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HOLOCAUSTO NUNCA MAIS (PSICity) ROTEIRO DE CINEMA (3ª REDAÇÃO) 12
                   NORTON
          (contendo a irritação)

Essa Expedição inclui interesses dos povos da Floresta.

     NORTON
           (de si para consigo)

“A verdadeira natureza dessa Expedição nenhum de vocês nunca vai saber. Nunca mesmo! O fato de direito vai para os arquivos secretos do governo”.
      YURUQUÁ
       (irredutível)

Interesses da Floresta sabemos defender, senhor NORTON. Os seus interesses certamente não são os nossos. Mas isso o senhor nunca vai dizer.


146. INT. QUARTO DE HOTEL — DIA

(O casal de jornalistas brinda em homenagem à continuidade da Expedição. ADRIANA mostra-se sedutora. O corpo sob o jeans ginga sensual sob a atração do olhar atento de ROSSI LEE).

   ROSSI LEE
       (confiante na Expedição)

Chegamos até aqui. Certamente não vamos morrer na praia.

     ADRIANE
        (no mesmo tom atrevido)

Os gringos com certeza têm como resolver o impasse. Qualquer contratempo deve está na agenda do NORTON.

    ROSSI LEE
  (determinado)

Grana! Índio quer grana. Índio não quer apenas apito, espelhinhos, colares de vidro. Índio quer mais que bugigangas.

     ADRIANE
   (afirmativa)

Sem verdinhas o Portal do Xingu vai se fechar para NORTON. Algo me diz que a Casa da Moeda vai estar aberta para os caciques. E o Portal do Xingu vai se abrir de novo.

(A bunda e os gestos de ADRIANE ganham um molejo voluptuoso aos olhos seduzidos de ROSSI LEE. De repente os seios e a cintura dela assim como os gestos e a tonalidade da voz, ficam cheios de graça. Provocantes!).

        ROSSI LEE
(aproximando-se dela acaricia os glúteos)

(Os dedos dele passeiam suaves, mas decididamente, por sobre as linhas laterais das coxas. Continuam a descer em direção à parte posterior da fossa ilíaca esquerda, acompanhando com a ponta dos dedos o vinco entrevisto no interior da calcinha de rendinha amarela transparente).

(ADRIANE realça os seios frente às faces excitadas de ROSSI LEE. Ele logo mergulha a língua na greta entre eles, concentrando-se a ponta da língua na curvatura que separa os mesmos. Estica os lábios em direção à rosácea da mama esquerda e começa a sugar de uma forma ao mesmo tempo delicada e selvagem).

(O casal mergulhado nos lençóis intensifica a malhação erótica no vai-e-vem dos quadris. A câmera afasta-se aos poucos enquanto se intensificam os gemidos e sussurros da mulher sob a influência de um longo e gradativo orgasmo).


147. EXT. INT. HELICÓPTERO — DIA

     YURUQUÁ
       (entrando no helicóptero, enquanto conversa com NORTON)

Reuni-los, leva tempo. E dinheiro. O senhor manda buscar caciques para a reunião no Posto Leonardo. ARITANA influente. Ele vai fazer sair a permissão de entrada nas terras Kalapalo.

        NORTON
(põe uma pasta de mão sobre os joelhos)

A autorização precisa sair amanhã. Os recursos dessa Expedição são limitados. Há um cronograma a cumprir.

          YURUQUÁ
               (confiante e persuasivo)

ARITANA lidera outros caciques. O que conseguir com ele vale para LOKAJARA e AFUKARAN, líder dos Kuicuros. Eles decidem descida pelo rio, passando pelas aldeias. Assembleia dos caciques fácil de reunir com helicóptero trazendo todos para o local da reunião.


148.  INT. QUARTO DE HOTEL — DIA.

(O casal serve-se do café da manhã).

      ROSSI LEE
           (desconfiado e curioso)

Por que realmente essa incursão pelos subterrâneos da Serra do Roncador? ANIBAL NORTON é muito determinado para ser apenas um aventureiro em busca de emoções tropicais.

    ADRIANE
       (a confirmar suas dúvidas)

Certamente esse grupo não tem a performance de malucos em busca do tesouro dos incas.

    ROSSI LEE
      (explorando possibilidades)

Diz o folclore que os sacerdotes incas mantinham contato com a tribo subterrânea dos “muito antigos”. E os 110 lhamas carregados de ouro inca sumiram, como por mágica, da vista dos olheiros de Cortez.

      ADRIANE
   (estalando a língua em muxoxos interrogativos)

Em 12/09/63, nas encostas orientais dos Andes, a 2440 metros, foram encontrados ossadas não humanas na cidade de Gran Pajaten.

                    ADRIANE
        (após fazer uma pausa)

As ossadas revelaram vestígios de Entidades Biológicas Extraterrenas. “EBEs”. Eu também li uma cópia do “Arquivo Jângal”.

149. INT. RESTAURANTE DO HOTEL — NOITE

     HERMANN
            (falando em iídiche)

Os impasses estão solucionados? A cronologia vai estar nos prazos?

      VASSARI
         (em língua germânica)

NORTON é um negociador nato. Esses caciques como passarinhos vão comer alpiste na mão dele?

      HERMANN
         (a expressar aprovação)

Comendo verdinhas na mão dele. Com esse tipo de comida de passarinho tudo se resolve. De avião ou helicóptero, ele vai reunir os caciques. Buscá-los onde estiverem. O cronograma não pode sofrer atrasos.

         VASSARI
   (em concordância)

Toda aldeia tem uma pista de pouso bem conservada. As tribos não permitem a entrada de ninguém no Xingu sem acompanhamento. NORTON vai se descartar da comitiva  nativa.

       HERMANN
                    (exultante)

Mais grana em troca de nenhuma companhia indesejável.

        VASSARI
(esboçando um sorriso na carranca)

O que eu quero dizer é que é sempre um erro agir fora de seu próprio padrão. Ele vai sempre saber como levar vantagem.


150.  EXT. CLAREIRA NA SELVA — NOITE

(Numa clareira aberta na selva um Xamã dança e canta num ritual mágico solitário).


151. EXT. HELICÓPTERO SOBREVOA A LAGOA DO BURITI NO ALTO XINGU. POSTO LEONARDO — DIA SOLAR

(NORTON olha para baixo. Vê o grande pântano de águas cristalinas, cheias de palmeiras buritis e peixes, dos quais se destaca o tucunaré. A vegetação do fundo do lago (pântano) se revela claramente, como se não houvesse água na superfície. O calor levou alguns membros da tribo kuicuros a banharem-se nas águas).

       YURUQUÁ
          (dirigindo-se a NORTON)

Há índios kalapalos armados com carabinas e espingardas. Eles querem pagamento igual ao que você pagou aos kuikuros para obter autorização de entrar no Xingu.

(Enquanto o helicóptero desce YURUQUA aponta um barco próximo à margem da lagoa, onde estariam índios com revólveres calibre 38 nos coldres cheios de balas).

     YURUQUÁ
   (advertindo)

A situação é grave. Vai haver conflito. ARARAPAN, chefe do Posto Leonardo, comanda os índios nos barcos que fechavam as saídas ao longo do rio, enquanto outros grupos, também armados, ocuparam a fazenda Sayonara (“flashback” das ocorrências).

    NORTON
          (a simular apreensão)

O pessoal da Expedição vai descer de barco...

     YURUQUÁ
          (realmente apreensivo)

Eles vão estar de tocaia em trechos dos rios Buriti, Culuene e Curisevo. Por onde quer que venham estarão sendo vigiados por índios bem armados.

     NORTON
    (decidido)

ARARAPAN quer reunir todos os caciques no Posto Leonardo. Diga que estarei lá para resolvermos os conflitos de interesses.


152.  ALDEIA KUICURO. ALTO XINGU — DIA/NOITE.

(No Posto Leonardo NORTON olha um monomotor aproximar-se da pista de pouso).

    NORTON
       (falando com YURUQUA)

ARITANA vai resolver todos esses problemas.

(O avião pousa. A porta do monomotor abre e o primeiro a sair é JACALO. Ele está nu e pintado com tintura vermelha de urucu).

     JACALO
                   (aflito, dirige-se ao grupo à margem do rio)

Muita confusão. Muito problema. Ele monta numa bicicleta e começa a pedalar muito depressa, seguido pelos demais índios CONCA, GALVÃO, MURICY, BATISTA e NEYMAR.

    MURICY
        (exercendo liderança)

Vocês não têm em que pensar. Pensar nada. Vamos sair daqui imediatamente. Entrar no avião. Sem mais nem menos.

     NEYMAR
     (como quem incita conflito)

O contrato está desfeito. Kalapalos não de acordo com Expedição. Assembleia não mais acontecer. Acabou Expedição.

(Ao chegarem ao agrupamento MUNHOZ E RENÊ vêm ao encontro deles. Após rápida troca de palavras, acenam para ARARAPAN).

   ARARAPAN
                  (armado e muito agitado)

(Ele atrai a atenção dos outros índios que começam a caminhar rápido em direção ao avião)

    ARARAPAN
   (grita, dirigindo-se aos demais)

Estou cumprindo ordens. Vou levar todo mundo de volta.

(O PILOTO do monomotor prevendo um sequestro começa a taxiar. Índios surgem de todos os lados e seguram as asas do avião, alguns sobem nelas, impedindo o piloto de fazer a aeronave alçar voo).


153. ALDEIA KUICURO. ALTO XINGU — NOITE

    IURUQUÁ
(para NORTON)

Acerte as coisas com ARITANA. O convite dos kuicuros e a autorização da Funai vão manter a Assembleia valendo e resolver esse mal-entendido.

      NORTON
           (a manipular o iPad)

IANACOLA está vindo de Brasília. A Assembleia estará reunida amanhã ao entardecer.

     IURUQUÁ
     (otimista)

Para tudo tem solução. Só não para a morte. A Expedição vai descer o rio de barco. Depois de amanhã estará aqui. Em tempo de assistir ao ensaio do Kuarup na aldeia dos kuicuros.

     NORTON
       (falando para IURUQUÁ)

Autorize o PILOTO a distribuir as bagatelas, os presentes para os nativos.

       IURUQUÁ
(falando aos nativos das nações aueti, iaualapití, mehinaco e trumaí):

Barco vai vir com muitos presentes. E alimentos para todos. Vai haver fartura quando a Expedição chegar. Só mais um dia. Vai ficar tudo bem.

(Os índios em pé de guerra se acalmam. Os contatos de NORTON com a burocracia da Funai em Brasília estão em andamento).


154. EXT. CLAREIRA NA SELVA — NOITE

(ADRIANE e ROSSI LEE visualizam o ritual de xamanismo. O casal de jornalistas e os homens de NORTON não conseguem se enturmar).

     NORTON
     (aproximando-se de HERMANN E VASSARI)

Amanhã estaremos chegando ao Posto Leonardo pelo rio Tuatuari.

    ROSSI LEE
       (espreitando-os de longe)

A grana está atuando. — (fixando o grupo de NORTON) — Ele já deve ter solucionado os impasses.

       TACUMÃ
(cacique kalapalo, apontando o dedo em direção aos homens de NORTON)

Vocês não deviam ter vindo até aqui. EKEWAKA dizer não boa presença de vocês. Vocês têm que ir embora e deixar tudo que trouxeram: motor, roupas, relógios, gasolina, barco. Carro. Tudo... (ele falava em dialeto).

     KOTOK
       (filho de TACUMÃ chefe dos kamaiurás aproxima-se, conciliador)

Tudo vai se resolver. Ônibus saiu de Brasília para Canarana com pessoal que vai apaziguar tudo. Essa Expedição tem boas intenções. Documento da Funai logo vai chegar. Presença de Expedição no Parque está consentida.

    TUCUMÃ
  (ameaçador)

Se não deixarem todos os pertences serão despidos e surrados de borduna.

      KOTOK
(dirigindo-se ao pai que incitava dezenas de índios à agressão)

Vamos ganhar muito mais se esperar a chegada do bimotor vindo de Brasília.

     ROSSI LEE
       (à certa distância comenta)

A política dos índios não difere da política dos brancos de Brasília.

      ADRIANE
   (vendo que a pressão diminuíra)

O poder de barganha do filho do cacique parece ter funcionado. Pelo menos até amanhã.

  ROSSI LEE
        (em tom sarcástico)

NORTON deve ter apresentado Benjamin Franklin aos caciques (fazendo alusão às notas de cem dólares).


155. EXT. TRAJETO DE LANCHA ATÉ PORTO LEONARDO — DIA/NOITE

(HERMANN BREED mostra uma habilidade incomum na direção de proa do barco. A paisagem Amazônica em todas as direções revela uma beleza selvagem, dinâmica, impressionante).

(ADRIANE olha extasiada para o fundo das águas por sobre as quais a lancha avança. A limpidez delas permite a visualização de exemplares da flora e da fauna desse fantástico labirinto fluvial selvático e pantanoso).

(Ao percorrer paisagens de uma beleza inusitada a lancha aproxima-se veloz do píer de Porto Leonardo. Atraca. Nativos aproximam-se curiosos em busca ávida de presentes).

ADRIANE
         (para ROSSI LEE)

NORTON abriu o portal do Parque. A força do “Arquivo Jângal” de VOLTAIRE está aqui. Posso sentir que há mais do que ficção nas revelações do “Arquivo”.

ROSSI LEE
    (gesticulando braços e mãos para os lados)

O que há de realidade nesse texto se poderá comprovar em breve. É para isso que estamos aqui. A cidade subterrânea existe mesmo? Ou é apenas folclore?

(ROSSI visualiza na parte posterior da mochila de ADRIANE a ilustração de capa do livro HOLOCAUSTO NUNCA MAIS (PSI CITY) que se faz presente por sob a tela transparente que cobre o nicho externo da mochila).

(ROSSI ouve nitidamente uma voz que segreda, como se articulada somente para seus ouvidos (“voice over”): “Você não teria a quem dizer estar a fazer parte do grupo terminal do último casal habitante da Terra”).

(ROSSI LEE olha para os lados, para cima, para baixo, como se buscando o lugar de onde pudesse identificar ter vindo a estranha mensagem auditiva).


156.  EXT. TRILHAS NA SELVA. DIA

(A Expedição NORTON progride em seus caminhos selva Amazônica adentro. A progressão dos personagens rumo ao objetivo de achar a entrada desconhecida para a cidade subterrânea dos Anciãos lemurianos).

(As imagens mágicas da dança solitária do xamã EKEWAKA, presenciada por ADRIANE e ROSSI LEE nas proximidades do Posto Leonardo se misturam à subjetividade excitada dos mesmos, enquanto vencem as trilhas na selva, estimulados pelo contato próximo com os ruídos, os sons, as metáforas plásticas e telúricas do vento nas árvores, rugidos das onças, o voo das aves noturnas. A lascívia estimulante do ambiente selvagem. Amazônico).
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 15/05/2013
Alterado em 21/05/2013


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