Textos

A MOCHILEIRA (Thundra) VI
L  I  V  R  O      T  E  R  C  E  I  R  O

"Comparando a velocidade com que o cérebro
humano pode experimentar a vida, ela vivera meio
milhão de anos de vida humana desde seu nascimento. "
Orson Scott Card
(Orador dos Mortos)
___________________________________________________________

TRADUZINDO
O "BUTTON"
DO SÍMBOLO
DESCONHECIDO

Passaram-se vinte dias. Volto a fazer contato com Márcia. Chego num sábado às dezoito horas. O casal de filhos havia comemorado aniversário recentemente. O casal nasceu no último dia do signo astrológico de Aquário (18 de fevereiro). Stela, apesar da distância, onipresente, torna-se a figura central dos leros. Mencionei seu casamento com um americano, atual diretor de laboratórios do "Scripps Institute of Oceanography".

Mãe de uma garota de quatorze e de um rapaz de quinze anos, Stela mandou fotografias da família na correspondência.

—   Ela está ótima, comenta Márcia, olhos úmidos. As recordações da amiga fluindo das fotos.

—  Olha só o detalhe, provoco, as duas medalhas do cordão no pescoço dela: vocês duas possuem gostos parecidos.

Márcia dirigiu-se ao banheiro, foi buscar uma pinça de pelos acoplada a uma lente de aumento. Posicionou-a sobre o rosto de Stela, fotografada ao lado dos filhos e do marido. Sorriu, ao observar as gravações nas duas pequenas medalhas em forma oval que pendiam da tênue corrente de ouro em volta do esguio pescoço.

Reproduziam a imagem do Deus egípcio Horus/Falcão e da Coruja, ambas as aves nutrindo-se mútua e indivisivelmente na postura costal lombo a lombo. Na outra plaqueta, um baixo relevo oval da efígie do signo Desconhecido.

Passo às mãos de Márcia a carta de Stela. Nela inexiste qualquer intimidade que deseje preservar apenas para mim. Os próximos parágrafos são seu resumo, incluindo-se meus comentários.

Após discernir sobre a atual condição familiar e profissional, Stela afirma estar fazendo parte de uma equipe de pesquisa oceanográfica que promove estudos submarinos para um Projeto financiado pelo governo americano, promovido pela "National Oceanographic and Atmospheric Administration".

Os mergulhos são orientados na direção Norte-Nordeste. Seguem pela grande bacia oceânica até as Pequenas Antilhas, ao Sul, de onde devem retornar à Flórida. Trabalhar para o governo americano facilitou outras pesquisas paralelas de caráter mais pessoal. Abriram-se, como num passe de mágica, os canais de acesso aos arquivos informatizados da "Search for Extraterrestrial Inteligence".

De posse da chancela oficial que lhe credencia a fazer ampla pesquisa, os entraves burocráticos kafkianos caíram como castelos de carta ou areia. Agora pode digitar alguns teclados de terminais de computadores ligados em rede, no interior de salas fechadas por portas eletrônicas encimadas por legendas que advertem: SOMENTE PESSOAL AUTORIZADO. Nos parágrafos a seguir resumo as informações contidas na carta de Stela:

"Esse símbolo pertence a um alfabeto muitíssimo antigo e primitivo. Nos dias atuais é parte do idioma berbere ou camítico, privativo de pequenas tribos do Saara meridional. As duas trilhas verticais indicam as Colunas do Templo em Todas as Moradas da Mãe: O meio círculo superior representa a letra "M", de Mãe, em todas os alfabetos, de todas as línguas. A seta central simboliza o Menir ou Fálus da Criação: Ser Um, o Deus Desconhecido. A linha horizontal na base do logotipo representa os horizontes todos, em todos os planetas habitados pela raça humana no Universo. Sua tradição afirma: Somos as Mães do Templo Universal Fertilizadas pelo Deus Desconhecido.”

"Estudiosos e eruditos em lingüística confirmam que esse símbolo fazia parte do alfabeto atlante falado pelos habitantes do continente submerso da Atlântica, há doze, quinze mil anos. Segundo transcrições de hieróglifos muito antigos e de textos interditos, inacessíveis aos estudiosos modernos, restritos à Biblioteca Secreta do Vaticano, esse signo reporta-se a mais universal de todas as formas de hostilidade.”

"A hostilidade existente entre Anima (arquétipo feminino da psique do macho) e Animus (arquétipo masculino da psique da fêmea). Vale para as espécies todas de animais. Há registros de sua grafia no período paleolítico nos mais antigos fósseis humanos. Caracteriza-se pelo aparecimento de artefatos de osso e pedra lascada, desenhos e pinturas rupestres."

"A paleontologia costuma associá-lo a fósseis que indicam a época do surgimento da agricultura, sem ignorar sua Antigüidade muito mais remota. Tanto no Oriente, na região Palestina, como no Ocidente, na América, entre o décimo e o quinto milênio a.C. (O povo do outro lado do rio, mencionado pela Mochileira, é muito mais antigo).”

"Para os cabalistas árabes e hebreus, devotados ao culto patriarcal, a imagem estilizada do "M” feminino, representa a mulher do Príncipe das Trevas, Lúcifer. No primitivo berbere, coruja escreve-se "Lilith". As civilizações trogloditas eram matriarcais.”

"A Vênus de Lespurge, pequena estátua de mulher com ventre exagerado, representava o culto da fecundidade no paleolítico superior. A datação da estatueta: 20 mil anos a.C. Minerva, na mitologia latina, Deusa das Artes e da Sabedoria, entre os gregos, Palas ou Atenas, filha de Júpiter/Lúcifer semelhantes não apenas na grafia. O logotipo de Horus é um Falcão, filho de Isis (Terra) e de Osiris, (Lua). Horus descende da mais avançada civilização pós-atlântida dos tempos antigos. A civilização egípcia, tal como a troglodita, era matriarcal.”

"Osiris, apesar do caráter masculino, significa um fogo sutil e encantador. Horus, espécie de Prometeu, instruiu os seres humanos na ciência e na arte de dominar o fogo hermético, sagrado, do Espírito. Horus = Espírito. Na mitologia grega, a Coruja era a mascote da deusa Atena, geralmente relacionada à Lua. Ave noturna, possui os olhos adaptados para localizar a presa sob a fraca luminosidade do luar, não suportando a luz do Sol.”

“Para os antigos gregos, seu olhar é símbolo do conhecimento racional em oposição ao conhecimento intuitivo. O primeiro tipo de conhecimento vem da reflexão racional sobre os fatos, enquanto a intuição vem da percepção simples e imediata dos eventos.“

“As Corujas se orientam através da reflexão da luz do sol através da Lua, nunca pela percepção direta da luz solar. Na Abissínia, no deserto superior da Núbia, há cinco mil anos, construiu-se o Templo da Deusa Lunar em Allor. A Abissínia é também conhecida como sendo A Primeira Terra de Ísis."


JÚPITER
EUROPA
E A
MOCHILEIRA
"Um homem pode sentir-se tudo
menos um herói vencedor."
Marie Louise von Franz
(O homem e seus símbolos)

Stela, cientista, parece querer comunicar que o resultado total de suas pesquisas, até esse momento, ultrapassa os limites da soma de suas partes. Como se quisesse resumir a condição de interdependência e perene transformação dos acontecimentos.

Márcia prossegue lendo a carta, enquanto vejo a MTV sem som. Zerei o áudio pelo controle remoto da Mitsubishi. Facilita, neste momento, a percepção telepática das impressões emocionais sobre a leitura que ela faz da carta de Stela. Segue agora o texto, "ipsis litteris":

" Pode ser apenas uma coincidência de horários. Mas é exatamente entre 21 hs 59 m e 22 hs 10 m que o satélite Europa, do planeta Júpiter, emite diariamente sinais de onda de 21 cm de comprimento. Essa coincidência pertinente ajusta-se ao horário em que a Mochileira costumava, segundo seu testemunho, ausentar-se da barraca.”
(Seria ela uma versão atualizada da "filha de Júpiter"? Raciocino.)

"Intrigados com essas emissões de onda, os físicos Philip Morrinson e Giuseppe Coceoni, em 1959, sugeriram aos radioastrônomos da Terra, que dirigissem suas pesquisas de emissão e recepção de ondas cósmicas, neste comprimento de 21 cm. Afirmavam, através da redação de artigos editados em revistas científicas, ser ele ideal nas tentativas de comunicação entre civilizações extraterrenas com a Terra.”

"Através dos raios ópticos Laser e Maser novos métodos de comunicação são possíveis, se milhões de "joules" são irradiados por um refletor de 200 m, em onda de 21 cm de comprimento, todos os sinais emitidos desta forma vencem distâncias, a rápido prazo, de até 1000 anos-luz.”

"De acordo com pesquisas científicas atuais de divulgação restrita, tais emissões são provenientes de uma sonda espacial situada em órbita definitiva no satélite Europa. Seu objetivo: chamar a atenção dos remanescentes extraterrenos que se encontram na Terra, para determinado acontecimento cíclico catastrófico, semelhante ao que submergiu a Atlântida, há aproximados 12 mil anos."

A carta termina com Stela solicitando que eu mande uma autorização escrita, com firma cartorial reconhecida, autorizando a destruição parcial do "Button" Coruja/Falcão que precisa ser cortado em lâminas finas, para que os cientistas tenham acesso a uma pequena pedra detectada em seu interior, um diamante talvez, ou uma espécie desconhecida de mineral cristalizado.

Ela adverte que os trabalhos de laboratório não podem prescindir da destruição parcial da pedra em seu interior. Os cientistas envolvidos na pesquisa divergem quanto à metodologia científica mais adequada na investigação da estrutura cristalina interna do "button", visando causar o menor dano possível ao cristal.

Para agilizar a pesquisa, sugeriu que telefone para sua casa, e que o telefonema possa ser gravado em fita magnética. Desta forma, a autorização verbal gravada antecipa-se à autorização cartorial escrita, agilizando o início do processo de pesquisa da pedra.

Márcia pergunta ansiosa:

—   Você autorizou, não?

—   Claro, baby, que pergunta. Dê-me um motivo para negar.
Logo após essa, recebo outra carta de Stela pormenorizando os resultados da espectrometria "Mössbaum". A equipe está apreensiva, as pesquisas estão sendo realizadas à revelia. Sem autorização oficial.

—  Querido, Márcia ansiosa me espreita, não aceito dizer que você não tenha trazido essa carta para mim.


OS
MIL
OLHOS
DO
DR.
"MABUSH"

Segue-se um resumo, ao pé da letra da nova carta de Stela, afora os parágrafos mais intimistas:

"Os resultados das análises de laboratório detectaram a presença de feixes de partículas de constituição energética semelhante, mas nunca igual, aos elementos encontrados em minerais na Terra (minerais de meteoritos).”

"A quantidade mais reduzida de cargas positivas por Íon, nos minerais da liga metálica do "button", indica proveniência de ambiente original altamente redutor. Extraterreno. Não é fantástico?”

"A pesquisa está sendo efetuada num certo clima de paranóia. Exige conhecimentos científicos muito especializados. Opera-se com tecnologia de ponta."

"Nossa equipe, Levine, Widder e eu, estamos arriscando nosso futuro dentro da hierarquia do Scripps Institute of Oceanography. Pelos trâmites dos canais oficiais não conseguiríamos muita coisa. E os resultados das pesquisas com o button seriam, com certeza, considerados assunto de segurança nacional.”

"Não são poucos os riscos, mas achamos que valem a pena, se os resultados puderem contribuir no sentido de popularizar esse contato de quarto grau com Befaps (agora sei que houve). Enquanto não houver obstrução oficial de nossa iniciativa, nem pressões proibitivas, vamos prosseguir as análises, dentro de um modelo de trabalho tipo simulação heurística de eventos.”

"Todos os equipamentos de pesquisa do Scripps Institute são monitorados eletrônicamente. Temos a nosso favor a influência de meu marido, Robinson Levine (PhD em Física Teórica), diretor de laboratórios do SIO, e a excepcional habilidade de seu assistente, Peter Widder, em operar, programar e analisar sistemas informatizados. Widder é PhD em Física Molecular.”

"Ambos viveram os anos sessenta, a contracultura. Esse período permanece presente em nossos corações e mentes. Levine mantém a idéia de liberdade pessoal que transcende as exigências do rigor mortis dos regulamentos internos, das diretrizes e bases oficiais. Widder viveu a infância e a juventude aspirando a maresia das praias da Califórnia.”

"Não é à-toa que navegamos no mesmo barco. Raro encontro de mentes abertas à vivência de um conceito realmente democrático de pesquisa. As demais personagens envolvidas seguem a onda da simulação heurística de eventos raros. A gente usa ou não uma coisa chamada livre arbítrio. Minha avaliação da situação, sem querer ser mais realista do que o rei, é que é crítica.”

"Essa carta, p. ex., pode ou não estar sob censura. Como ter certeza? Teoricamente, o governo dos Estados Unidos é democrático. Mas tenho minhas dúvidas se é um governo do Povo, pelo Povo e para o Povo. Quem garante, por quanto tempo, que os testes com o button permanecerão sigilosos?”

"Estamos facilitando nadinha para os esbirros científicos a serviço da Defense Intelligence Agency S/A (para a qual prestam  serviços o FBI, a CIA e quejandos), não temos dúvida de que, mais cedo ou mais tarde vão interditar nosso trabalho, nos mantendo sob implacável investigação. Vamos torcer para, quando isso acontecer, ele já esteja concluído.”

"Acreditamos que os equipamentos eletrônicos de propriedade do governo americano são propriedade do Povo. Do Povo que jamais terá acesso a eles. Se a pesquisa do button fosse oficial, estaria definitivamente sob a égide de algum obscuro parágrafo proibindo sua divulgação. Seus resultados seriam considerados assunto altamente secreto (Only Your Eyes), como nas fábulas modernas de espionagem à 007."


"ACROSS
THE
UNIVERSE"
"OS UFOs são pilotados por um povo
que abandonou a Terra há milhares de
anos. Ele volta em peregrinação às
origens."
Einstein

Passaram-se três semanas, nova carta de Stela. Hoje sigo rumo a Boiçucanga, ao sul de São Sebastião. É onde habita Márcia. Mais precisamente na praia da Baleia, próxima a Camburi. Estaciono o carro no gramado ao lado da casa. A visão do mar claro, transparente, ao longo do que sobrou da mata atlântica.

A casa está deserta. Numa fenda ao lado da porta da varanda, a chave e o bilhete: "Volto logo, esteja em casa, querido". A condução de Márcia é uma bicicleta. Com ela vai e volta do trabalho, passeia, faz visitas.

Mudo a roupa esporte pela sunga. Vou correr pela praia, bater uma bola, se houver gente jogando. Duas horas depois escurece. Volto para casa. Aqui está Márcia: bronzeada, sorrisos, saudável:

—   A moçada está no sítio da tia Wanda em Itatibaia.

Fomos jantar em Boiçucanga, na Vila Caiçara. Afirma não saber como Stela, o marido e seu assessor, possuem coragem para arriscar suas carreiras profissionais tão bem sucedidas:

—   Se batalharam tanto pra isso, tudo que conseguiram de melhor na vida, até agora, por que por essas conquistas profissionais em jogo?

—   Eles só têm a ganhar, ao enfrentar a maré de riscos. Por incrível que pareça.

—  Não sei não, a política oficial é contrária à divulgação desse tipo de coisa: desmentem, boicotam, vulgarizam, censuram, proíbem.

—   Isso mesmo, afirmo.

—  Eles estão fazendo tudo à revelia, uma pesquisa marginal.

—  "Take it easy", baby, estão agindo dentro de uma estratégia mais ampla de probabilidades fortuitas , digo, eles são cientistas. Lembra deste detalhe.

—  Li um livro de Charles Berlitz que contava como o serviço secreto da marinha americana, empenhou-se em manter sob a rubrica "segredo de Estado" uma pesquisa sobre UFOs.

—  Estamos todos sabendo disso, acredite, concilio, a carta de Stela que tenho em mãos não chegou a mim via Correios. A mulher de um casal amigo dela, residente aqui em Sampa, trouxe a missiva, muito reservadamente.

A mulher disse ter visitado a casa de Stela em La Jolla e que, no meio de uma conversa informal sobre trivialidades, ela escreveu um bilhete solicitando que fizesse a gentileza de entregar a correspondência que tenho em mãos e que, por motivos de foro íntimo, não poderia comentar nada verbalmente.

—  Estranho, você não acha? Aí tem coisa.

—  Estranho mesmo, opino. Ela pressentiu algo, microfones de escuta escondidos, coisas assim. Compreendeu que não deveria fazer comentários verbais sobre o que estava acontecendo no momento em que recebeu o envelope das mãos de Stela. Havia até uma solicitação escrita nesse sentido.

—   Que diz a carta, indagou Márcia apreensiva.

—  Você mesma vai ler. É mais surpreendente do que as fantasias de um bom escritor de Ficção Científica.

—  O Xico, rebate ela, freqüenta seminários de ufologia e Parapsicologia em São Paulo. Levou um lero com um dos conferencistas. Como é mesmo o nome dele? O cara é muito conhecido no exterior, e um ilustre desconhecido no Brasil, exceto nos meios especializados.

—   André Carneiro, Rubens Scavone, José Carlos Paes ? Lembro em seguida que José Carlos Paes é poeta e tradutor, não parapsicólogo ou escritor de FC.

—   Sim, esse, André Carneiro. Xico contou a história do, como é mesmo o nome?

—   Paradoxo.

—  Isso mesmo, ele sugeriu uma hipnose/regressão. Poderá revelar muito mais de tudo que aconteceu no pasto em Nova Aliança após termos sidos envolvidos pela nuvem âmbar. A opinião do parapsicólogo é a de que, talvez, tenhamos sido hipnotizados para esquecer os eventos que, por acaso,  tenham ocorrido.

—  Lembro-me da sensação de estar no ventre de uma enorme baleia, mais nada. Talvez essa sensação tenha sido induzida por hipnose, é possível.

—  Esse André logo estará de volta da Suíça, confirma Márcia. As sessões de hipnose regressiva talvez revelem experiências realizadas conosco e que ignoramos. Em minha mente essa história pertence à duas décadas passadas, com uma mensagem para o século XXI. Para o futuro. Por que você não escreve um livro sobre tudo isso?

Fica o desafio: escrever um livro sobre a Mochileira. Voltamos para casa na ponta da Baleia. A impressão de que ladrões haviam revistado a residência. Gavetas mexidas, colchões fora do lugar. Discos, livros, tudo bagunçado. Deram uma geral na geladeira e até na caixa d água. Nada levaram. Que estariam buscando?

—  A carta de Stela, exclama Márcia. É possível que a tenham achado se buscaram em seu apartamento em São Paulo.

—  Você está lelé, mulher, afirmo, piscando um olho. Os filhos da mãe não encontraram ouro, dólar ou jóias, nada de valor real, por isso foram embora sem levar nada.

Num pedaço de papel escrevo as frases: "Se revistaram a casa em busca da carta ou do "button" do símbolo Desconhecido, devem ter instalado microfones de escuta".

—   Desculpe, amor, que idéia absurda a minha.

A carta está comigo, dentro do bolso interno da jaqueta. Mais tarde ela terá acesso à leitura. Saboreamos duas garrafas de vinho tinto. Conversamos sobre amenidades. Namoramos no sofá da sala e na cama. A liberação instintiva da libido sob pressão.

A empatia, identificação de objetivos. Nosso ânimo não se abateu nem um pouco com a ameaça de roubo. Estariam em busca da carta? Problema deles. Precisamos nos fortalecer. Agir dentro de uma estratégia emocional objetiva. Não conseguiram nos intimidar, se era esse o objetivo dos agressores.

A carta está comigo, dentro do bolso interno do blazer. Mais tarde ela lerá. Tudo que "eles" conseguiram foi nos advertir. Existem forças dispostas contra nós. Elas estão agindo, não é paranóia. Está em nossas mãos burlar a estreiteza de sua vigilância. L esprit d equipe.

Vamos agir em sintonia, não ficarmos indefesos. Alguém está se mobilizando no sentido de obter, à força, a carta de Stela em meu poder. Presumo que seja isso. Fomos para o chuveiro. O barulho da água caindo sobre nossos corpos serve para baratinar uma possível escuta instalada em algum lugar da casa.

Após o banho, sob os cobertores da cama, passo a Márcia o original da carta de Stela. Ela lê. Dela é o resumo a seguir:

"Não fosse a tecnologia de ponta representada pela espectrometria "Mössbauer", teríamos creditado os resultados obtidos, a erros grosseiros de análise. Ou a defeito no equipamento. O produto das operações de pesquisa de laboratório são tão inverossímeis, que, naturalmente, ajudam, por si mesmos, a manter sigilosos os testes.”

"Apesar da minuciosa seriedade com que foram efetuados os testes, por mais de uma vez , os resultados prosseguiram inaceitáveis para os padrões científicos vigentes. Somos como personagens de uma história de FC. Não estivéssemos diretamente envolvidos na pesquisa do "button", como poderíamos crer em tamanho absurdo?”

"A liga metálica do button contém minerais muitíssimos raros, outros, (pasme), inexistentes em nosso planeta. O titânio, elemento de número atômico 22, metálico, branco, prateado, leve, resistente, usado em ligas especiais, de modo algum poderia ser encontrado na fórmula (Ti3). Nem a imaginação de Spielberg e de seus roteiristas poderia chegar a conclusões fantásticas, inacreditáveis, inverosseis”:
"TAENITA, outro metal da liga, de dureza mediana. 65% níquel, 35% ferro metálico. Magnética, de coloração prateada. Maleável como se fosse ouro. Possível de ser encontrada apenas em ambiente de atmosfera muito rarefeita.”

"TITANAUGITA, piroxênio, fórmula química incomum: (Ca, Na, Mg, Fe2+, A1, Ti3+)2 [(Si, A 1)2 06].”

"NIOCALITA, Ca4 Nb (0, F)3 [(Si 04)2].”

"TORITA, Th Si 04. Mineral típico de meteoritos. Exclusivo de ambientes demasiados redutores, tal como, presume-se, seja o núcleo da Terra."

"A pedra interna dentro do button era um diamante verde, dureza dez na escala de Mohs. Límpido, totalmente livre de impurezas ou inclusões. Carbônio puro. Perfeito exemplar da mais dura e brilhante das pedras preciosas.”

"Traçada uma linha vertical e outra horizontal sobre a localização da pedra preciosa no interior do “button”, firma-se a aparência exterior de uma suástica cristã.”

Nesse contexto de acontecimentos sincrônicos, não mais me surpreendo com fatos de significação simultânea. Enquanto Márcia lia a carta de Stela, uma emissora FM transmite a melodia de Lennon & McCartney "Across The Universe". Uma empatia intensa, subliminar, com os acontecimentos que estão sendo vivenciados neste momento.

Transcrevo, em tradução livre, os versos da música.

Across The Universe
(Através Do Universo)

“Words are flowing out like endless rain into a paper cup
(Palavras flutuam como uma chuva sem fim de dentro de uma xícara de papel)
They slither while they pass, they slip away across the universe
(Deslizam, dissimulando-se através do universo)
Pools of sorrow, waves of joy are drifthing through my opened mind
(Jarras de tristeza, ondas de êxtase movem-se em minha mente aberta)
Are drifting through my open mind
(Movendo-se através de mente aberta)
Possessing and caressing me
(Subjugando e acariciando-me)
Jay Guru Dev a Om
(Glória ao Mestre)
Nothing´s gonna change my world
(Nada vai mudar meu mundo)
Nothing´s gonna change my world
(Nada vai mudar meu mundo)
Images of broken light which dance before me
(Imagens de luzes fugidias dançam em minha frente)
Like a million eyes
(Como um milhão de olhos)
They call me on and on across the universe
(Eles me solicitam através do universo)
Thoughts meander like a restless wind
(Ideias oscilam como um vento intranquilo)
Inside a letterbox
(Dentro de uma caixa postal)
They tumble blindly as they make their way across the universe
(Tropeçam às cegas enquanto fluem pelo caminho através do universo)
Nothing´s gonna change my world
(Nada vai mudar meu mundo)
Nothing´s gonna change my world
(Nada vai mudar meu mundo)
Nothing´s gonna change my world
(Nada vai mudar meu mundo)
Nothing´s gonna change my world
(Nada vai mudar meu mundo)
Sound of laughter shades of Earth are
(Sons de sombrias risadas ecoam pela Terra)
Ringing throughter my open view inciting and inviting me
(Abrindo minha visão, incitando, motivando-me)
Limitless undying love which shines around me like a million suns
(Além dos limites do amor imortal brilha em minha volta um milhão de sóis)
It calls me on across the universe
(Chamam-me através do universo)
Jay Guru Dev A Om
Nothing´s gonna change my wolrd
(Nada vai mudar meu mundo)
Jay Guru Dev A Om
(Glória ao Mestre...)
Jay Guru Dev A Om
(Glória ao Mestre...)

Márcia, mais que atenta, examina o conteúdo da carta em estado de meditação. Escreveu num pedaço de papel, reproduzindo a frase de um dos parágrafos da carta de Stela: "Quem é Thundra? Significa algo para você? Nos parágrafos originais Stela tinha escrito:

"Após os cortes em lâmina no button, e da fragmentação parcial do diamante verde na parte interna, usamos recursos simples de microscopia para ampliar a observação de seu interior. Depois de uma ampliação de 999 vezes, surge, nítido, o nome Thundra. Significa algo para você?"

—   Lembra da parábola da Mochileira sobre o "povo do outro lado do rio"?

—   Sei, e daí? Escreveu em resposta à redação de minha pergunta.

—   Do seqüestro provisório de um troglodita, dirigido por uma tripulante da nave?

—   Sou toda ouvidos.

—  Thundra, nome da starnauta que conduziu o hominídeo à nave.
Nos parágrafos finais da carta, Stela insinua que o "button" do símbolo Desconhecido e a atual correspondência devem permanecer, como nos filmes de espionagem "Only your eyes". Pelo menos até que se consiga uma maneira segura de se divulgar toda essa história, sem vulgarizar seu conteúdo.

Segundo a avaliação de Stela, há indícios de uma auditoria administrativa no SIO. A equipe que pesquisou o button sente-se vigiada de perto. É preciso popularizar esses acontecimentos, torná-los públicos. De que forma? Agora existem elementos suficientes para se superar o receio de sermos considerados como sendo "os malucos que viram o disco voador".

As evidências tecnológicas, os resultados científicos irrefutáveis das pesquisas de laboratório, efetuadas no mundialmente prestigiado Scripps Institute of Oceanography, são suficientes para nos livrar deste estígma.

A carta de Stela termina com este apelo: "Escreva a história, você, por sua vivência com a figura da Mochileira, pode fornecer uma visão mais ampla e objetiva das partes dispersas que podem vir a tornar mais claros, os elementos desse enigma. Não vacile nem perca tempo: a hora é essa."

Márcia ficou bastante excitada após a leitura da carta.

—  Tenho a nítida sensação de que estão em apuros, vaticinou. Quem revistou a casa estava à procura do button do signo Desconhecido que está contigo.

Rabisquei de volta numa folha de papel uma resposta às suas apreensões:

—  Agora fazemos parte de uma história de espionagem? O “button”, mesmo tendo um micro diamante nele incrustado não vale o risco, certo?

—  Não é valor financeiro. Se o símbolo Desconhecido estiver ligado a seitas de fanáticos guardiões de uma ordem religiosa milenar? O Oriente Médio está cheio de xiitas.

—  Estamos em plena guerra-fria? Pondero. Meu apartamento em São Paulo deve estar uma bagunça.

—   Negócio seguinte, cara, rabisca Márcia no papel. A carta de Stela é um pedido de mobilização de sua parte. Faça alguma coisa, já.

—   O que? Ir a um jornal, nem pensar. Escrever para o Itamaraty? A diplomacia dos EUA é muito mais eficaz e competente.

—  Escreva um livro, garatujou Márcia, impaciente. De alguma forma a equipe científica que pesquisou o "button", e você mesmo, estarão mais bem protegidos.

—   Dureza enfrentar os trogloditas que se julgam donos dos destinos do mundo. Lembre-se, não sou escritor.

—  Ah sim, redige a frase, subestimando minha afirmação: "O que é que você está fazendo agora?"

—   Isto é um diálogo escrito, não um livro.

—   Cai na real, cara, reage. Eles puseram em risco direitos, privilégios e vantagens profissionais numa instituição de pesquisa de elite. Agora é sua vez de fazer alguma coisa.

—  E se o que escrever não interessar a nenhum editor brasileiro?  "Ficção Científica", vão comentar, só a de autores da Europa e dos EUA.

—   Escreve assim mesmo, arrisca.

—   A história é difícil, pode ficar inverossímil, confusa.

—  Essa é uma coisa que você deve pagar pra vê, desafia ela. Não se subestime, nem banque o advogado de acusação de você mesmo.

—  Está valendo. Se um editor se interessar ou não, será problema posterior. Vou começar a escrever nessa próxima semana. Depois é depois. A gente vê como fica.

—  Não esquenta, sugere Márcia. Escreva sem censura, com sinceridade, a intenção não é faturar os leitores do Sidney Sheldon, ou os do Paulo Coelho.

—   Editor de livro quer é ganhar grana, inexiste filantropia nessa área.

—  Vamos nos concentrar nas soluções, insiste ela, não nos problemas. Não dá para ignorar a invasão de minha casa. A solução não é registrar um boletim de ocorrência. A solução é a gente se mobilizar e fazer a coisa certa.

Nesta noite fiquei pensando: se os serviços de segurança dos Estados Unidos estiverem empenhados em conseguir a posse do “button” e da carta de Stela, a qualquer momento seus agentes podem ficar mais ostensivos. Estão usando os recursos contumazes: invasão de domicílio e geral total e irrestrita.

Que virá depois? Spray paralisante? Ou uma droga intravenosa tipo pentotal (tiopental), que reduz o nível de censura consciente do Ego. Essa droga permite que, num rápido interrogatório, uma pessoa externe segredos, revele pensamentos, sentimentos e desejos íntimos. Outros compostos derivados do ácido barbitúrico provocam ação sedativa semelhante: fenobarbital, pentobarbital, amobarbital, amital, barbital: todos induzem ao sono hipnótico.

Na narcoanálise ou narcossíntese, psiquiatras e psicólogos clínicos injetam sódio pentotal ou sódio amital, em doses de 0,2 a 0,5 g em solução de 5 a 10%. O paciente em estado hipnótico transfere ao agente investigador qualquer material psicológico reprimido. Estará apto a responder, através de associações livres, perguntas, por mais capciosas que sejam as intenções do agente promotor do inquérito.

E se Stela, Levine ou Widder forem submetidos a interrogatórios à base de sódio pentotal ou amital? "Eles" descobririam imediatamente que os resultados das pesquisas de laboratório não foram apenas produto de simulações heurísticas de combinações raras, aleatórias, de processos químicos.

"Eles" sabem que o outro “button” está comigo, assim como o original da carta de Stela pormenorizando os resultados das pesquisas: as fórmulas químicas exóticas, sem precedentes, de enorme valor industrial, militar e estratégico: temas de segurança nacional.

Existem paranóia e paranóia. A análise racional da situação reforça a pertinência de uma ansiedade seletiva. Exclui total a possibilidade de delírio de perseguição. Essas coincidências estão longe de ser ilusões de punição.

Na manhã seguinte fomos à praia. Márcia conduzia o "button" do símbolo agora não tão Desconhecido, dentro de um papel impermeável, no interior de um absorvente modelo "sempre livre". A manhã está um "luar de verão". Sol aberto, calor e vitalidade.

Passamos o dia na praia. Ao mudar de absorvente Márcia posicionava o impermeável contendo o button no novo "nicho". Ao entardecer voltamos para casa. Notamos a presença constante e pouco discreta de uma camioneta modelo utilitário F-1000, com três indivíduos sempre próximos. O mesmo utilitário que desembarcou um passageiro com roupas de banho, nas proximidades de onde nos encontrávamos. Mantêm-se a uma distância aproximada de uma quadra ou cem metros.


TIO
SUGISMUNDO:
PROGRESSO
À
WOTORANGOTANGO

O grande líder da democracia americana deve estar torcendo para que seus agentes tenham êxito na apreensão deste "material estratégico". A liga é leve e sua superfície mantém a mesma aparência reluzente, sem riscos na superfície, manchas, ou indícios de desgaste. Deste material é feito o "button": duro e indeformável.

Sua evidente resistência e leveza pode ser explorada na fabricação de armamentos, na produção de aeronaves. Mesmo sabendo que os russos desativaram os serviços secretos a serviço da psicose cromagnon, da paranóia das lideranças destrutivas à "Dr. Fantástico", "tio" Sam quer estar sozinho na vanguarda das opções de comando, comunicação e controle da nova pseudoordem mundial.
Dogmas e tabus de hoje são estímulos ambientais tão modernos, como os tabus e os dogmas de há 40 mil anos passados: formas modernizadas do mesmo caráter compulsivo, irracional, herança da "grande Mãe ancestral".

Tais lideranças estão empenhadas em fazer prevalecer sentimentos de submissão, veneração ou repúdio às incorporações sobrenaturais de uma ideologia política que investe nos telescópios que fotografam outras galáxias, enquanto três em cada cinco habitantes do planeta passam fome, não têm educação ou habitação própria.

Atualmente no Brasil, um pastor, a serviço do totemismo universal, desenvolveu um discurso com forte carga afetiva de motivação anímica de arquétipos coletivos. Os sectários desse líder religioso (vampiro de almas), são motivados, aos milhares, a se reunirem em encontros coletivos em torno do totem moderno, o pastor espertalhão.

Compensam dessa forma, a desagradável, insólita, tediosa, monótona e incipiente condição de precária sobrevivência emocional, financeira, econômica, intelectual e espiritual. A carência pessoal e coletiva de afeto e sentimentos legítimos faz com que canalizem facilmente a afetividade reprimida na direção do totem religioso, moderno e oportunista.

Desta forma sentem-se amados e crêem amar alguém. As lideranças políticas cromagnon, que nas campanhas políticas eletivas fazem a mesma coisa, estão pouco interessadas em punir o vampirismo anímico e financeiro do "bom" pastor. É a "lei de Gérson" vigente: Leve a maior vantagem possível, foda-se o resto do mundo que eu não me chamo Raimundo.

É a lei do progresso e da religiosidade à Wotorangotango. Essa, a modernidade que preconizam e representam pessoal e coletivamente.


CASAL
UFOLOGISTA

SEU
RECADO
"Ninguém jamais ousou atacar a peste
emocional como princípio integral da
organização básica da humanidade.
Não há leis que protejam diretamente
o amor e a verdade."
(O Assassinato de Cristo)
Wilhelm Reich

Meia hora depois de entrarmos em casa, o carro de Xico Gorgulho estacionou na porta da residência de Márcia. A presença dele e da namorada, acompanhados de um outro casal, criou um ambiente de cordial proximidade.

O casal que acompanha Xico e a namorada, insinua-se em nossa intimidade com dedicada simpatia. Ela e ele estão na meia-idade, mas vivificaram o ambiente com sua energia transparente e adolescente. Fazem parte de uma equipe de especialistas ligados ao "Centro de Investigações Sobre a Natureza dos Extraterrenos" com sede no Rio de Janeiro.

Há mais de quatro décadas os associados do CISNE promovem seminários, conferências, pesquisas em parceria com periódicos da imprensa internacional, a exemplo das revistas especializadas "UFO" e "Flying Saucer Review", da Inglaterra.

Esse casal realmente se mobiliza no estudo de atualização sobre o fenômeno UFO. Recentemente estiveram presentes no 1o. Congresso Mundial de Ufologia, em Tucson, Arizona. Dele participaram 14 países. Marcaram presença na "UFO Expo West", em Los Angeles, Califórnia, assim como no 9o. Congresso Mundial de Ufologia Científica, em Curitiba.

Movemo-nos dentro de circunstâncias subjetivas que fazem, por vezes, de nossa realidade, um pesadelo. As ligações telefônicas DDI dirigidas à residência de Stela e Levine, em La Jolla, Califórnia, transmitem a mesma resposta gravada numa secretária eletrônica. Solicita nome, recado, telefone, e, numa voz que não é nem dela nem dele, nem dos filhos, promete que Stela ou Levine em breve ligam de volta, estabelecendo retorno do contato.

Passaram-se dias, nenhuma resposta, nem carta. Os telefones do "Scripps Institute of Oceanography" foram substituídos por novos números que, depois de identificados, permitiram que obtivéssemos novo tipo de argumentação falaciosa como resposta. A secretária atendente, instruída nesse sentido, repetia um lero lenga-lenga sem fornecer nenhuma informação que pudesse levar à localização dos três, ou de, pelo menos, um deles.

Diziam que os três cientistas estavam participando de projeto restrito de pesquisa em ambientes que, por motivos de segurança, mantinham-se isolados de contatos externos. Maneira sutil de dizer que, de alguma forma permaneciam incomunicáveis.

XICO: A família de Stela recebeu carta datilografada recente, subscrita por ela. Comunica que "está tudo normal".

EU:  Estranha normalidade, as cartas de Stela sempre foram manuscritas.

XICO: Diz que Levine e Widder estariam a serviço de um projeto restrito, trabalhando numa instalação militar subterrânea em White Sands, Novo México.

As taças contendo Almadén tinto animavam a conversa. A omissão do nome do casal deve-se à sugestão dele. A senhora "fulana" pediu para não ser nominada, da mesma forma que seu marido. Serão mencionados por "ELA" e "ELE". Motivo de foro íntimo, apenas.

Meu interesse no diálogo com o casal de ufólogos conhecido de Xico, versado em métodos científicos de pesquisa do fenômeno UFO, está em poder obter respostas sobre os procedimentos e as idéias que poderiam motivar conexões através de contatos entre humanos e ufonautas.

A ilustre presença do casal na casa de Márcia é motivada, presumo, pela possibilidade de manipular e visualizar o original do "button" do sinal Desconhecido.

ELE: O número do telefone, o endereço de vocês, com certeza se encontra em mãos dos que  investigam esse contato. Os serviços de segurança dos EUA querem apropriar-se do outro "button". Eles só vão considerar esse "affaire" solucionado, após terem-no em sua propriedade.

Houve uma quase imperceptível mudança de "nível quântico" (como explicar?) da termodinâmica PSI-ambiental, induzida talvez por um subproduto de reações somáticas de sensível e geral constrangimento.
Nem foi preciso descrever os componentes dinâmicos, sub-reptícios, de um autoritarismo de lamentável e hostil realidade. Possíveis intervenções arbitrárias, obstinadas, em minha liberdade de manter comigo, de livre e espontânea vontade, um objeto do qual sou proprietário: o outro "button".

ELA: Leo Spingkle, parapsicólogo norte-americano, afirma que certos ufonautas estão alertando a Terra, suas lideranças políticas, para a urgente necessidade de compreenderem o salto qualitativo no interior da mente coletiva dos humanos. Salto ou mutação iminente, prevista para o final da segunda década do século XXI. Das gerações passadas, pouca gente vai ter cabeça para acompanhar o novo ritmo PSI universal.

EU: Talvez mutações dirigidas há milênios, estão próximas a emergir no caráter das novas gerações, num possível desdobramento neo-original da mente "sapiens".

ELE: Há indícios de que estão acontecendo agora, aos milhões. A participação do "inconsciente coletivo" enquanto agente sincrônico de uma psicologia da "unidade indivisível" de origem interior.

ELA: "Unicidade" porque racional e mística. Wolfgang Pauli, Erich Neumann e Carl Jung afirmam em seus livros a unidade psicofísica de todos os fenômenos da vida. O inconsciente enquanto possibilidade de estar ligado a canais de comunicação micro e macro físicos. Da matéria cósmica orgânica e inorgânica.

ELE: Sintonizado com vibrações universais de alta, média e baixa densidades no ecossistema mental e físico, cósmico e telúrico.

EU: Um arquétipo é um evento sincrônico, "psicóide", e ao mesmo tempo material. Significa uma interação entre realidade orgânica e realidade inorgânica. É isso?

ELA: Sim, em termos. Está acontecendo uma tragédia social. Um holocaustro de parte da população planetária. Os sintomas tendem a se agravar cada dia mais. Matanças e chacinas nos meios rural e urbano, de minorias desprotegidas pelo poder político e econômico, cada vez mais omissos, serão em breve acontecimentos rotineiros.

ELE: Um holocausto de parcelas cada vez maiores da população do planeta, sem que se oficializem conflitos, revoluções ou guerras.

XICO: Há um genocídio de crianças, adolescentes sem escola, aposentados, indígenas, trabalhadores do mínimo, pagando para trabalhar.

MÁRCIA: Políticos fazendo discursos pró-descamisados, falando em "resgatar a dívida social", enquanto assaltam famigeradamente os cofres públicos.

ZÉLIA (namorada de Xico): A câmara vota o salário mínimo, enquanto seus membros ganham milhares de vezes o salário do trabalhador. É a sociedade estamental, aos moldes do absolutismo medieval.

ELA: E a unidade psicofísica de todos os fenômenos da vida, captados pelo inconsciente pessoal e coletivo das pessoas "sapiens", como é que fica? Neste momento, chega à minha mente consciente, sob a forma de um nítido "insight" a fala da Mochileira: "Eles ignoram que foram criados para servir não à sua raça, mas ao perene aperfeiçoamento da Mãe Máquina que, na realidade, lhes despreza infinitamente."

ELE: Um por cento da destruição da camada de ozônio, significa cem mil pessoas cegas por ano. E cinqüenta mil casos de câncer de pele. Em cinqüenta anos, se não houver nenhum agravamento da situação, o que é muito improvável, serão destruídos mais 4% da faixa de proteção dessa camada.

XICO: Se a liberação de CFC prosseguir nos níveis atuais.

ELA: 50 mil quilômetros de terras desertificadas surgem a cada ano, reduzindo as áreas de plantio de alimentos, num planeta cada vez mais carente deles.

Outra vez lembro de outra frase da Mochileira: "Vencer o ser humano, ou perder o planeta para a compulsão suicida do arquétipo cromagnon".

ELE: O complexo científico-industrial-militar está se mobilizando para investir 1 e meio bilhão de dólares, só de início, na criação da Comissão Brasileira de Atividades Espaciais (COBRAE).

XICO:  Será muito instrutivo ver um filme brasileiro chamado "Brasil Ano 2000".

ZÉLIA: Os trogloditas usam "black-tie".

EU: Os ignocratas, mauricinhos de terno e gravata, se julgam acima da lei.

MÁRCIA: "Brasil Ano 2000", vale a pena ver de novo. "Alphaville 60" também.

EU:  É uma modernidade à grande pai cromagnon, como diria Thundra.

ELA:  Thundra?

ELE : Quem é Thundra?

XICO: Grande pai cromagnon? Eu também estou por fora, cara. Vamos falar a mesma linguagem, está certo?

ELA: Sente-se uma região obscura nesta conversa. O presságio de uma revelação que apenas cintila a nível superficial. Uma secreta cumplicidade, fatos que você não sabe ao certo se revela ou não para nós.

Certo mal estar quebrou, por momentos, a harmonia ambiente. Como se houvessem interferências na comunicação subliminar, telepática, do grupo.

ELE: Em casos de contactados este procedimento é normal. Hesita-se em estabelecer um plano narrativo. Dissimula-se, como quem percorre um caminho em semi-círculos.

ELA: Não fôssemos de confiança, seu amigo não nos teria trazido para compartilhar da intimidade de vocês.

EU:  Sei, certo , é que . . . (Fiz um rápido resumo de minha convivência com a Mochileira).

ELA: Os bloqueios mentais são compreensíveis. Não é fácil falar de certos segmentos do contato. Xico falou de um parapsicólogo. . .

XICO: André Carneiro.

ELA: Promoverá sessões de hipnose regressiva.

XICO: Quando chegar da Europa, em fins de 93.

EU: A experiência no pasto em Nova Aliança, Xico contou a vocês. O nome Thundra estava impresso no “button” pesquisado pelo SIO em La Jolla. Acho que Thundra e a Mochileira são a mesma pessoa, é inverossímil, mas é isso mesmo.

Houve um certo tumulto no grupo, a ansiedade por saber mais sobre minha convivência com Amô. O lero ficou um tanto quanto flutuante, entre o realismo fantástico e a realidade, à primeira vista, algo inconsistente dos eventos.

ELA: O nome dela era apenas Mochileira ? Todas pessoas possuem nome.

EU: Não uma pessoa tão incomum. Talvez não tenha me interessado em saber. Que interesse poderia ter um nome, se haviam coisas muito mais importantes por saber. Pintou um branco quanto a esse negócio de nome. Talvez tenha sido hipnotizado para não perguntar, não lembrar, esquecer. É estranho, não sei dizer.
Em minha cabeça pintou uma ideoplasma: "De que serve substantivar a flor da pele da liberdade?"

ELE : As praias, o sol, a contracultura . . .

Apesar da pretensa aceitação de minha justificativa, e da benevolente tentativa de legitimar meus argumentos, pairou uma certa incerteza geral. Pensaram talvez que eu quisesse guardar seu nome como se fosse um talismã. Não acreditaram que fosse possível conviver com uma pessoa sem saber seu nome.

EU:  Por que a "política do avestruz" dos governos quanto a contatos ufológicos?

ELA: Não interessa aos poderes constituídos a divulgação da própria ignorância quando da manifestação de civilizações extraterrenas. Sentem-se frágeis demais quanto a uma nova mundividência que teriam de criar para explicar a origem do ser humano no planeta. As origens do ser humano, e os desdobramentos da cultura e da civilização.

ELE: Seria necessária uma nova maneira de ver o mundo, uma nova religião: não interessa aos patriarcas da mistificação a verdade sobre sua origem e desenvolvimento. O conhecimento dos mesmos direitos à educação, habitação, alimentação, à lei. À Cidadania. O mundo globalizado está em mãos dos descendentes políticos do "Reich dos Mil anos".

ELA: Os contatos com ufonautas indicam a necessidade urgente de uma mudança na disposição PSI das lideranças políticas da Terra.

EU: Esses ufonautas são mais utópicos do que Thomas Morus? Ignoram que os arquétipos que controlam a compulsão instintiva (pessoal e coletiva) que "eles" chamam de "progresso", agem e reagem dentro de uma superestrutura destinada a favorecer a corrupção?

ELE: Muitas lideranças atuais representam esses arquétipos que você mencionou. Elas se alimentam do sangue, do sofrimento, da pobreza, da ignorância, da violência que favorece a lastimável decadência da humanidade.

ZÉLIA : A política da crueldade gerenciando uma realidade de campo de concentração.

XICO: Os ufonautas querem mudar isso? Só vendo, não dá para acreditar. Mais fácil o presidente dos xiitas descamisados e seu sócio serem punidos pela "justiça", e o poder judiciário prendê-los: o impossível começar a acontecer para todo mundo ver.

ZÉLIA: Ou o pessoal do "Petróleo do Planalto" ir para a cadeia.

XICO:  Não vai acontecer, "nem que a vaca tussa".

ELE: Essas lideranças, como já dissemos, se alimentam da energia anímica amplificada, de ressonância coletiva alternada, das taras, misérias, carências, da loucura e da ignorância da humanidade.

ELA: A cleptocracia vampiriza o analfabeto, o doente, o aposentado, os descamisados do salário mínimo.

EU: Na "Odisséia", Ulisses evoca os dotes sobrenaturais de Tirésias, o adivinho, após degolar um cordeiro negro à margem de uma sepultura. Esse é o tipo mais elementar de sacrifício de sangue.

MÁRCIA: O deus de Abraão e os deuses Astecas e Maias reclamavam sacrifícios de sangue.

ZÉLIA: O padre bebe o sangue de Cristo, simbolicamente, em cada missa. Come um pedaço de seu corpo santo, como um canibal num ritual simbólico.

XICO: Desculpem, ainda não percebi como os contatos com ufonautas podem mudar essa atitude "sapiens" ampla, total e irrestrita.

ELE: Os contatos com ufonautas não mudam nada. Apenas advertem as lideranças políticas para o perigo de desperdiçar a mais valiosa matéria-prima do planeta: seus habitantes, seus semelhantes de raça.

ELA: A idéia dos contatos é mostrar a essas lideranças que depende delas a atitude de mudar. De influenciar a inversão da "polaridade compulsiva", da psicose destrutiva de seus ancestrais, seus avós de raça: seus arquétipos.

EU: Um arquétipo é um modelo básico, uma energia PSI radical, totalizante. Não comtemporiza com nada nem com ninguém. Exceto ao nível da farsa, a exemplo do presidente dos xiitas descamisados.

ELA: A noção de complementaridade PSI não está definida. Ela pode incluir a totalidade da psique. A noção de arquétipo como sendo o epicentro da psique da "modernidade cromagnon".

ELE: Não há como compreender essa totalidade, sem abandonar a compreensão dita objetiva dos fenômenos físicos da atualidade. A física clássica é um anacronismo: vê determinismo nas leis causais da natureza.

ELA: A realidade é uma "unicidade" de representação qualitativa e quantitativa, regida por leis abstratas complexas de interação social, humana. Realidade é teatro universal, acontecendo em todas as partes da aldeia Terra. É Complementaridade.

ELE: A mensagem dos "saucerianos" transcende a síntese do conhecimento científico atual mais avançado. As diferenças entre teologia, religião, ciência e política passam a inexistir, cedem lugar à noção de "unicidade". O ser humano são seus atos pessoais e coletivos, seus pensamentos, palavras e ações a todo momento, em qualquer lugar do mundo: onde quer que estejam.

ELA: As pirâmides são um símbolo dessa idéia. A "árvore da vida" presente através dos milênios. A base, símbolo de um mesmo tronco sólido. Polígono de pedra, raiz da coesão geométrica, expande a descendência humana nas direções cardinais. Do Cosmo às "moradas do Pai . . ."

EU:  Ou da Mãe.

ELA: E vice-versa.

ELE: Os primeiros instrutores, destinados a permanecer no planeta e criar as raízes de uma descendência ascensional, chegaram à Terra, após cruzar distâncias imemoriais.

ELA: Suas vidas passaram pela estreita passagem através da porta da iniciação. Foram trazidos de muito longe, condicionados a permanecer na Terra, estabelecer nela uma organização estável e permanente. Isto significava incomensurável desprendimento de suas origens cósmicas: aceitar estar confinado aos pesadelos das Trevas.

ELE: Ísis, Mãe das Trevas, não nasceu de útero terreno. Sacerdotes, membros de sua corte, cumpriam os rituais de adaptação repetindo com Ela: "Contempla O Horizonte Da Nova Morada De Teus Descendentes Com Humildade".

ELA: Osíris afirmava sua identidade nos cerimoniais de adaptação, repetindo,  com a ajuda de sacerdotes, em circunstâncias planetárias das quais não podia fugir, constrito a aceitar a sintaxe do fastidioso processo de convivência com o fenótipo rudimentar dos seres humanos: "Estranho Membro Da Família Dos Tempos, Aceita Com Enternecida Submissão, Os Estreitos Limites De Tua Filiação À Terra".

MÁRCIA: A civilização egípcia era matriarcal. O Faraó sentava-se no trono de Ísis, simbolizando uma criança no colo da Mãe Terra, da Mãe das Trevas. Não compreendo onde estão querendo chegar . . .

ELE: Contrariando a teoria "darwiniana", todos os seres emanam, originam-se, evoluem, por um processo de progresso descendente, gradativo: dos níveis espirituais mais elevados, às mais sedimentadas formas de materialização. Essa é a síntese simbólica das pirâmides: seu objetivo hermético.

ELA: Os deuses desceram ao plano denso do planeta, plantaram as "árvores" (pirâmides), estabeleceram a Fundação do Conhecimento Cósmico Global. Criaram uma descendência. Sua herança pertence a todos os povos da Terra. Fazer com que todos tenham acesso a ela é o grande medo dos políticos.

ELE:  A própria dinastia dos Faraós foi dizimada pelo Deus dos escravos hebreus. Humilhada a casa real das últimas dinastias, seus descendentes ainda hoje não aprenderam a lição.

ZÉLIA: As lideranças econômicas e políticas atuais também não. A avidez pela posse de bens materiais se adensou de maneira anormal, doentia, alucinante.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 22/02/2011
Alterado em 03/03/2011


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