Textos

Patologia Docente (O Primado Do Papagaio De Pirata)
"Assim como a Filosofia começa com a dúvida, a
vida digna de ser chamada humana começa com
a ironia". (Kierkegaard)

Estou a frequentar uma academia (significado platônico) em um curso de Psicologia. Por não querer me incompatibilizar nesse texto com membros do corpo docente, e outros da administração dessa Universidade, não me atenho a um discurso generalizante sobre muitos absurdos nas relações discentes/docentes.

Desde as primeiras aulas professores fazem discursos sobre a importância da subjetividade na vida das pessoas, desde o advento do “dubito, ergo cogito, ergo sum” (“Eu duvido, logo penso, logo existo”). A frase, desculpe, caro leitor, a redundância, é de Descartes (quem é ou foi acadêmico sabe).

Na hora do discurso didático em sala de aula, é preciso ver para acreditar. Cada discurso se nutre de palavreado excessivamente redundante, independente da disciplina. O filosófico, ou o(a) docente de História da Psicologia, ou de associações disciplinares outras, tipo Antropologia, Psicologia: Ciência e Profissão, todos estão literalmente carregados de uma emoção transbordante na defesa da subjetividade.
Em sala de aula, no trato verbal com os discentes, é ver para crer:

Não há respeito (exceto aparente) pelo sujeito discente, por suas considerações pessoais, pelas interpretações de caráter particular, por suas opiniões pessoais. Algumas pessoas do corpo docente estão plenamente imbuídas de uma empáfia que chega às raias do patológico. Uma espécie subjacente de soberba, bazófia, altivez.

A vaidade e o egotismo de certos “mestres” são simplesmente evidentes no momento da correção de provas, na alusão à textualidade literal de autores citados nas bibliografias disciplinares.

O aluno da academia não possui o direito elementar de traduzir os textos originais das “matrizes” dos livros em suas próprias palavras. A compreensão dos textos livrescos, a reprodução deve ser a mais aproximada possível dos mesmos. E é sempre posta em primeiríssima primazia.

O primado da repetição literal se faz exigência da superioridade e das competências  argumentativas tipo “ipsis litteris”. Embora haja uma evidente recomendação no cabeçalho das provas de que “o professor não aceita a transcrição literal do texto em estudo”. Essa recomendação é de um cinismo aviltante ao corpo discente em dias de provas.

Por que cinismo? Aviltante! Porque sequer (acredite se quiser) os alunos podem ficar na posse das próprias provas. Isto mesmo! Acredite se quiser! O aluno paga um preço absurdo para estar numa carteira de banco acadêmico (incluindo refeições, estacionamento, mensalidade escolar, academia de ginástica, manutenção do carro, compra de livros —as xerox estão proibidas e os preços proibitivos, entre outras despesas).

E sequer a administração da Academia reconhece esse direito discente (haverá outro mais elementar?) de ficar na posse das próprias provas. Uma prova é o estabelecimento irrefutável da evidência dos erros e acertos dos discentes. Ela produz a autenticidade de seu aproveitamento escolar. Não apenas para avaliação de professores. Mas, principalmente, em relação à avaliação de sua própria subjetividade.

Deveria servir de referência ao aluno quando esse quisesse fazer valer uma consulta aos elementos não apenas subjetivos de uma prova material que avalia seu aproveitamento acadêmico objetivamente (suas respostas às questões que suscitam nele dúvidas de aprendizado). Apenas ele, aluno, pode ter condições de autoavaliação pertinente às suas falhas de aprendizagem.

Mesmo porque, numa turma onde se encontram nove ou mais dezenas de alunos, não há como cada docente avaliar cada um discente de “per se”. Suprindo-lhe as dúvidas, fazendo correções adequadas de linhas de raciocínio, orientando a lógica perceptiva da matéria (disciplina) que ministra.

A prova é uma ferramenta da maior importância, não exatamente apenas para o professor, mas, principalmente para o aluno. Tendo em mãos a prova de seu aproveitamento disciplinar acadêmico, ele, aluno, possui em mãos um documento pessoal de interesse auto-opinativo simplesmente insubstituível.

E a administração da Academia nega ao discente este direito básico de recorrer quando precisar, segundo as demandas da própria subjetividade, à autoavaliação no que ela possui de mais fundamental para a análise e apreciação de seu desenvolvimento acadêmico:

A auto-revisão de seu processo de aprendizagem através de suas provas. Que interessa muito mais a ele, aluno, do que aos professores e suas instâncias burocráticas superiores dentro da universidade.

Ou seja: o aluno paga mensalmente para ter direito ao banco escolar uma soma em dinheiro não inferior a R$ 1.500,00 (hum mil e quinhentos reais em sua totalidade) e a Academia nega-lhe o direito elementar de ficar com um documento produzido por ele mesmo, para seu próprio discernimento intelectual.

Vão para onde essas provas de aproveitamento acadêmico? Certamente serão engavetadas num arquivo de algum diretor cheio de si (possivelmente com um abdome proeminente), que a manterá numa gaveta sem outro motivo pertinente que não seja o controle mental do inconsciente coletivo de cada turma de alunos.

Exagero? Se exagero, por favor, comente este texto (não tenha medo de exercer seu direito à autonomia, à liberdade de expressão garantia da Constituição, garantida pelo Direito Civil e suas prerrogativas e direitos individuais). Não tenha medo de desenvolver e exteriorizar sua subjetividade. Gostando ou não deste texto.

Você, aluno, provavelmente, que dispensou tanto trabalho e dinheiro de seus supostamente parcos recursos pessoais para entrar nessa faculdade... Você, aluno, que possivelmente se encontra numa situação psicológica não distante do estresse. Quem sabe da estafa, não se encontra em condições físicas e psicológicas de se estressar ainda mais e (quem sabe?) se incompatibilizar com o corpo docente e seus discentes (alguns fãs e fanzocas) partícipes de uma hierarquia (kafkiana) com certeza, corporativista.

Ele, esse docente agora em pauta, p. ex., se aproveita de forma cínica e covarde das deficiências de todas as naturezas do corpo discente (financeiras, econômicas, intelectuais, sociais, políticas, culturais) para afirmar um saber que, em discurso didático, imita a voz humana. Mas que de humana e de saber, quase nada possui. Apesar do currículo que certamente cita a instituição educacional que consta entre as duzentas mais do mundo globalizado pelo futebol e pela propaganda tóxica de bebidas alcoólicas (drogas institucionalizadas).

Ontem mesmo (23/04/12) tive a comprovação do que estou afirmando, mas não pude ficar com ela, com prova ação, em mãos.

Por quê? Porque o professor alegou que a instituição à qual pertence fica com as provas engavetadas ao invés de respeitar o direito individual de cada aluno pela posse de uma prova de sua subjetividade e de seu desenvolvimento no conhecimento da disciplina.

Seus erros e acertos (do aluno) não podem servir de referência às consultas pessoais de natureza autoinvestigativa. Por quê? Certamente a argumentação de professores estará sujeita à avaliação de seus superiores hierárquicos (secretarias —a da universidade, inclusive—, burocracias kafkianas, ministérios cheios de esqueletos nos armários, entre outras).

Ao não ter argumentos pertinentes para refutar minha argumentação sobre as respostas a duas questões respondidas por mim, o professor sugeriu que ia encaminhá-las a uma instância superior (certamente de professores outros).

Evidentemente não nasci ontem. Todos sabem que qualquer comunidade de profissionais (médicos, dentistas, economistas, psicólogos, professores, atores, empresários, políticos, juízes, advogados, entre muitas outras) têm como mecanismo básico de defesa o corporativismo de classe.

Se minha prova fosse avaliada por membros da classe docente dessa instituição educacional, certamente o saber incontestável de um de seus pares jamais seria posto em questionamento. Sequer por um nano segundo. Eu teria mais um motivo de comprovação irrefutável de minha suposta ignorância discente.

Eu serei considerado, se já não sou, um aluno impertinente querendo questionar a magnífica e insubstituível sabedoria de um professor! Que é que é isso?  Onde estamos, meu Deus do céu? Em algum nicho acadêmico de país subdesenvolvido? Com uma educação criticada nacional e internacionalmente pelos organismos de avaliação de competência educacional que indicam, com unanimidade, as muito baixas taxas de competência acadêmica. Principalmente no ensino dito superior.

A Universidade de São Paulo (USP) consta no “ranking” das 200 melhores instituições acadêmicas em 178° lugar ao integrar a lista pela primeira vez. No “ranking” de 2010 não constava nenhuma universidade brasileira entre as 400 melhores do mundo. Ou talvez entre as 1000. Não sei ao certo. O Google está aí para isso. Também e principalmente.

Você desconfia por quê esse professor se acha absolutamente detentor do saber acadêmico de sua disciplina? Porque existe nessas universidades um corpo docente voltado para a contemplação fundamentalista do próprio “saber”.

“Saber” entre aspas. Não admite que os membros do corpo discente interpretem conteúdos a partir de seus próprios raciocínios e de suas próprias (por que não dizer?) deficiências intelectuais. Que deveriam, por si mesmas, justificar a criação de uma linguagem que se familiarizasse com a aquisição pertinente de conhecimentos a partir de suas próprias atribuições intelectuais. Mesmo que estas sejam semelhantes à de alguns de seus professores.

Mas, de que outra forma esses professores poderiam mostrar a seus alunos o quanto são imensamente detentores de conhecimentos que eles, alunos, ousam querer aprender? Se eles próprios (docentes) em suas por vezes muito extensas experiências acadêmicas querem sustentar esse suposto saber mostrando o quanto seus alunos são soberbamente ignorantes? Que audácia um aluno querer mostrar que sabe a matéria usando os recursos de suas próprias percepções subjetivas? Que audácia! Que pretensão! Que soberba!

Se eles, docentes, foram sempre papagaios de pirata a reproduzir conhecimentos outros sem considerar que tinham a possibilidade de desenvolvimento intelectual! Desenvolvimento intelectual? Que palavrão é este? Que país é este?

Tenho duas opções em respeito à minha subjetividade: sair desse curso onde a orientação docente parece-me muito pouco ética. Ou me submeter à perversa lobotização subjacente ao estilo de ensinar (como defini-lo? Caquético?) dessa sumidade que de há muito deveria (se ético fosse) ter solicitado aposentadoria.  

Mas o ínclito “mestre” está viciado em manter vigente sua cachoeira de palavras. Quando não um comportamento que demonstra um tédio soberbo e irreversível.

A propósito: a frase de autoria do filósofo dinamarquês Kierkegaard que serve de epígrafe a este artigo foi censurada por um dos diretores da Academia que fazia parte da banca de avaliação que censurou sua tese: “A Indicação De Uma Ética”. Comente! Valorize sua subjetividade!
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GLOSSÁRIO (Vocabulário explicativo de palavras)

Aviltante — Abjeto, desprezível, desonroso.
Bazófia — Fanfarrice, vanglória.
Caquético — Estado de desnutrição (física e/ou intelectual) profunda.
Cinismo — Desvergonha, desfaçatez, descaramento.
Corporativismo — Ação em que prevalece interesses e privilégios de um setor da sociedade em detrimento de interesses dos demais grupos sociais.
Discente — Relativo aos alunos. Que aprende.
Disciplina — Ramos de conhecimento, relações de subordinação entre professor e aluno.
Docente — Que ensina. Professores.
Empáfia — Altivez, arrogância, presunção.
Imbuído — Impregnado, embebido, penetrado.
Ipsis Litteris — Pelas mesmas letras. Textualmente.
Kafkiana — Relativo ao escritor Franz Kafka.
Lobotomia — Em sentido figurado indica incapacitação mental através de cirurgia ou outro método.
Patologia — Ramo da medicina que estuda doenças no organismo.
Per se — Por si (Fil.)
Primado — Superioridade, excelência. Primazia, prioridade, preferência.
Redundante — Excessivo.
Soberba — Orgulho, arrogância, presunção.
Subjacente — Que jaz por baixo, subentendido.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 24/04/2012
Alterado em 25/04/2012


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