocha em Ajanta, Índia, com pinturas de mais de 1.500 anos. Cavernas construídas no século II a.C.

      ADRIANE
    (apavorada com as armas à mostra pelo grupo de NORTON, ela fala):

Voltaire indicou no “Arquivo Jângal” o site de Thomas Lennon e Jane Weele no Google.



163. EXT. APROXIMAÇÃO DAS FERAS — NOITE

(Os ruídos ao redor voltam outra vez a ser ouvidos. Desta vez mais agressivos, próximos e em maior intensidade).

    ROSSI LEE
(olhando, interrogativo, em direção aos ruídos ameaçadores que se aproximam. Ainda distantes)

No Arquivo Jângal os “Anciões” lemurianos são portadores de uma anatomia diferente da humana. Suas cidades subterrâneas seriam iluminadas por fótons à base de oxigênio, nitrogênio, dióxido de carbono e argônio...



164. EXT. AS FERAS INVADEM O ACAMPAMENTO — NOITE

(VASSARI E NORTON empunham fuzis de assalto israelense tipo Tavor-21).

      HERMANN
                 (olha e alisa o fuzil enquanto comenta desafiador)

Lentes de aproximação, visor noturno e designador laser. Vamos! Apareçam!

(Finalmente as feras se permitem ser visualizadas. Elas mostram os caninos lupinos. O olhar de aço e o pelo fino evocam imediatamente antigas memórias aos membros da Expedição).

   HERMANN BREED
        (apavorado)

Ele berra desafios enquanto aperta o gatilho da  metralhadora. As rajadas se fazem ouvir. Atingem a terra próxima ao lugar onde se encontram as feras da alcateia.

(ADRIANE E ROSSI LEE agacham-se, como a se protegerem dos  disparos e do ataque das feras. Mas estão atentos, olhando para todos os lados)

      VASSARI
                                              (apreensivo)

(Ele mira uma pistola PT 809 calibre 9 mm apoiada numa das mãos. As mãos são atingidas pela investida selvagem de caninos que ferem seus pulsos devido ao impacto dos sucessivos botes das feras. A arma cai e ele tenta recuperá-la, desistindo de fazê-lo, acuado pela ameaça das gengivas salivantes das quais se sobressaem os dentes mostrando uma ferocidade inusitada. Irreversivelmente ameaçadora).

(As patas pisoteiam as armas e a terra em volta. Outras feras não permitem que as automáticas menores e os fuzis sejam recuperados. Apesar da leveza dos fuzis calibre 5,56 de 3,5 kg e da cadência de 900 disparos por minuto, nenhuma das feras humanas do grupo de NORTON resiste ao cerco dos lobos com dorsos de felinos e seus caninos assassinos que os impede de recuperá-las).



165. EXT. NA SELVA DO ACAMPAMENTO — NOITE

(A “hybris” da irracionalidade dita humana do grupo de NORTON, rendeu-se à “hybris” de uma irracionalidade animal típica de predadores quadrúpedes de impetuosidade pré-histórica: portadores de temível e irresistível inteligência selvática. A alcateia invadiu o acampamento não para lutar e morrer, mas para lutar e matar. Se preciso fosse).

(As feras pareciam saber do potencial mortífero, da paixão pelo aniquilamento do inimigo que dominava suas presas humanas, armadas pela tecnologia mortífera mais moderna. O antagonismo conflituoso do combate foi rápido e decisivo. As feras invasoras venceram. Contra todo presságio das táticas de combate do animal humano. Bravio e cruel).



166. EXT. NA TERRA DEVASTADA DO ACAMPAMENTO — NOITE.

(Os membros da Expedição ameaçam reagir, mas já estão dominados. As feras muito rápidas, com reflexos arcaicos estimulados por qualquer mínima gestual humano, levantam as patas dianteiras e voltam de maneira insistente a fincá-las no chão ao mesmo tempo em que seus corpos acompanham o movimento dos pescoços para os lados e em direção oposta à do acampamento. Em direção à selva fechada).

(Os cães-lobos dão a entender que estão querendo que os expedicionários os sigam. Os cães-lobos têm pressa: avançam e recuam, ameaçadores, e a seguir lançam-se para os lados e torcem a cabeça e o tronco novamente em direção alhures. A indicação possessa de que devem ser imediatamente   seguidos. Logo! Rapidamente! A lua em plenilúnio ajuda a visualização das trilhas mal discernidas no chão da selva Amazônica).

       NORTON
      (apressando-se em obedecer)

Rápido! Vamos! — VASSARI, não reaja! É loucura! HERMANN BREED parece querer ficar na retaguarda, mas é lançado violentamente para frente por um lobo que se lança ferozmente contra suas costas. Ele cai e levanta. Ao levantar é novamente atacado e lançado outra vez para a frente. As roupas rasgadas pelas unhas afiadas.

(Todos súbito, compreendem a intenção da matilha. Ninguém se faz de rogado. Os membros da Expedição NORTON correm, cercados pelos rosnados dos animais da família “canidae”. Não sabem ao certo para onde estão indo. Mas é imperativa a indicação de que têm de seguir a alcateia).

   ROSSI LEE
       (fixando-se no olhar interno, em direção ao passado remoto)

(Em “flashbacks” um acontecimento muito passado ganha força em sua memória presente. Seus passos em corrida, assim como os dos outros membros da Expedição, se confundem com a correria neolítica de migrantes hominídeos, sobreviventes da Era do Gelo, sendo acossados por lobos famintos e ferozes. Uma grande alcateia de lobos cinzentos e hienas quase consegue exterminá-los. Alguns chegaram ao abrigo em cavernas da savana africana).

(Há muito tempo esses animais comiam apenas raras gramíneas e raízes de raros arbustos. Ao cair, uma mulher grávida fica para trás e os animais simplesmente estraçalham seu ventre e devoram dois embriões (gêmeos) que estavam prestes a nascer. A mulher lembra remotamente Adriane).

      ADRIANE
         (na corrida com os lobos amazônicos, ela cai)

(As mãos dela se fecham dos lados da cabeça. Sua expressão de medo e horror é evidente. Ela está a viver um medo e um horror também ancestrais. Cai novamente e outra vez levanta sempre muito ágil em prosseguir no caminho indicado pelos lobos amazônicos que a cercam e ameaçam).


167. EXT. PLENILÚNIO. CLAREIRA NA SELVA — NOITE.

(Os membros da Expedição Norton simplesmente são forçados a acompanhar o ritmo selvagem da corrida com os lobos. Eles estão arfantes. Os troncos resistem à respiração ofegante. Os rostos estão cada vez mais intensamente afogueados. Uma curiosidade excepcional toma conta de todos eles. Eles, que sabem estar na trilha certa indicada pelo “Arquivo Jângal” que menciona “os lobos de instinto selvático  sobreviventes dos tempos do tigre dos dentes de sabre”).

(Os membros da Expedição se observam. As órbitas dilatadas. As bocas entreabertas. VASSARI, o tronco curvado, apoia as mãos sobre os joelhos. ROSSI LEE, de cócoras, ofegando, a boca aberta, o tronco pulsando rápido. TAUIL deitada na grama, os braços estirados para os lados, os olhos esbugalhados, tenta fazer a respiração voltar ao normal. NORTON arqueja apoiando a mão direita numa rocha. HERMANN, recuperando-se, apalpa o corpo em busca de uma arma).


168. EXT. PLENILÚNIO. CLAREIRA NA SELVA — NOITE

      HERMANN
  (olhando interrogativo para NORTON E VASSARI)

Nada mal manter o dedo na pinguela. O dedo no gatilho de uma pistola.

       NORTON
     (persuasivo)

Nesse lugar, se quisessem nos atingir, não teríamos a mínima possibilidade de defesa.

       ROSSI LEE
         (chegando-se à ADRIANE)

Você sobreviveu!

        ADRIANE
   (pega a mão dele levantando-se)

Cara, foi horrível! Eu vivi o desespero de outra mulher num tempo muito passado, enquanto corria com os lobos.

      ROSSI LEE
                   (magnetizado e comovido)

A ascendência das “memórias ancestrais” de que fala o “Arquivo Jângal...”

      NORTON
    (checando o receptor de GPS)

As indicações não confirmam ser este o lugar.

    ROSSI LEE
                        (fala com convicção)

Nesse lugar nada vai checar com indicações via satélite. Parece que estamos num campo sujeito à influências geomagnéticas... Incomuns.

    NORTON, VASSARI E HERMANN
     (afastam-se. Parecem manter um diálogo conflituoso. Em iídiche)


169. EXT. PLENILÚNIO. CLAREIRA NA SELVA — NOITE

(A todos parece espreitar uma intensa e longa sonoridade  característica de uma flauta andina. Primeiro uma nota grave se faz ouvir. Intensa. Logo depois, uma nota aguda. Ambas veementes. Impetuosas).

(Eles buscam na rocha o lugar de onde provém a longa sonoridade. Entre a vegetação fechada, encoberta por plantas silvestres, há uma reentrância para dentro da rocha, onde HERMANN vê uma fissura horizontal. Parece uma entrada, escondida a seis metros acima do lugar onde chegaram após a corrida com os lobos).

(Os esforços se concentram no sentido de nela penetrarem. A rocha não se encontra em lugar de fácil acesso. Não sem algum malabarismo conseguem chegar até ela. Desde que têm de escalar o lugar íngreme até a fissura na pedra).


170. INT. FISSURA NA ROCHA. TÚNEL — NOITE

(Após algum tempo, agastados, eles avançam túnel adentro).

      NORTON
           (liderando o grupo)

O foco da lanterna apagou. Apesar da bateria nova.

       VASSARI
          (bate a lanterna no pulso)

Não é problema de bateria. É influência do lugar.

    ADRIANE TAUIL
         (irônica)

Felizmente resolvi meu problema com claustrofobia.

     ROSSI LEE
(olhando para ela)

Vai saber, é a toca daquela serpente em que tropeçamos.

      ROSSI LEE
           (fazendo uma careta)

Esse odor de enxofre... Talvez seja uma entrada para o inferno — (Sorrisos).


171. INT. TÚNEL ROCHOSO NA SELVA — NOITE

    HERMANN
   (afirmativo)

Quem precisa de lanterna? Esse túnel é fosforescente.

(Em poucos segundos todos se deram conta da luminosidade tênue e azulada).

(E continuaram a "escalada" rumo ao "target" desconhecido. De repente a montanha de pedra treme. O ruído de uma longa trovoada promove a sensação de que as paredes do túnel vão desabar sobre eles. Soterrando-os. Todos têm a impressão de que uma grande pedra, pesada e redonda, estar rolando em direção deles).


172. INT. TÚNEL NA ROCHA — NOITE

(O ruído de trovão da pedra rolante passa ao largo, talvez em outro túnel paralelo e acima deles).

      NORTON
         (olha o relógio no pulso)

      ROSSI LEE
  (logo atrás dele)

Estão (os relógios) parados há horas.

(Eles descem alguns degraus em direção à caverna de teto alto onde se veem estalactites. Chegam a uma plataforma. Após alguns momentos à outra plataforma. E logo depois a outra maior. Observam curiosos a paisagem de um platô à meia centena de metros abaixo).


173. INT. PLATAFORMA. BORDA DO PLATÔ — DIA/NOITE

Estão cercados por uma luminosidade sutil e anilada. No platô se destaca uma árvore baobá com 25 metros de altura. E um tronco de aproximadamente 10 a 11 metros de diâmetro. Uma sensação inusitada e estimulante toma conta do sistema nervoso central dos expedicionários.
    ROSSI LEE
   (estupefato)

Esse planalto é francamente encantado, surreal. Um lugar de sonho.

         TAUIL
        (atônita)

Ou de pesadelos. Como pode ser um planalto? Se esse platô está lá embaixo!?!

         ROSSI LEE
      (admirado)

Nesse lugar todos os caminhos se bifurcam e se encontram. Como no conto de Borges!

         TAUIL
     (fascinada)

É surreal! Baobás são nativas da ilha Madagascar. Como essa veio parar aqui? Na selva Amazônica?

      ROSSI LEE
      (assertivo)

Amazônia? Esse lugar está fora do tempoespaço como o conhecemos. Fascinante!

                                TAUIL
    (beliscando um dos braços)

Excessivamente sedutor. Como vamos chegar lá embaixo?
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 15/05/2013
Alterado em 21/05/2013


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