Cais Do Corpo
Ela passeava na praça como
Se estivesse viva, como se
Não fosse um fantasma.
Quando a bolsinha rodava
Os dentes brancos entre os
Lábios rubros os clientes
Encarava. Não era mais do
Que uma menina mas já
Diplomada em todo tipo
De taras. Estranhou esse
Outro, outro cliente que
Ora a descartara. Dessa
Forma vai vivendo 2ª, 3ª
E quarta. Alguém outra
Vez vem e de novo inda
A descarta. Pálida, triste
E magoada nem sentiu
Que fora quatro, cinco,
Seis vezes esfaqueada e
Ficou 5ª e 6ª feira como
Que parada esse encanto
De menina a voar como
Uma vaca sorriu sozinha
Sem uma companhia sob
Os lençóis dessa rinha ela
Novinha nesse domingo a
Mostrar as coxinhas essa
Sensação de solidão tão
Estranha e infinita... Que
Se passa? Que se passou?
Um ser transparente dela
Se aproximou, sorriu e
Seu estranhamento só
Aumentou. O anjo (será
Se torto?) sua mão pegou
E no túnel de luz que se
Abriu ela soçobrou. Por
Isso todos passavam por
Ela, ela por todos passou
Um dia, como a galinha
De Clarice alguém, quem
Diria, a prestigiou. Mas
Agora já passavam das 9
Horas noturnas. Depois
De acolhida não olhava
Pra ninguém e ninguém
Olhava pra ela. Quem nela
Se chegava não via se era
Gorda nem magra. Quem
Adivinhava nela anseios?
Abriu pela última vez as
Asas nesse voo após do
Alto despencar da murada
Do terraço. Como a ave
De Clarice, sozinha nesse
Mundo, sem pai, nem mãe
Muda arfava. Entre gritos
E penas agonizava na rua
Na calçada. Drogada inda
Tonta não mais resistiu a
Tanta violência. Nem caca
Rejou zonza e indecisa
Ninguém reparou: estava
Prenha. Quem acariciaria
A cabeça de uma galinha?
Ou pensaria nela como
Parte de uma família?
Antropofagicamente
Comeram-na muitas vezes
E mataram-na, finalmente.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 31/03/2013
Alterado em 31/03/2013