Agradeço aos pais
Irmãos e irmãzinhas
Por terem participado
De minha vida enquanto
Carrancas perdidas
Almas feridas sempre
Exigentes nas tentativas
De me lobotomizar.
Minha vida e feridas
Nunca souberam respeitar
Minhas conquistas difíceis
Só fizeram mesmo esnobar
Porque nada conquistaram
Exceto o aparente simulacro
De família. Não houve amor
Entre eles, nem respeito
Próprio e próximo. Os mútuos
Humores não chegaram a
Sentimentos e multiplicaram-se
Em rancores: rotina de surtos
Foram tão pródigos em querer
Sempre me ver abaixo da linha
De suas aparências aparentes
Que mais nada restou das relações
Exceto as personas dementes?
Herança dos ancestrais nada
Mais que atavismos vivos
Vindos de muito longe
Sobrevivência, falavras:
Bom dia, boa tarde, a boa noite
Australopitecas. Afeiçoaram-se
Apenas às penas das aparências
O gestual coletivo afirma antigos
Medos e segredos ativos, ritos
Financeiros de sobrevivência
Aonde esconderam os valores
Que não se guardam nos
Cofrinhos? Por que permanece
Oculta a sede imperecível de
Justiça? Emparedada atrás
Do financiamento ávido do
Apartamento. Agradeço-me
Ter me dispersado em meu
Distanciamento. As paredes
De seus apertamentos estão
Cheias de esqueletos
Emparedados nos enredos
De seus quartos descendentes
Comem até o infarto os
Sacos de sucrilhos no café
Da manhã o romantismo
Brega. Os clássicos de RC
E os dos filhos de Francisco
Soriano: uma cultura de
Resguardo no horário nobre
A encher-lhe os anos de rugas
De pulgas, de ácaros. O medo
Os impulsiona rumo às
Mercadorias do supermercado
Em decomposição. E o medo
Sempre insiste em aparecer. A
Próxima crise há de ser amanhã
De manhã. A busca do ouro
Acabou com os sonhos. Eles
Agora se resumem em casar
A Marieta com o Agostinho.
Fazer o Zezinho passar no
Vestibular. Sei da vida misera
Que me quiseram fazer
Compartilhar. Meu mérito em
Torna-la digna. Isso não
Perdoam. A si mesmos. Alguém
De vs vai renunciar a fazer parte
Da família do medo, do ódio
E da ansiedade? Tudo de brinquedo
Tudo de verdade. Todos clientes
Semisemoventes na sala interativa
Multimídia de jantar. Personagens
Logomarcas: Priscila, Max,
Vó Naná: amigos do peito da sala
De estar. Na corte da Globomarca
Na corte da Dinamarca: Marcelo,
Horácio, Laerte, Ofélia. Lady Kate
Mulher do Rei da Zorra. E os
Fantasmas tentando alertar Hamlet
Para a dignidade do reino restaurar.
Sozinho, sua fala não quer calar
O mar vai se abrir para o povo da
Tv fazer passar?