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Os Degraus Do Bandeirantes (As Vésperas Do IV° Reich) 3
Se Jânio apoiar sua candidatura, em troca poderia exercer certa influência no sentido de indicar o candidato a vice, e um senador na sua chapa. “Que ingênuo o senhor é”, diria de novo Jânio. Ermírio parece ter apelado para o humor negro, lembrando um pouco a história do suicídio que cometeria o presidente Figueiredo se ganhasse salário mínimo.

Ao definir política, ele disse textual: "É a arte suave de solicitar votos aos pobres e caçar fundos dos ricos, prometendo aos dois, protegê-los uns contra os outros". Fosse suave a arte de fazer política, não teria o empresário perdido por vezes o controle da situação como, por exemplo, quando altercou com Maluf.

Sobraram insultos publicados nas primeiras páginas dos jornais em certo período da campanha. Fazer política seria, para Ermírio, uma espécie de perda de tempo, uma espécie de suicídio, tipo "ganhar salário mínimo". Mas ele deve estar se divertindo. Ou não estaria "investindo" toda essa grana de quem ganha "salário máximo".

Antônio Carlos Magalhães, ministro das Comunicações, vê com estranheza as boas relações de amizade entre Maluf e Marin. O presidente do PFL, segundo palavras do ministro, foi um dos seus grandes informantes, sobre “os erros administrativos e o comportamento aético e amoral de Maluf”.

Antônio Carlos Magalhães disse ainda que as informações repassadas a ele por Marin, serviram em sua defesa no processo de injúria movido contra ele por Maluf em setembro de 1984, ao se defender de críticas feitas pelo então Ministro da Aeronáutica, Délio Jardim de Mattos, contra políticos do PDS: os que apoiaram a candidatura Tancredo Neves (PMDB), à presidência da República.

Na ocasião, Magalhães definiu Maluf com todos os "efes e erres" implícitos na acusação. Começou chamando o deputado de "corrupto" e prosseguiu dizendo que “trair os propósitos da seriedade e dignidade da vida pública, é fazer o jogo de um corrupto”, disse, ao se defender da acusação de traidor, feita por Délio.

O caso foi parar na justiça, e Antônio Carlos Magalhães dirigiu-se ao Fórum Rui Barbosa, na capital baiana, com dez volumes que somaram perto de 2.000 páginas e mais de mil documentos anexados, justificando suas acusações. Maluf, vendo que não poderia levar vantagem da situação adversa, retirou a queixa. E fez de conta que promoveu sua  transferência para Brasília.

O Ministro das Comunicações lembrou que os atuais dirigentes do PFL paulista, devem conhecer mais do que ele próprio o candidato do PDS, porque eles eram seus  informantes das coisas que o Maluf fazia. Logo, uma aliança do PFL com o PDS, seria um absurdo amoral e aético que, infelizmente viria a acontecer, como que provando mais uma vez, que em política, como dizia Maquiavel, moral e ética são palavras sem significado: “os fins justificam os meios”.

Uma frase de Tancredo Neves deve ter passado pelos pensamentos do ministro das Comunicações: "Fosse o Brasil um país civilizado, Maluf não poderia sequer pensar em se candidatar a nenhum cargo eletivo". A patota do PFL paulista não pensa assim. Não tenha dúvida o prezado eleitor, de que os pefelistas paulistas estão abrigados sob o guarda-chuva de Maluf, que está de acordo com as exigências do partido de controlar, se vitorioso, as secretarias de Estado que fornecem, em termos pragmáticos, os melhores dividendos políticos ($$$), a rápido, a médio e a longos prazos.

O presidente da Petrobrás, coronel Ozires Silva, confirmou ter visto OVNIs ao sobrevoar em um avião Xingu, a região de São José dos Campos. “Eu não sou lunático”, afirmou o coronel, quando lhe fora sugerido que os pontos de luz observados poderiam ser reflexos da luz de estrelas deformados pela poluição. Os OVNIs foram dectados pelo radar, isto não aconteceria com reflexos ou deformações atmosféricas da luz das estrelas. Os "experts" em OVNIs especulam que os tripulantes das naves alienígenas estariam interessados em pesquisar os insetos, e não os habitantes da espécie Homo sapiens/demens deste planeta.

Marin, antes de embarcar para o México onde chefia a delegação brasileira na Copa do Mundo, qualificou como sendo “uma violência, um arbítrio e uma postura nem um pouco democrática, a ameaça do senador Guilherme Palmeira, presidente nacional do PFL, de agir com rigor, caso a solução regional do PFL paulista venha a ser, como tudo indica, uma aliança com o PDS”.

Antônio Roberto Alves Braga ameaça tirar o apoio do PL ao candidato petebista. Alega não estar satisfeito com Antônio Ermírio, ao afirmar que o seu “não é um partido de aluguel”. Disse a Marin, presidente do PFL paulista: “os dois partidos poderão se coligar visando disputar as eleições de novembro, desde que ambos os partidos têm inegáveis afinidades ideológicas”.

Disso ninguém nunca duvidou, pode ele acreditar. A opinião de Guilherme Afif Domingos (fundador do PFL paulista e presidente da Associação Comercial de São Paulo) é simples e direta: “é preferível ser cabeça de sardinha a rabo de baleia”, sugerindo, desta forma, o afastamento de Antônio Ermírio. Afif só não é mais malufista do que o próprio Maluf.

Conversação por conversação, opinião por opinião, para Antônio Ermírio, não há nada de extraordinário na demora do PFL, os entendimentos estão se processando e ele acha que a coligação será possível: "Na democracia tudo é possível". Ao falar sobre a Reforma Agrária ressaltou ser este um “problema extremamente delicado. É preciso uma política agrária”. Ermírio tem mesmo vocação para político: a propósito de argumentar sobre a reforma agrária, falou, mas não disse sobre ela absolutamente nada. Reforma Agrária continua sendo tabu nos meios políticos. Tabu e argumentação de palanque.
                                                    
Algum tempo depois tentou consertar a falta de consistência de suas opiniões a propósito da dita reforma agrária: “a Reforma tem de vir para acrescentar, e não para desestabilizar o que já existe de produtivo”. Não tenha dúvida de que ele não aplaudiu o atual plano de Reforma Agrária ou a atuação do governo de Romão Sarney nessa área.

Dos ministros que somam com Ermírio, Marco Maciel disse ontem, 23 de maio, que “o partido deve optar sempre, pelo candidato que esteja mais próximo do espírito e das ideias da Nova República”. O ministro chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, teceu elogios ao virtual candidato do PTB, sugerindo que o candidato do PDS não preenche os requisitos para a candidatura.

Por falar em Maluf, o deputado teceu criticas ao envio das cartas-circulares solicitando apoio financeiro: “o PMDB chama isso de contribuição espontânea, mas os pedidos são feitos para os que ocupam cargos de confiança, e que naturalmente não querem perder seu emprego”. Maluf negou que tenha retirado o processo por injúria, calúnia e difamação. Litígio judicial movido contra Antônio Carlos Magalhães em Salvador.

"A queixa não foi retirada", disse ele. É que ela fora apresentada na Bahia e, pela legislação, o ministro goza de algumas regalias, e o processo foi para Brasília. Dizendo que PDS e PFL "são uvas do mesmo parreiral" (o que equivale dizer que são “farinhas do mesmo saco”) Maluf sugeriu nas entrelinhas da entrevista ao repórter Kazumi Kusano da Folha, que ele e os pefelistas de São Paulo, “se respeitam e admiram mutuamente, e que uma aliança entre PDS e PFL é o caminho normal e mais natural para ambos os partidos”.

O que há de pior neste contexto político e de mais reacionário: PDS e PFL, tal como definiu Maluf, são mesmo e comprovadamente “farinhas dos mesmo saco”.

DOS INCIDENTES DE percurso na campanha do deputado e ex-governador, a vaia coletiva que recebeu do público de três mil pessoas quando compareceu ao ginásio do Ibirapuera ao encontro denominado "Movimento Cultural Luz Divina", deve ter sido uma experiência, no mínimo desagradável para Maluf que, ao chegar às 16 horas ao encontro, e ser anunciado pelo microfone na voz do pastor Ramayana Carneiro, candidato a deputado federal pelo PDS, o Ginásio em uníssono vaiou e manteve a intensidade da manifestação pública de desagrado, pela promoção oportunista de um político num evento religioso.

De nada adiantou ao pastor Ramayana pedir calma e advertir contra os "agitadores": “vamos orar com Deus. Silêncio, irmãos”. Maluf não pôde falar. Malufou, recolheu-se a uma cadeira ao lado de outros políticos, pastores do PDS. Foi ai que um velhinho que nem mais consegue articular sua atenção nos fatos de maneira a saber o que realmente está acontecendo em sua volta, explicou as vaias de seu ponto de vista, dizendo convictamente que o pessoal da arquibancada “estava vaiando o general Marcondes e sua mulher, que estava usando baton”.

O general Sebastião Marcondes, da reserva do exército, e candidato a deputado federal pelo PTB, não concordou com a sugestão do bom pastor de almas penadas, Assueno Silveira, e retrucou em defesa própria dizendo: “eles me aplaudiram, e eu até recebi uma bíblia de presente”.

No palco o pastor Ramayana se prestava a servir de subserviente chefe de cerimônias do "santo" Maluf que defendia, e queria forçar que a plateia aceitasse o deputado falar, mas a plateia não poupava apupos quando, chamado por Ramayana, Maluf tentava esboçar um discurso. Vergonhosa, muitas vezes vergonhosa a atitude venal desse suposto pastor. Cão pastor do malufismo.

"Palmas para Jesus" berrava insistentemente o pastor do PDS. “Graças a Deus nós somos educados”, disse Maluf, após receber uma bíblia das mãos do candidato e pastor do PDS. Ele, pastor, repetia como que involuntariamente ao microfone: "amém Jesus..." por não poucas vezes sem contar: "amém Jesus... Amém Jesus. Amém Jesus. Aos "améns" em homenagem a Maluf, não se sabe como Jesus respondeu. Certamente também Ele não gostou da atitude antiética do pastor Ramayana.

Nesse momento entrou no palco, também o filho de Ramayana, pegou o microfone e falou que as três mil de pessoas que tinham vaiado, eram todos engraçadinhos e mal educados, “porque vaiar o homem”? Vocês não acreditam em Jesus?

Quem garantiu à dupla de pastores que Jesus apoiava Maluf? As vaias continuaram e Maluf, aflito, disse a seu ouvido: "devolve o microfone para o papai". Papai Ramayana pegou o dito e falou, insistente e descaradamente: “Lá, Deus está nos ajudando. Mas aqui na terra vamos acreditar no dr. Paulo Maluf”.

O pastor transpirava como se estivesse numa sauna finlandesa ao meio-dia no deserto do Saara. De nada adiantavam suas convocações de apoio à candidatura Maluf. Os demais candidatos do PDS presentes ao encontro religioso promovido por Ramayana mostravam-se cada vez mais incômodos. O que deveria ter sido uma ovação ao deputado Maluf, havia se transformado numa vaia unânime e ruidosa. O pastor não sabia mais o que fazer. Como esconder que sua iniciativa de feitiço da multidão havia virado contra o feiticeiro?

O pastor, no auge do vexame, começou então a culpar o PT pelo incidente da vaia, dizendo ter certeza de que "crente não vaia, quem vaia é a turma do PT". Bom, deveria ter no mínimo três mil petistas no quintal religioso de Ramayana. Os evangélicos boicotaram uma promoção política do deputado. Espontaneamente. O pastor Ramayana e algumas autoridades governamentais do Planalto, e do governo de São Paulo, acusam sempre o PT de desordem, quando este partido serve de catalisador do mau-caratismo de não poucas autoridades. Religiosos também execravam o PT. Antes do advento da eleição do presidente Lulla, o Analfabeto.

Quércia, por sua vez, prometeu se eleito for, fará uma revolução na questão da segurança... "Vou colocar policiais nas ruas". Estaria o candidato virtual do PMDB a mostrar descontentamento com a política de insegurança pública do governo Montoro, do qual é vice-governador? Estaria ao mesmo tempo querendo dizer que não existem policiais nas ruas? Estaria seu discurso nivelando-se ao de seu rival Maluf?

"Colocar policiais nas ruas" significa fazer uma revolução na segurança dos paulistanos? Quércia informou também que, se eleito, vai fortalecer a Rota, as Rondas Ostenvias Tobias de Aguiar, uma das forças de elite da Polícia Militar. Salientou que Montoro fará, até terminar seu governo, 7.500 celas, enquanto o governo de Maluf não fez nenhuma.

Prometeu se eleito for, acabar "com o medo e o pavor" que as pessoas sentem por falta de segurança. E disse, finalizando a entrevista, que a principal bandeira dele no partido, é "resgatar a imensa dívida social que temos com a população de São Paulo”. Esse é uma promessa impossível. Mas, quem se importa com possibilidades? Políticos é que não.

Este final de pronunciamento corresponde a uma verdade social devastadora. A dívida social da política brasileira para com seu povo martirizado pelas condições absurdas de sobrevivência, no campo e nas cidades, esta dívida deve ser resgatada logo, sob penas dos fazedores de guerra terem neste país, um campo favorável a manobras militares internas, para conter a revolta que se avolumará mais e mais, enquanto esta dívida não for, pelo menos em parte, resgatada. Em favor do povo brasileiro. Em favor do resgate da imensa dívida social que o Governo mantém para com a população.

É opinião comum nos meios políticos a afirmação de que, principalmente nos grandes centros, o povo não sabe votar. Que o senso comum não compreende que, dos políticos todos, quais são os que podem fornecer maiores vantagens. Acredito que o eleitor sabe escolher. O problema é que os políticos, dentro de um sistema potencializado contra os interesses da sociedade, nada podem fazer. Assim como não há escolha para os eleitores, não há um sistema legislativo adequado capaz de coibir os desmandos incentivados pelos esquemas de corrupção. Uma legislação caduca que favorece os criminosos do colarinho branco e a impunidade jurídica sempre pró-réu.

Às vezes, por serem os candidatos muito parecidos entre si, investem os menos favorecidos, naqueles que, pelo menos, são capazes de divertir o eleitorado: quer por um passado pseudo-glorioso de presidente da República (Jânio Quadros), ou pela simples razão de serem uns mais facilmente caricaturados do que outros políticos com ares de seriedade, e de heróis do absurdo. Teria sido em função desta prerrogativa de galhofa e humor popular maquiavélico, que Fernando Henrique fora derrotado em 1985 pelo atua prefeito Jânio Quadros.

Os eleitores estão cansados de políticos profissionais e fisiológicos. Sejam quais forem. A opinião da galera é que será a mesma coisa. O que o povo sente ou pensa, ou imagina, ou quer deles, políticos, não passa nem de longe na cabeça de um político sequer saber e respeitar. Fundamentalistas da corrupção institucional o "rei Mulatinho" foi preterido pelas urnas ao Governo de São Paulo.

Se a ideia de trabalhar por reformas eficazes, e não apenas paliativas, passasse pela cabeça de um político, ele deveria sujar as calças, só em pensar na força de caráter que deveria ter, e manter, para conseguir resultados efetivos nesse setor das Reformas. Ponto de honra do conflito de classe nacional.

A luta por justiça social não pode ser ganha a partir de pressupostos políticos sistêmicos que favorecem as plataformas partidárias minadas pelo comando, comunicação e controle dos interesses oligárquicos.

O porta voz da UDR exultou, em entrevista na TVvisão, quando o superintendente do INCRA, José Eli da Veiga, abandonou seu posto. Nada significa a este falador de abobrinha bem nascido, que mais de 80% do povo brasileiro quer e torce em prol de resultados efetivos na política da Reforma Agrária. Ronaldo Caiado é o porta voz descarado do grande latifúndio. Dos que temem e lutam, a seu modo, para boicotar o plano (de RA) incipiente, do governo de Romão Sarney.

A puta velha democracia, serve apenas para dourar a conversa bonitinha mas ordinária do presidente da UDR. Que, não sem razão, denomina-se União "democrática" Rural. Existem "democracia" e Democracia. A que se define filosófica e politicamente enquanto “governo do povo, pelo povo e para o povo” é mera ficção científica.

A direção nacional do PFL não possui autoridade moral para condenar uma provável aliança deste partido com o PDS, em São Paulo. A memória dos políticos brasileiros é muito curta, por conveniência. Não por falta de atividade biológica dos neurônios.

Como condenar hoje a direção do partido em São Paulo pelo apoio a Paulo Maluf, se (quem cala consente) aprovou a aliança do PFL com o atual prefeito? Todos foram cúmplices do rompimento da aliança democrática, o PFL paulista e a direção nacional do partido.

As motivações são as mesmas: não há dúvida de que em ambos os eventos eleitorais (1985-86), o PFL, com ou sem aval da direção nacional, assegurou, e assegura, uma candidatura que desestabilizou e desestabiliza a "maquete" política, herança de Tancredo.

Se Fernando Henrique houvesse ganhado a eleição para prefeito de São Paulo, o presidente Romão Sarney estaria encontrando neste estado, um exemplo de cumprimento das diretrizes e bases do plano econômico do governo. Não teria havido tantos boicotes: do boi gordo e de produtos hortifrutigranjeiros.

E São Paulo teria favorecido a política de Romão Sarney, e mantido o exemplo para o resto do país. O aumento do transporte coletivo, não teria inflacionado ainda mais o bolso da população paulistana, em 233%, ônibus, e em 200% os táxis.

A direção nacional do PFL favoreceu a "patota" de forças desestabilizadoras da política do Planalto. Como essa mesma "patota" poderia seguir um exemplo que não proporcionou a seus subordinados nas eleições de 85, para a prefeitura?

Tudo indica, mais uma vez, e com certeza, que o PFL vai apoiar Maluf. Não precisa ser profeta: um mínimo de pensamento dedutivo resolve a questão do futuro da eleição Maluf em São Paulo, enquanto candidato apoiado pelo PFL.

Antônio Ermírio acha que, com as negociações visando compor com o PFL, já chegou ao limite máximo: "sinceramente acho que fui ao limite máximo". Segundo o empresário, a atual direção do PFL paulista, está preferindo negociar uma coligação com o PDS, por causa de uma atração ideológica mútua, entre o senhor José Maria Marin e o senhor Paulo Maluf. Farinhas do mesmo saco.

A preferência do PFL por Maluf, segundo palavras do empresário, “é uma atração natural”. Isto ocorre em todos os segmentos da sociedade, "gente de uma determinada categoria, prefere gente de uma determinada categoria".

Ermírio disse ainda que existe uma incoerência em tudo isto, porque o PFL surgiu para combater a candidatura Maluf à presidência da República, e agora quer apoiar o mesmo Maluf ao governo paulistano. Duas das muitas motivações que estariam atrapalhando a coligação PTB/PFL, diz respeito à presença do ex-ministro Gusmão no partido.

Gusmão pleiteia uma vaga no Senado e estaria ocupando o espaço de Marin. Gusmão é tido e havido como sendo um cidadão muito arrogante, por importantes lideranças nacionais da Frente Liberal. "Querem acabar comigo/isso eu não vou deixar/enquanto eu tiver/você comigo/ninguém poderá me derrubar", parodiando a música de Roberto Carlos, Gusmão estaria cantado estes versos. E contando com o apoio do empresário Antônio Ermírio.

O candidato "fantasma" assusta algumas personagens do Planalto. Maluf, através de uma campanha consistente e "emocional", aumenta sua presença pública e duplica suas possibilidades. Roberto Gusmão culpa a  imprensa pela ressurreição política do candidato do PDS, ao dizer que os jornais  já ressuscitaram outras figuras da política paulista, e agora a imprensa ressuscitou Maluf. Como se fosse a principal personagem dessas "eleições de mortos-vivos".

Não sei se há referência ao filme "a volta dos mortos-vivos" para definir a inclusão do candidato pedessista às hordas da política de São Paulo. No momento está circulando, em grande quantidade, um "santinho", com os nomes e as figuras dos deputados federais Paulo Maluf (PDS) e Samir Achôa (PMDB).

Samir esclareceu que não nutre antipatia pessoal pelo ex-governador que, para ele ressurgiu com toda a força, e vai disputar com Orestes Quércia a eleição em São Paulo. Profecia de carcamano não pode dar certo.

Na seara do PTB Ermírio disse ontem que “Maluf está por trás das dissidências ocorridas nos últimos dias em alguns setores das bases partidárias petebistas”. Acrescentou que uma das armas do deputado “é querer desestabilizar sua candidatura para aumentar suas próprias chances”.

Segundo Ermírio, sua candidatura ingressou muito adentro nas áreas do poder e influência do candidato do PDS, porém, “isto não terá influência na convenção” que, nas palavras do empresário, "vamos ganhar tranquilamente..." Ermírio tem o nome de seu vice que será o atual secretário municipal de Vias Públicas e ex-prefeito da capital paulista, Reynaldo de Barros do PFL.

A preferência do empresário por Reynaldo está em que, seu "know-how" político na capital e no interior, somado à confiança que nele deposita Jânio Quadros, é motivo suficiente para emparelhar seu nome à candidatura de Maluf.

Nélson Riberio, ex-ministro da reforma agrária foi substituído por Dante de Oliveira. Não será surpresa se Dante de Oliveira também desistir de fazer figura de papelão enquanto ministro de uma Reforma Agrária apenas nominal.

O presidente Romão Sarney, referindo-se à Reforma, afirmou que ela significa a paz e não a guerra. Acrescentou que repetia estas palavras para exigir o desarmamento geral, e lembra que “o governo não vai tolerar em hipótese nenhuma, desafios ou pressões”. E advertiu: “vamos acabar com as invasões que invasão é crime e esbulho”.

“Vamos acabar também com perseguições, violências e quaisquer outras formas de tornar odioso um projeto tão alto, tão moderno, e tão importante para a democracia no Brasil”. O presidente finalizou seu discurso dizendo que “a reforma agrária vai melhorar a vida dos trabalhadores rurais, abrindo-lhes perspectivas, prosperidade e felicidade para suas famílias. Para isto terão de produzir muito, e produtos de alta qualidade, a preços competitivos”. O Brasil, suposto "celeiro do mundo" importa bens de consumo de primeira necessidade.

O CANDIDATO A governador pelo PMDB (Quércia) não poderá substituir o atual governador Franco Montoro, se este viajar para a China. A legislação eleitoral toma inelegível quem exercer o cargo de governador no período inferior a seis meses da eleição.

A China cria um problema para Quércia, ou será o dedo de Maluf? O jurista Reale Júnior tem opinião sobre o assunto: o vice-governador poderá alegar impedimento, por ser o candidato e solicitar licença do cargo à Assembleia Legislativa.

Segundo o jurista Celso Bastos, Quércia deverá solicitar licença do cargo para tratamento de saúde, e para cuidar de assuntos particulares. Se usasse a estratégia baseada na argumentação de Reale, a Assembleia poderia impugnar Quércia, desde que a convenção que elege o candidato do partido, ainda não foi realizada, e ele seria apenas "candidato a candidato". E não candidato oficial eleito na convenção do PMDB.

Reynaldo de Barros só poderia compor com Ermírio na chapa para governador e vice, se o PFL paulista aprovasse, em convenção partidária, uma coligação com o PTB. Isto não poderá mesmo acontecer. Os sintomas da doença politicagem indicam que o PFL apoiará Maluf. E Reynaldo de Barros será, ainda assim, o vice de Ermírio.

                                  OS DEGRAUS
                                         DO
   BANDEIRANTES
                         (As Vésperas do IVº Reich)


Agora, porém, era obrigado a admitir que chegara uma época de
completa loucura: o Reich assemelhava-se a um campo de luta. O
povo alemão era como um rebanho de carneiros. E aquilo que se
chamava de pátria não passava de um objeto de saque que se
entregava voluntariamente a criminosos. O Estado de direito
não passava de um bordel. A justiça não era mais que um
matadouro. Que coisa é essa em que estamos metidos?
Georg Huber
(Alemanha 1938, Vigência do IIIº Reich)


JUNHO DE 1986
    

LUÍS INÁCIO DA SILVA presidente do PT, candidato a deputado federal, sabe que, na presidência do partido, deverá substituí-lo outro líder sindical, o gaúcho Olívio Dutra. As bases do PT querem que seu presidente prossiga sendo o Lula. O documento Eleitoral Básico, que definirá o posicionamento do partido em todos os estados, afirma que “o PT deverá apresentar candidatos em todos os níveis, sempre que possível”, disse Francisco Weffort em entrevista à Folha.

O secretário-geral do PT falou do perfil do partido, dizendo que o operário de macacão não é o "logotipo" do partido. O PT teria absorvido também os trabalhadores da classe média. O discurso do partido fica mais flexível, com Weffort.

Quércia, dizendo que sua candidatura é uma condição pública e notória, encaminhará à Assembleia um pedido de licença. Havendo problema com a tramitação desse pedido, desde que a legislação vigente é turva na questão, ele encaminhará outro, solicitando autorização para ausentar-se do país.

Em seu primeiro jogo na 13ª Copa do Mundo, o Brasil ganhou da Espanha, com ajuda do juiz, pelo placar de 1x0.

Os trezentos e cinquenta participantes do Encontro Nacional do PT, ratificaram a decisão da Executiva Nacional, em abril passado, de expulsar os filiados do partido que assaltaram uma agência do Banco do Brasil em Salvador.

Ermírio continua a guardar uma definição do prefeito Jânio Quadros em prol de sua candidatura. O empresário teve um encontro pela 3ª vez com o presidente do PDT paulista Adhemar de Barros Filho. Será discutida uma coligação partidária. Se acontecer uma coligação com o PFL, o candidato à vice de sua preferência prossegue sendo Reynaldo de Barros, atual secretário municipal de Vias Públicas.

Quércia, falando do jogo do bicho, opinou que ele é uma invenção tão brasileira, que não passa por sua cabeça ver pessoas de seu conhecimento atrás das grades só porque fazem uma "fezinha" nele.

O "perigo Maluf”' voltou a ser debatido no Palácio do Planalto substituído pelo "perigo PT". Quércia constatou o crescimento da candidatura do deputado (Maluf), virtual candidato ao governo de São Paulo pelo PDS. De um lado, a Nova República que propõe a "Renovação" versus Maluf, que encarna as forças sociais mais reacionárias. O deputado é definido por políticos da área federal como sendo a representação mais atuante da "vanguarda das forças do atraso".

Forças essas que significam uma política de "retrocesso" e desestabilização da política governamental. O vice-governador de São Paulo disse ainda que “há forte resistência no PMDB a uma aliança com Jânio, porém 'se ele quiser me apoiar eu aceito de bom grado". É bom lembrar que, em política, estes apoios nunca são gratuitos. São posteriormente cobrados com juros de mora e correção monetária atualizada.

O presidente Romão Sarney no próximo dia sete, sábado, quatro de junho, participará do batizado da neta da deputada Ruth Escobar (PMDB). Ele foi escolhido pelo filho da deputada para batizar Luana. A seguir, o presidente estará presente à cerimônia de casamento da filha de Ruth, Inês, de quem também será padrinho. Na tarde do mesmo dia o chefe do Executivo se dirigirá ao Rio, onde outro casamento contará com sua presença: o da filha do general Alberico Barroso Alves.

Ulysses Guimarães, presidente da Câmara dos Deputados, sugeriu em entrevista que o candidato à presidência do presidente Romão Sarney será aquele que, segundo ele, “o Boeing não vai descer em Brasília”. Reportando-se ao candidato Antônio Ermírio de Moraes.

Quércia teria se desgastado no episódio do cancelamento da viagem de Franco Montoro à China comunista. Críticos do vice-governador afirmam que sua persistência em renunciar ao cargo desnuda seu "calcanhar de Aquiles":

“Quércia sem a máquina administrativa é como um peixe fora d'água, não sobrevive”. Notícias do Planalto esclarecem que a vitória do PT através da candidatura Suplicy é perigo maior do que Paulo Maluf. Maluf não é a verdadeira oposição, oposição mesmo é o Partido dos Trabalhadores. Para o tradicionalismo elitista da política nacional isto é inquestionável verdade. Mais um partido político vitorioso com Piratas do Caribe e dos mares do sul para dividir o butim das verbas públicas? Melhor Maluf com o qual já estão familiarizados os argonautas jactanciosos das oligarquias nacionais.

Ermírio, "El Contestador", concorda em gênero, número e grau com a opinião do Planalto. Ao responder à declaração de Quércia de que "o maior perigo é Maluf'”, e que a candidatura do empresário exibe um visível declínio, Ermírio afirmou ter aceitado a opinião: "democraticamente tenho de aceitar" (democraticamente ele poderia não aceitar).

Não concordo com uma só palavra do que ele disse, mas vou defender até a morte o direito dele dizê-las. Ermírio não é pastor, mas encomendou a alma do dr. Ulysses ao Criador, ao perguntar: "Será que o dr. Ulysses não tem o direito de morrer em paz? Ele merece isso". Eu diria que Ulysses merece é viver mais, e com muita saúde. Pra baixo todo santo ajuda, e Ermírio deu empurrãozinho neste sentido. Talvez porque Ulysses ontem tenha dito que a candidatura do empresário não é oportuna.

Em meu modo de compreender as forças políticas em jogo, a candidatura do empresário é muito oportuna sim. Por dividir o eleitorado de Maluf.

A emenda ficou pior do que o soneto quando o empresário, tentando melhorar os termos da primeira declaração disse ao repórter: "se eu estivesse para morrer não gostaria de ninguém em cima de mim".

A opinião do prof. Francisco Weffort, dirigente nacional e candidato  Constituinte, é a de que o PT elegerá 25 deputados federais em todo o país. A presença política do PT se fortalecerá em novembro. E, tudo indica, o partido terá condições de alinhar de modo mais consistente, seus princípios e seu ideário. E se transformará num partido nacional. A ascensão da classe trabalhadora via PT parece irreversível.

Antônio Ermírio, garantiu em declaração à imprensa que "não sou político mas não sou burro" e que só disputará a convenção pefelista, marcada para 20 de julho, “se houver consenso das .bases e da cúpula do partido em tomo de meu nome”. Esse consenso não haverá, pode o empresário ter certeza de que Maluf vai meter o dedo na convenção do PFL. Este partido é da mesma escola política em que o deputado foi diplomado Ph.D.

Nem o prefeito Jânio Quadro poderá mudar essa situação. Hoje ele almoça na casa do deputado federal José Camargo, com sete dos nove membros da Executiva do PFL. Será a  primeira de uma série de reuniões visando obter o apoio do PFL à candidatura Antônio Ermírio. É pagar pra ver como isto não vai mesmo acontecer.

Maluf, e não apenas Jãnio, tem o PFL na mão direita. Mais do que o apoio do PFL, Maluf soma ao crescimento de sua campanha, os não poucos apoios de políticos nas várias regiões do Estado.

Maluf soma a esses apoios aleatórios os resultados duvidosos das pesquisas feitas de encomenda para divulgar seu nome em primeiro lugar na preferência dos eleitores da capital, Grande São Paulo e do interior.

CERTO É QUE o deputado e ex-governador (ou interventor como querem alguns observadores políticos) deve ter por volta de, no mínimo, uns 60% do apoio dos convencionais do PFL. E contra este apoio ninguém pode nada. Nem o presidente da República, nem o prefeito, podem nada contra o resultado da convenção partidária pró-Maluf. Não se sabe se a propósito de suas próprias declarações, o candidato Antônio Ermírio, talvez fazendo uma auto crítica, afirmou aos repórteres em 16/04/86 que "um mudo sensato vale mais do que um tolo falante".

O vereador paulistano Brasil Vita, aconselhou prudência verbal a Antônio Ermírio. Pelo visto não foi ouvido. O deputado do PMDB piauiense Heráclito Fortes, revoltado com a língua solta do empresário, a propósito de suas declarações sobre a saúde de Ulysses, afirmou que, em sessenta dias de campanha, Antônio Ermírio já disse mais besteiras do que Ulysses Guimarães em 50 anos de vida pública. É possível que o deputado piauiense tenha razão. As declarações bombásticas e agressivas do empresário não terminariam aí, e se renovariam no concernente a candidatos ao governo de São Paulo. Diminuindo suas possibilidades eleitorais.

O show de pipas que Suplicy prometeu empinar na área de lazer do parque Ibirapuera gorou. Após vários piques inúteis ele desistiu de fazer planar as pipas com a sigla do partido em cores vermelha e branca. "A resposta meu amigo está no soprar do vento", como diria Bob Dylan. Contraditoriamente os ventos políticos sopram em favor do crescimento do PT enquanto partido político.

Não havia vento suficiente nem para as pipas, nem para a candidatura Suplicy. Também pudera, uma pipa concorrer com um Boeing, é dose pra desestimular até cooperação dos elementos da natureza. Até o vento teria contribuído, com sua imponderabilidade, no sentido de mostra ao Suplicy que não é por aí. Sua candidatura mostra todos os sintomas de que não vai mesmo decolar. Ao contrário dos sintomas de crescimento do partido político ao qual se agregou.

Era apenas falácia a hipótese de intervenção da cúpula nacional do PFL em São Paulo. Ela só poderia acontecer depois de realizada uma convenção que afirmasse a coligação com Maluf. Não haverá tempo hábil, após 20 de julho, para que seja convocada outra convenção. O prazo para convenção encerra-se a 15 de agosto, e teria de ser convocada sete dias antes, ou seja, a sete de agosto. Como existem inumeráveis recursos judiciais que seriam impetrados, o PFL paulista perderia o prazo, e ficaria sem candidato ao governo de São Paulo.

O prefeito Jânio Quadros garantiu no almoço de ontem, 6 de junho, que gostaria que o PFL estivesse unido em tomo da candidatura de Antônio Ermírio. O apoio do PMDB estaria fora de cogitações. Jânio garantiu também ter conseguido, com o presidente Romão Samey, recursos necessários para fazer grandes obras, e recuperar-se do desgaste político, e credenciar-se politicamente para dar apoio a Ermírio. Os membros subordinados da Executiva do PFL alegaram que, para uma definição do partido, teriam de esperar a volta de José Maria Marin e Nabi Abi Chedid, que ora se encontram no México chefiando a delegação brasileira na Copa do Mundo de futebol.

Sem os patrões, os funcionários ficaram indecisos. Jânio afirmou na medida que sua falta de lucidez permite, que o presidente da República, José (Romão) Sarney não quer a vitória de Orestes Quércia do PMDB porque o governador Franco Montoro fora deselegante com ele. Montoro havia combinado com Romão Sarney que o governador paulistano (Montoro) disputaria uma vaga no Congresso Constituinte.

Esta estratégia eleitoral fazia parte do projeto de estabelecer uma bancada sarneysista no futuro parlamento. Montoro desistiu de participar da ideia e, democraticamente, decidiu optar pela permanência no governo de São Paulo. Talvez, também para não ser acusado de cambalacho, por políticos e comentaristas que, por certo, veriam neste episódio político, um abrir de pernas para a candidatura de Antônio Ermírio, desde que Quércia, estaria na iminência de incompatibilizar-se com sua candidatura por motivos legais, a legislação eleitoral seria acionada, para perturbar sua indicação (de Quércia) a candidato a governador de São Paulo.

As turbulências nesse sentido teriam por finalidade definir as eleições em proveito do candidato do PTB, que, polarizando com Maluf, teria a eleição ganha nas umas em 15 de Novembro. Jânio Quadros descartou o apoio também a Maluf, não por considerá-lo inadequado ao cargo, mas para justificar a alegação de que não haveria espaço político para ele. Apoiar o petista Suplicy para o prefeito Jânio é uma impossibilidade ideológica. Ermírio estaria pontificando sozinho, único candidato com maioria garantida nas umas por faltar outro, exceto Maluf, que pudesse sair vencedor em 15.11.86. Com Quércia fora do páreo Ermírio ganharia por vários corpos de vantagem essa corrida paralela ao hipódromo da Cidade Jardim.

Dois patrões cara a cara, frente a frente. E qualquer que fosse o resultado das eleições, um patrão teria ganho. 1 patrão de patrões: Antônio Ermírio. Jânio não teria forçado a mão em favor de Ermírio por não ter a lamentar as duas gafes mais recentes do virtual candidato do PTB: as declarações a propósito da saúde de Ulysses Guimarães, presidente do PMDB, e a outra, menos recente, de exigir um "nome honrado", do PFL para ser seu candidato a vice-governador. Sugerindo desta forma que ele, Ermírio, não conhecia nenhum "homem honrado", e Jânio, por certo, também não conhece nenhum.

A declaração de Jânio Quadros, sobre o desentendimento que teria existido entre o presidente Romão Sarney e o governador Montoro, não passaria de mais uma manifestação de "delirium tremens" da parte do prefeito de São Paulo. Montoro teria ouvido do Presidente opinião favorável à candidatura Quércia em novembro de 1985, dias após a eleição para as prefeituras.

O crescimento da candidatura Maluf provoca o aumento da guerra de nervos entre os candidatos. Há a ideia de que um dos dois candidatos, do PMDB e ou do PTB, deve desistir da candidatura em proveito do candidato que tiver mais possibilidades de decidir com Maluf as eleições. É uma ideia ingênua, mas que provocou as imaginações e os delírios verbais em torno da pseudo possibilidade.

Nem Quércia nem Ermírio vão desistir em proveito um do outro. Eles estão no páreo para disputá-lo até a última possibilidade de derrotarem-se mutuamente em 15 de novembro. Nas eleições é como no carnaval: quanto mais festividade melhor. Vale salientar com todos os "efes e erres" da questão política nacional: a possibilidade de Maluf assumir o (Palácio dos) Bandeirantes, não é de modo algum incompatível com os fundamentos sobre os quais se erguem os espigões da influência e do interesse privado que dirigem a economia e regimentam a política brasileira.

Na terceira pesquisa eleitoral realizada pela Folha, entre os quatro primeiros postulantes ao governo de São Paulo, 26% da preferência do eleitorado está, no momento, com Maluf. Em 2º posto, está Antônio Ermírio com 21%. Quércia está com 20% e Suplicy com 15%.

A pesquisa fora realizada em sete e oito de junho, quando foram entrevistados 2.933 eleitores em todo o Estado. Maluf obteve um aumento de nove pontos percentuais em relação à pesquisa anterior. Quércia perdeu 4%, Ermírio 3%, e Suplicy 2%, na disputa pelo voto preferencial do eleitor. A intenção de voto neste momento é Paulo Maluf na cabeça. Ainda que previsível e transitoriamente.

Todos parecem saber, mas só agora o empresário Antônio Ermírio "descobriu a pólvora". Pólvora enquanto metáfora da declaração do empresário ontem, dia onze de junho. Disse ele que a direção do PFL paulista "tem tendência malufista'; e que compete à direção pefelista dialogar diretamente com a regional de São Paulo, acrescentando porém que não é chegado a "atos de força".

Por falar em "atos de força", a imagem mais chocante e agressiva de toda parafernália verbal de baixo nível em que se transformou a campanha, foi, sem dúvida a declaração televisiva do empresário candidato pelo PTB, que mencionou uma agressão pessoal narrada por ele mesmo  com indisfarçável júbilo.

O empresário contou que teria acertado um murro na cara de um seu desafeto, e que este murro teria causado um tumor no rosto do adversário que nem operação plástica daria jeito. É uma mostra incondicional de que "atos de força" da parte de Ermírio não são tão incomuns, e que sua aversão a eles, não é tão enfática, a considerar sua expressão de satisfação ao narrar a agressividade. Vide programa televisivo do PMDB da 3ª feira, 11 de novembro de 1986.

O lamentável episódio supramencionado, foi repetido nada menos de três vezes consecutivas, no horário televisivo gratuito do partido. De todos, o mais lamentável episódio da campanha eleitoral de São Paulo. E, por certo, do Brasil inteiro. Maluf, esforçando-se para baixar ainda mais o baixo nível da campanha, declarou peremptório, que "Montoro não resolve problema nenhum, pisa no tomate todos os dias e, no Palácio dos Bandeirantes, só nasce erva daninha".

Outro comentário carregado de malícia sobre os resultados da terceira pesquisa Folha, reza que Quércia só não foi parar no quarto lugar, porque a polícia de Salvador é muito hábil em prender assaltantes de bancos. Do PT.

ENTRE OS ELEITORES da cidade de São Paulo, Maluf está com 33% das preferências. Em relação às pesquisas anteriores, o deputado do PDS somou 15 pontos percentuais. Na Grande São Paulo, a liderança também é de Maluf que obteve nove pontos a mais que nas pesquisas anteriores. Quércia permanece liderando a pesquisa no interior com 27%, enquanto Maluf ganhou cinco pontos, e está com 20% dos votos do interior do Estado. Ermírio detém o segundo lugar com 23%, e Suplicy o quarto com 10%, três por cento a menos do que na pesquisa anterior.

Montoro fora eleito por personificar a figura anti-Maluf e agora, vejam vocês, Maluf ganhando impulso e pique na corrida eleitoral, por personificar a imagem do político anti-Montoro. As forças políticas estão divididas, apesar do PMDB e Ermírio esboçarem um namoro que todos sabem, não vai dar em nada. Cada um dos três vértices do triângulo cultivam o próprio ego: pessoal e partidário.

Ermírio quer Ermírio, o PMDB é Quércia, e o PDS, o PFL e o Maluf são da mesma escola de samba. Os três parecem dizer-se mutuamente: "Na escola em que você estudou, eu fui expulso". Os três mosqueteiros espertos, travam uma luta sem tréguas entre si. Porém, para manterem aceso o fogo dos debates, cada um deles afirma deter competência moral e ética, visando reduzir os (pseudo-e-reais-adversários) às suas simplificações e a seus respectivos "cantos de sereia".

Alguns quercistas apressadinhos e angustiadinhos, face a ofensiva malufista, chegam a afirmar "estamos fodidos" e os jornais publicam "estamos liquidados". Do lado ermirista, sugere-se que Quércia desista em favor do empresário. Isto significaria liquidar de uma vez, e para sempre, Quércia, enquanto político combativo e digno de defender as bandeiras postuladas pelo PMDB: único partido político que levanta, freudianamente ou não, o ideário pelo qual "o sacrifício" de Tancredo se defende e justifica:

Sem uma política ostensiva de justiça social, a Nova República inexiste: Tancredo e Teotônio Vilela, teriam sido heróis em vão. De que adiantariam então o fôlego e a atonalidade de Fafá de Belém a cantar as margens plácidas do Ipiranga e os seus seios que desafiam a própria morte? E o hino nacional existiria pra quem? Eu não sei o que dizer, se "meu Deus" o que fizemos nós de nossos parlamentares ou, se, ao contrário: o que os parlamentares fizeram do povo brasileiro. Parodiando Berthold Brecht, “Infeliz do país que precisa de heróis”: mortos ou vivos.

Partindo do princípio improvável de uma negociação (im)possível, haveria a remota possibilidade do mais fraco apoiar o mais forte. Porém entre forças egomaníacas polarizadas entre si, inexiste mais fraco: ambos os lados são, cada um, mais forte e poderoso do que seu opositor.

Quércia e Ermírio querem-se vice um do outro, e não há possibilidade de uma composição contra Maluf, exceto se houvesse coerência de ambos os lados em, pelo menos, argumentar neste sentido. Ermírio deveria, se menos egomaníaco, reconhecer que os serviços do PMDB prestados à democracia, valem muito mais do que os serviços empresariais que o empresário, em beneficio do Grupo  Votorantim, prestou inegavelmente ao país. Qual deles deveria ceder em nome dos ideais democráticos, a candidatura ao Governo do Estado de São Paulo?

Pela lógica, Ermírio deveria, nessa conjuntura de interesses particulares, ser o vice de Quércia. Porém, o empresário arrogante, não teve a humildade de reconhecer-se amador em política, e quis "arrebentar a boca do balão", no sentido de posicionar-se como um grande homem que estava descendo de seu trono empresarial, para fazer um favor aos políticos e ao povo, elegendo-se, incontinenti, Governador de São Paulo.

Governador por simples mostra de abuso de poder econômico, em favor de sua imagem de patrão milionário posicionado-se de político "bonzinho". "Em verdade eu vos digo" (como diria aquele anúncio cretino da propaganda televisiva), ambos os dois candidatos, e partidos, estão apenas torcendo para ver murchar as possibilidades eletivas do adversário. Ambos se querem titulares de direitos particulares que os faz ter mais proeminência política do que o outro.

O partido e o candidato que  viesse a murchar mais depressa, deveria apoiar o outro. Ermírio e sua equipe não tiveram a vidência da situação. Não conseguiram vislumbrar o óbvio, ou seja: não puderam enxergar que, hoje, o PMDB, sozinho, é mais forte que Quércia e Ermírio e Maluf juntos. Jânio Quadros, o PTB, o PFL, todos carregados e "carregados" no mesmo saco de gatos pretos estão dispostos a “azarar” a Reforma Agrária e a política econômica em detrimento dos interesses sociais mínimos do superproletário povo brasileiros.

Ermírio não se viu vice de Quércia, porque seu ego é maior e mais agressivo do que o ego de Maluf, ou tanto quanto. Um mínimo de espírito lúcido e de observação pertinente, teria situado o empresário como candidato imbatível: primeiramente se houvesse saído candidato pelo PSB e, depois, se houvesse aceito ser candidato a vice na chapa de Quércia pelo PMDB. A disposição de Ermírio em distribuir socos em seus adversários políticos, estaria melhor posicionada num ringue de Box. Quer lutar Box, vá enfrentar o Maguila.

Acontece que, numa luta entre Ermírio e o atual campeão sul-americano dos pesos pesados, não haveria quem apostasse na vitória do empresário. Nem ele mesmo. Tivesse visto com lucidez necessária suas possibilidades, teria Ermírio saído, dos eventos democráticos das eleições para governador (ou vice) de São Paulo, fortalecido sobre todos os pontos de vista. Resultado de sua arrogante falta de humildade (padrão rico não precisa ser humilde): saiu da política como entrou: órfão do apoio popular. Eletivo. Apesar dos milionários milhões de dólares gastos na campanha.

Maluf, o velho Maluf de guerra, está fazendo seu jogo político de contar estórias de carochinhas, para seu ingênuo e pasmo eleitorado: desta vez o deputado está afirmando sua convicção inabalável, de que o presidente Romão Sarney estaria a aprovar sua candidatura, intragável pelo poder do Executivo no Planalto. Maluf rouba a cena até mesmo das mentiras não proferidas no Palácio do Planalto Central.

Apesar de todos saberem que não é bem assim, nem muito pelo contrário, Ermírio declara aos 4 ventos que está aberto ao diálogo, visando novos esforços para derrotar o virtual e real candidato do PDS, o deputado Paulo Maluf. Ermírio não falou mas disse (para quem sabe ler nas entrelinhas) que, se o PMDB desistisse de lançar candidato próprio para apoiá-lo, ele (e qualquer oportunista em seu lugar), aceitaria de bom grado a candidatura peemedebista. Durma-se com um ruído destes.

O cidadão Ermírio, mal saído das hostes empresariais pretende, de uma só vez, desbancar o PMDB e um político chamado Quércia. É como se fosse o "rei da zona" (ou da Zorra) entrando invencível num "saloon" modelo "far-west" americano, e comunicando a todos os presentes, que sua vontade de onipotência deveria ser respeitada, mesmo porque ele teria o maior cacife econômico para bancar sua própria eleição. Há muito artista mocinho nesse far-west tipo "matar ou morrer".

Sobre a pesquisa na qual obteve o segundo lugar, com 21%, o empresário disse ter recebido o resultado com muita tranquilidade e humildade. É dose pra leão tanta contradição. É preciso ter estômago para escrever um livro deste. Antônio Ermírio de Moraes se recusou a conversar sobre cultura. Parodiando aquele ministro de Hitler: "Quando me falam em cultura eu puxo um talão de cheque".

Por falar em fantasma e "poltergeist", o prefeito Jânio Quadros mantém o empresário esperançoso de seu possível mais improvável apoio político. Líquido e certo é que Antônio Ermírio, Jânio Quadros, Fernando Henrique, Mário Covas e Ulysses Guimarães no mesmo barco, estaria difícil de explicar, até mesmo para os cartolas da escola de samba do crioulo doido.

Maluf acredita contar com o apoio de 80% do PFL no interior, e que só falta mesmo a convenção estadual deste partido, para confirmar o apoio à sua candidatura que, segundo ele, é irreversível. Disse ainda que não permitirá pressões em contrário da direção nacional pefelista, acrescentando "não vou deixar São Paulo ficar de joelhos diante da direção nacional do PFL." O avanço da candidatura Maluf, produziu uma aceleração na busca da definição do nome a ser indicado como o vice, na chapa Quércia governador.

Mais de 50% dos eleitores paulistas e paulistanos não sabem em quem votarão nas eleições de novembro: os indecisos somam agora 52%. A terceira pesquisa Folha corroborou estes dados.

Existe uma enorme disposição dos políticos para conversações sobre "o sexo dos anjos". Ermírio almoça com Jânio hoje, 16 de junho. Todos sabem que o PFL está mais na mão de Maluf, na proporção de 80 para 20% das bases pefelistas. O próprio Maluf já afirmara que sua composição partidária com o PFL, é simples e definitivamente "irreversível". De que adiantam as conversações entre PTB e PMDB, entre Montoro e Ermírio, se a partir do momento em que surgir a pergunta: quem retira a candidatura? Nenhum dos dois candidatos e/ou partidos, cederá um mínimo neste sentido?

Se Quércia e Ermírio são ambos candidatos inquestionáveis de seus respectivos partidos, por que a perda de tempo em conversações que, sabe-se, não terão nenhum resultado positivo? Os políticos têm todo tempo para perder tempo em emulações, conversações, badalações. Perder tempo, na falta de motivações políticas mais do que eleitoreiras, é uma característica do jogo dos candidatos por poder e influência. Está patente que entre Ermírio e o PMDB, um espera do outro, que este outro desista, e isto não vai acontecer. A força do empresário está na novidade de sua candidatura, e em ser ele uma "estrela" no universo empresarial brasileiro.

A ESTRELA SOBE e brilha nestes começos da disputa eleitoral, resta saber se a estrela subirá ao trono do Bandeirantes após 15 de novembro, e se prosseguirá atraindo para a legenda à qual pertence, parcelas ponderáveis do eleitorado de Quércia e de Eduardo Suplicy. No concernente a uma mobilização partidária, a máquina do PMDB ganha de 10 a 0 dos diretórios, cabos eleitorais e militantes do PTB.

Especula-se que os progressistas do PMDB migrariam para o PT, se o candidato petista ao governo fosse Plínio de Arruda Sampaio. As bases do PT que sofrem da síndrome "patrãopatrãopatrãopatrãopatrãopatrão" escolheram Suplicy, e não há nada mais a fazer senão especular. Os jornais prosseguiram alimentando por muito tempo seus eleitores com este cardápio indigesto: um acordo impossível de acontecer entre PMDB e PTB ou entre PFL e PTB. Ermírio prossegue como que confiando num possível "passe de mágica" de Jânio, capaz de inverter a tendência pefelista de apoiar a candidatura do deputado Maluf. "Quanta ingenuidade", diria outra vez o prefeito biriteiro.

Para confirmar a impossibilidade de um acerto com o empresário, Quércia disse nada menos que isto: qualquer eventual acordo visando uma coligação com o PTB,  depende da aceitação de Ermírio em retirar sua candidatura. Quércia pretende que seu vice seja também peemedebista. A alternativa de uma coligação entre PFL e Ermírio, estaria em que a executiva nacional do partido, tentará influenciar a convenção em favor do empresário, insuflando os convencionais a uma dissidência com a candidatura Maluf.

Os dissidentes, se houvessem, emprestariam seu apoio a Ermírio, após adesão ao PTB. Maluf definiu o empresário como sendo o candidato biônico imposto por Brasília. Como nos jogos de modo geral, neste jogo também, a melhor defesa é o ataque. Com uma só insinuação, pretendeu acertar dois adversários de uma única vez, e conseguiu. Apesar de toda camuflagem, os ministros pefelistas do Planalto tramam 24 horas por dia fazendo uma fezinha no jogo de bicho em favor de Ermírio.

Em uma coisa todos devem concordar: como explicar ao resto do país Jânio Quadros prefeito e Paulo Maluf governador? São Paulo estaria imune às conquistas democráticas, e a todos os acontecimentos mais recentes que contribuíram para o estabelecimento da Nova República. Eles de nada teriam valido para a maioria dos eleitores: Senão como motivação para se opor à permanência das conquistas pelas quais eles eleitores, teriam lutado. A mesma insatisfação dos eleitores contra o governo Montoro seria uma das causas que elegeu Jânio Quadros, e que estaria a ponto de eleger Ermírio, um dos adversários de Quércia, atual vice-governador do governo Montoro.

Neste sentido Jânio se manifestou afirmando que só um acordo entre o PMDB e Antônio Ermírio poderia evitar a vitória de Paulo Maluf. Nesta altura do campeonato, então o atual governador, considera existir 80% de possibilidade de que o empresário retire sua candidatura, em vista do que seria a iminente vitória do candidato do PDS.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 27/03/2013
Alterado em 05/11/2013


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