Textos

Há De Ver Ten Cia
Cuidado garota bem cuidada
Para você não pisar na bola
E terminar terminal
Devorada pelos sonhos
A matéria do agir age
Através deles

A matéria do sonhar
A matéria estelar
É feita de cosméticos e pelos
Aparências, pincéis, sobrancelhas
Espelho

As centelhas dos sonhos, sorrindo
Tem força. Principalmente quando
Parece que você está dormindo

II
Atenção você que pensa
Poder estar sempre em fuga
Sua tez adolescente
A face viçosa sem rugas
Simples e comezinha. Amanhã
No canto dos olhos
Visualizas um pé de galinha

De que vale dizer
Estar mais jovem e conservada
Que seu formol é melhor
Protege-lhe mais do sol
Que o de sua vizinha

III
Talvez estejas longe
Estando aqui dia a dia
Pedes que todos te vejam
Complacente e vadia

IV
Esse seu olhar que tudo ver
Não consegue se mirar
Sua impetuosidade aparente
Seu coração de Dama de Paus
Seus grandes lábios quentes
Em busca de vicejar
Mas a grande noite da mente
Traz surpresas inusitadas
Ninguém te dirá a palavra
De verdade que em te calou
Há sempre alguém a negar
Desfiando, disfarçando, puxando
O fio do tapete em que você voou

V
Você finalmente verá
O lado negro do amor
Não restará um fiapo
O vestido de princesa
A aparência de um trapo
O sapato de cristal
Quebrou. Você não sabe: por quê?
O pára-quedas não abriu
Para sua sorte ou azar
A superfície das águas
Em funil aparou as aparências
Sua queda livre não tem fim
Você não sabe nadar muito bem
Ainda assim você sorriu

VI
Felizmente a praia não estava longe
Você vislumbrou um castelo de areia
Agarrou-se desesperada nas vestes
Distantes do Visconde de Sabugosa
Ex-Marquês de Sade
Seu príncipe metamorfoseou-se
Num lindo sapo de Jade
Atordoada você correu
Semelhante a Alice mergulhou
Num simples saco de gatos
Como se fosse personagem de livro
Lewis Carrol ou Monteiro Lobato

VII
A venturosa volúpia
Te salvou do medo alado
Da morte. Provisória,
Você se rendeu ao chamado
Do eterno-feminino
Desta vez você abriu uma porta
E por sorte todos os seus medos
Calaram-se. A juventude perdida
A autobiografia não-escrita
Os anos de aprendizado.
As forças telúricas
Sombrias te aspiraram.
O nariz entupiu e ainda assim
Você não despertou
Desse pesadelo danado
Você falou de lábios calados.

VIII
Essa viagem não termina nunca?
A mulher se perguntou
Já não tão chegada aos sonhos
Você fez de conta que despertou
Não mais sonhar seria a salvação
A realidade por sua vez refúgio
Insuportável. Lavoura arcaica,tesão
Em meio à plantação de fungos
O bicho da seda perecível
Como se num prato de feijão
Saciou-se da saga das bruxas
Das histórias de fadas. Calaram
As mágoas no fundo do coração

IX
Os anos de peregrinação
De algum modo te afastaram
De seu mais imo âmago
Você adquiriu alguma autonomia
Você se tolerou o gosto amargo
Terceirizou a possibilidade
De viver em harmonia
Desistiu definitivamente
Refutou a obra-prima
A paisagem perdida
A meia-idade em seu interior

TEN
Emergiu da noite profunda
Da maturidade. Se adaptou
Desistiu de estar sempre tensa
De seus sonhos de intensidade
Quis fechar o livro do desassossego
Mas já era muito tarde
E você terá de lê-lo até o fim
Dos tempos. De seu tempo
Até o último dia do extertor
De seu extremo, final, decisivo
Atual e único aniversário.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 25/04/2010


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