Textos

Leituras De Aprendiz: A Criação De Seu Texto (IV)
2ª FASE 11ª SESSÃO
Exercício 21 (125 min)
O BARROCO: “A FIRMEZA SOMENTE NA INCONSTÂNCIA”

A tradição clássica (humanista, racionalista, universalista) e a tradição medieval (teocêntrica, sentimental, individualista) entram, no século XVII, numa fase terminal de conflito: a burguesia mercantilista X os interesses da Igreja. A luta pela autonomia em face da religião, e a reação da Contra-Reforma, que se opunha à Reforma protestante e ao racionalismo classicista.

Para garantir suas posições de arbítrio, a Igreja, maquiavelicamente, deu início à Inquisição: a “caça às bruxas”, perseguição, prisão e julgamentos burlescos, sucedidos de condenação à morte na fogueira de cientistas, filósofos, artistas, e de outras pessoas que questionavam a validade e a obsolescência de seus dogmas.

A expressão literária desses conflitos no século XVII, chama-se Barroco. O homem dividido entre o Humanismo da Renascença e o Teocentrismo medieval. Vivenciar a terra, os prazeres do corpo, a compreensão racional dos atos e fatos desse mundo X viver a sentir a precariedade da condição humana, a busca pela salvação da alma, a necessidade de Deus.

Os ideais lineares, racionais, a estética regular, plana, normativa do estilo Clássico, o equilíbrio e a compostura do Renascimento, fatos insuficientes para os espíritos mais irrequietos transmitirem a dinâmica de seu tempo. Para estes, a busca de um novo estilo de expressão alimentava experiências excêntricas, extravagantes, incomuns denominadas Maneirismo: a fase final do ciclo renascentista. A expor sua decadência. A luta dos artistas para que a arte não se dilua numa beleza (forma) sem conteúdo. Tentavam uma conciliação entre a espiritualidade da Idade Média com o realismo da Renascença.

O gosto pela complexidade era uma imposição dos questionamentos de época, em pauta no Barroco (estilo ulterior). O sentir o mundo simultaneamente em seus diversos aspectos, por vezes contraditórios, paradoxais, conduzia os artistas barrocos em direção a uma linguagem experimental, que traduzisse a conflituosa experiência subjetiva que gerou o estilo maneirista e alegórico de Gregório de Matos. Sua poesia era uma tentativa de conciliar a erudição com o uso popular da língua. Para expressar todas essas contradições, o Barroco, consequentemente, tinha de ser libertador, imaginativo, pictórico, tumultuoso, dinâmico, ilusório, contraditório e alegórico.

O Barroco sublevou a estética, a linguagem poética clássica, propagou-se em duas vertentes: O cultismo ou gongorismo (inspirado na obra do poeta barroco espanhol Luís de Gôngora), e o conceptismo ou quevedismo (derivado do poeta barroco espanhol Antônio de Quevedo). O jogo de sentidos, de palavras para traduzir sensações: cultismo. O jogo de palavras para definir ideias e conceitos: conceptismo. Destacou-se neste, a oratória barroca do Padre Antônio Vieira, naquele, Gregório de Matos (O “Boca do Inferno”).

Leitura dos textos e comentários.
Exercício 22 (reescrevê-lo em casa).
Redação final: mínimo de 30 linhas.

("PLIM-PLIM")


2ª FASE — 12ª SESSÃO
Exercício 23 (125 min)
ARCADISMO (NEOCLASSICISMO)

Do Barroco para o Arcadismo, como foi possível esse salto? Dois estilos tão diversos. De tão distintos chegam a ser opostos. O Barroco, resultado dos conflitos entre os valores humanistas e racionalistas da burguesia mercantil, em oposição ao teocentrismo famigerado do clero e da aristocracia, que abusavam de métodos terroristas para manter a qualquer preço seus privilégios e poderes.

Os árcades surgem da saturação formal barroca, das influências inusitadas da revolução burguesa. A guerra de conflitos exposta pelo Barroco foi ganha pela burguesia. Do século XVIII, do “século das Luzes”, surge a ciência moderna, o sistema filosófico que vai modificar o mundo através da técnica e da ciência (Iluminismo).

A razão enquanto base do bem-estar coletivo traduzia a postura burguesa diante dos abusos cometidos pela nobreza e pelo clero. Os árcades saem fora de todo o conflito Barroco e se refugiam na Arcádia, região mitológica onde viviam as musas, os pastores e os deuses. Mas nem sempre ficavam por lá. A luta pela prevalência das ideias e os ideais iluministas é sangrenta, e ainda não terminou.

O saber e o conhecimento representados pelos enciclopedistas Diderot, Montesquieu, Rosseau, D’Alembert, Voltaire, visava, através da propagação dos ideais burgueses de “liberdade” e “igualdade”, combater as imunidades da nobreza, numa sequência de mudanças que teve como apogeu a Revolução Francesa de 1789.

As “Luzes” chegaram a Portugal com o despotismo esclarecido do Marquês de Pombal (1750-1777). No Brasil, as ideias iluministas tiveram seu ponto mais alto na Inconfidência Mineira, cantada pelo modernismo lírico do Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles. Nele, ela retrata a atmosfera tensa que envolveu Vila Rica de março a julho de 1789, e verseja acerca da autoria das "Cartas Chilenas" e da morte do poeta árcade Cláudio Manuel da Costa.

No “Romance 26”, Cecília recria o clima da última Semana Santa dos inconfidentes: Lembrai-vos dos altares,/destes anjos e santos,/com seus olhos audazes/nos mundos sobre-humanos./(Haverá sombra e umidade/em vossas pálpebras tristes,/com o céu preso numa grade.)/(...)/Pois o amor não é doce,/pois o bem não é suave,/pois amanhã, como ontem,/é amarga a liberdade./(Gemei sobre estes Ofícios,/que eles são, transfigurados,/vossos próprios sacrifícios).

Escreva suas impressões pessoais a propósito dos ideais árcades e iluministas. Segundo sua opinião eles, nos dias de hoje, foram socialmente alcançados? A sociedade moderna conseguiu unir a razão ao caráter prazeroso e agradável da natureza?

Leitura dos textos e comentários.
Exercício 24 (reescrevê-lo em casa).
Redação final: mínimo de 30 linhas.

("PLIM-PLIM")


2ª FASE — 13ª SESSÃO
Exercício 25 (125 min)
ROMANTISMO: “EXISTE UM POVO QUE A BANDEIRA EMPRESTA/PARA ENCOBRIR TANTA INFÂMIA E COVARDIA”

O espírito romântico é definido pela “palavra-chave”, pelo “tópico-frasal”, pela “ideia-núcleo" Liberdade. Sem as limitações formais das normas de expressão e procedimentos literários clássicos. Liberdade de manifestação da subjetividade, dos sentimentos, da imaginação, da utopia, do sonho.

O romantismo é um estado de espírito. A livre manifestação da emoção do “eu-lírico” da criação literária inconformista, “subversiva”. Um desabafo, um grito de autonomia contra a longa subserviência e obediência às normas clássicas da criação.

Paralelismos entre as escolas literárias Arcadismo e Romantismo: razão/fantasia — objetividade/subjetividade — cultura grego-latina/religiosidade cristã, nacionalismo — valores absolutos/valores relativos — rigor formal/liberdade — erudição/arte popular — a natureza como cenário/identidade entre poeta e natureza — contenção e equilíbrio/paixão, sentimento, emoção — caráter convencional/originalidade — modelo clássico/invenção — elitismo/democratização.

LIBERDADE NA IDEOLOGIA BURGUESA: na visão racionalista da liberdade “todos são iguais perante a lei”. Todos são “livres” para comprar e vender mercadorias, para consumir e investir. Mas há uma tirania subliminar atuando nas instituições burguesas contra indivíduos que querem fazer prevalecer o pensamento e a literatura fora dos estreitos padrões burgueses de percepção do mundo. As regras do mercado burguês determinam as relações sociais. A “livre-iniciativa” burguesa é uma farsa. Homem livre para a burguesia é aquele que pode escolher a quem vender sua força de trabalho. E mesmo esse tipo de liberdade inexiste.

LIBERDADE NA LITERATURA ROMÂNTICA: Liberdade de imaginação, de criação original, de escrever emocionalmente sobre sentimentos e emoções. Emoções nem sempre identificadas com os ideais de “liberdade” e “igualdade” que a burguesia traiu. Os burgueses exercem a liberdade de escravizar as pessoas, de limitá-las à visões do mundo e às rotinas de trabalho, que tornam mecânicas suas ações e reações. Não há tempo hábil para o trabalhador das classes sociais abaixo da “elite”, adquirir cultura pertinente ao crescimento espiritual e intelectual.

A sociedade sob o domínio famigerado dos interesses burgueses (do sr. Mercado) é “livre”, entre aspas. A minoria de poderosos que dominam a sociedade, substituiu as fogueiras dos nobres e do clero da Inquisição, por perseguições sistemáticas e informais de seus dissidentes. Por isso a literatura romântica exercitou o escapismo, a fuga da realidade, para que fosse possível a seus autores o distanciamento vital do “racionalismo” estreito da burguesia.

Leitura dos textos e comentários.
Exercício 26 (reescrevê-lo em casa).
Redação final: mínimo de 30 linhas.

("PLIM-PLIM")


2ª FASE — 14ª SESSÃO
Exercício 27 (125 min)
REALISMO-NATURALISMO: Cenário da decadência dos valores burgueses.

Talvez seja exagero afirmar que o primeiro romance do Romantismo tenha sido D. Quixote de La Mancha. Isso porque escrito no último ano do século XVI (1600), quando o Romantismo, enquanto escola literária, ainda estava por vir. O Romantismo, escola literária, surgiu nas últimas décadas do século XVIII.

Considerado o primeiro romance realista, Madame Bovary, Gustave Flaubert (1857). O prmeiro romance naturalista, Thérèse Raquin, de Émile Zola (1867).

O emprego da prosa e a narratividade são suas principais características de estilo. A democratização da cultura fez com que fossem divulgados nos jornais (folhetim), tornando-os acessíveis à burguesia. E à pequena-burguesia.

O romance de transição realista Memórias de Um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida foi publicado no Jornal do Comércio em 1852. Em 1881, "O Mulato" de Aluísio de Azevedo inaugura a escola (Naturalismo) no Brasil.

Memórias Póstumas de Brás Cubas (obra inaugural do Realismo no Brasil, 1880) não se encaixa em nenhuma das racionalizações então vigentes na literatura brasileira. Não era um romance indianista, não havia nele nacionalismo, grandeza no sofrimento, ou estilo galante. Suas personagens populares transmitem a sensação de uma vivência sem questionamentos filosóficos. Não estão preocupadas em ostentar cultura ou fausto. Os hábitos populares da época, as transgressões, são produzidas por uma espécie de interação ambiental. Todos delas fazem parte e mutuamente se eximem e incentivam de culpa pela prática vigente dos costumes.

"Memórias" é um romance experimental. Sobre este tipo de romance Èmile Zola havia afirmado: “Ele substitui o estudo do homem abstrato e metafísico pelo homem natural, sujeito a leis físico-químicas e determinado pela influência do meio”. Para Antônio Cândido a denominação de romance "realista" é inadequada. Segundo ele, “o Realismo ocorre em todos os tempos como um dos pólos da criação literária, sendo a tendência para reproduzir nas obras os traços observados no mundo real —seja nas coisas, nas pessoas e em seus sentimentos”.

J. Aderaldo Castelo e Antônio Cândido, em "Presença da Literatura Brasileira" opinaram: “Sob vários aspectos, o romance romântico foi cheio de realismo. A ficção moderna se constitui justamente na medida em que visou, cada vez mais, a comunicar ao leitor o sentimento de realidade, por meio da observação exata do mundo e dos seres..."

"Realismo, então, não é o aparecimento, mas o desenvolvimento das tendências da observação da realidade que em nossa literatura se vinham manifestando de maneira cada vez mais acentuada, desde o começo da ficção romântica”.

O Naturalismo enfatiza o homem produto das leis naturais (biológicas). É uma espécie de ampliação do Realismo, gênero literário que busca compreender e justificar cientificamente a maneira de ser de suas personagens, via influência do meio, de natureza biológica e sociológica. As personagens surgem como efeito dessas forças pré-existentes. Elas limitam as responsabilidades de cada uma, uma vez que, ao responderem a tais influências, em casos limites, as personagens tornam-se joguetes dessas condições.

Descreva suas impressões sobre as principais diferenças existentes entre o Romantismo e o Naturalismo-Realismo.

Leitura dos textos e comentários.
Exercício 28 (reescrevê-lo em casa).
Redação final: mínimo de 30 linhas.

("PLIM-PLIM")


2ª FASE — 15ª SESSÃO
Exercício 29 (125 min)
PARNASIANISMO: “Máquina de fazer versos” —Oswald de Andrade.

O estado de subdesenvolvimento, a carência de motivações culturais, a extrema indigência espiritual, forçava os poetas e escritores brasileiros à busca dos padrões metropolitanos e europeus. Se a fonte intelectual e afetiva não estava no Brasil, restava à aristocracia responder pela arte literária nacional enquanto xerox dos modelos longínquos. Os parnasianos escreviam seus poemas como se os europeus fossem o público receptor ideal para suas obras.

Os autores consideravam suas produções altamente requintadas, como se as fórmulas e os valores importados da Europa, pudessem, de alguma forma, justificar a falta de talento, de iniciativa, como se o engenho criativo não fosse coisa nossa. Se não havia originalidade nem motivação nacional, como os parnasianos puderam se orgulhar de suas reproduções da arte européia? Se o referencial estava distante do Brasil, como se justifica a vaidade de leitores que tinham orgulho de ler o besteirol requintado dos autores parnasianos?

De que vale uma arte de “elite” inspirada nos moldes do velho continente? Desde quando o velho mundo é modelo para o novo? Essa “elite” aplicava, artificialmente, as lições européias, como se a mente do novo mundo precisasse do oxigênio, dos ares europeus. Como se o firmamento, as praias, o mar, as estrelas e o ar dos trópicos não fossem suficientes para entusiasmar o “processo de criação”, entre aspas, parnasiano.

O poeta parnasiano na realidade era um burocrata da poesia. Os poetas parnasianos deveriam publicar seus poemas no Diário Oficial, tal o comprometimento deles com a literatura acadêmica, com a ordem vigente, com a “arte pela arte”. Os parnasianos eram beatos, seminaristas fanáticos do culto da forma, dos efeitos estéticos dos castiçais dos altares bizantinos do convencionalismo estreito, hostil a qualquer inovação. Em comum com o Realismo-Naturalismo, apenas o zelo com a forma.

O único legado do Parnaso foi a paixão pelo efeito estético. O contexto social é contraditório: ao mesmo tempo que o Brasil experimenta um razoável progresso cultural com a fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1897, convive com a expansão da influência parnasiana desde 1880. O poeta parnasiano denominava-se “poeta joalheiro”. Seu negócio era o adorno, a aparência, seu ambiente de trabalho e divulgação de seus versos deveria ser a joalharia ou a perfumaria.

O parnasiano alienava-se do dinamismo diário da vida, dos costumes. Encastelava-se em sua “torre de marfim” construída com os tijolos dos castelos feudais do mundo clássico, do academicismo elitista, conservador, reacionário. Era um colecionador de rubis (falsos), limalhas e cinzéis, um ourives, um escultor marmóreo de mausoléus.

Descreva suas impressões sobre o movimento literário parnasianista. Defenda-o, ou não. Livre escrever é ter o que dizer. Diga.

Leitura dos textos e comentários.
Exercício 30 (reescrevê-lo em casa).
Redação final: mínimo de 30 linhas.

("PLIM-PLIM")


2ª FASE — 16ª SESSÃO
Exercício 31 (125 min)
SIMBOLISMO: A falência dos valores burgueses, a busca de novas realidades.

No Brasil a escola parnasiana superou a escola simbolista. Na Europa representou um avanço em direção à arte moderna do século XX. Em Portugal teve início em 1890 com a edição de Oaristos, de Eugênio de Castro. No Brasil a publicação em 1893 dos livros Missais e Broquéis, de Cruz e Souza. Nos dois países, quase que simultaneamente, o Simbolismo representa o surgimento de novas alternativas literárias, todas associadas aos movimentos modernistas. 1915 em Portugal e 1922 no Brasil.

A crítica literária brasileira opta pelo fim (?) da era parnasiana-simbolista (?) com a edição do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, em 1902. O social na literatura. A partir da narração do massacre de Canudos, Euclides da Cunha mostra algumas, das muitas razões do grande atraso social brasileiro.

O termo Simbolismo surgiu na França em 1886. Denominava os seguidores da poesia de Charles Baudelaire (As flores do mal —1857), Paul Verlaine (Poemas saturnianos —1866); Stéphane Mallarmé (“Um golpe de dados jamais abolirá o acaso”); Arthur Rimbaud (“O poeta torna-se vidente através um longo, imenso e racional desregramento de todos os sentidos”).

Simbolismo: palavra símbolo. Sugestão, musicalidade, o vago, o indefinido, o místico. A busca do “eu-profundo”. Os filósofos Henry Bergson, Arthur Schopenhauer e Soren Kierkegaard, contribuíram para a formação da base intelectual do movimento.

Bergson com a intuição enquanto forma de conhecimento. Para Schopenhauer, a realidade objetiva do mundo não passa de vontade e representação. Pessimista, acreditava que, para um ser humano escapar da alienação rotineira da vida e do sofrimento consequente, restava-lhe a produção artística. Defensor da supremacia da subjetividade, Kierkegaard via na existência humana uma metáfora da aflição e da ira.

Para os simbolistas, a arte deve ser uma síntese entre a percepção dos sentidos e a reflexão intelectual. Buscam revelar o outro lado da mera aparência do real. Em muitas obras enfatizam a pureza e a espiritualidade das personagens. Em outras, a perversão e a maldade do mundo. A atração pela ingenuidade faz com que vários artistas se interessem pelo primitivismo.

Na poesia, os versos exploram a sonoridade, os neologismos, a sinestesia, a aliteração, a assonância. As obras usam símbolos para sugerir objetos. Rejeita as formas rígidas do parnasianismo. Difere do romantismo pela expressão da subjetividade ausente de sentimentalismo.

Descreva suas impressões sobre o movimento literário simbolista. Defenda-o, ou não. Livre escrever é ter o que dizer. Diga.

Leitura dos textos e comentários.
Exercício 32 (reescrevê-lo em casa).
Redação final: mínimo de 30 linhas.

("PLIM-PLIM")


2ª FASE — 17ª SESSÃO
Exercício 33 (125 min)
PRÉ-MODERNISMO: “Terra, Homem, Luta” —(Euclides da Cunha, Os Sertões)

Entre os primeiros anos do século XX e a Semana de Arte Moderna, a literatura pré-modernista problematiza a realidade, expõe os desequilíbrios e os conflitos de natureza social e cultural. Na prosa, o regionalismo de Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto, na poesia, Augusto dos Anjos e Alphonsus de Guimaraens.

Afrânio Peixoto definia a literatura como “o sorriso da sociedade”. Política e economicamente o Brasil era representado pela oligarquia açucareira do Nordeste e pela supremacia da República-do-Café-com-Leite, os grandes latifúndios rurais de São Paulo e Minas que se revezavam na posse do poder Executivo. A República havia sido proclamada e a escravidão extinta. Acredite se quiser!

Nesse momento, há dois “brasis”: um agrário, rural, tradicionalista, conservador, reacionário, anacrônico e um Brasil emergente, industrial, urbano, em busca de capitais externos e de modernização.

A insatisfação generalizada dos profissionais liberais da pequena burguesia, do exército, do proletariado, gera uma série de atividades político-sociais: a Revolta Contra a Vacina Obrigatória (Rio, 1904), a Revolta da Chibata (Rio,1910); as greves gerais dos operários (São Paulo 1917/19), o Tenentismo, a Coluna Prestes, o Ciclo do Cangaço, a Guerra de Canudos (Bahia, 1896/97); a liderança mística do Padre Cícero (Ceará, 1911/15), a Revolta do Contestado (1912/16).

De um lado a literatura convencional, o regionalismo de salão, o intelectualismo de coquetel, Afrânio Peixoto e a “literatura sorriso da sociedade”. De outro, a literatura dos escritores Monteiro Lobato, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Graça Aranha, e o desespero radical da poesia épica e ébria de Augusto dos Anjos.

O pré-modernismo é transição entre os dois grandes momentos da literatura brasileira. O Romantismo (1836/1870) e o Modernismo (1922/1945), segundo Antônio Cândido (Literatura e Sociedade): “Representam fases culminantes de particularismo literário na dialética do local e do Cosmopolita. Ambos se inspiram no exemplo europeu. Enquanto o primeiro busca superar a influência portuguesa e afirmar a peculiaridade literária do Brasil, o segundo já desconhece Portugal, pura e simplesmente...”

Na visão destes escritores modernistas, a literatura não poderia ser uma expressão das vaidades pessoais, mas um instrumento ativo de denúncia, tornando claro as razões da enorme dívida social da classe patronal, da alta burguesia, para com o resto do país, que na visão social dessa classe, não passa mesmo de “resto”.

Em "Os Sertões" já está presente o subdesenvolvimento amplo, total, irrestrito, endêmico. A miséria estrutural de vastas regiões do país, exploradas pelas políticas do suborno, da seca, da Reforma Agrária sempre adiada.  

— Descreva suas impressões sobre a fase de transição pré-modernista. Livre escrever é ter o que dizer. Diga.

Leitura dos textos e comentários.
Exercício 34 (reescrevê-lo em casa).
Redação final: mínimo de 30 linhas.

("PLIM-PLIM)


2ª FASE — 18ª SESSÃO
Exercício 35 (125 min)


MODERNISMO: “Não sou nacionalista. Eu sou nacional” —Mário de Andrade.

1º MOMENTO: A ESTÉTICA DA SEMANA

A arte poética moderna de Mário de Andrade está plugada nos fenômenos psíquicos dos quais procede e se desdobra. A arte, por sua natureza criativa, é exibicionista. O criador da obra de arte quer conseguir a atenção das pessoas, deseja recriar nos outros as emoções de descoberta que foram pertinentes à criação. A inteligência e a vontade são o ato de criação. A criação se realiza da rememória. A inspiração é fugaz mas intensa o suficiente para motivar o ato da vontade. Poeta: alma ardente, cabeça fria.

Lirismo é igual a emoção primária. Primeiro estímulo emotivo a tocar a sensibilidade, o lirismo está infectado pela individualidade do poeta. Há necessidade de universalizá-lo. À inteligência crítica cabe a tarefa de limpar as impurezas do ímpeto de expressão e de universalização do elemento lírico. Essa é a forma como surge o lirismo, inclusive o modernista.

“A escrava que não é Isaura” é a poesia moderna. Encarcerada por ritmos preconcebidos, rimas, folhas de relva, velocinos de ouro, “sêdas, setins, chapéus”. A inteligência romantizada a tiraniza. As influências formais da futilidade. Assim como a sociedade escraviza o homem aos preconceitos, a poesia escraviza-se às influências das quais precisa sempre se libertar aquele que a quer renovada. Influências levianas.

Rimbaud, sempre Rimbaud, libertou a poesia da sujeição discursiva. Dos freios lógicos, da racionalidade que a encarcerava. No processo de criação poética passadista, antigo, clássico, a inteligência geria o ato de criação. Rimbaud limpou-a (a poesia) das ervas daninhas da sensatez formal. A árvore na qual floresce a criação poética transformou-se em meio de expressão livre, sem o cabresto do contexto passadista que a impedia (à poesia) de atingir sua melhor expressão.

O subconsciente disciplinado espontaneamente pela inteligência reproduz as distinções da magia da vida. Transpõe o mistério e a morte com o auxílio das formas gramaticais que não reproduzem exatamente o subconsciente, porque tal reprodução seria lirismo, lirismo esmaecido não é poesia.

Na poesia moderna as ideias se sucedem coordenadas ou subordinadas racionalmente, de maneira a originar melodias, palavras, frases, ( quem sabe...parágrafos), versos harmônicos de sons simultâneos: arroubos... Lutas... Setas... Cantigas... Povoar... Palavras de interação. Escritas para o conjunto sem significação isolada pertinente. Vibram em uníssono, emergem do coletivo, da interdependência das outras. A harmonia subliminar, sobreposta.

Comente as ideias acima. Escolha uma frase, duas, várias, a opção é sua. Livre escrever é ter o que dizer. E dizer, redigir. Diga. Redija.

Leitura dos textos e comentários.
Exercício 36 (reescrevê-lo em casa).
Redação final: mínimo de 30 linhas.

("PLIM-PLIM")


2ª FASE — 19ª SESSÃO
Exercício 37 (125 min)
MODERNISMO: “Tupy or not tupy: That is the question” —Oswald de Andrade.

2º MOMENTO: PERENE ATUALIZAÇÃO MULTINTERATIVA

“Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.”  (Mário de Andrade —Prefácio Interessantíssimo.)

Com a palavra Mário de Andrade (O Movimento Modernista): “O que caracteriza esta realidade que o movimento modernista impôs, é, a meu ver, a fusão de três princípios fundamentais: o direito permanente à pesquisa estética, a atualização da inteligência artística brasileira; e a estabilização de uma consciência criativa nacional (...)

Façam ou se recusem a fazer arte, ciências, ofícios, mas não fiquem apenas nisto, espiões da vida, camuflados em técnicos de arte, de vida, espiando a multidão passar. Marchem com as multidões.”

Estes três princípios foram reafirmados no Congresso Regionalista do Recife (1926), e na prosa neo-realista dos escritores nordestinos Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, José Américo de Almeida e do escritor do Rio Grande do Sul, Érico Veríssimo.

“Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Contra todos os importadores de consciência enlatada: a existência palpável da vida.” (Oswald de Andrade)

A década de 20 tinha merecido a alcunha de “anos loucos”: inquietação cultural européia, marcada pela presença do Impressionismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo, Expressionismo.

A Revolução Russa de 1917 havia acabado de acontecer. Após essas influências é natural que o fazer literário em todo o mundo tenha assimilado tais ascendências, políticas e estéticas, as quais se convencionou denominar Arte Moderna. Comum em todos esses movimentos é a sistemática oposição ao academismo, o desprezo pela norma culta, pela arte acomodada, regrada, repleta de formalismo convencional.

Os “anos loucos” culminam com o “crack” da bolsa de Nova Iorque (especulação monetária e crescimento econômico sem planejamento). No início da década seguinte as ideologias de ultradireita estavam alimentando-se da crise, o Nazismo na Alemanha e o Fascismo na Itália.

A Psicanálise, descoberta por “tio” Freud, a instância psi do “inconsciente”, foram influências definitivas ao universo perceptivo das artes. No Brasil, a realidade político-social estava sendo determinada pela II Guerra Mundial, no plano externo. No interno, pela ditadura do Estado Novo de Vargas.

Em 1928 José Américo edita "A Bagaceira", 1º romance da geração neo-realista. Rachel de Queiroz, "O Quinze". De Graciliano Ramos sobressaem-se "São Bernardo" (34), "Angústia" (36) e "Vidas Secas" (38). As obras de José Lins do Rego, ciclo da cana-de-açúcar.

Jorge Amado, a crítica ao coronelismo, exploração do sincretismo religioso, da sensualidade morena da Bahia. Érico Veríssimo escreve ficção regionalista gaúcha e o romance surrealista, com crítica aos costumes patriarcais decadentes e à ditadura militar, em "Acidente em Antares".

Comente as diferenças entre o 1º e o 2º momento do Modernismo.
Livre escrever é ter o que dizer. E dizer, redigir.

Leitura dos textos e comentários.
Exercício 38 (reescrevê-lo em casa).
Redação final: mínimo de 30 linhas.

("PLIM-PLIM")


2ª FASE — 20ª SESSÃO
Exercício 39 (125 min)
3º MOMENTO MODERNISTA: DOIS JOÕES E UMA CLARICE

O fim da II Guerra Mundial trouxe a Guerra-Fria: Estados Unidos e União Soviética representavam ideologias diferentes, antagônicas. Ameaças, perseguições, lutas de bastidores, embargos econômicos, em todos os lugares do mundo, as guerras, reais e subliminares.

Na década de 50, a da Coréia, na de 60, a do Vietnã. Nenhuma nação estava alheia ao conflito ou numa posição de neutralidade. A polarização ideológica entre capitalismo X comunismo trouxe os investimentos magníficos em ameaça de destruição nuclear do planeta. No Brasil, Vargas suicida-se em agosto de 1954.

O Terceiro Tempo Modernista ficou estabelecido entre 1945/64. Os livros de contos e os romances de Guimarães Rosa são os mais em voga. A prosa psicológica, fundamentada no período anterior, conta agora com uma brilhante continuidade, nas obras literárias de Rosa, Clarice Lispector. E João Cabral de Melo Neto.

Rosa é um “contador de causos”. Um mestre do sincretismo literário: literatura erudita e oralidade. O sertanejo do interior de Minas com falares mesclados por inclusões eruditas. O ambiente e as personagens pertencem ao regionalismo caipira das Minas Gerais.

A prosa roseana extrapola o regional, com elementos inventivos entrançados pela elaboração de um falar sertanejo no qual a inventividade mistura o mundo real às impressões mágicas do homem do agreste mineiro. Em Grande Sertão: Veredas: “O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.

“Há três coisas para as quais nasci e pelas quais dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever e nasci para criar meus filhos. O amar os outros é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o eu sobra (...)  Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca..."

"Nasci para escrever. Minha liberdade é escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo (...) Minhas intuições se tornam mais claras ao esforço de transpô-las em palavras. Ë nesse sentido, pois, que escrever me é uma necessidade (...) Tudo acaba, mas o que eu escrevo continua. O que é bom, muito bom. O melhor ainda não foi escrito. O melhor está nas entrelinhas.” (Clarice Lispector).

João Cabral criou uma poesia formal, densa e rica de alusões sociais. Passa a impressão de que não precisa de inspiração. Sua poesia é transpiração: “Um galo sozinho não tece uma manhã:/ele precisará sempre de outros galos./De um que apanhe esse grito dele/e o lance a outro; de um outro galo/que apanhe um grito de um galo antes/e o lance a outro; e de outros galos/que com muitos outros galos se cruzem/e os fios de sol de seus gritos de galo/para que a manhã, desde uma teia tênue/se vá tecendo, entre todos os galos./E se encorpando em tela, entre todos,/se erguendo tenda, onde entrem todos,/se entretendo para todos, no toldo/(a manhã) que plana livre de armação.” (Tecendo a Manhã, João Cabral)

Livre escrever é ter o que dizer. E dizer, redigir. Comente as contribuições ao Modernismo em seu 3º Momento: Dois Joões e uma Clarice.

Exercício 40 (reescrevê-lo em casa).
Redação final: mínimo de 30 linhas.

("PLIM-PLIM")


SESSÃO COMPLEMENTAR:
A DÉCADA DE 60/70: LITERATURA DE DENÚNCIA, POESIA CONCRETA
Exercício 1 (125 min)

Nessas décadas, mais que nas outras, o Brasil investiu em dependência econômica. O capital estrangeiro norte-americano começou a hipotecar os bens nacionais usando para isso a dívida externa. O processo de dependência financeiro-econômica foi semelhante em toda a América Latina. Ao hipotecar economicamente os bens de uma nação esse capital influencia, domina e controla politicamente o país.

A atuação político-econômica das multinacionais confirma a afirmação, por vezes genocida, do subdesenvolvimento. O poder político controlado pelos militares a partir do golpe de 31 de março de 1964, o fortalecimento da classe operária,  Guerra-Fria: o comando, comunicação e controle dos investimentos multinacionais com sede nos EUA.

A paranóia militar via comunistas em todas as partes. Bastava um indivíduo ter um discurso um pouco humanizado para logo ser tachado de comuna. A União Nacional dos Estudantes, que buscava uma identidade entre a causa estudantil e as reivindicações populares, foi fechada. A partir de 68 o AI-5 consolida de vez a ditadura. A tecnocracia e o militarismo se deram os braços e uniram-se em apaixonada aliança sob a tutela autoritária e vexatória do “tio” Sam. A burguesia brasileira ficou à mercê da Escola Superior de Guerra. Que, por sua vez, estava à mercê da ideologia do "National War College" dos EUA e da Escola de Estudos Estratégicos inicialmente situada no Panamá.

As redações dos jornais eram vigiadas de perto, de dentro, pelos censores do regime. Os intelectuais encontravam nos “nanicos” da imprensa, uma maneira precária de divulgar suas idéias, desde que, não poucas vezes, muitas edições eram apreendidas, e as bancas de revistas que os vendiam, não raro, eram vítimas de atentados a bomba.

O país estava sob comando, comunicação e controle da paranoia militar, da censura, da vigilância. O Secretário de Estado norte-americano dizia abertamente que a “liberdade (paranoica) é a eterna vigilância”. A psicopatologia do poder evoluía para delírios públicos persecutórios e de grandeza estruturados na propaganda anticomunista.

O neologismo “verbivocovisual” sintetiza a expressividade simultânea verbal, vocal, visual. A poesia enquanto poema-objeto: “Tensão de palavras-coisas no espaço-tempo”. Do poema. Da poesia.

A poesia concreta, experimental ou vanguardista, VISUAL, estrutura-se no espaço do poema, utilizando o verso enquanto unidade e suporte rítmico-formal.

O Plano-piloto para a poesia concreta, surgiu em São Paulo (1958), subscrito por Augusto de Campos, Haroldo de Campos (irmãos) e Décio Pignatari, posteriormente contou com a adesão de Ronaldo Azeredo e José Lino Grunewald. O grupo original formado em 1952 tinha por nome “Noigandres”. A primeira coletânea dessas poesias: “Poetamentos”.

Ao enfatizar o ritmo, tornaram-se popular os poemas “beba coca cola” e a letra da composição musical “O quê”, de autoria, respectivamente, de Décio Pignatari (1957) e Arnaldo Antunes (1986).

Na exposição de 1956, somaram-se aos poetas do Noigandres, o maranhense Ferreira Gular e os artistas plásticos Ligia Clark e Hélio Oiticica, com gavação de poemas em madeira. O  Plano-piloto considerou precursores da poesia concreta: Ezra Pound, Apollinaire,  Eisenstein, Marlamé, James Joyce, e. e. cummings. E ainda: os futuristas, os dadaístas, Oswald de Andrade, João Cabral de Mello Neto,  Webern e seus seguidores, Mondrian, Max Bill.

Livre escrever é ter o que dizer. E dizer: redigir. Escreva um poema concreto, use palavras que, para você, são fontes de tensão. Lembre que o poema concreto é um apelo à comunicação não verbal, em sua própria estrutura-conteúdo. Pode parecer complicado mas é muito simples.

Exercício 2 (reescrevê-lo em casa).
Redação final: mínimo de 30 linhas.
Leitura e comentário dos textos.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 16/10/2010
Alterado em 19/10/2014


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