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Os Degraus Do Bandeirantes (As Vésperas Do IV° Reich) 5
A PROFISSÃO DE ator anda muito desprestigiada. Há, em São Paulo, atores morrendo de fome, literalmente, capazes de aceitarem pela quantia irrisória de cem cruzados (ou por qualquer quantia), ser enjaulados numa carreta fantasiados de presidiários para, em público, ficarem lançando impropérios e palavrões contra as pessoas que deles se acercam. O deputado estadual Afanásio Jazadji do PDS que promoveu o vergonhoso evento enquanto propaganda pessoal, sua e do candidato que venera: Maluf. De impropérios, palavrões, agressões morais e físicas a jornalistas foram caracterizada a campanha deste radialista. Pobre e miserável política brasileira, que tem representantes da molecagem, como este afanador de votos da parte mais inconsciente da população. Sem educação.

A campanha malufista começava realmente após o clima carnavalesco que se seguiu à homologação do nome do candidato do PDS ao governo de São Paulo. Os corredores da Assembleia se transformaram em corredores do Municipal, em dias de carnaval. Uma quadrinha sem nenhum caráter, composição, por certo, de Afanásio, rezava a oração da promessa malufista: "a segurança é nossa/a liberdade é sua/bandido é na cadeia/gente boa é na rua". É preciso dizer isso aos bandidos, eles estão mais soltos do que nunca. E impunes.

Um vídeo-clip (videoteipe), mostrando cenas de roubo na rua, com transeuntes sendo assaltados por trombadinhas, serviu para burlar a legislação eleitoral durante o período anterior à liberação da campanha eleitoral. radiofônica e TVvisiva dos partidos. O mencionado videoteipe fora veiculado nos horários normais da propaganda radiofônica e TVvisiva, mesmo sabendo-se da intenção subreptícia de favorecer a candidatura Maluf, intenção não mencionada na marchinha, composição merecedora das intenções eleitorais de seu autor.

Posteriormente à parte visível do videoteipe foi acrescentada uma clara e inequívoca participação do candidato do PDS e, assim mesmo, veiculou-se no horário normal da propaganda política, a argumentação audiovisual completa. Propaganda subliminar, denunciada através de um planejamento de campanha dirigido ao PMDB pelo autor deste livro. A militância televisiva e radiofônica da marchinha, bonitinha mas ordinária, da campanha malufista ("a segurança é nossa...”), começaria a bombardear os vídeos e as emissoras de rádio, logo após a indicação do candidato do PDS. Maluf fareja as possibilidades todas de melhorar sua performance eleitoral. Principalmente aquelas que burlam as leis eleitorais.

Enquanto isto, o discurso do presidente nacional do PT Luís lnácio Lula da Silva, extrapola a medida do consenso político e opina que o poder tem de ser tomado pelos trabalhadores através da conscientização de classe ou "na marra". Acrescentou uma acusação sem alvo especifico ao dizer: "estão querendo jogar o PT na ilegalidade, como fizeram com o Partido Comunista em 1946. Mas isso não terá importância, porque podem acabar com o PT, mas jamais acabarão com os petistas". A bem da verdade dos fatos, um comentário a esta declaração se faz necessário. Se houvesse uma facção extremista agindo no sentido de jogar o PT na ilegalidade, tal grupo faccioso estaria a acender o estopim de uma revolta social inédita neste país.

Os fazedores de guerra, sem nenhuma ideologia a defender, exceto o lucro através do comércio de arma, estariam apertando o botão vermelho de uma guerra civil. Acredito que, até mesmo dentro dos setores mais reacionários da sociedade, haja um consenso de que "até mesmo o PT" pode chegar ao poder, desde que trilhando o caminho do gólgota dos trabalhadores sem trabalho, dos "boias-frias", dos sem-terra que, democraticamente, fortalecem sua participação política e social, através do Partido dos Trabalhadores.

Lançar o PT na ilegalidade significa "armar os espíritos e/ou os ânimos", acioná-los e polarizá-los. Não é política que se queira ou possa defender com argumentos democráticos. Não há argumento democrático que possa, legalmente, impedir o PT de ganhar o direito de governar, via eleições.

Luís Inácio da Silva, com um discurso radical, conseguiu afastar ainda mais o partido de uma votação favorável em 15 de novembro. Lula contribuiu para que o arsenal verbal e ideológico dos adversários do PT armassem sua estratégia de justificar reações contrárias ao objetivo social do partido:  a vitória do Socialismo por meios democráticos e pacíficos. Se até o Lula fornece munição aos não poucos adversários do PT, então o Brasil não precisa de Newton Cruz, do Delfim, do Golbery, do Maluf, do Marin, do SNI e quejandos, para fazer política autoritária antipetista.

O assunto é polêmico: a questão da luta armada (enquanto justificativa para a defesa, em último recurso, da participação petista no poder via eleições democráticas), está no ar via três opiniões de militantes do PT sobre este assunto. José Genoino (eleito deputado federal) participou da guerrilha do Araguaia. Ele concorda com Lula, os interesses dos trabalhadores se chocam com os interesses da classe dominante. Se houver uma reação contra as conquistas populares, afirmou ele, "se torna legitimo que os trabalhadores se defendam".

A opinião seguinte é do professor Florestan Fernandes (candidato também a deputado federal eleito pelo PT em São Paulo): "a revolução dentro de uma sociedade capitalista — disse ele — tem de se tornar luta armada". A questão é considerar a oportunidade de luta armada. Até agora não houve nenhum exemplo de que as classes, que possuem o capital e o poder, tenham cedido suas condições de controle do Estado, da sociedade e da economia, de forma pacífica.

A revolução social num certo momento decisivo, vai exigir que os antagonismos de classe conduzam a uma guerra civil. A uma guerra civil armada. A 3ª menção à questão veio nas palavras do presidente do PT, Luís Inácio da Silva: "não posso admitir que a direita queira se manter no poder através do uso de armas, e conclui: aí sou amplamente favorável a que haja uma resistência da população igualmente armada". Nesse momento Lula ainda se escrevia com um "ele" apenas. E ninguém o imaginaria futuramente beijando publicamente a mão de Jader Barbalho. Nem tampouco sair em pública defesa da "história política" de Romão Sarney.

O cantor Roberto Carlos está participando da campanha do empresário. Sempre sorridente, "o namoradinho do Brasil" prestigia seu candidato. Rico ri à toa, e ambos aparecem sempre amplamente sorridentes para a felicidade dos fãs. O "Brasil Feliz" mostra-se sorriso, somando-se à alegria do camelô de todos os santos do SBT.

Quando o ex-ministro do arrocho salarial, Delfim Neto, comparou Suplicy a um "palhaço francês", talvez tivesse uma parcela de razão, no concernente aos recursos financeiros e econômicos do PT disponíveis para esta campanha. Na próxima semana iniciar-se-á a atuação da militância petista no sentido de arrecadar fundos para a campanha denominada "cinquenta cruzados pela vitória do PT".

O objetivo é atingir 200 mil militantes e simpatizantes com a finalidade de levantar dez milhões até novembro. É brincadeira? 10 milhõezinhos de cruzados contra 1 bilhão de cruzados a serem gastos na campanha de um dos candidatos milionário. É ou não uma campanha que tem raízes no abuso do poder econômico?

Delfim riu e não sem motivação pertinente. A concorrência, a "livre iniciativa", o "processo democrático" é um pouco desigual. Você não acha., caro leitor? Posteriormente, escrevendo sobre Marx numa coluna na Folha, em resposta à pergunta "por que ler Marx hoje?" Delfim simplesmente afirmou:

— Por que Marx não é moda. É eterno. Alguns de seus leitores, dentre os mais "chiques" cobraram uma explicação. Delfim disse que os marxismos são moda, "produtos de ocasião de pensadores menores. Mas a problemática que ele colocou (o que é o homem e como pode realizar plenamente a sua humanidade diante dos constrangimentos que lhe impõe a organização da sociedade) é eterna". Delfim saiu em defesa da intuição de Marx ao mencionar texto do "Manifesto Comunista" (1848):

Disse ele que "Marx revelou a propensão do capitalismo financeiro emergente e avassalador de produzir uma crescente concentração do poder econômico que, se não fosse coibido pelo poder político, levaria ao desastre social". Delfim estava certo ao citar Marx. Basta o leitor vê os resultados da concentração de renda no Brasil que está gerando uma sociedade de marginais, prostitutas, viciados em droga, traficantes, e membros dos Três Poderes fazendo proselitismo da corrupção política. Enquanto a educação afunda num beco sem saída aplaudido por todos chamado Bolsa-Família.

O coronel de reserva do exército Erasmo Dias, ex-secretário de Segurança Pública no governo de Paulo Egydio Martins, ex-deputado federal pelo PDS, e candidato deste partido à Assembleia Legislativa, defendeu, ontem, 29 de julho, a criação de "campos de concentração" no Estado de São Paulo, onde trinta mil condenados cumpririam suas penas.

A tese foi defendida por Erasmo Dias, após participar de um evento social no Nacional Clube, onde o candidato do PDS ao governo do Estado discutiu questões de segurança pública com o Grupo de Assessoria e Participação (GAP). Erasmo afirmou que MaIuf seria favorável à ideia, "tanto que ele me autorizou a divulgá-la". O candidato do PDS desmentiu o coronel dizendo "ser absolutamente contra". Quer dizer: conversas entre compadres não se divulga publicamente senão haverá desmentido.

Erasmo Dias disse ainda que "estamos numa situação de guerra contra o crime. Uma situação de crise que só se resolve com uma solução de crise e a guerra impõe certas condições". É certo que, em São Paulo, existem, nesse momento, aproximadamente 30 mil mandatos de prisão que não são tornados efetivos por faltar vagas nas penitenciárias.

O coronel falou em defesa da pena de morte para criminosos reincidentes que tenham praticados latrocínios, estupros ou homicídios. E que tenham demonstrado ser irrecuperáveis. Neste caso, segundo a opinião do coronel da reserva, "a sociedade tem o direito de eliminá-lo". Considerando a barbárie que toma conta das ruas, avenidas, praças, parques e outros locais públicos da cidade, e a consequente impunidade em decorrência de leis há muito tempo caducas, não falta coerência à fala do coronel.

Acredito que a opinião pessoal do coronel Erasmo Dias, seja motivada pelo processo psicológico de raciocínio, que acredita em punir radicalmente com a pena de morte um criminoso. O Estado confundir-se-ia com o ato extremo e irracional do criminoso, nivelando-se por baixo, através da agressão punitiva, de tirar a vida àquele que neste erro incorreu.

A Justiça não é (ou é?) uma "sala dos espelhos", onde todos se equivalem em gênero, número, grau e agressividade pseudopunitiva ou "catarse". Se os investimentos que conduzem as verbas públicas para o bolso dos parlamentares e seus patrões, dentre outros os grandes empreiteiros, fossem canalizados para melhorar o padrão de ensino com investimentos nos professores, a segurança pública não estaria tão avassalada aos interesses da corrupção legislativa.




                                       OS DEGRAUS
                                  DO BANDEIRANTES
                              (As Vésperas do 4º Reich)


As doenças destroem. Os homens doentes podem ser uma espécie de bichos destruídos. Merecem a nossa compaixão. É preciso isolá-los e tentar curá-los. Mas que acontece que quando esses elementos corruptores dispõem de forma política sobre os seus próximos? Podemos, devemos assistir impávidos às suas ações?
(Georg Huber, Alto funcionário dos
Serviços Criminais do Terceiro Reich)                                        


AGOSTO DE 1986

ANTÔNIO ERMÍRIO e Paulo Maluf estão empatados com 23% das intenções de voto. Quércia está em terceiro com 18%. Em sendo Maluf o adversário principal e a prosseguir esta tendência do eleitorado, os eleitores peemedebistas optariam pelo empresário, capaz de derrotar o candidato do PDS. Os eleitores neste momento oscilam entre Ermírio e Maluf.

O empresário um tanto precipitadamente disse que será através de um acordo tácito com os dirigentes do PMDB, que ele governará São Paulo. Pelo visto, a atitude infantil de "Ôba-Ôba" do candidato petebista, em nada poderia favorecer sua candidatura, mesmo porque, a 105 dias da data da eleição, só mesmo Nostradamus (ou este Autor) poderia prognosticar o resultado. Ermírio acrescentou que, para um homem que só tem quatro meses de política, contra candidatos que têm mais de quinze anos de política, parece que o resultado da pesquisa é satisfatório.

Mauro Salles, publicitário, classificou o resultado como "excelente" e disse ainda: o processo de aproximação com o PMDB é natural, não são necessários acordos. Os votos destinados aos candidatos ao Senado serão vinculados ao voto de Antônio Ermírio. "Ninguém vota em quem vai perder", concluiu Salles.

Evidente que o publicitário estava longe de perceber as nuanças das diferentes gradações de ânimo que anima o eleitorado no curso das campanhas dos candidatos. Quércia, para quem sabe traduzir essas nuanças, é certamente o candidato com mais possibilidade de sentar na cadeira de Rei ou Governador no Palácio dos Bandeirantes. Considerando-se a proeminência do PMDB enquanto partido político que atuou na vanguarda das "Diretas Já".

Não bastasse ser 1º lugar nas pesquisas, Ermírio foi eleito o Empresário do Ano, pelo Balanço Anual do Jornal "Gazeta Mercantil", pela oitava vez consecutiva. O empresário recebeu o apoio público do empresariado paulista. José Mindlin, presidente da Metal Leve, o sétimo empresário mais votado na pesquisa da "Gazeta", disse que vai votar em Antônio Ermírio, e concorda supostamente com a opinião de que o empresário vai assumir o cargo "para servir ao Brasil", enquanto Maluf continua querendo apenas atender aos interesses pessoais de seu grupo.

Quércia fora desprezado, e esquecida sua menção nos comentários de Mindlin. Mui sintomaticamente.

QUÉRCIA, É CLARO, discordou do resultado da pesquisa Folha e disse achar que, quem tem de fazer pesquisas são os institutos IBOPE e Gallup. Outros que se metem nisso acabam fazendo coisas erradas. Quércia chegou ao extremo de sugerir a seus advogados "a propositura de medida judicial para apreender os originais dos formulários utilizados pela Data Folha, nas entrevistas da mais recente pesquisa Folha sobre as intenções de voto para as eleições de 15 de novembro".

Quércia, apesar de não ter nenhum dado coerente que confirme a sua opinião, insiste em ter recebido informações de que houve manipulação dos resultados. Não poucos políticos, e cientistas sociais, ressaltavam a idoneidade do trabalho da pesquisa Folha. Mesmo sem apresentar qualquer evidência de manipulação, Quércia disse que, pela primeira vez, em cinco pesquisas, a Folha teria demorado dez dias para divulgar os resultados. Afirmação incorreta, desde que a pesquisa feita nos dias 26 e 27 de julho fora publicada no dia 31.

O vice-governador alega ainda ter havido vazamento de informações antes da divulgação da pesquisa. Suspeitar dos resultados da pesquisa, apenas porque não lhe foram favoráveis, fora uma atitude precipitada. A tendência do eleitor neste momento não era realmente favoráveis ao candidato do PMDB, assim como outras pesquisas posteriores e igualmente idôneas Data Folha, mostraram que Quércia não estava, ainda, melhor posicionado que seus adversários, junto aos eleitores da capital, da Grande São Paulo e do interior.

O vice-governador afirmou na ocasião, que a manipulação dos resultados da pesquisa Folha, faria parte de um esquema da desestabilização de sua candidatura. Simplesmente paranoia ou simples lance de "marketing" político, para se manter em evidência nas notícias dos jornais. Mais provável a segunda hipótese.

Visando pôr mais água fria na pouca fervura da candidatura do PT, a Polícia Federal apreendeu um livro-caixa, mantido pela funcionária Maria Tereza Aguiar Notari da CUT (Central Única de Trabalhadores) que registra, de junho a novembro de 1983, cinco aportes de dinheiro estrangeiro que serviriam para financiar atividades sindicais no Brasil. A PF chegou a Maria Tereza, após estabelecer ligação entre o assalto do Banco do Brasil, na Bahia e a ação clandestina do ex-sargento da Aeronáutica Antônio Prestes de Paula.

Nos registros da Polícia Federal. Maria Tereza figura como companheira de Prestes de Paula. Os registros mostram que, de 7 de junho a 30 de novembro de 1983, Maria Tereza contabilizou a quantia de CR$ 6.453.102,35 que em cruzados equivale, a CZ$ 1.370.000. Os sindicalistas que administravam estes recursos financeiros utilizavam investimentos visando obter novos rendimentos. Cópias deste livro-caixa circularam em mãos do pessoal do Cisa, Centro de Informações da Aeronáutica, com data de 13 de maio p.p.

Este dinheiro irrisório esqueceram deliberadamente estes senhores, representa menos do que um pingo d'água, no oceano de recursos econômicos dos candidatos políticos profissionais e empresários. Milionários.

Durma-se com um barulho destes: o PT não pode ter simpatizante no exterior. É proibido? Com base em que dispositivo jurídico ou político legal? O PT possui recursos financeiros irrelevantes, "risíveis", como diria o ex-ministro do arrocho salarial, e não pode somar estes recursos a outros recursos que, comparados aos montantes gastos por seus adversários políticos na campanha eleitoral, significam, quando muito, uma gota d'água no oceano dos investimentos milionários. "Querem jogar o PT na ilegalidade", não é uma afirmação injuriosa.

A lista dos doadores financeiros em poder dos órgãos de inteligência desde abril, logo depois do patético assalto ao Banco do Brasil em Salvador, foi  mantida em sigilo até agora para ser divulgada exatamente quanto a Central Única dos Trabalhadores (filiada ao PT) se reunia. Está mais do que ululante que os órgãos de segurança pretendiam usá-la como arma política contra o PT.

A discussão sobre a Lei de Segurança Nacional, pertinente à Constituinte, praticamente inexiste. Quem paga o pato é o PT. Veja você. A corda arrebenta sempre para o lado do mais fraco. Que escárnio. Não é, absolutamente, inconstitucional a existência em outros países ocidentais de fundações dedicadas ao auxílio de sindicatos do Terceiro Mundo.

Os que pretendem incriminar a CUT são os cidadãos avessos a qualquer tipo de debate que venha discutir os problemas da classe trabalhadora, sem o aval do "super-homem". Daqueles grupos que representam a política da "síndrome do super-homem". Do SH representado pela força política das oligarquias reinantes. Com ampla, total e irrestrita impunidade. Supostamente legal, a todos os seus atos políticos.

Segundo estes cidadãos os debates sobre os problemas nacionais que não foram avalizados, organizados e subscritos pelos representantes da "política da síndrome do super-homem" são boicotados pelo policiamento antidemocrático daquelas forças. Como se vivêssemos, ainda, a sociedade brasileira, sob o comando comunicação e controle das ingerências da ditadura. Da ditadura da divida externa. E eterna. Da ditadura perene: política e econômica.

Vejamos alguns motivos, a partir dos quais querem boicotar a CUT e o PT nestas eleições: o 2º Congresso da CUT aprovou a realização, em 23 de outubro deste ano, de um "um dia nacional de luta" em que serão feitas manifestações em todos os Estados em defesa da Reforma Agrária, da liberdade e autonomia sindical, do direito de greve, do não pagamento da dívida externa, de uma mais intensa participação dos eleitores no congresso Constituinte, do pleno emprego, e do fim do congelamento salarial.

A CUT aprovou a proposta de realização de uma greve geral em todo o país. No manifesto aprovado ontem, dia três de agosto, os sindicalistas criticaram o projeto da Lei de Greve, apresentado pelo ministro do Trabalho Almir Pazzianotto, que mantém a proibição de greve dos trabalhadores nas atividades consideradas essenciais. A CUT reafirmou sua opinião de que só existe democracia, se houver direito irrestrito de greve, a exemplo deste texto:

"O governo acaba de lançar uma nova Lei de Greve, que na prática mantém a proibição ao livre exercício da greve, tentando arrancar dos trabalhadores, o recurso de classe mais eficaz para quebrar a intransigência e a ganância patronal".

O DIREITO DE GREVE É SAGRADO, POPULAR, INEGOCIAVEL. PONTO DE HONRA DE TODOS OS TRABALHADORES DO UNIVERSO.

Enquanto isto Maluf acontece na televisão, num programa em resposta às afirmações do governador Franco Montoro, sobre realizações em seu governo. O deputado, candidato pelo PDS, procurou desmentir as informações apresentadas pelo governador, finalizando por classificá-lo de "mentiroso". Se o governador estava certo ao divulgar que 1.700 novas radiopatrulhas (e não 400), foram entregues em seu governo, ele deve processar o candidato do PDS.

Ele afirmou que Franco Montoro "mentira". O governador não pode nem deve permitir que lhe chamem "mentiroso". O debate sobre segurança,  prossegue rendendo dividendos à política enganosa da demagogia desvairada. Quem é mentiroso: "É tu", "Não, é tu" (Parece briga de garotos de rua), que ameaçam mas nunca passam, de fato, à "vias de fato". Talvez porque nunca realmente pretendam isto. Uma política tatibitate típica, tropicalista. Carnavalesca.

A Folha, o jornal "O Estado de S. Paulo" e a Rede Globo promoveriam, de forma unificada, dois debates entre os candidatos a governador de São Paulo. Falta definir as datas, desde que os candidatos estão, em princípio, de acordo com debater suas candidaturas na TVvisão. A promoção do debate formalizou-se ontem, em reunião na sede do jornal "O Estado de S. Paulo".

Participaram os diretores de Redação da Folha, Otávio Frias Filho, do "Estadão" - Júlio César Ferreira de Mesquita e o representante da direção-geral da Rede Globo, Luiz Gonzalez. O diretor de Redação da Folha afirmou, após a reunião, que os três veículos de comunicação e informação, estão fazendo uma tentativa através da qual a imprensa seja prestigiada como sendo um serviço prestado aos cidadãos.

E concluiu dizendo: "Vai ser bom para a imprensa, para os candidatos e para a cultura brasileira". É salutar que diferentes empresas de comunicação prestigiem a democracia, superando seus interesses particulares em beneficio do interesse coletivo. Ao provérbio proverbial, dividir para melhor governar, estas empresas parecem querer retrucar: "unir para melhor informar".

Em cadeia estadual de rádio e televisão, o governador Franco Montoro, sem mencionar o nome de Maluf, falou que a população de São Paulo tem direito de conhecer a verdade dos fatos. E prosseguiu dizendo: "Na última semana, dois representantes do PDS, desrespeitando o Tribunal Eleitoral, vieram à TVvisão tentar desmentir o que havíamos afirmado. Estamos aqui para dizer que as informações são rigorosamente verdadeiras":

— "Nosso governo é o que mais investiu em segurança”. — Nomeamos mais de onze mil policiais, e mais dez mil serão admitidos. — Adquirimos quatro mil novas viaturas e melhoramos o salário de nossos policiais. E, finalmente, o governador afirmou também que, "para os que se esqueceram do que aconteceu no passado, o próprio secretário de Segurança (Otávio Gonzaga Júnior) do governo Maluf, recomendava às famílias e aos chefes de família, que tivessem uma arma no seu quarto".

Trabalho, seriedade, competência e honestidade, são palavras que funcionam enquanto "slogan" da campanha de Antônio Ermírio. "Novo São Paulo" é outro "slogan" ermirista. Sabe-se, porém, e definitivamente, que de "novo" mesmo só o apelido. Os companheiros de chapa do empresário, que disputam uma cadeira na Câmara dos Deputados ou na Assembleia Legislativa, são conhecidos pelo "passado político. nebuloso", tais como o ex-deputado Leonel Júlis, principal personagem do "escândalo das calcinhas", em 1976, quando presidia a Assembleia Legislativa, fora acusado de malversação da verba de representação utilizada na compra de calcinhas, tangas, sutiãs e cuecas. Cassado por Geisel, perdeu seus direitos políticos por dez anos. Pertence à turma de Jânio Quadros, e fez campanha para o prefeito em 1985.

Fiquemos apenas com três candidatos da "patota" de Ermírio apelidada de "Novo São Paulo Marronzinho": Marronzinho, ex-cabo eleitoral de Jânio Quadros, celebrizou-se nefastamente pela violência com que atacava moralmente o candidato Fernando Henrique, acusando-o, para dizer um mínimo, de maconheiro. Foi indiciado pela Policia Federal, em novembro de 1985, pelas infâmias contidas nas edições do jornal "A Voz", que então editava.

Primo Carbonari, produtor de cinema e proprietário da Ampla Visão, defensor intransigente do regime de 64, se ufana de ter filmado os banquetes que caracterizaram as performances políticas da época. Felizmente nunca exerceu nenhum cargo político. Com candidatos deste nível, fica difícil a Antônio Ermírio sustentar o "slogan" Novo São Paulo. Impossível, sustentar um "slogan" tão flagrante delito.

A sorte do resto do país se decidirá nestas eleições, e seríamos todos mui pouco patriotas se tivéssemos, não obstante as respectivas turmas de candidatos como estes, de perder a esperança na política de São Paulo, e turvássemos a nossa própria mente, com a ideia de que não adianta votar nestes candidatos que estão aí.

Se os candidatos de modo geral podem ser considerados a "mesma coisa" ("Bosta por bosta vote em Manoel Costa"), estaríamos cedendo ao sentimento de que, lutar ou votar contra os mais conservadores e reacionários, não vai adiantar nada mesmo. Estar-se-ia, desta forma, deixando aos mais combativos demagógicos e fanáticos caçadores de votos, a possibilidade de ganhar as eleições. A esperança não deve, nem pode morrer. A esperança de que, se não podemos crer mais em promessas de candidatos, podemos crer no ideário partidário da sigla política a que pertencem.

O PMDB pelas bandeiras das "MUDANÇAS JÁ" que defende, poderá vir a ganhar a eleição. E o PT, pela proposta de socializar os meios de produção, poderá, em uma década, eleger um Lula presidente e reforçar ideologicamente sua participação eleitoral em todo o país, de uma maneira surpreendente. A sigla PT está contida nas palavras Palácio dos BandeiranTes. É um bom presságio. Não para esta eleição. Quem sabe no século XXI, quando seus políticos estarão nivelados aos dos partidos adversários.

A PARANÓIA POLÍTICA que inferniza a mentalidade reacionária deste país é a ascensão merecida do Partido dos Trabalhadores ao poder e influência política. Quando porém  uma candidatura à Suplicy, pode facilitar a vitória de forças reacionárias, dividindo o eleitorado de esquerda em favor de Maluf (lembra Jânio 85?), a pergunta pertinente se faz ouvir em nossas consciências políticas perplexas: sua candidatura contribui para facilitar a marcha do Socialismo Tropicalista? Do socialismo Caboclo?

Um exemplo "exemplar" de autoritarismo está em que o governador Franco Montoro, imitando o "prendo e arrebento" do "slogan" do ex-presidente Figueiredo, disse que os ocupantes de cargo de confiança que não apoiarem o candidato Orestes Quércia devem pedir demissão ou serão demitidos.

Na falta de um engajamento natural de seus administrados à campanha Quércia, o gesto demonstra uma natural tendência a dominar pela ameaça de perda de privilégios. O funcionalismo público não está a serviço da iniciativa privada da campanha de Quércia, como quer Montoro. O atual governador de São Paulo subtrai de seus funcionários a crença de estão engajados na campanha do vice-governador por outros motivos que não a perspectiva ideológica, política e social que dignifica a participação de cada um, e todos eles, no processo eleitoral do PMDB. E da eleição de seu candidato a governador.

A polarização contra Maluf é natural, assim como deve ser considerada com naturalidade, a contradição em que incorreu o candidato Quércia, ao afirmar que "não vai se usar a máquina, mas vai-se exigir o apoio político dos homens do governo". Se esta exigência não é parte do uso da máquina de poder e influência administrativa... Confundir funcionalismo e propriedade do Estado com recursos privados de quem está no poder, é trivialidade na área da influência política nacional.

O deputado Paulo Maluf propaga a ideia de que, a partir de 15 de setembro, quando terá início o horário de propaganda eleitoral gratuita, começará a ocorrer então, a polarização entre sua candidatura e a de Orestes Quércia. Antes disso, está rolando nas programações de rádio e tv, o videoteipe e o "jingle", "a segurança é nossa/a liberdade é sua/bandido é na cadeia/ gente boa é nas ruas". Veiculado anteriormente via autorização pelo TRE do horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TVvisão.

Maluf garante que conhece o presidente de longa data, e que Romão Sarney, por isto mesmo, "fica com quem ganhar". A Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto distribuiu ontem aos jornalistas credenciados, o discurso de Antônio Ermírio, pronunciado na ocasião em que o "Empresário do Ano" recebeu pela oitava vez este título. Ermírio posiciona-se cada vez claramente como sendo o candidato oficial do Planalto, contra a polarização da direita representada por Maluf.

A esquerda independente do PMDB, de olho vivo neste suporte cada vez mais óbvio, ameaça passar do apoio incondicional ao Presidente, para um posicionamento mais coerente, de independência e possível confronto em futuro próximo. Os sessenta parlamentares que este setor da influência peemedebista imagina poder eleger em 15 de novembro, serão fundamentais para que Sarney possa garantir o controle da metade mais um, dos integrantes do congresso Constituinte: 280 deputados e senadores.

Na recepção em homenagem ao "Empresário do Ano", que o presidente Romão Sarney e oito ministros de Estado, sete dos quais do PMDB, assistiram ontem, 13 de agosto, Ermírio manifestou, em discurso, seu desejo de que 13 de agosto fosse 15 de novembro. Pressentindo que a situação eleitoral privilegiada que hoje desfruta, pode e deve mudar até o dia "D" eleições, tal como realmente aconteceu.

O empresário gostaria que a situação atual, favorável à sua candidatura, parasse no tempo ou perdurasse até aquela data. Ou então que, através de um passe de mágica impossível (nem tudo é possível mesmo em política), pudesse vir a prevalecer a vantagem eleitoral de agora. O empresário disse ainda que espera conseguir tirar votos, principalmente do eleitorado peemedebista.

Nada menos de duzentos automóveis Passat, modelo 86, com o nome do candidato do PTB, Antônio Ermírio, e setenta veículos Gol e Kombi, com o nome do candidato Maluf, estão sendo preparados para a campanha eleitoral. Os setenta veículos do PDS foram locados da empresa Interlocadora S/A, por noventa dias. O número total dos veículos locados pelo PDS não foi obtido. Sabe-se que somente a pintura dos nomes dos candidatos nas laterais dos veículos não será inferior a Cz$ 1,2 mil. Maluf alegou não saber a quantia paga pela locação, e apontou um de seus assessores para fornecer a informação.

Localizado, o assessor disse desconhecer o valor gasto e que, se soubesse, não diria. Os assessores de Antônio Ermírio, também não forneceram informações sobre os Passat  86 que estão sendo pintados numa antiga pedreira da  Votorantim, que hoje serve de depósito de cimento para a empresa, no bairro do Jaguaré. O modelo mais barato de um Passat 86, custa em tomo de CZ$ 99.693, incluindo-se o compulsório decretado pelo governo. 20 milhões de cruzados só de carros.

O abuso do poder econômico na campanha por parte do candidato do PTB, é o mais ostensivo da história das campanhas eleitorais em São Paulo e da América Latina e do Sul. Consta que 900 "outdoors" serão afixados em painéis até o fim da campanha, só na capital do Estado.

Quércia decidiu participar do debate eleitoral no próximo dia 24, não sem antes fazer "suspense", alegando que sua agenda está totalmente preenchida, e que pedirá formalmente o adiamento do debate para o dia 31 deste mês. O vice-governador acredita na existência de uma campanha, organizada pelos principais órgãos de comunicação e informação, em favor da candidatura do empresário.

Prosseguem os preparativos para o "comício da virada" marcado para o dia 29 deste, na praça  da Sé, centro de São Paulo. O secretário particular e filho do governador,  Ricardo Montoro, batizou de "comício da virada". Virada nas pesquisas que estão polarizadas entre Ermírio e Maluf. O primeiro com 29,3% das preferências do eleitor, e o segundo com 28,4%.

Quércia está em 3º lugar com 20%, e precisa mesmo virar o placar eleitoral na preferência dos eleitores nas pesquisas. Desconfiado de que poderá cair ainda alguns pontos na simpatia dos eleitores se não participar do debate, Quércia confirmou sua participação, afirmando que desmarcará compromissos em favor de sua participação.

Mino Carta, diretor da revista "Senhor", e "show-man" do programa "Jogo de Carta" da tv Record, comentou que Quércia vai ter de aproveitar e mergulhar de cabeça neste debate que será vital para a candidatura do vice-governador e para o PMDB. O jornalista Carlos Monforte, editor-chefe do programa TVvisivo "Bom Dia Brasil", acredita que as vedetes do debate serão mesmo os candidatos Maluf versus Quércia, que, segundo opinião de Monforte, teria tudo para jogar contra Maluf.

Acrescentou Monforte que a grande estrela do debate deverá ser o candidato do PDS devido a sua vasta experiência diante das câmaras de TVvisão. Jânio de Freitas, analista político da Folha, opinou que o debate vai depender não apenas dos candidatos mas também, e principalmente, dos formuladores de perguntas. Podem ser feitas perguntas antecipadamente desfavoráveis a determinados candidatos. O analista político da Folha concluiu afirmando que nem sempre, e só raramente, isto tem acontecido nos debates pré-eleitorais.

Perturbações ambientais por vezes são geradas por “poltergeist”. E a candidata Ruth Escobar, torcendo os dedos pró candidatura Antônio Ermírio, comparece à comemoração do 48º aniversário de Quércia. Interrogado sobre a mui incômoda presença, o vice-governador respondeu: "Acho graça. E não é pra achar? Ela é atriz". Teria dito melhor: “Ela é uma fantasma na campanha do PMDB”.

Reportando-se ao "ultimato da Ruth", que forneceu à candidatura Quércia um prazo máximo até o dia 15 de setembro, quando, se persistisse sua inviabilidade eleitoral, seria melhor, segundo opinião da deputada, que o candidato, posteriormente eleito, desistisse de sua candidatura em favor da eleição líquida e certa do empresário Antônio Ermírio. Alguns jornalistas acreditam que ela anda com uma garrafa de caninha 51 dentro da bolsa. A caninha 51, pelo visto, turvou de vez a visão eleitoral da ilustre parlamentar tropicalista.

Ulysses, como que visualizando uma assombração, uma fantasmagoria sobrenatural sobrando no astral da festa, declarou mui oportunamente estar afastada a hipótese do PMDB retirar seu compromisso de apoio soberanamente decidido em sua convenção. Apoio a Quércia. Outra opinião conflitante com o entusiasmo da deputada Ruth Escobar, com relação a candidatura Antônio Ermírio, se fez ouvir no recinto térreo do "comitê de aniversário":

Cláudio Miragais um dos assessores do aniversariante disse: "vamos denunciar publicamente os que querem que esse partido afunde.  São os donos do poder de veto, todos deputados estaduais". “Poltergeist” ou não, a deputada conseguiu perturbar o clima de aniversário substituindo-o por um clima de tensão ambiental.

Ermírio, ao afirmar que aceitaria o apoio dos PCs, disse ser um homem liberal e não ser comunista, "mas acho que há lugar para todos viverem em sociedade". Disse ainda que não faz discriminação sobre religião nem sobre política. O PCB que, no momento apoia Quércia pode, segundo opinião de Rodolfo Konder, centrar fileiras em tomo da candidatura do PTB, se a polarização Ermírio X Maluf persistir.

O empresário declarou que, a partir do crescimento de sua candidatura em setembro (nas pesquisas eleitorais), a tendência a apoiá-lo aumentará cada vez mais, com a afluência de amigos que ainda estariam tímidos em prestigiá-lo. Antônio Ermírio associado à uma coligação com o Partido Comunista. Em política há toda espécie de Can-Can. Nem é preciso estar numa choperia de cabaré francês.

ERMÍRIO ACREDITA QUE o debate do próximo domingo com duas horas de duração, poderá ser o divisor de águas da sucessão política paulista. Comentou que, fosse ele Quércia, homem público exercendo um cargo político há oito anos, com mais facilidade aceitaria participar do debate público. Sabe-se que o vice-govemador foi o último dos candidatos a acertar sua participação no debate.

Diz o ditado: os últimos serão os primeiros. Mas não sobre os resultados das pesquisas sobre quem venceu este debate... Quércia ficaria em terceiro. Serão cinco os entrevistados do próximo domingo. Escalado para mediador das polêmicas, está o comentarista econômico Joelmir Beting. Os entrevistadores serão os comentaristas políticos da Globo Ênio Pesce, pela Folha de São Paulo, Boris Casoy, analista político e Matinas Suzuky, repórter especial da Folha.

O Estado de S. Paulo se fará presente através de seu editor de política José Nêumane Pinto e de Kleber de Almeida, também editor de política do Jornal da Tarde. O debate será realizado no auditório da TV Globo de São Paulo, a partir das 22:15 do dia 24.

Para os eleitores que ainda não possuem candidato e para os eleitores indefinidos, este, que promete ser um polêmico debate, pode definir as simpatias eleitorais dos eleitores que ainda não decidiram em quem votar, ou que ainda  não tenham destinado seu voto de uma maneira radical, como fazem os malufistas.

As propostas políticas, presume-se e a personalidade de cada candidato, estarão no vídeo dos TVespectadores à mostra, assim como seus discursos sobre realizações e desempenho político. Daqui a quatro dias. Não percam este entrevero sensacional. Este show de bate-boca. Esta TVnovela de um capitulo só sobre política tropical. Ou melhor: sobre tropicalismo na política. Essa política é muito mais tropicalista do que os músicos baianos e paulistanos que promoveram o movimento cultural Tropicalista na Música Popular Brasileira.

Os resultados da sexta pesquisa Folha foram divulgados hoje. Realizada nos dias 16, 17 e 18 deste mês, aponta Ermírio na cabeça da preferência dos eleitores, com 29%, seis pontos a mais do que na pesquisa anterior. Maluf recuou um ponto, e está com 22%, Quércia e Suplicy caíram quatro pontos, e estão com 14% e 9% respectivamente.

Maluf, ao ser informado dos resultados, disse que a pesquisa Folha estaria redondamente enganada. Ermírio prevê que será o principal alvo dos debates de domingo. Quércia repetiu que sempre costuma perder nas pesquisas, e ganhar no dia da eleição. Suplicy atribui os resultados à propensão de uma parte do eleitorado em votar num candidato que evite a vitória de Maluf.

Aquela frase da deputada Ruth Escobar segunda a qual, se a candidatura Quércia não mostrar viabilidade até o dia 15 de setembro, o PMDB deveria compor-se com Antônio Ermírio, no mínimo deve ter desestabilizado os ânimos dos menos crentes na candidatura do vice-governador, aquecendo ainda mais os ânimos dos que se dedicam a incrementar as motivações eleitorais delirantes da candidatura do PTB de Ermírio.

Quércia afirmou que Montoro denunciou a existência de uma quinta-coluna no PMDB, empenhada em desestruturar a campanha eleitoral do partido. A deputada ermirista, Ruth Escobar, lembrou que o PMDB, quando na impossibilidade de Ulysses Guimarães vencer o adversário Maluf no Colégio Eleitoral, apoiou a candidatura Tancredo. Agora, segundo a opinião altamente discutível da deputada, a situação teria semelhanças, tais que, o apoio a Antônio Ermírio deveria estar garantido. Ninguém, exceto Ruth, assumiu com tanta convicção uma postura derrotista, de desânimo, frente as possibilidades eleitorais do vice-governador. Afinal ela deve estar sendo bem paga para fazer esse papel. De atriz pornô em prol de Ermírio.

O candidato do PTB ao governo paulista defendeu ontem, em Guararapes, a organização da UDR — União Democrática Ruralista — ao afirmar que, "para cada força, existe outra que lhe é equivalente e contrária. E prosseguiu defendendo os produtores da UDR, organização que boicotou o Plano Cruzado: se um produtor trabalhou a vida inteira por sua terra, e agora vê sua propriedade invadida, é natural que ele se organize para defendê-la como puder".

Prosseguiu dizendo, contraditoriamente, ser a favor da Reforma Agrária, "desde que venha para construir e não para destruir". Certas opiniões do empresário Antônio Ermírio estariam melhor na boca do personagem do samba do crioulo doido, cantado pelos Demônios da Garoa.

O empresário concluiu a fala afirmando que "não se pode mais conviver com latifúndios improdutivos, mas que também não se pode desapropriar terras produtivas, como a fazenda São Joaquim, em Pereira Barreto, uma das maiores produtoras de leite do país. Se há necessidade de dividir terras, que o governo estadual dê o exemplo dividindo seus 300 mil hectares". O empresário negou-se a fornecer a relação de suas propriedades aos jornalistas, logo após ter afirmado que não tinha nada contra em declarar seus bens.

A relação de bens do candidato do PDS, com nada menos de seis folhas datilografadas, contém sua participação acionária nas empresas da família Maluf. Suas ações da Eucatex totalizam Cz$ 233.044.184,00 sem computar as 15.844.840 ações de dona Silvia Maluf, mulher do candidato do PDS.

O presidente José Romão Sarney declarou em audiência ao deputado federal João Herrera Neto, que o deputado Paulo Maluf é um homem que não corresponde ao ideário da Nova República. Disse também que nada pode fazer em São Paulo, se não for restaurada a unidade do PMDB paulista, e que não poderia correr o risco de desgastar a sua autoridade atuando em um Estado em que o partido está desunido.

Em outras palavras avalizou a opinião do próprio Quércia e de Montoro de que há uma "quinta-coluna" que entrava a campanha do PMDB. O Presidente não convocou a união partidária em sua declaração, nem usou seu poder e influência para consegui-la de outro modo. Isto porque a candidatura Ermírio é a menina dos olhos do Planalto. A Cinderela do príncipe Romão Sarney. Entocado em seu Palácio Planaltino.

Uma nota de esclarecimento público foi divulgada pelo Diretório Acadêmico Nelson Hungria das Faculdades de Direito de Araçatuba. Do texto destaca-se que Antônio Ermírio expôs sua visão da questão energética no quadro-negro e depois voltou a mesa quando respondeu perguntas feitas por escrito. Um acadêmico de Direito pediu para fazer uma pergunta oral e este simples direito elementar lhe foi negado de maneira autoritária e antidemocrática.

Mostrando-se inconformado com a atitude do candidato do PTB, o acadêmico gesticulou com a cabeça em silêncio mostrando desta forma que não concordara com ele. Isto gerou imediata irritação do candidato que passou a hostilizar verbalmente o estudante, seguindo-se uma discussão de baixo nível. O presidente do Diretório Acadêmico saiu em silêncio em sinal de protesto. Outros estudantes protestaram contra a maneira autoritária e antidemocrática com que a mesa conduzia os trabalhos.

O presidente do diretório acadêmico fora escorraçado de modo violento. Jagunços do candidato agrediram também a outros estudantes. Tal postura do empresário com certeza não contribuiu em nada para o avanço da democracia. E muito menos de sua campanha. Chega-se à conclusão de que, se, enquanto candidato, a repressão ao debate democrático é permitida, imagine-se Antônio Ermírio uma vez eleito governador: seu governo poderia fornecer um exemplo melhor de repressão ao questionamento democrático? É muito provável que sim.

O 1º debate eleitoral organizado pela tv foi entre John Kennedy versus Richard Nixon na disputa à presidência dos EUA em 1960. Kennedy venceu o debate e as eleições. Dos cinco candidatos ao governo de São Paulo, o que pessoalmente soma maior números de pontos positivos parece ser o candidato Antônio Ermírio. Situação transitória que poderá perdurar quando muito, mais algum tempo. O eleitor está a levar em conta suas incoerências e contradições, assim como seu temperamento demasiado emotivo e autoritário, a exemplo da reação antidemocrática a uma participação mais ampla dos estudantes do D.A. na palestra na universidade em Araçatuba.

Para compensar essa imagem de desagravo ele surge como uma novidade no universo político paulista. Fotografa bem e seu discurso é caracterizado pelo velho padrão udenista de moralidade, que agrada a não poucos eleitores brasileiros. Os ataques verbais que dirige a Maluf, Quércia (e a Montoro), servem, provisoriamente, para colher votos junto ao eleitorado que está decepcionado com os outros candidatos majoritários na preferência do eleitor.

O posicionamento político de Ermírio é vantajoso, desde que, novo no ramo, ficou ausente dos conclaves políticos ao contrário de seus opositores. Ele, Ermírio, verbaliza com fluidez suas opiniões apesar de sua voz transmitir indecisão, cansaço e até fraqueza. Sua impulsividade quando espontânea, resulta favorável, somada ao desleixo de sua aparência, que provocará uma empatia com a maior parte dos TVespectadores que estarão observando o debate de logo mais.

Quércia soma pontos positivos a partir de uma imagem de homem simples, pouco culto, caipira fardado de terno e gravata do interior. Sua atuação política de oposição ao regime militar é seu principal trunfo nesta eleição, somado à defesa do ideário político-partidário do PMDB. Sua identificação com as propostas de soluções para os problemas dos pequenos municípios faz com que tenha uma base eleitoral forte no interior.

O discurso do vice-governador é acessível para a grande maioria dos eleitores. Baseia-se nos chavões peemedebista de praxe. Não mostra uma personalidade independente na abordagem dos problemas políticos paulistas, paulistanos e nacionais. É um político de partido, sem gerência personalizada do conteúdo político e pseudo-ideológico do discurso. Desponta como líder local, e não líder nacional. Pode mudar, mas não vai ser nada fácil. E ninguém acredita na possibilidade dessa mudança. Mudança de atitude e de postura política regional.

A transmissão do debate será em cadeia nacional com nada menos de oitenta milhões de TVespectadores potenciais. A rede Globo é a quarta rede de TVvisão do mundo. Com 51 emissoras, e centenas de antenas retransmissoras. O debate promete.

APÓS O DEBATE, Antônio Ermírio obteve 34%, seguido por Maluf com 28% e Quércia 15% na preferência dos 2.418 eleitores, TVespectadores entrevistados. Ao comentar este resultado da pesquisa o empresário afirmou que "o povo não quer nem Maluf nem o PMDB" (sic). A performance do empresário ficou muito aquém da expectativa geral. Os candidatos estavam mais nervosos do que era de se esperar de homens tarimbados no trato público. A diferença pró-Ermírio, que poderia servir para distingui-lo de uma vez por todas de seus adversários, não aconteceu. O candidato do PDS não concordou com os resultados da pesquisa, e afirmou que Ermírio teria sido, realmente, o grande perdedor do entrevero TVvisivo.

O RESULTADO DA pesquisa que divulgou Ermírio como sendo o grande e solitário vencedor de debate TVvisivo é realmente muito questionável. Quércia sim, pela performance prudente, ausentou-se da polarização discursiva, pessoal, entre os candidatos do PTB e do PDS e, por ter mantido esta postura até o fim do debate, saiu-se dele vencedor segundo opinião deste autor. Apesar da faixa de opinião em contrário entre os segmentos de eleitores TVespectadores pesquisados.

Maluf e Ermírio exaltaram-se não poucas vezes. Joelmir Beting, mediador da contenda, pressionou a "buzina" de advertência inúmeras  vezes, na tentativa de fazer parar o bate-boca entre os dois mais destacados adversários: Maluf X Ermírio. Maluf, olhando para Ermírio desafiador, afirmava com inabalável convicção que o empresário havia rastejado para Jânio Quadros. E o candidato do PTB repetia: "o senhor é um grande mentiroso".

O candidato do PDS citou uma declaração do candidato do PTB publicada nos jornais. A declaração dizia ser a "política a arte de pedir votos aos pobres, dinheiro aos ricos e, depois de eleito, mentir para os dois". Maluf invocou com a definição e dela não gostou, talvez motivado pelo teor de verdade que a afirmação do empresário contém. Alegou o deputado Maluf que o empresário Ermírio, após cortejar Janio Quadros, teria logo em seguida xingado o prefeito de "safado".

Ermírio retrucou dizendo que fora por influência de Maluf que Jânio lhe negara apoio. O ex-governador interventor de São Paulo afirmou que o empresário, ex-consultor da Eletropaulo durante seu governo frequentava o Palácio dos Bandeirantes e havia pleiteado a propriedade de duas usinas hidroelétricas do Estado.

Ermírio negou que fosse frequentador do Palácio e Maluf sacou de uma foto onde ambos aparecem conversando descontraída e amigavelmente. A foto, as câmeras não mostraram, até porque o empresário havia admitido que frequentara, uma vez, o Bandeirantes, quando Maluf governava São Paulo.

Suplicy perguntou a Maluf porque nunca fez nada para coibir o trabalho semiescravo em fazendas de São Paulo pertencentes à Eucatex, da qual o ex-governador /interventor é o maior acionista. Maluf, após negar que a fazenda  pertencesse a sua empresa, evocou o testemunho da repórter Âmbar de Barros da Folha. Ela não estava presente ao debate, mas respondeu que o senhor Paulo Salim Maluf mentiu ao afirmar que contava com seu aval, desde que a repórter não havia visitado a mencionada fazenda onde foram verificadas não poucas irregularidades:

Mulheres e crianças trabalhando sem registro, famílias recebendo salários apenas em mantimentos, morando em acampamentos na mata, em casas feitas de papel aluminizado. Todos os candidatos se posicionaram contra a pena de morte e Suplicy confundiu seu partido com o PMDB, corrigindo-se a seguir do ato falho, para logo depois declarar-se contra o aborto, enquanto método anticoncepcional dos grupos de mulheres do PT.

Quércia disse primeiramente não ter restrições a seus concorrentes.  Porém, não poucas restrições apontou ao candidato Maluf acusando-o de "praticar um ilícito" na construção da Rodovia dos Trabalhadores, segundo relatório da Empresa de Desenvolvimento Rodoviário SIA. Maluf reagiu mostrando um relatório da mesma empresa isentando-se de culpa. Foram todos unânimes em se definirem favoráveis à campanha pela Assembléia Nacional Constituinte. Quércia alegou ter sido o primeiro parlamentar a apresentar  um projeto convocando a ANC ainda na época do autoritarismo.

Maluf definiu a Constituinte, como absolutamente fundamental e Ermírio considerou-a mais importante que as eleições para governador. Estranho que, com todas essas ênfases verbais pró-Constituinte eles tenham se esquecido de promovê-la em suas campanhas e no horário TVvisivo das campanhas. Exceto superficialmente, mencionaram a Constituinte. Prova disto é que até agora, mais de 80% da população desconhece o que venha a ser a Constituinte e os mecanismos políticos que podem os eleitores vir a participar de sua elaboração.

O jornalista Kleber de Almeida perguntou de que modo os candidatos poderiam conciliar os recursos da principal fonte de receita de São Paulo (os 63 bilhões de cruzados da arrecadação do ICM, 40 bilhões dos quais destinados ao pagamento do funcionalismo público) com as obras que estão prometendo construir. "Onde poderão conseguir os recursos para viabilizar as promessas"?

Antônio Ermírio lembrou que as grandes obras do passado foram construídas com empréstimos do exterior e que aumentar os impostos seria seu último recurso. O empresário defende, desta forma, o aumento da dívida externa e, consequentemente, da ingerência dos déspotas econômicos na política interna. Esta declaração é um atestado de ideologia. Ermírio prosseguiu dizendo: "parece que teremos de promover uma reforma administrativa sem perseguições, da mesma maneira que a iniciativa privada fez quando da decretação do Plano Cruzado. Parece que é por ai que teremos que fazer".

Para um candidato ao governo a hesitação e a falta de certeza que transparecem a partir do uso do termo "parece" por duas vezes, em poucas palavras, contribuiu para que o TVespectador mais atento não sentisse a devida firmeza que deveria caracterizar sua resposta.

Quércia respondeu a mesma pergunta dizendo ser um candidato do PMDB, partido com uma ligação muito profunda com as reivindicações do povo. E que suas prioridades serão três: "as crianças, a segurança e a questão dos transportes". Falou ainda de "uma política séria de habitação buscará mais recursos do governo federal e da loteria habitacional". O vice-governador não respondeu a pergunta do jornalista Kleber de Almeida, saindo pela tangente, tergiversou e ficou por isso mesmo.

Maluf demonstrou um vasto conhecimento sobre a questão e respondeu com objetividade, dizendo que o orçamento aprovado no ano passado (corrigindo os números do jornalista) fora de 93 bilhões de cruzados e pode ser que chegue no fim deste ano a 115 bilhões. "Portanto, o gasto com o funcionalismo público é um pouco menor". As prioridades de seu governo seriam: "primeiro, acabar com as mordomias e segundo, austeridade: não haverá nomeação de parentes". Daria se eleito fosse "assistência ao menor abandonado e ao abastecimento que é função do Estado".

Como se as agressões verbais fossem a coisa mais comum do mundo entre políticos e mostrando que não deviam guardar rancor dos embates, Ermírio e Maluf cumprimentaram-se com um aperto de mãos no camarim onde seriam maquiados para entrarem em cena. Afinal eles estavam no debate enquanto atores, usando máscaras a cada resposta. Desde que na honestidade de propósitos de cada candidato, nunca houve, acredito, eleitor que acreditasse neles.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 27/03/2013
Alterado em 05/11/2013


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