Os Degraus Do Bandeirantes (As Vésperas Do IV° Reich) 7
Quércia, por sua vez, ignorou o vergonhoso evento para não ter de opinar contra a política de segurança de seu principal aliado nesta eleição: o governador Franco Montoro. O Estado pode mas não deve se nivelar aos que agem criminosamente, exceto em legítima defesa dos direitos dos cidadãos. Direitos à sobrevivência digna e pacífica.
Em Presidente Venceslau os presos estavam indefesos e rendidos. Não pode haver maior covardia do que atacar o inimigo até os estertores, quando o adversário não mais possui condições de defesa: isto é massacre: matar profissionalmente o criminoso indefeso sem chance de reação física. A política de segurança do governo não poderia sofrer o revés de um desgaste com a opinião pública superexcitada, superestressada e super-revoltada com a política de exacerbação dos ânimos propalada por Paulo Maluf, com a divulgação do video-"clip" de seu desempenho exaltando a superexpressão, a superexcitação como instrumento válido, autêntico e inserido no contexto demagógico de sua campanha.
O governo Montoro neste episódio equivaleu-se à política policial de Maluf e por isto mesmo, fora por ele elogiado. Eduardo Suplicy opinou que a ocorrência "constitui caso de impedimento do governador" e Muylaert, secretário da Justiça e Segurança, afirmou que o procedimento criminoso "era a única solução para salvar os reféns". De acordo com tal opinião o secretário pode ser considerado cúmplice daqueles políticos que desejam dotar de poder de vida e morte os que
combatem o crime com o crime.
O presidiário amotinado Antônio Soares dos Santos, sobrevivente do motim da Penintenciária Regional de Presidente Venceslau foi encontrado enforcado na cela 221. Catorze presos morreram espancados pelas cacetadas desferidas pelos soldados da Policia Militar na terça-feira passada, dia 16 de setembro. Morreram, segundo laudo médico, de politraumatismos e traumatismos cranianos. Foram mortes a pauladas. Agentes de polícia que se mostram mais severos do que a lei são nada menos do que trogloditas armados. Não merecem nem têm a confiança e o respeito da sociedade.
Se os cidadãos que mergulham no mundo do crime e da contravenção estão barbarizando as convenções sociais, os agentes da policia e do governo devem agir com rigor no sentido de punir os culpados. Com coragem e justiça. Nunca com assassinatos. O presidente Romão Sarney mostrou seu descontentamento com os relatos do linchamento em Presidente Venceslau, dizendo que "nada justifica que presos, por mais violentos que sejam, morram de forma tão brutal e desumana".
Maluf candidato do PDS ao governo de São Paulo, em franca campanha por seu partido, visitou um centro de saúde em Osasco onde, visando obter uma resposta que lhe fosse favorável, perguntou a uma funcionária: "vocês estão contentes com este governo"? Ao que ela, de pronto, retrucou: "Mais do que com o seu". Bem feito deputado.
Neste momento os jornais abrem grandes espaços em suas páginas para entrevistas com Antônio Ermírio, promovendo ainda mais intensamente a figura do candidato do PTB, propagando suas idéias. Algumas das quais servem até de receita de base para a campanha de seu adversário do PMDB, a exemplo de quando falou que, se o candidato do PMDB falasse mais ao povo, tivesse mais clareza com o povo, com a máquina do PMDB, este partido ganharia tranquilamente a eleição.
Em relação à dívida externa, o empresário acredita ser preciso que as empresas estatais, com 2/3 dos 110 bilhões de dólares que o Brasil deve, ofereçam ações preferenciais que não dão direito a voto, aos credores estrangeiros, em troca da dívida. Este seria, segundo opina Ermírio, "o único caminho para o Brasil sair do sufoco". Não mencionou que, uma vez detentores da parte substancial das ações preferenciais das estatais, os banqueiros internacionais seriam detentores da participação nos lucros e dividendos destas empresas, e passariam a ser, também, não apenas credores mas codetentores dos meios de produção do Estado.
São ideias e ideais sequelas do pensamento político liberal do qual foi paradigma o partido integralista, seu porta-voz Plínio Salgado. Ideias e ideais que não possuem a força do pensamento propícia a conseguir uma identificação, ainda que simulada, com a crença popular de que a situação de penúria das classes poderá minorar se, e somente se, os administradores da divida não aceitarem pagá-la com "juros de sangue", ou seja: com a exigência de mais sacrifícios por parte dos segmentos sociais representados pelo Partido dos Trabalhadores e pelas classes médias financeiramente proletarizadas! Mental e intelectualmente sucateadas.
— Maluf e Ermírio são farinhas do mesmo saco, disse Quércia no Guarujá, e prosseguiu dizendo que "hoje teve o desprazer de ler o ministro Marco Maciel afirmar que o governo não usará a lei delegada". E acusou: "esse grupo que está no governo não está com o presidente (Romão) Sarney. Essa gente está ao lado dos exploradores do povo, apoiando Antônio Ermírio, que é outro explorador do povo. Dizer que o empresário é líder do novo trabalhismo é até ofensivo ao trabalhador". Realmente, dizer que existe um novo trabalhismo liderado por Antônio Ermírio, é extrapolar o exagero.
O vice-governador disse ainda que os que fossem do partido e não o apoiassem poderiam "ir para o diabo. que os carregue". Plagiando inversa e ideologicamente a frase do ministro da propaganda de Hitler, Quércia afirmou: "não faço campanha com talão de cheque na mão". Goebbels havia dito quando ministro da Propaganda de Adolfo Hitler: "Quando me falam em cultura eu puxo um talão de cheques".
O que interessou fora conseguir o efeito que a frase poderia ter na mente subconsciente do eleitor. Uma frase de efeito provoca, não poucas vezes, a simpatia do eleitorado nas pesquisas de opinião. E políticos costumam imitar outros políticos, e os meios pelos quais eles conseguiram poder e influência política e social. Se uma paráfrase do nazismo conseguira o efeito de propaganda popular desejado na década de 30 na Alemanha, por que não funcionaria na política de hoje? Em nome do ideário do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). E com, presume-se, uma intencionalidade inversa.
A SITUAÇÃO DA candidatura Quércia não pode descer mais, uma vez que está no chão do "fundo do poço", como diria Ulysses Guimarães. O PCB aderiu a Ermírio. Há previsão de migração de candidatos e simpatizantes da candidatura Quércia para o PTB. A ameaça Maluf parece inexistir, a partir do momento em que o candidato do PTB aparece sozinho, como se a dominar o horizonte político das urnas de 15 de novembro.
Maluf, prossegue investindo sua lança medieval contra os moinhos de vento da administração Montoro. Desconhece que a bateria de argumentação belicosa precisa concentrar-se em direção ao adversário principal de sua candidatura, o também empresário Antônio Ermírio e não contra Montoro ou Quércia. Para o PMDB o perigo não é mais a eleição inviável de Maluf, Antônio Ermírio é o adversário que Quércia deve vencer para chegar ao poder e sentar-se no trono do (Palácio dos) Bandeirantes.
Os candidatos à Constituinte, com seus discursos de quem desconhece o que significa ser candidato Constituinte, estão fixamente engajados na "síndrome do vencedor". Como diria Maquiavel, "os fins justificam os meios" e eles, esquecidos de que, mais do que candidatos simplesmente, são candidatos Constituintes, impõem a ascendência de seus discursos eleitoreiros a outros argumentos mais pertinentes ao interesse do eleitor e, com isto, lançam-se com a dependência habitual, em defesa da argumentação demagógica das candidaturas comuns, como que alucinados pela perspectiva de que, se assim não fizerem, podem perder a eleição.
Talvez não seja exagero perguntar se eles próprios ignoram a importância visceral da Constituinte, como poderiam transmitir conhecimento que não possuem a seus eleitores Constituintes? Eleitores, maior parte atrelados ao do voto de cabresto. Os discursos eleitorais visam apenas manter os eleitores encabrestados à velha metodologia de guerra de seus ancestrais da UDN e do PSD.
Para Quércia e Maluf, Ermírio é, neste momento, o inimigo nº 1 ao qual devem lançar contra a cavalaria e a artilharia de suas candidaturas. Almino Affonso, dentro da perspectiva desta estratégia, anunciou que a campanha do PMDB começará a ser mais agressiva com seus adversários, com ênfase ao programa TVvisivo do partido no horário gratuito da tv, visando mostrar realmente quem é quem, quais os interesses econômicos e sociais que agem e manipulam as demais candidaturas.
Demais candidaturas que, segundo Almino, defendem apenas os interesse dos empresários candidatos e não os interesses da classe trabalhadora. Roberto Cardoso Alves, deputado federal, lamentou a "decomposição do PMDB". Ele disse que o partido poderia mesmo perder a eleição, porém, se mantivesse unido seu quadro político-partidário, isto seria um ato democrático. Acrescentou que ser esfrangalhado como um tecido doente é muito ruim.
Ruth Escobar, sob a influência de alguns companheiros de partido, ampliou o prazo para que a candidatura de Quércia descolasse, até o dia 29, quando os efeitos da campanha gratuita do partido se poderiam fazer sentir com mais intensidade.
Maluf, fantasiado de samurai foi fotografado no bairro da Liberdade. A figura do samurai pode ser traduzida em uma linguagem brasileira, como sendo uma metáfora social do jagunço nordestino, capanga pago e incorporado à família de um coronel, detentor de terras e senhor de latifúndio. Maluf precisa-se afirmar a bem da verdade, ficou muito bem nas vestes do jagunço tradicional dos latifúndios japoneses.
Visando obter o apoio da colônia japonesa do bairro da Liberdade, o candidato do PDS foi fotografado fazendo ginástica rítmica, ao lado de ginastas homens e mulheres de origem nipônica. Com tantas gentilezas e troca de simpatias recíprocas, Maluf foi agraciado com uma faixa de pano que se coloca na testa, amarrada à nuca, com a inscrição e o símbolo do sol nascente, "hisshô", que significa "venço com certeza". Não vence com certeza.
Antônio Ermírio, após sentir-se mal quando discursava para 1.500 pessoas em São José do Rio Pardo, foi submetido a um eletrocardiograma e os resultados foram normais. Segundo o cardiologista Álvaro Lemos, o mal-estar fora devido a uma indisposição e a uma leve desidratação, já solucionada com a aplicação de 500 miligramas de soro glicosado, após a qual o candidato adormeceu. O cirurgião Francisco Américo, que também atendeu o empresário, disse que Ermírio deu entrada no hospital com pressão subnormal e em estado febril, consequência de uma gastrenterite. O candidato se recuperou mui rapidamente.
Enquanto Antônio Ermírio elogia Montoro e quer caminhar com os dissidentes do PMDB, Quércia ataca a imprensa e os dissidentes enquanto Lula diz querer a "luta de classes" nestas eleições. Mesmo porque se existem diferenças de comportamento entre eles (Quércia, Ermírio e Maluf), não existe nenhuma diferença de classe entre eles. Segundo Lula, a luta de classe poderá crescer muito, e ser novamente um fenômeno eleitoral em São Paulo.
A eleição para o Congresso Constituinte mostra de um lado a classe empresarial querendo a hegemonia para fazer uma Constituinte de seu interesse. Do outro lado da moeda, o PT, e forças políticas afins, desejam assegurar direitos para a classe trabalhadora. Disse ainda o deputado federal Constituinte mais votado em São Paulo, que não existe nem pode existir um clima de discórdia dentro do partido, "a não ser contra nossos adversários políticos". Lula une o PT contra seus adversários ideológicos tradicionais. Ninguém diria, nesse momento, que Lula se transformaria num político igual a esses adversários que combatia. Futuramente.
O estilo populista da campanha de Maluf trai um elitismo fanático quando exacerba seu discurso demagógico. Falando a um grupo de operários de uma construção civil perto da favela Nossa Senhora da Paz, no Jaguaré, o candidato do PDS garantiu: "vamos trabalhar para os pobres, para os trabalhadores, não só para quem já ganhou muito. Isso é justiça social".
Em Campinas Maluf afirmou que seu adversário do PTB, Antônio Ermírio de Moraes, é "biruta de aeroporto" classificação que, segundo ele, o candidato merece por ter posições incoerentes que mudam todos os dias. Para melhor informar o leitor, "biruta de aeroporto" é um aparelho utilizado na orientação de manobras aéreas. Em forma de sacola cônica, ele gira conforme a direção aleatória dos ventos.
Técnicos em segurança e medicina do trabalho chegaram à conclusão de que seiscentos operários do setor de fiação da Nitroquímica, empresa do Grupo Votorantim, devem afastar-se do serviço devido à exposição contínua dos trabalhadores a gases tóxicos. 97% dos operários deste setor de fiação, estão submetidos a limites de tolerância biológica ultrapassados.
O gás sulfídrico e o dissulfeto de carbono são os principais elementos tóxicos a que estão expostos os operários com frequência. Pesquisa do Sindicato dos Químicos, constatou que 50% dos operários estão com conjuntivite. 71,7% sofrem de surdez, 38,3% têm dificuldades de verbalização, e 63% sofrem alterações do equilíbrio psicomotor. O empresário Antônio Ermírio, presidente licenciado do Grupo Votorantim, disse que, "se a empresa fosse interditada as falhas teriam de ser corrigidas porque isto é que é democracia". Bota democracia nisso: o lado patronal enriquece enquanto os trabalhadores adoecem de múltiplas causas.
O Sindicato dos Químicos está pressionando a Delegacia do Trabalho no sentido de promover intervenções na empresa. A DRT decidiu que a volta dos 600 trabalhadores ao serviço, depende da redução dos níveis de exposição ambiental aos limites previstos pela legislação e/ou à inexistência das condições de intoxicação.
Segundo a opinião do empresário candidato do PTB a empresa precisava ser interditada primeiro, para depois sanar as falhas, "porque isto é democracia". Por iniciativa própria não haveria nenhuma gestão administrativa neste sentido, quis dizer o empresário que os operários sacrificados aos gases tóxicos prosseguiriam "ad infinitum" nesta situação de exposição aos efeitos das substâncias químicas danosas à saúde, se não houvesse uma intervenção do Sindicato dos Químicos, no sentido de sanar a situação de penúria dos trabalhadores. "Isto é que é democracia." À Ermírio.
Já existe até uma literatura jornalística visando consolar os derrotados do PMDB. Alguns cronistas políticos vaticinam que, mesmo depois de perder as eleições para governador em São Paulo, o PMDB continuará a ser um partido muito forte. Consolem-se as lideranças partidárias com o reforço de suas bancadas na Câmara e no Senado. A opinião muito duvidosa. Acredito que, se viesse o lobo mau e, com seu sopro e pulmões de quem não se intoxica na Nitro Química, derrubasse a candidatura Quércia, o castelo de cartas ruinaria, se fosse o PMDB um castelo de areia. Mas o PMDB não é nenhum castelo de cartas.
A candidatura Quércia começaria a crescer em popularidade, devido também, e principalmente, a contribuições dos militantes e voluntários da Pátria da Nova República. Este Autor apresentou nada menos de quatro conjuntos de ideias (planejamentos "vicinais" de campanha), visando reforçar a estratégia dos discursos dos candidatos do PMDB no horário de propaganda gratuito, radiofônico e TVvisivo.
Em 28 de setembro redigi e distribuí em mãos de pessoas ligadas à campanha, algumas ideias que, felizmente, foram aproveitadas pelo partido na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TVvisão. E os resultados apareceram. Graças a Deus, a livre iniciativa não morreu, apesar de minha remuneração: zero cruzados.
Este autor nada faturou em grana pela participação vital na campanha em prol da candidatura do PMDB. Exceto no saber que existem candidatos menos ruins do que outros. Entregar o Governo de São Paulo em mãos de um empresário com interesses pessoais claramente fora dos propósitos políticos partidários de um partido que lutou pelas Diretas-Já em defesa de bandeiras políticas que não são exatamente de interesse empresarial localizado, é contribuir para fazer acontecer uma política supostamente menos ruinosa para o eleitor do Estado de São Paulo.
Enquanto essa participação acontece uma pesquisa da rede Globo levantou dados que deveriam servir de alerta aos políticos candidatos Constituintes: nada menos de 80% (oitenta por cento) dos eleitores desconhece o que significa o termo esotérico, mágico, fantástico, intraduzível de nome Assembleia Nacional Constituinte.
Os partidos não se preocupam em fornecer, a seus aliados e militantes, uma estratégia de militância verbal, capaz de popularizar, com a devida intensidade, a necessidade dos eleitores brasileiros de se engajarem no conhecimento político de seus direitos políticos nominalmente inalienáveis. E de fazer com que estes direitos sejam defendidos, com unhas e dentes, por seus representantes parlamentares.
É vergonhoso que estes representantes não se tenham empenhado minimamente no sentido de fornecer às suas campanhas, o tom e a sonoridade do discurso Constituinte, preocupados apenas em produzir o ruído demagógico tradicional na busca indiscriminada de votos.
OS DEGRAUS
DO BANDEIRANTES
(As Vésperas do IVº Reich)
“Errar é humano. Mas neste sentido não se
deve tornar a existência demasiado humana”.
Dr. Erich Meller
(Conselheiro Coordenador do Ministério do
Interior Prussiano. Década de 30, III° Reich)
OUTUBRO DE 1986
O SERVIÇO NACIONAL de informação (SNI), engajado com certeza na trama geral contra a candidatura Quércia, informou ao presidente Romão Sarney que a derrota do candidato do PMDB em São Paulo é irreversível. O vazamento deliberado da informação pelo Palácio, faria parte da manobra do ministro Marco Maciel que visava desencorajar os políticos dissidentes dos partidos que ainda não haviam aderido à candidatura Antônio Ermírio.
Em 1984 o SNI, através de seus boletins de informações, garantiu que o ministro do Interior, Mário Andreazza, e não o deputado Maluf, seria o candidato do PDS à sucessão presidencial. As previsões eleitorais do SNI são divulgadas com o intuito subreptício de reforçar a candidatura daqueles políticos a quem devotam confiança ideológica e a quem servem para fortalecer a estratégia de domínio ou controle psicosocial das forças sociais de produção.
A Constituinte vai repassar o SNI ao controle civil da sociedade? Deve e pode. "O Monstro da Cabeça Oca", estava a errar, de novo, em suas previsões, apesar do aparato tecnológico, de informática, à disposição de seus 300 mil agentes. Eles querem Ermírio reinando no Bandeirantes. Não vão conseguir.
A deputada Ruth Escobar (sempre, supõe-se, com a dose de caninha 51 à mão)após criticar a direção estadual do PMDB e acusar de "incapacidade eleitoral" o candidato peemidebista, disse ainda: "nem os mais hipócritas nem os xiitas conseguem esconder, podemos ser acusados de ser uma reserva estratégica para dar a vitória ao senhor Paulo Maluf".
Segundo a opinião da deputada o PT teria sido uma "reserva estratégica" do atual prefeito Jânio Quadros, durante as eleições de 1980. E acrescentou com uma convicção sem fundamento real que, pelo menos 50% da bancada estadual do PMDB paulista, já fez acordos com Antônio Ermírio, sigilosamente. Quércia manifestou-se a propósito dizendo: "ela é pé-frio. Daqui pra frente Ruth vai afundar a candidatura de Antônio Ermírio". Afirmou ser favorável à expulsão da deputada do partido, mas não tomará iniciativa neste sentido.
A deputada Ruth ameaçou entrar com uma ação judicial contra o PMDB se a direção do partido não der uma explicação sobre sua ausência na campanha eleitoral gratuita. E precisa de explicação dona Ruth? Você (ou vossa excelência) devia ter seu horário garantido na programação do candidato Antônio Ermírio. O dramaturgo Nélson Rodrigues denominaria de "óbvio ululante" seu inacreditável oportunismo eleitoral maquiavélico. Esse oportunismo pretende estar presente na campanha eleitoral TVvisiva do PMDB? É muita cara-de-pau. Querer fazer propaganda ermirista de dentro do horário eleitoral do candidato Quércia.
Tã rolando grana alta na campanha da deputada. Anúncios de 1/4 de página na primeira página da Folha, são publicados tentando comercializar a imagem da deputada oportunista, fotografada com uma tarja preta na boca, como que a simbolizar que lhe proíbem de falar, dentro de seu próprio partido. Há quem veja nesta manifestação da propaganda (haja dinheiro) política de Ruth Escobar, uma acomodação subserviente e cômoda aos fatos e acontecimentos políticos momentâneos, com um único e inconfessável objetivo maquiavélico: ser eleita a qualquer custo: "os fins justificam os meios". E a Constituinte dona Escobar? Com políticos desses, que se pode esperar? Esperança é que não.
Ermírio, na pesquisa Folha realizada nos dias 13 e 14 de setembro caiu cinco pontos percentuais, de 39% para 34%, ainda assim mantém uma distância de dezesseis pontos de vantagem sobre o segundo colocado. Quércia e Maluf estão tecnicamente empatados no segundo lugar, o primeiro com 17%, o candidato do PDS está com 18%.
O vice-governador mostrando-se satisfeito, comentou que todas as pesquisas indicam o crescimento de sua candidatura. Disse ainda que pesquisas não têm valor nenhum, porque a verdadeira pesquisa é a de 15 de Novembro. O empresário não esconde sua irritação com os ataques de seus adversários sugerindo que Maluf e Quércia "estão unidos para derrotar a gente. Parece também que, de repente, o maior bandido solto no Brasil chama-se Antônio Ermírio de Moraes". Segundo seu mais recente depoimento. Êta caninha poderosa!
João Oswaldo Leiva, coordenador da campanha Quércia, acha que uma das motivações da queda do empresário nos resultados da pesquisa deve-se ao fato de que só está aparecendo o tratamento que Ermírio dispensa a seus trabalhadores. Maluf também não deixa por menos e registra que a decisão da Votorantim, empresa de Antônio Ermírio, de forçar os trabalhadores doentes a continuar trabalhando, "mostra falta de sensibilidade e revela o patrão ganhador de dinheiro, substituindo o empresário moderno, com sensibilidade social".
Suplicy acha que os números da pesquisa não conferem com a realidade dos 9 mil militantes do PT que compareceram ao comício da praça da Sé. Enquanto Teotônio Simões lamenta que seu partido, que tem um programa de governo e uma proposta para a Constituinte, tenha seus direitos civis e políticos castrados. Suplicy e Simões contam com cinco pontos percentuais, e um ponto, respectivamente, nos resultados da votação simulada na preferência dos eleitores.
O ministro Marco Maciel, exultante, afirma com convicção inabalável e patética: "A situação de Orestes Quércia é uma situação perdida". Reforçando desta forma, coincidentemente, os resultados das pesquisas de opinião promovidas pelo SNI, que servem de base para as avaliações feitas pelos observadores do Palácio do Planalto. A enganação é geral e pretende sair vitoriosa.
Antônio Ermírio publica um anúncio de 1/4 de página que diz apenas isto: "O que pensa Antônio Ermírio de Moraes sobre a saúde de seus empregados". Segue-se a este título a frase entre aspas: "O caso da Nitroquímica, para quem dirige um complexo industrial como é o nosso caso, é um caso corriqueiro. É uma coisa tão ridícula". Do ponto de vista do patrão. Do "bom patrão". É apenas uma coisa ridícula: o estado deprimente de seus funcionários contaminados.
Ontem, dia dois de outubro, os seguranças do candidato Paulo Maluf armados de pedaços de pau e de um facão, investiram contra um grupo de estudantes que proferiam "slogans" contra o candidato do PDS, a exemplo deste: "Maluf é na cadeia, gente boa é nas ruas".
Maluf responsabilizou cabos eleitorais do candidato do PTB pelas provocações e pelo tumulto delas resultantes dizendo: "acuso os cabos eleitorais de Antônio Ermírio por essa briga. É gente que tem total interesse em tumultuar a minha campanha. É a segunda vez que isto acontece". Um estudante que fora agredido com porretes, chutes e pontapés disse que "a única coisa que fizemos foi gritar o nome de Antônio Ermírio. Não provocamos ninguém. Afinal, estamos ou não num país democrático?". Há democracia e democracia. Você, eleitor, é quem deve saber a diferença.
Um relatório do Diretor da Divisão de Segurança e Medicina do Trabalho da Delegacia Regional do Trabalho, recomendou a interdição do setor de fiação de rayon da Cia. Nitroquímica Brasileira do Grupo Votorantim, propriedade de Antônio Ermírio, candidato do PTB ao governo do Estado de São Paulo. O Sindicato dos Químicos defende, além da interdição, a realização de exames médicos em todos os operários, no Inamps.
"O departamento médico da empresa é inconfiável", alegou o sindicalista Joseval Figueiredo, acrescentando que "a Nitro Química é um verdadeiro açougue". O faturamento da empresa gira em tomo dos 100 milhões de dólares, apenas neste ano de 1986. No processo de fabricação do rayon, um fio utilizado na produção de tecidos, os operários permanecem expostos ao agente químico deletério dissulfeto de carbono, e ouvindo o barulho contínuo de nada menos do que 124 máquinas, equipadas com 100 motores cada uma, num espaço físico de dez mil metros quadrados e sem protetores de ouvido.
A conjuntivite química é a consequência mais comum e inevitável do contato dos operários com o dissulfeto. A direção da Nitro Química informa que o último acidente fatal ocorreu em 1983, quando um operário morreu encharcado de ácido fluorídrico. Há dezesseis anos quatro trabalhadores caíram numa caneleta de esgoto e morreram por asfixia. Dos 3.800 empregados, 290 foram vítimas de acidentes de trabalho neste ano.
A Delegacia Regional do Trabalho vai verificar as condições de insalubridade nas instalações da Eucatex, controlada pela família Paulo Salim Maluf. Os hidrocarbonetos aromáticos já provocaram seis casos de leucopemia, moléstia que destrói os glóbulos brancos do sangue.
O problema é antigo — afirma Vitório Matiuzzi, presidente do Sindicato — e a Eucatex intimida seus operários para que não procurem nosso programa de saúde, e deixa ilegalmente de comunicar aos ministérios da Previdência Social, e do Trabalho, os casos constados por seu ambulatório. Quanta sensibilidade social possui o empresário e candidato do PDS, Maluf.
Antônio Ermírio defende um acordo com o PMDB visando barrar Maluf. Este acordo é mais uma falácia do empresário, desde que ele mesmo reconhece que o candidato do PMDB não vai renunciar à sua candidatura. O empresário disse também que, se eleito, terá de compor com o PMDB para poder administrar o Estado, desde que não teria condições de fazê-lo com os quadros de "um partido inexistente". Com sua eventual vitória, "o PMDB sofreria uma derrota, mas poderia se recuperar mais tarde", disse o empresário aos alunos do Colégio Pentágono em Pinheiros, após retirar seu titulo eleitoral.
ANTÔNIO ERMÍRIO, TAL como o rei francês Luis XIV, afirmativo, proclamou peremptório, subreptícia e inconstitucionalissimamente: "O Partido sou eu". Se tivesse logrado ter sido eleito, talvez pudesse afirmar, pelo menos de si para consigo: "O Estado sou eu". Ao dizer que o PTB é um partido inexistente, disse, nas entrelinhas, que, não fosse ele candidato, o PTB existiria menos ainda. Ele detém a soberania e pronto. Nada a dialogar com ninguém. Com trabalhadores, menos ainda.
Há candidatos que devem rir e debochar da lei máxima do "Estado de Direito": TODO PODER EMANA DO POVO E EM SEU NOME SERÁ EXERCIDO. Se a Constituição funcionasse e fosse respeitada, haveria educação de qualidade, segurança pública (que começa com educação), teríamos excelência nos serviços de transportes, habitações populares de qualidade, e serviços de saúde que não matassem os pacientes. E respeitassem as grávidas, as crianças, os idosos.
Se toda coerção é, de direito e de fato, uma forma de violência, a coerção econômica (e a concentração de renda) deveriam também ser incluídas na ordem jurídica como sendo formas de violência que teriam de ser limitadas, em campanhas eleitorais, com candidatos empenhados em faver votar no Congresso um código de lei que coibisse o abuso do poder econômico. E a concentração criminosa de renda.
Assim como existe um dito popular que reza: "a justiça e a cadeia são para os pobres", o PT ainda poderá vir a se notabilizar pelo "slogan": "somos a mais evidente prova pública de que o poder corrompe. E o poder político corrompe completamente".
O ESCÂNDALO DO DIA fica por conta da venda fictícia de imóvel para a Delfin pela empresa "Sol Invest" de propriedade do candidato do PMDB. Orestes Quércia afirmou que, após vender o prédio, os compradores não promoveram a transferência. As transações foram regulares, mas depois a Delfin quebrou e não obteve a escritura dos apartamentos.
Não houve simulação de venda, tivesse havido e Quércia seria proprietário do prédio "Le Soleil Residence", hipotecado ao Banco Econômico de Investimento. Através de uma simulação de compra a Delfin não poderia se estabelecer proprietária do edifício e por isto mesmo jamais teria nele se instalado.
Estilo apart-hotel, ele contraria o código de obras por ter nove andares e um elevador, quando o código prevê que prédios com mais de sete andares, tenham pelo menos dois elevadores funcionando. Maluf alegou desconhecer o problema que, se existe, "é dele Quércia e de seu credor". Ermírio opinou sobre a transação dizendo-se sabedor da mesma "há três anos". Disse ainda ter conhecimento de outros casos envolvendo Quércia, porém, por uma questão de pudor e ética profissional, mantém-se calado.
"Essas coisas a gente escuta falar e eu não tenho base", disse Ermírio que não usará o caso Delfin em sua propaganda eleitoral: "o povo que julgue, não cabe a mim". Nesta campanha, os Três Mosqueteiros (Quércia, Ermírio e Maluf) terão de parar de jogar ovo podre entre si, em direção a seus adversários. Não vai ser preciso ampliar a rede de intrigas entre eles para que os subprodutos da campanha cheirem mal. A poluição argumental dos candidatos não poderia ser maior.
Que estejam poluindo o vídeo no horário da campanha gratuita, é até um privilégio, para a mentalidade mídia dos TVespectadores observarem esse "argumentum ad nauseam", essa falácia de candidatos em campanha eleitoral. Dizem que cada povo tem os políticos que merece. Eu acho esse ditado sem vergonha, sem base na realidade. Simplesmente porque se os políticos devem fornecer o exemplo comportamental para a população de eleitores, se esse exemplo fosse de vergonha, honestidade, sentimento de dever público, dignidade, honra, ações de qualidade, probidade administrativa, o povo eleitor, em consequência, agiria conforme o exemplo comportamental de seus legisladores, governadores e juízes.
Afinal de contas, a gerência da sociedade estaria com candidatos que teriam exposto suas qualidades de administradores e de políticos aos eleitores que, em 15 de novembro, neles vão votar. Os candidatos não fazem nenhuma questão de esconder que seus discursos discursivos são dirigidos a uma sociedade semiprimitiva, que precisa, mas não terá com eles no governo, uma direção eficiente e honesta, certamente exercida em nome do povo eleitor.
Uns nasceram para mandar, os políticos, e o resto da população, para elegê-los, os eleitores. Não há quem, dentre eles, não tenha o rabo preso. A parte da corrupção institucional que aparece nas mídias é de apenas 1/9 do tamanho do iceberg. O menos pior deles será eleito. Para manter os mesmos padrões de gerência e os mesmos vícios de origem. Para qualificar as mesmas propostas partidárias numa linha de atuação coerente com a cartilha ou o abecedário de Maquiavel.
A palavra sociedade pressupõe a existência de solidariedade. Pode existir solidariedade a partir de bases partidárias voltadas exclusivamente para a eleição de seus candidatos sem discurso ideológico crível, verossímil?
O capitalismo é um sistema de tensões sociais sob controle da ameaça de violência policial, sob o comando da paranoia geral. O Socialismo pode ser a resposta, já que a democracia do capital está fodendo, literalmente, a cabeça das pessoas, e o equilíbrio psicossomático das populações de eleitores em todos os lugares do planeta globalizado pelas leis do todo poderoso chefão: o senhor Mercado.
O todo poderoso chefão Mercado é quem manda e desmanda. Ele é o gerador de doenças cancerígenas e mortais, causadas por vírus trabalhados artificialmente pelos cientistas loucos, a serviço da pesquisa militar. Há pouca esperança de que o capitalismo possa sobreviver à sociedade Frankenstein que ele cria e mantém, atrelada a uma política de guerra no lar, no bar, no campo, nas ruas, nos clubes, nos estádios. Sociedade versus capitalismo. Essa é a única e verdadeira "Guerra nas Estrelas" que a sociedade precisa lutar.
Um clima de guerra: política e polícia versus população de eleitores. Guerra camuflada na luta entre repressores e marginais mas que, com propriedade, poder-se-ia denominar uma guerra civil neocapitalista. O Socialismo pelo menos é detentor de uma proposta de paz, trabalho, liberdade e fraternidade. Fora dos esquemas e paradigmas das sociedades secretas que mantêm as instituições marionetizadas por seus interesses. Enquanto superestrutura do poder. Poder político. Poder econômico. Poder de polícia. Poder de comando, comunicação e controle social. Via satélite. Via mídias. Sai dessa, eleitor!!!
É a ciência de poder construir uma realidade possível, não teórica, não retórica e não- utópica, onde, na pior das hipóteses, uma certeza com certeza, se poderá creditar ao Socialismo: menos violência, ou violência nenhuma entre capital e trabalho, entre opressores e oprimidos: desde que as tensões entre ambos (opressores e oprimidos) estariam reduzidas ao mínimo possível. Com os poderes políticos funcionando em proveitos dos interesses da sociedade enquanto um todo.
O antagonismo entre classes, o ódio intersocial, e a violência nas cidades e no interior, refletem um protesto gratuito e aparentemente não ideológico. Protesto contra condições de sobrevivência absolutamente insuportáveis, sob a tutela do capital explorando o trabalho. Uma sociedade que funciona em prol de interesses minoritários, concentrados nos poderes a serviço das oligarquias regionais de acumulação de bens públicos tornados privados pela administração política de concentração de renda. E de impunidade institucional.
Deoclécio Miranda, funcionário da Nitro Química há dez anos e oito meses, passou por uma bateria de exames e concluiu que sua saúde não vai bem: "Sempre disseram que estava bem", diziam os médicos da empresa. Não poucas vezes fora vítima de tonturas e de dezenas de conjuntivites químicas. Oitenta, dos seiscentos e noventa operários da Nitro Química Brasileira (Grupo Votorantim) pertencente ao candidato do PTB, Antônio Ermírio de Moraes, submeteram-se a exames em quatro postos de atendimento do INAMPS.
Todos os operários possuem provavelmente danos físicos causados pela superexposição ao dissulfeto de carbono. Segundo o sindicalista Carmo Aparecido de Assis, a empresa está pressionando os trabalhadores de muitas maneiras, no sentido de que não façam os exames médicos, para que os resultados não possam vir a prejudicar a imagem do empresário bonzinho, e do político idem, que os assessores de Ermírio pensam poder manter até o dia "D" das eleições: 15 de novembro.
O empresário não conseguirá manter a dianteira nas pesquisas de opinião eleitoral nesta "São Silvestre" pelo voto popular. Um documentário produzido pelo PMDB sobre as condições, ou a falta de condições de trabalho em empresas pertencentes ao candidato do PTB foi censurado pelo Tribunal Regional Eleitoral nesta 2ª-feira, 13 de outubro.
Uma das cenas mais chocantes do documentário exibe o corpo de uma criança que nasceu completamente deformada, devido à poluição do rio Botafogo em Itapissuma, a quarenta e dois quilômetros ao norte de Recife. O prefeito desta cidade, Ines Ribeiro, acusa a empresa do candidato do PTB de poluir com mercúrio e cloro as águas do rio, causa de muitos óbitos e nascimentos de crianças com horríveis deformações genéticas. Os pescadores dizem que está cada dia mais difícil pescar nas águas turvadas do rio devido à poluição generalizada do meio ambiente causada pela Companhia Agroindustrial Igarassu.
Para um candidato que se diz do "Partido Trabalhista Brasileiro", as relações entre capital, trabalho e meio ambiente chegaram ao colapso, provocadas pela deterioração entre os componentes do ecossistema em volta de algumas de suas 96 empresas. O poder econômico tem dessas coisas: Ermírio acolheu seu partido político e não o PTB escolheu Ermírio. A prevalência do fator econômico pesou mais do que a falta de respeito pela saúde dos trabalhadores e do meio ambiente.
O empresário disse que as acusações são mesquinhas e que seus adversários governariam São Paulo, fossem eles eleitos, com calúnias, mentiras e perseguições. Saiu pela tangente, não mencionou o problema real da poluição ambiental causado por algumas de suas empresas, nem os danos físicos nas populações ribeirinhas. Nem a poluição dos rios em decorrência de produtos químicos de suas empresas que neles desembocam.
MALUF MENCIONOU A morte de trinta operários da Cia. Nitro Química Brasileira, propriedade do Grupo Votorantim, quando afirmou:
— Quem não se esquece de Antônio Ermírio são as famílias dos mortos. Por mais que ele queira reabrir judicialmente a empresa, ele não vai ressuscitar os mortos, nem dar saúde àqueles a quem obrigou a trabalhar de maneira insalubre.
Quércia neste momento lidera as pesquisas pela disputa do "Grande Prêmio Governador do Estado de São Paulo 1986". Detém o candidato do PMDB, 32% das intenções de voto, 15 pontos percentuais a mais do que na pesquisa anterior. Antônio Ermírio caiu seis pontos e está agora com 28% e Paulo Maluf do PDS caiu um ponto percentual, e posiciona-se em 3º lugar com 17% das preferências do eleitor.
Os resultados obtidos pela pesquisa Folha entre os dias 11 e 13 deste mês, resultou da entrevista com três mil eleitores da capital, da Grande São Paulo e do interior. No interior, onde se concentra 50% do eleitorado, Quércia conta com 39% das intenções de voto. Ermírio está com 24%, e Maluf mantém os 16% pontos da pesquisa anterior.
Na capital São Paulo que totaliza 34% dos eleitores, o vice-governador somou 23% das intenções de voto, e prossegue perdendo para Antônio Ermírio, que está com 35%. Maluf subiu um ponto e está com 19% na capital. Na Grande São Paulo, com dezesseis por cento do eleitorado do Estado, o candidato do PMDB duplicou sua participação nas preferências do eleitorado, e passou de 13 para 26%. Ermírio mantém a liderança com 29%, e Maluf está com 17%, três pontos a menos que na pesquisa anterior.
No vale-tudo entre os adversários o deputado federal Gastone Righi, candidato à reeleição pelo PTB, acusou Orestes Quércia de intermediar um empréstimo de 20 milhões de dólares destinados à construção de uma estação rodoviária no município de São Caetano do Sul. Segundo Righi, o empréstimo e a rodoviária desapareceram. Disse ainda que Quércia loteou cargos públicos entre os delegados da convenção que indicou o vice-governador a candidato ao governo.
Maluf fora classificado por Righi de "símbolo da corrupção" e citou alguns exemplos: "o escândalo da Caixa Econômica e da Conesp" para citar apenas dois. Um erro de perspectiva do discurso de Righi está em que, se a rodoviária não fora construída, como poderia ter desaparecido?
Observe o prezado leitor, que este Autor diminuiu a quantidade de referências a brigas e acusações entre os candidatos, no firme propósito de prosseguir escrevendo um livro legível até o final de suas páginas. A repetição de inúmeras repetições que se repetem sucessivamente sem cessar, relativas aos fatos políticos e jornalísticos da campanha, provocaria, presumo, o enfado dos leitores e, quando não, uma úlcera no estômago.
Atravessemos agora o oceano Atlântico (dizem que também obra de maluf), em busca das referências que nos fornece a propaganda eleitoral TVvisiva nos Estados Unidos. O troca-troca de acusações pesadas é fato, de maneira agressiva, sem ponderações éticas. O senador Alan Cranston acusa seu adversário Edwin Zschan de usar em sua estratégia de campanha, "a grande técnica da mentira". Zschan havia anunciado que Cranston defende o terrorismo e o consumo de drogas. Isto na Califórnia.
No Colorado, Ken Kramer, candidato ao Senado pelo partido republicano, perguntou aos TVespectadores em uma anúncio de sua campanha: "Se Tim tenta enganar você hoje, o que ele será capaz de fazer amanhã?". Numa alusão ao candidato democrata Timoty Wirth que utiliza atores profissionais em sua propaganda política.
Jim Jones, candidato democrata ao senado por Oklahoma, usa sua total falta de cabelos para criticar a vasta cabeleira do adversário Dom Nickles. Ele apareceu num "clip" empunhando um secador de cabelos numa das mãos, enquanto afirma para o TVespectador: "Eu terei mais tempo para trabalhar nos problemas de Oklahoma porque eu não preciso disso".
As pesquisas existentes sobre as mídias mostram que o público processa informação negativa mais rapidamente do que informação positiva. Nos EUA ou em São Paulo os candidatos que se encontram em primeiro lugar, liderando pesquisas de preferência do voto popular, se recusam a participar de debates TVvisivos em presença de seus adversários, por temerem colocar em risco suas posições de liderança.
O candidato que detém a liderança nas pesquisas ao se recusar à participação nos debates marcados para os dias próximos a data de fim de campanha, corre o risco de perder essa liderança por ausência nos monitores de TV frente a seus eleitores na sala de jantar.
Como se não bastasse o baixo nível verbal da campanha, há candidato que se recusa ao debate frente às câmaras. E com razão: por vezes ele acredita que sua imagem já está demasiada rota frente ao eleitor que vai elegê-lo (ou não) em dia de eleição. Os candidatos se equivalem entre si e se nivelam em discussões de boxe verbal com a intenção de que, ao criticar seu opositor com golpe baixo, estará subindo no conceito do eleitor.
Não se desconhece que a rédea solta da economia selvagem conduz a uma separação definitiva entre valores que os cidadãos desejam ver prevalecer, e os "valores" que existem apenas no campo teórico da demagogia. O princípio da realidade individual conduz ao desprezo pelo trabalho coletivo e pelos rumos suicidas a que este desprezo conduz a sociedade.
Um exemplo: o quase que total esquecimento pelos políticos e pelos partidos de que esta é uma eleição de políticos Constituintes. Estes políticos ignoraram deliberadamente que mais de 80% de seus eleitores desconhecem o que é Constituinte e os outros 19% não tem o mínimo interesse em saber, ou fazer saber o que significa, em termos sociais, a Carta Magna de seus direitos constitucionais. 1% da população tem consciência do que significa o voto Constituinte. Os candidatos mesmo sabendo desta estatística socialmente macabra, não estão nem aí.
Se os candidatos são eleitos a partir da ignorância de seus eleitores sobre seus próprios direitos constitucionais, então, por que perder tempo informando-os e arriscando a própria cabeça para seus adversários no horário político? Informar os eleitores é perda de tempo. E tempo é dinheiro. E dinheiro é tudo que lhes interessa!
É mais conveniente a todos que prevaleçam seus discursos convencionais, sua conversa mórbida, de que vão resolver problemas sociais para os quais sabem não ter recursos para neles investir. Uma das distorções mais ululantes como diria Nelson Rodrigues, desta democracia capitalista, é o político profissional oportunista.
Armou-se um esquema de "coincidência" a partir do qual as eleições majoritárias e proporcionais (governadores, senadores), coincidem com as eleições dos candidatos que farão parte do congresso Constituinte que vai promulgar a nova Constituição. Ora, a Constituição objetiva limitar o poder do Estado. Um dos poderes do Estado é o Congresso. Como poderá o Congresso criar a Constituição se ele é um poder constituído? Os congressistas estão preparados para limitar a própria atuação?
Na ausência da participação popular direta e da divulgação maciça do que significa essa ausência, a nova Constituição será um novo pacto entre "elites", assim como foi a Aliança Democrática que legitimou o poder da Nova República de Liliput. Esta democracia simulada, que mal acaba de ser abortada do ventre dos vinte anos de gestação da ditadura militar não se afirmou sequer como democracia (vide decretos-leis).
E em nenhum momento pós-eleitoral esses congressistas supostamente Constituintes (Constituinte não é xarope), terão as condições conjunturais para debater e escrever a nova Carta Magna. Sem a participação popular dos eleitores os congressistas vão deitar e rolar ao legislar apenas em proveito das oligarquias que representam. Não vão legislar em proveito dos interesses sociais de seus eleitores. Isto significa que a educação, a saúde, a insegurança, a habitação e transportes vão ficar à mercê dos mesmos trâmites antieleitores.
Em sendo dessa forma, melhor xerocar a Constituição vigente, após a simulação de debates que nada têm a ver com o interesse popular. Desde que neste país tudo se copia e nada se cria no interesse de seus habitantes. De sua gente. Isto não é um Congresso constituinte, é um “trottoir de interesses” que nada têm a ver com os interesses da gente brasileira.
Neste beco só há uma saída: as forças progressistas unidas em tomo da mobilização da sociedade civil no sentido de se manter intransigente na defesa desses interesses. Mas... Onde estão essas forças progressistas que existem apenas nos discursos dos candidatos? Onde estão os sindicatos, as associações de bairro, os universitários? O papel Constitucional das Forças Armadas, o SNI, a propriedade fundiária, são objetivos da legislação Constituinte.
Como os direitos dos cidadãos devem ser ampliados e os deveres do Estado para com o cidadão? O SNI aumenta as formas de controle do Estado sobre os cidadãos e facilmente poderá usar seus 300 mil agentes para dirigir o comportamento popular, provocar eventos sociais que sejam favoráveis à intervenção militar na política, direcionar as formas de controle do Estado, segundo seus intentos e a ideologia militarista.
A propriedade fundiária gera e armazena poder. Por isto mesmo deve ser limitada. Um pacto político e social não pode nem deve ignorar a sociedade civil. A Constituinte, mais do que um "pacto político entre as elites" como fora a Aliança Democrática, é um pacto de toda a nação, quero dizer, de todo o país. Como pode ser feito, este pacto, com a participação de todos os segmentos da sociedade, se a sociedade brasileira desconhece o que venha a ser Constituinte?
Constituinte para as populações rurais, urbanas, ribeirinhas, suburbanas, e até mesmo para a maioria dos políticos ditos constituinte, Constituinte é xarope. Sem o apoio e a participação da população, esta seria apenas uma Constituição semântica, a exemplo das constituições "legitimadas" pelos grupos que usam de força para tomarem o poder e nele permanecerem. Essa votação constituinte é um xarope purgativo contra toda a sociedade brasileira. Somente vai interessar aos coronéis das oligarquias regionais.
A carecer do respaldo popular a nova Constituição poderá ser uma constituição nominal feita para o futuro, quando o povo finalmente teria chegado a um nível mínimo de participação real nos destinos da nação, quero dizer, do país. Enquanto, em tempo presente, mandariam e desmandariam a seu modo, os fazedores de decretos-leis.
A constituição nominal da União Soviética, não regulamenta a prática política das relações entre o Estado e os cidadãos. O ditador Stálin, em 1936, implantou-a para ser algo como a rainha da Inglaterra, uma figura de fachada que reina, mas não governa. Existe mas não delibera. A lei fundamental e suprema do Estado soviético, são as disposições do Partido Comunista da URSS. Uma Constituição nominal abrirá as portas para um partido político centralizador do poder oligárquico, tipo o PT do século XXI, enredar os poderes republicanos numa trama anticonstitucional chamada Mensalão.
SE A MAIORIA da população for mantida distante dos centros do debate Constituinte, a nova Constituição cairá em mãos dos latifundiários, dos grandes produtores rurais, de um estalinismo político disfarçado em democracia que, através de organizações semelhantes à UDR e às coligações partidárias que anulam a participação da Oposição, vão eleger parlamentares e financiar suas campanhas com o único objetivo de manter no poder político e jurídico as mesmas forças econômicas e sociais.
Essas forças políticas, econômicas e sociais, apesar de se nominarem "de vanguarda" estarão centralizadas numa liderança oportunista, tipo Hitler e seu Partido Nazista, ou tipo Lulla e seu PT, e terão uma atuação política e social das mais reacionárias. É a atitude dos que pleiteiam uma Constituinte jurídica e normativa.
O papel constitucional das Forças Armadas em nenhum momento poderá ser intervencionista. Seu papel constitucional limita-se à defesa do território e da soberania da pátria. Garantir a Carta Constituição e não intervir em setores da sociedade da competência do poder Judiciário, do Ministério Público e dos organismos de policiamento, é tarefa das Forças Armadas. Os líderes golpistas das Forças Armadas que se posicionaram acima da Lei Constitucional foram, durante duas décadas, nada mais que tiranos. E déspotas.
Todos os que assumem o poder Executivo via golpes militares ou nele se mantêm tipo golpe Mensalão ou golpe da Bolsa-Bufa, se posicionam como deuses acima da Constituição. Para com isto tiranizarem seu país e suas leis. Unicamente em proveito de grupos políticos e econômicos que nada têm a ver com o interesse de desenvolvimento social do país.
Popularizar a Constituinte, incentivar a participação popular, é tarefa também dos meios de comunicação e informação de massa. Acredito que não será tarefa das mais fáceis, transmitir ao povo brasileiro seu papel constitucional. Pedir-lhe opinião sobre como manter a independência e a harmonia entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Como garantir as franquias individuais e ampliar a participação dos trabalhadores nos lucros das empresas. Ou de como os Três Poderes Constitucionais podem melhorar suas atuações de fiscalização e representatividade entre si, em beneficio de todos os brasileiros.
Em benefício de toda a gente brasileira e não apenas de um conchavo centralizador baseado num líder de partido político e ex-presidente Analfabeto, como terminou acontecendo posteriormente com a figura demagógica e oportunista do ex-presidente Lulla.
As classes populares não tiveram de seus políticos nenhuma contribuição efetiva para a compreensão do que seria um Congresso Constituinte. Dessa ignorância deliberada resultou o golpe branco do Mensalão. No século XXI. Consequência de uma Constituinte Xarope e seus políticos nas eleições de 1986.
Da polêmica nasce a luz. E dos meios de comunicação, a divulgação. Não será muito, mas será suficiente que, após a Constituinte, a brava gente brasileira consiga que fiquem proibidos, sob quaisquer pretextos ou motivos, a suspensão das garantias individuais.
Não será jamais permitido ao executivo cassar mandatos parlamentares e direitos políticos, ou decretar atos institucionais inconstitucionais. Ou tramar golpes brancos de Estado tipo Mensalão. Não é muito mas já é alguma coisa. Um problema de difícil solução está em superar as resistências de parlamentares representantes e partidários das forças políticas, comprometidas com a ordem da República anterior a Romão Sarney.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 27/03/2013
Alterado em 05/11/2013