Textos

Domingão Da Velocidade
Como é difícil construir
A própria casa emocional
Um lugar onde consiga
Sentir-se bem e à vontade.

Aonde haja um espaço mínimo
Possível de exercitar um pouco
De verdade. O éden era apenas
A afirmação da naturalidade.

Não é fácil edificar
Adequar a identidade
À despersonalização
Das pessoas ao lado
Preocupadas com
Dinheiro, aparências
Apenas, e vaidade.

Se quiser criar essência
Vai ficar ilhado e só
Somente os disfarces
Se fazem valorizados
Nessa dança de rondó
A ilusão, a jactância
A ficção sentimental
Cantadas pelas bandas
De rock hip-hop forró.

As carências prosperam
Nas arquibancadas coletivas
A emoção das galeras
Nunca está nelas
A alegria e a dor
Mas nos pés a manejar
A bola, na ansiedade do
Especulador, no piloto
Que acelera muito aquém
Do Bojador.

Que vale uma emoção
Que depende do resultado
De um jogo de números
Quais? Sorteados na Caixa
Econ. números Federais?
Vc sabe quem foi ao pódio
Depois de acelerar mais?

A massa amassa o pastel
Do Felipe Massa. Vantagem
Regozijar-se com a condição
De outros? Renunciar a realizar
A própria identidade. E tudo o
Mais vai como se fosse de outro
E tudo mais vai de mal a pior
As distorções não tem mais fim
Tudo vem de fora nada há a
Preservar um valor, um sorriso
O não-ser não tem mais fim.

A modelito reproduz seu rosto
Na passarela de asfalto a galera
Está torcendo de salto alto
Valorizando o jogador de bola
O corredor que mais acelera
O desfile das Ferraris, os bólides
McLaren, a Williams no pit-stop
Vaidades como tenazes aceleram
Aferradas ao resultado do voo
Concentradas no placar do jogo
De futebol. As galeras tontas
Celebram os gols.

Quanta “emoção” entre aspas
Ao alcance do ingresso. A mente
Cheia de problemas, os filhos
Cheios de dedos, a mulher de
Guarda, guarda os segredos
As imagens passam na passarela
Da tvvisão o Zeca Pagodinho
Chama a todos para a cerveja
E o samba com moderação.

E tudo é festa. O Felipe Massa
Ganhou a corrida do domingão
Seu time continua no páreo entre
Os dez mais do brasileirão.
Seu dia a dia emocional continua
Na terceira margem do rio virtual
Fugindo da própria história
Por não ter como fazê-la real.

2ª vais jogar na loteria esperança
Nos números que se consumiram
Com a idade. Você sabe: se um
Dia ela acabar não terás mais nada
A vontade se diluiu na torcida por
Terceiros. Vestiste a camisa das
Tardes vazias, gestos rudes sem efeito
O coletivo colecionou os berros, sua
Fanfarra. O pavio não mais acende
De outro jeito. A vida governada
Pela dor não pode mais manter-se
Invisível. Sorrir, só quando biritado
Ninguém vai crer em seu delírio
Agitado. Seu dia a dia cada vez
Mais fragmentado festeja os ganhos
Rituais do salário. O Natal vem aí
Mais 30 dinheiros no 13° ágio.

A vida solitária esquiva-se insone
Os livros que você nunca teve
Tempo de ler. Nem mais terá
Até que alguém, num átimo
Com gestos algo ligeiros
Comprará flores para seu leito
De Procusto derradeiro.

Não houve vontade nem tempo
De ler. O bardo William, sei,
Passou o pires da dramaturgia
Em vão diante de seus olhos. A
Memória nos corações e mentes
De seus descendentes não se
Avivará por ti nem no dia de
Finados. Nenhuma célula ou
Neurônio, de domingo a sábado
Uma pessoa quis lembrar-se
De você e sem querer, no fim
Do dia as rosas do buquê
Comprado ficaram murchas
Por alguém foram esquecidas
No banco detrás do carro.

Que sentimento pode prosperar
Das carências coletivas? Sua
Mulher nesse Natal vai comprar
A modelito de salto alto nas
Lojas Americanas. Aquela, que
Desfila nas passarelas divulgando
Vaidosa vulgaridade. Sua filha vai
Passar parte da infância a ninar
A boneca, figura de linguagem
Da prostituta Barbie.

E sua próxima neta terá o nome
Chique de Diana, Sicrana ou
Caroline? E quando crescer
Vai querer ser o quê? Com a
Educação que teve certamente
Há de se orgulhar do shortinho
De praia, da blusa tomara que
Caia, do sapato salto alto
Das sandálias havaianas
Com direito a desfile nos finais
De temporada. Agito de fim de
Semana. Os pilotos baterão
Palmas e elegerão a mais eficiente
Adolescente, garota mais badalada
Dos "psyco motéis" seus programas.

Um dia teu descendente
Olhará para a paisagem
Distante de teu passado
E verá nesse luar remoto
A mãe de todas as raças
Os filhos de todas as tribos
O álbum de família com tua
Foto na sala de jantar
A tvvisão escola do lar
Trovão, árvores, raios e rios
O controle remoto a ligar
E todas as coisas dessa sua
Cultura sem essência: Pedras
Jogadas em telhados de vidro
Os gols motivos de tantos
Atritos. Xuxas e outras marias
Dos periquitos, rainhas dos
Pratos quentes das massas
Receitas das massas de trigo
Canções e danças, os frutos
Passados dessa Terra de Obama
Tudo o mais que existiu gratuita
Mente como a passagem dessa
Chuva, sua irrisória inexistência
No emprego, no estádio, no
Autódromo, na sala, na cama.

Quem justificará esse futuro
De fardos? Essa vida, esse
Registro, essa foto estilo
Laser painel de Holograma?
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 25/04/2010
Alterado em 23/07/2011


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