HOLOCAUSTO NUNCA MAIS (PSICity) ROTEIRO DE CINEMA (3ª REDAÇÃO) 10
114) INT./EXT. LOCAIS PÚBLICOS E PRIVADOS. SALAS DE ESTAR DE APARTAMENTOS. VITRINES DE LOJAS EM SHOPPINGS — NOITE
(As PESSOAS que assistem aos programas de TV mostram uma curiosidade inusitada, como se estivessem hipnotizadas, os olhos vidrados nos monitores das TVs. Alguns ESPECTADORES se olham ao mesmo tempo em que afagam braços, pernas ou põem as mãos abertas sobre as faces. Os gestos denotam uma perplexidade constante. Como se desconfiassem que estão todos a participar de fenômenos os quais desconhecem a origem).
115) INT./EXT. LOCAIS PÚBLICOS E PRIVADOS. SALAS DE ESTAR DE APARTAMENTOS. VITRINES DE LOJAS EM SHOPPINGS — NOITE
(Os ESPECTADORES de TV por vezes parecem não se dar conta de que seus rostos estão a olhar de dentro do monitor para a cara deles. A cabeça balança ou pende de cima para baixo ou para os lados, como se estivessem tentando encontrar uma explicação para esse fenômeno TVvisivo).
APRESENTADOR DE PROGRAMA
(anuncia um furo de reportagem)
A nossa reportagem entrevistou em Londres, o físico STEVE TALKING.
REPÓRTER JG
(de Londres)
O senhor teria uma explicação científica para a realidade inusitada da TV-Virtual?
STEVE TALKING
(professoral)
A transmissão da TV-Virtual parece estar de acordo com padrões de transmissão a partir de raios lasers gravitacionais. A única parte da teoria da relatividade de Einstein que ainda não havia sido testada. É um fenômeno similar aos efeitos mal-sucedidos da Experiência de Filadélfia, quando a marinha americana tornou invisível um destróier durante a II Guerra Mundial.
REPÓRTER
(na expectativa de uma resposta original)
Há uma estação orbital a partir da qual esses raios estão sendo emitidos?
STEVE TALKING
(ponderativo)
Se for comprovada a existência dessa estação orbital, ela possivelmente é monitorada por uma civilização que domina tecnologias de controle de energias gigantescas. Tipo as emitidas por buracos negros e estrelas de nêutrons.
REPÓRTER
(provocativo)
A “Experiência de Filadélfia” atraiu essa civilização para a Terra?
STEVE TALKING
(especulativo)
É possível que haja sido aberto um portal interdimensional através do qual seres de outras dimensões estejam tentando inserirem-se nos corpos dos habitantes deste planeta. Há certa incompatibilidade quântica que provocaria os eventos de Combustão Humana Espontânea...
116) INT./EXT. ANOITECER. LOCAIS PÚBLICOS E PRIVADOS. SALAS DE ESTAR DE APARTAMENTOS. VITRINES DE LOJAS EM SHOPPINGS — NOITE
(A atenção de outros espectadores está fixada no retransmitir de Londres uma entrevista, em inglês, traduzida via legenda eletrônica, do cientista chinês prêmio Nobel de Física, CHARLES KRAHO, que em entrevista à BBC, disse):
REPORTER DA TV-BBC OUVE RESPOSTA DE CHARLES KRAHO
(mostrando grande expectativa)
Os raios gravitacionais geram efeitos interdimencionais de deslocamento da luz atmosférica ionizada.
REPÓRTER
(mostrando certa ansiedade)
De que modo a transmissão da TVvirtual é efetuada?
CHARLES KRAHO
(peremptório)
Talvez a TV-Virtual seja uma estação de retransmissão em sintonia quântica direcionada via raios laser. Muito além da compreensão no atual estágio de desenvolvimento científico da ciência neste planeta.
117) INT./EXT. ANOITECER. LOCAIS PÚBLICOS E PRIVADOS. SALAS DE ESTAR DE APARTAMENTOS. VITRINES DE LOJAS EM SHOPPINGS — NOITE
(Nas ruas e shoppings as PESSOAS contemplam as vitrines que mostram os últimos modelos de TV que a propaganda anuncia como sendo de 4ª dimensão. A expressão nos rostos dos TVespectadores, sem que estes percebam, por vezes reproduz a expressão facial de personagens que estão presentes no monitor).
ANDRES GEHIM
(físico Nobel russo)
Toda a realidade existente em qualquer lugar depende de uma série de combinações entre matéria e energia. Em diferentes graus de densidade e complexidade. Para cada manifestação, em cada dimensão (existem, possivelmente, 27 dimensões no continuum espaçotempo) há um certo conjunto de princípios quânticos envolvendo cada manifestação fenomênica...
REPÓRTER
(em outro canal de TV)
A teoria de que os casos de Combustão Humana Espontânea (CHE) são ocasionados por seres de outra dimensão querendo se instalar em corpos humanos... Há algo de verdade, ou é apenas especulação científica?
SERGIO HAROCHET
(Físico Nobel francês)
“A Experiência de Filadélfia” abriu um portal para outra dimensão. Seres que migram dessa outra dimensão talvez estejam querendo estabelecer contato físico, mas não têm corpos humanos perfeitamente compatíveis com suas intenções. Não há congruência quântico-molecular. A radiação resultante dessas tentativas de interação eletromagnética entre esses seres de outra dimensão e os seres humanos resulta numa espécie de encontro quântico entre átomos de matéria em condições dimensionais diversas. Talvez isso provoque mútua desintegração.
REPÓRTER
(curioso)
É científico? Ou ficção científica?
SERGIO HAROCHET
(justificativo)
Essa, uma possibilidade de interpretar de forma coerente o fenômeno CHE. Sem comprovação experimental. Sem verificação do fenômeno físico não há evidência científica.
118) INT. APARTAMENTO. SALA DE JANTAR — NOITE
(Um casal de ADOLESCENTES entra na sala de estar onde um casal de adultos está a dormir no sofá. O monitor da TV está sintonizado no Canal-Virtual, “Efeito 10”).
1ª ADOLESCENTE
(misto de oralidade normal e zumbidos)
(A moça emite um código de sons. Sons que imitam os zumbidos de abelhas. Enquanto fixa o olhar em direção ao namorado. Os cantos da boca levemente se contraem. Há silêncio, porém ele ouve nitidamente as palavras na mente, como se estivessem sendo verbalizadas) — “Você também lê os sonhos deles? São permeados de imagens de medo e horror”.
2° ADOLESCENTE
(misto de fala e zumbido)
(O rapaz responde, o olhar fixo, os cantos da boca se contraem de modo quase imperceptível, enquanto emite os zumbidos de resposta) — “Mediados por sentimentos de culpa. Eles não sabem nem podem interferir nessa realidade. Vão aceitando tudo e todas as coisas como se fossem seres virtuais, sem nenhum mínimo controle sobre os fatos”.
1ª ADOLESCENTE
(zumbidos)
Os culpados por esse descontrole são os “Outros”. Sempre são os “Outros”. “Eles” nunca percebem isso.
2° ADOLESCENTE
(zumbidos)
Os “Outros” são eles. Cada um deles. Eles convivem com os “Outros”. Milhares deles. São as personagens dos múltiplos filmes e novelas da TV. E seus conflitos emocionais em ebulição quântica.
1ª ADOLESCENTE
(zumbidos)
A mesma patologia coletiva manifesta nos “outros” de outras dimensões.
119) INT. SALA DE JANTAR. APARTAMENTO — NOITE
(O CASAL de adultos ameaça despertar, mas os zunidos em suas mentes parecem fazê-los adormecer sob o fluxo sussurrante do ruído sibilante da nova patologia).
(PESSOAS FOCALIZAM o monitor da TV que transmite as notícias do JG):
ÂNCORA DO JG
(tentando parecer isento de emoção)
“Há poucos minutos a NASA divulgou a notícia de que há indícios de uma estação receptora subterrânea de sinais da Estação Orbital Interdimensional na Amazônia...”).
120) EXT. PÁTIO DE PLAY-GROUND — DIA
(Grupo de PESSOAS focaliza grupo de CRIANÇAS que se comunicam através de uma linguagem de pronúncia muito rápida das palavras. A articulação de sons das letras, sílabas e palavras soa semelhante a zumbidos. Quatro delas se destacam dos grupos que brincam no play-ground e se dirigem ao elevador social, após saírem do pátio).
121) INT. SALA DE TRABALHO. ESCRITORIO — DIA
(HELIO aproxima-se da sala onde trabalha CARLA. Senta-se frente a ela e começa um diálogo que resvala para uma tonalidade pouco amigável).
CARLA
(com certo menosprezo)
Dá um tempo, pai. Não vou vender minha alma para esses reacionários satanizados em troca de favores para sua aposentadoria aumentar de valor.
HELIO
("cheio de razão")
Aumentar? Duplicar! Você quer dizer. Ética não dá camisa a ninguém, Carla. O sistema capitalista é selvagem e corrupto por natureza. Nele o que conta é o fator econômico. O fator econômico está acima de tudo e de todas as regras, princípios, ética, religião, o que for. Você se lembra do ex-presidente Analfabeto?
CARLA
(afirmativa)
Ele se notabilizou pela capacidade discursiva elogiosa a todos os esquemas de corrupção no país. E saiu da presidência com um índice recorde de apoio popular. Não vou impedir que seus interesses mantenham-se vivos na empresa. A Adélia vai me substituir.
HELIO
(querendo negociar)
Você saindo da firma minha posição administrativa fica desfalcada. Reconsidere, por favor. Mesmo porque o mercado está escasso de ofertas de trabalho.
CARLA
(decisiva)
Minha decisão é irreversível. Por favor, não insista. (HELIO levanta-se e sai da sala sob o olhar da filha, CARLA).
CARLA
(olhando o pai afastar-se comenta de si para consigo):
“Agente familiar típico de uma educação e de uma cultura voltadas para a diluição de qualquer princípio ético... Que tipo de sociedade poderá estar em gestação no inconsciente familiar e social voltados para o incremento implacável de interesses coletivos os mais escusos?".
122) EXT. RIO E PÂNTANO. ILHA — NOITE
(Uma JOVEM no dorso de um crocodilo atravessa a margem de um rio de águas escuras em direção a uma ilha. Um eclipse lunar se desenha no alto. O réptil de grande porte com oitenta dentes e de enorme força mandibular, poderia simplesmente esmagar o corpo de CARLA com sua mordida de uma tonelada. Mas ela simplesmente salta de seu perigoso lombo às margens do rio e dirige-se ao interior da ilha).
123) EXT. LUAR. ILHA — NOITE
(CARLA observa em meio à grama numa clareira um estranho e belo animal a pastar. Os pelos brancos brilham ao luar. A sombra do eclipse começa a escurecer o ambiente selvático. CARLA olha o pai, HELIO, do outro lado do rio. Ela insiste em chamá-lo, suplica que não tenha medo, que monte no lombo de um dos inúmeros crocodilos que parecem estacionados à beira da outra margem do rio à espera de fornecer uma carona até a ilha, do outro lado).
(HELIO está em dúvida, tanto hesita que fica, de uma vez por todas, paralisado pelo temor. Ele ignora a oportunidade que esse momento mágico oferece. Ele tem olhos apenas para a aparência hostil e inóspita do réptil. HELIO não sente o momento enquanto uma oportunidade. E o crocodilo aproxima-se veloz em sua direção com a bocarra aberta. Apavorado ele desperta do pesadelo).
124) EXT. RUAS. CALÇADAS. PRAIAS. AVENIDAS — NOITE
(PESSOAS estão sendo assaltadas enquanto veem mercadorias em exposição nas ofertas das vitrines das lojas de varejo com produtos eletrodomésticos. Um assaltante ataca a coronhadas um transeunte, enquanto lhe subtrai violentamente o “blazer” com alguns de seus pertences pessoais. No monitor de várias TVs sintonizadas no “Canal-10”, vê-se cena semelhante no “full-time-movie” do dia).
125) INT. APARTAMENTOS. SALAS DE ESTAR — NOITE
(PESSOAS veem nos monitores de TVs ligados no (Canal-10) (“Effect-TV”) cenas que são reproduções de acontecimentos violentos de rua. Causa impressão nos espectadores, que as cenas dos filmes da “TV-fantasma”, estão a reproduzir as situações cotidianas da violência de rua de que são vítimas as pessoas, cada vez mais amiúde).
(Outras PESSOAS comentam que a “TV-Ghost” antecipa tais acontecimentos).
126) EXT. “POINT” NOTURNO NO BAIRRO DO BROOKLIN SÃO PAULO — NOITE
(As PESSOAS migram a subjetividade pessoal de cada uma delas para outras PESSOAS. Essa migração cria um efeito ambiental de estranhamento entre elas. Esse fenômeno acontece em bares e restaurantes do momento. Local de badalação social noturna: “points”).
(Uma longa série de acontecimentos onde se acha presente à manifestação da violência urbana, cada vez mais gratuita, são objetos de observação pela programação TVvisiva).
(Em off ouve-se locutores de rádio e jornais TVvisivos narrando acontecimentos policiais promovidos pela gang do marginal conhecido popularmente pela alcunha de “A FÚRIA”).
(PESSOAS são vistas nas mesas de calçadas dos bares noturnos e flagradas em conversas nas quais trocam impressões sobre os acontecimentos):
1° FREGUÊS HABITUAL DO BAR
(ironicamente interroga)
Por que a polícia nunca consegue prender “A FÚRIA”?
2° FREGUÊS HABITUAL DO BAR
(expressão e fala depreciativa)
A FERA poderia falar demais. Revelar os esquemas policiais nos quais está inserido. Muitos oficiais da polícia, civil e militar, estariam comprometidos.
1° CLIENTE HABITUAL DO BAR
(argumentativo)
A FERA estaria infectada pela variante mais letal do H3V, à PUF.
2° CLIENTE HABITUAL DO BAR
(afirmativo)
É certa, a infecção das manchas pretas petróleo.
3° CLIENTE HABITUAL DO BAR
(mostrando-se conhecedor da matéria)
Possui efeito semelhante da versão LBF: aumenta a ira e o furor dos infectados. As políticas estão à espera que ele morra, sem que se arrisquem a caçá-lo.
2° CLIENTE HABITUAL DO BAR
(tentando um diálogo sério)
Eles não são páreo para “A FERA”. O filme de hoje da “TV-Full-Time” mostrou a violência incontrolável dos infectados pertencentes à gang da FERA. E as tentativas inúteis dos esquemas policiais em prendê-los.
1° CLIENTE HABITUAL DO BAR
(ampliando as informações sobre o bando)
Todos os membros do bando estão infectados pelo vírus PUF ou pelo vírus LBF, das manchas cor laranja. Os sintomas são semelhantes: patologia comportamental neura, com tendência a surtos psicóticos com grandes manifestações de violência.
127) INT. SALÃO DE BELEZA NO BAIRRO DOS JARDINS — DIA/NOITE
RODRIGO, VULGO “A FERA”
(fala com seu sócio no salão NANDO´S. Dois de seus comparsas estão como seguranças na porta interna do salão e outros três na calçada da Oscar Freire)
NANDO KAMURAÍ
(cuida do cabelo de RODRIGO enquanto uma manicure cuida das mãos, uma pedicura faz as unhas de seus pés)
Sabe o Lewandówsky da Lamborghini? Que carrão, meu deus! Seis meses depois de aparecer com aquelas manchas... Pra mim não eram laranjas, eram amarelas, juro que eram amarelas... Parecia uma múmia sem as gazes...
RODRIGO
(faz cara de poucos amigos)
"Truta que o traiu"!
NANDO KAMURAÍ
(sem desconfiar do incômodo que está causando)
Essa gente querido, é cheia dos exageros, como é que um cara que saiu de Parelheiros morou em Gauianases, era chefe do tráfico em Capão Redondo... Precisava se exibir num dos carros mais caros do mundo? Quando a Polícia Federal chegou na cobertura dele no Jardim América ele já estava vestido no paletó de madeira. Só depois do Lewan ter virado poeira a polícia foi bater na porta do apartamento dele...
RODRIGO
(veramente enfurecido)
"Essa bicha não saca o quanto está atacada"!
NANDO KAMURAÍ
(crente de que está abafando!)
Cinzas, queridinho, cinzas. Quando o cana levantou a mão do Lewan no meio do velório “chic”, cheio dos canapés e whisky´s, os dedos, os braços, a careta virou carcaça, cinzas, quridinho, tudo CINZAS! Que horror...
RODRIGO
(sem esconder a irritação olha com iminente ímpeto de cometer um malefício contra seu sócio e cabeleireiro)
"Tá muito bolada. O delírio não para"!
NANDO KAMURAÍ
(mostrando-se demasiadamente serelepe)
Você devia de estar lá, meu bem. Foi um espetáculo digno de uma ópera no Municipal... Horrível, horrível, você ia querer ver o corpo da bicha se desfazendo na frente dos olhos. Isso é muito mais engraçado do que as fanfarras do Ratito, as molecagens do Paniquitos na TV, as gracinhas da Galeguinha, ou esses programas de humor tipo o Esquadrão da Morte dos polícias do Tomy Cavalcântico.
RODRIGO
(faz uma careta de ódio, a pele da face treme incontrolável, os olhos saltam das órbitas)
NANDO KAMURAÍ
(quer continuar, mas é interrompido bruscamente)
O “Boletim Científico” do Programa da Helleana, o besteirol do “Matinê da Tarde” do Danigentílico...
RODRIGO
(o sangue subiu às faces, a careta vermelha de ódio, as mãos fechadas com extrema afetação nos gestos. Controlando-se ele fala):
Pára com essa merda pôrra! Tá tirando sarro com minha cara? Vai buscar um Logan`s com bastante gelo, malamada, ON THE ROCKS, bastante rocks de gelo, entende? Duplo, no copo de papai Noel.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 15/05/2013
Alterado em 21/05/2013