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Análise Estrutural De Duas Poesias De Decio One
POEMA, UMA INSTÂNCIA SUBJETIVA

Nos gêneros literários estão presentes os modelos abstratos. O ponto de partida das funções e relações estruturais é a noção de modelo comparativo a partir do alopoema escrito, objetivado através dos versos.

A análise estrutural parte do concreto para o abstrato. E chega de volta novamente ao concreto. A primeira etapa do método estrutural se desenvolve no plano indutivo, na comparação das estruturas criadas com base no conceito de modelo.

O Estruturalismo nasce do encontro de dois caminhos: o indutivo e o hipotético dedutivo. Ele (Estruturalismo) representa uma síntese da tensão dialética entre empirismo e idealismo, numa espécie de interdependência solidária.

O conceito de estrutura não é sinônimo do de sistema, desde que toda estrutura presume um sistema realizável de referências. A estrutura é a condição indispensável para a existência do sistema.

Os estilos de época (diacrônicos) estruturam os modelos de relações sincrônicas. A criação de uma poesia, historicamente, precede a representação simplificada do objeto, do modelo, assim como a "parole" antecede a "langue".

A partir do alopoema (do poema "para fora", objetivado, criado, escrito, editado), é possível compará-lo com outros poemas. Cada modelo novo é uma evolução no plano diacrônico da criação de poesias, por força de uma superação, no tempo, da inovação no plano sincrônico.

A estrutura linguística distingue-se da estético-literária. Esta, é transmitida através da linguística. Desta dupla estruturação surge o conceito de fenômeno literário, ou seja: o interesse científico suscetível de descrição e explicação. Através da estrutura linguística se transpõe a estrutura literária. Cria-se uma semântica estético-literária, uma maneira peculiar de cada poeta definir o discurso poético, espécie de extensão da semântica linguística.

Segundo Hjelmslev, a linguagem literária constitui um sistema semiótico secundário (sistema semiótico conotativo). Ele utiliza como significante, um sistema semiótico primário que é o sistema linguístico.

Ora, se vamos interpretar um texto, o conhecimento apurado, se possível perfeito, do sistema linguístico ao qual pertence um texto literário, é essencial para a interpretação desse texto.

A linguagem de um texto independe apenas de um código exatamente linguístico, inclui em sua interpretação, um código estético-literário, afirmando-se, através dele, um código linguístico de qualificação e de princípios específicos.

Bloomfield excluía do campo da linguística o estudo da língua literária assim como o estudo da semântica: seu posicionamento mecanicista (redução de um sistema a determinações mecânicas) o exigia. Sapir, dizia que a linguística devia incluir o nível semântico da linguagem, incluindo-se problemas da língua literária.

Os linguistas que afirmam o pensamento de Sapir, ao se introduzirem nos estudos semânticos e literários, se distanciam dos métodos linguísticos, tais como os da psicologia e os da estética. A linguística, até hoje, não apresentou uma teoria estrutural definitivamente consistente do significado literário ou da semântica.

A fonologia, a partir do Círculo Linguístico de Praga (Trubetzkoy, Roman Jakobson no comando), incluiu a morfosintaxe, ramificações da ciência da linguagem, nos domínios da semântica, onde os elementos extralinguísticos são como que intrusões inaceitáveis à semiótica.

Semiótica: estudo das mudanças, no tempo e no espaço, da significação das palavras. Estudo da relação de significação nos signos, e da representação dos sentidos dos enunciados.

A opinião de Merleau-Ponty defende que a ciência e a cientificidade originam-se de uma procedência que não é científica. Esta ideia aproxima-se do conceito da física de Heisenberg (Princípio de Incerteza) que afirma: "A possibilidade de existência não significa necessariamente existência. Para se conhecer algo, é preciso interagir com o objeto do conhecimento. A interação introduz perturbação na propriedade que se deseja determinar: interfere no objeto em estudo, que não se dá a conhecer de maneira exata".


LÉVY STRAUSS: O CONCEITO ESTRUTURAL DE POEMA

(1) O verso moderno distancia-se da contagem silábica, dos esquemas rítmicos tradicionais. Um modelo fornece um caráter de sistema, consiste de elementos tais, que a modificação de um deles ocasiona uma alteração nas relações com os demais.

(2) Todo modelo pertence a um grupo de transformações, cada uma delas corresponde a um modelo da mesma família. O conjunto dessas transformações constitui um grupo de modelos. No conceito estrutural de poema, os modelos sincrônicos se sucedem no plano diacrônico.

(3) As propriedades indicadas permitem prever de que modo reagirá um modelo, no caso das modificações de um de seus elementos: qualquer modificação na imagem ou no ritmo provoca uma reestruturação no modelo.

(4) O modelo deve ser constituído de forma que seu funcionamento possa explicar todos os fatos observados. A noção de estrutura não se atem à obra particularmente realizada, mas ao modelo estabelecido a partir dela.

A crítica da poesia atual reformula a teoria estrutural do motivo, do tema, da imagem e do ritmo: os quatro níveis básicos da estruturação poética. O código estético-literário do estruturalismo apreende-se pela linguagem, sendo, talvez, possível apreendê-lo na metalinguagem da crítica. Ainda que nessa crítica, predomine a função denotativa (referencial: tem como finalidade a comunicação de informações) da linguagem, desde que ela, a crítica, se estrutura enquanto ciência.

Na literatura predomina a função conotativa (ideias ligadas, pela experiência individual ou coletiva da linguagem, a uma palavra), a partir de disposições metódicas e sistemáticas de um código estético-literário.

O estruturalismo, segundo Jean Pouillon, seria uma força reacionária em face da revolução, negando a dialética histórica. Eleatismo ou estaticismo no método estrutural conduz ao conceito de perene sincronia (estágio da história de uma língua tomada para estudo), desconsiderando o conceito de diacronia (estudo do desenvolvimento da língua ao longo do tempo). Afirmou Henri Lefebvre:

""O estruturalismo é a ideologia do equilíbrio entre as forças atuantes no mundo moderno: sistemas econômicos e políticos, classes, países industriais e países pouco industrializados. É a ideologia do status quo. É a ideologia da coexistência pacífica e da estruturação do mundo sob o signo da paz. Essa ideologia é aprovada e considerada por aqueles que experimentam o temor de profundas mudanças, dos que lutam por manter o estado de coisas existentes. Porque é a eles conveniente. Por isso ocupam-se em "estruturar" a sociedade moderna para conservar sua ordem.""


A IDEOLOGIA E A EPISTEMOLOGIA

Lefebvre define o estruturalismo como ideologia e não como posição epistemológica (Epistemologia: conjunto de conhecimentos que têm por objeto o saber científico, visando explicar os seus condicionamentos, sistematizar as suas relações, estabelecer os seus vínculos, e avaliar os seus resultados e as suas aplicações).

A posição epistemológica pressupõe um método de pesquisa científico que não é apenas indutivo, nem somente dedutivo. Apresenta uma unidade bipolar, desde que inexiste oposição entre ambos.

Das combinações existentes entre os elementos do sistema, surge a criação estilística individual. A crítica marxista e a crítica existencialista ao estruturalismo mantêm seus discursos contra ele, por temerem que o rigor científico do estruturalismo possa questionar com pertinência seus pressupostos ideológicos.

A crítica existencialista exalta o indivíduo, ela vê no estruturalismo um "moinho de vento", parece não compreender que as criações individuais vicejam do próprio sistema.

Não pode haver criação, senão a partir da recriação de antigas estruturas inserindo as novas no sistema. Não pode se criar a partir do vazio. O criador é aquele que sabe explorar a malha de relações existentes do sistema do qual se utiliza. Nunca houve ou haverá a morte do individualismo criativo, ou da liberdade, enquanto decorrentes do estruturalismo.

Uma nova estrutura nasce ou se refaz com profundas modificações originais, consequência de uma tensão permanente entre o indivíduo e o sistema. Num jogo de xadrez os indivíduos se submetem a um mesmo código, como se pode distinguir em literatura, o bom do mau escritor, nesse jogo, da mesma forma se distingue o bom do mau jogador: ambos utilizam o mesmo código linguístico.

Na teoria do linguista suíço Saussurre, que originou as principais correntes do estruturalismo moderno, o signo resulta de uma relação entre um conceito (significado) e uma imagem acústica (significante), elas não se confundem com a realidade. A partir dele define-se a língua enquanto sendo uma forma, não uma substância. O sinal gráfico, elemento de um código, substitui a coisa (palavra) que representa. Desta forma distingue-se o sinal natural do sinal convencional, desde a Antiguidade Clássica. Silvio Elia afirma:

"No sinal natural se estabelece uma relação fundada in re, com uma condição: o sinal deve ser mais conhecido, ou mais abundante, no mundo em que funciona, do que a coisa significada: o fumo é mais abundante que o fogo. A pegada mais numerosa que o ser que a imprime."

Na língua, vista como código ou sistema semiótico, o signo atinge sua pureza na medida em que se liberta das associações extraconvencionais (conotativas), e adquire pleno sentido denotativo (referencial). Por mais que se atenue a motivação original do signo, em proveito do pleno funcionamento do sistema semiótico, o signo sempre conserva algumas de suas conotações primárias.

A distinção entre linguagem poética e linguagem científica deve afirmar-se em termo relativos. A ambiguidade, sentido relativo e qualitativo do termo, predomina na linguagem poética. Essa indeterminação responde por seu caráter conotativo (subjetivo) e versátil de plurisignificação estética. Na linguagem científica, ao contrário, a busca da univocidade (palavra, conceito ou atributo que se aplica a sujeitos diversos de maneira absolutamente idêntica), predomina, através de uma linguagem essencialmente denotativa.

Toda estrutura representa uma ideia central: a de relação funcional de elementos numa totalidade. A estrutura particular de uma obra de arte literária não se fecha em si mesma. Ela permite comparações com outras estruturas particulares. A partir dessa comparação é possível a apreensão do conceito de estrutura: explicitando-se as realizações particulares por meio desse conceito abstrato.

"A LICENÇA POÉTICA, LITERÁRIA"

O estilo individual resulta do uso otimizado que se faça das propriedades estruturais da língua. Ao escritor se concede o direito de transgredir as regras gramaticais da língua, em busca de um estilo individual, através dos elementos fornecidos pelo sistema linguístico: a criação individual sempre resulta da exploração de possibilidades virtuais do sistema. O Poeta é aquele que sabe usufruir a língua, de seu modelo poemático, um sem número de associações ainda inexploradas.

O modelo então evolui por força de uma tensão entre o indivíduo e a norma culta, sendo mais livre essa evolução no campo literário do que no campo linguístico. Neste último, há um compromisso maior do presente com o passado, na tentativa de manter e conservar indefinidamente, o sistema antigo em sua integridade passageira, tentando imprimir maior eficácia ao código conservador (referencial) da linguagem.

A palavra "modelo" não serve para designar a cadeia de relações existentes entre os elementos que integram a estrutura exclusiva (íntima) de um alopoema. O "modelo" se atualiza a partir da estrutura poemática: forma-se a partir da base de realizações individuais de alopoemas. As relações entre os elementos de um alopoema se constituem na matéria-prima para a elaboração dos modelos. Isto se verifica no estruturalismo de modo geral.

O estilo romântico do século XIX configura um modelo poético, enquanto movimento literário, um conjunto unificado, representa os movimentos literários com características comuns nas literaturas do mundo ocidental. Como caracterização descritiva e geral do estilo romântico, Hibbard indica: idealismo, sentimentalismo, fantasia, individualismo, subjetivismo, imaginação, emoção, sensibilidade, paixão, intuição, religiosidade, liberdade, absurdo, mistério, fuga do real, retorno ao passado, historicismo, exagero, melancolia.

O modelo parnasiano ampliou determinadas relações do modelo clássico, através da clareza, da proporcionalidade, da simetria, da precisão, da impassibilidade, do apuro na técnica do verso, da busca da perfeição formal. Esses traços formais não configuram o modelo romântico e o parnasiano, aqui indicados numa sucessão de sincronias, configurado o eixo diacrônico do procedimento poético:

      A essência do figo fruta densa
      Espessa, pastosa, molhadinha
      Membrana vaginiforme abunda
      Pólen fecundo. Prolixo ornamento do mundo
      No espírito carece, a farmacologia de Platão
      Conceito além do lixo: figura canto poesia
      Paixão (Decio One).

Há nele a intuição de um modelo. À crítica cabe averiguar a poesia. O poeta manifesta a evidente necessidade de uma intuição presente. Admita-se que esta poesia apresenta a estrutura:

a) Motivo + Vivência + Emoção
b) Estrutura Linguística + Estrutura Poética
c) Signo + Símbolo
d) Motivo + Tema + Imagem + Ritmos (dialético e dialogal)
= Alopoema

A concepção estrutural do alopoema: todos os elementos do modelo linguístico, poético, configurados para atingir a meta através das vicissitudes contidas na linguagem.

Ao comunicar sua emoção lírica o autor da poesia afirmou uma estrutura linguística enquanto código de um sistema de elaborar poesia, em sua estrutura configurada a partir do ajuste, da conformidade harmônica, de cinco elementos da composição:

      (1) Motivo
      (2) Tema
      (3) Imagem
      (4) Ritmo dialético
      (5) Ritmo dialogal

Estes cinco elementos organizam-se entre si através de uma interdependência solidária. No conceito formal de poema não ocorre uma soma de elementos: o que há é um sistema dinâmico de relações.

Toda mensagem estética de um poema se prende a um motivo de criação expresso através do sujeito. O tema se configura através de imagens e ritmos da linguagem poética. A interdependência dos cinco elementos formais do poema define o modelo poético. Este se realiza através da linguagem, estrutura primária de comunicação estética de função conotativa.

O código estético-literário da poesia realiza-se via linguagem, funciona na base das relações interdependentes entre os cinco elementos formais do poema. O fenômeno poético-literário resulta de dupla estruturação, motivando um segundo tipo de análise. Esse segundo tipo de análise parte dos métodos linguísticos, mas neles não se confina. O que importa é a apreensão de um modelo poético realizável através do significado linguístico, conforme as normas da semântica literária. Veja a poesia:

PRAZER EM DESCONHECÊ-LO

Hoje consultei os Arcanos do Tarô
Os búzios rolaram para pessoas que conheço
Quarto-sala três em um
A vida delas uma pedreira
Meus amigos estão cheios de filhos
E de medo. De não chegarem inteiros, vivos
Ao fim da segunda década do século XXI
Por que parecem em pânico
O príncipe encantado
A gata borralheira
Os entrevistados do Jô Soares
Se tudo está garantido?
A cesta básica e o brilho
Ocupando o mesmo lugar no espaço
Meus amigos estão cheios de esperanças
Em direção ao século XXI
Ondas de borracha platinizada
Rodam céleres pelas estradas
Faróis de milhas negras
Focam os vincos amarelos do asfalto
A rocha eletrônica a química inorgânica
O mundo informatizado
As pessoas que conheço
Estão aprendendo a correr
Parecem não saber quase nada
Desse chove não molha
Deste fim de século
Desta data magna
Desse zunzumzumn
Desse "Independence Day"
Dessa pátria amada
Dessa bandeira de fogo
Dessa roupa rasgada
Deste século Vinte e Um
Meus amigos estão nos abrigos obscuros
Nos spas rigorosos cumprem tictacturnos
Em desfile na passarela virtual
Onde de qualquer jeito
Em qualquer classe social
De alguma forma estão bebendo
O sangue que o diabo amassou
Porque no século XXI
As uvas nunca estarão verdes
Na árvore de natal transartificial
Estrelas da vida inteira
Anunciam o paraíso global
Para a segunda década
Do século XXI
Que haverá de tão diferente
Bestas vendendo cachorro-quente?
Estou ansioso pra chegar lá
Nessa terra prometida
Da tecnologia feral
Aonde todos vão estar bem
Senão por bem, pelo mal
Sentimentos emoções e liberdade
Quanta facilidade
Todos produtos aprovados
Nos testes de quantidade
Nas embalagens a vácuo
À venda nos supermercados
Do século XXI
Prazer em desconhecê-la
Autoridade política, clero do Olodum
"Top models" em desfile
Boiardos do Pelourinho
Novas formas de incesto político
Destaques do carnaval
Cineastas, dramaturgos, romancistas
Meu filhin, meu painpain, meu barão
Estafetas, tenistas e corifeus jornalistas
Nefelibatas, poetas, texugos e surfistas
A turma do “ahahahh eu tô maluco por Ética”
Colarinhos brancos e moleques
Torcidas uniformizadas
A fauna aguerrida dos vencedores da peste
Todos os tipos de artistas
De jogadores de truco
De curadores de museus
De comedores de sapos
Roqueiros, repentistas, seresteiros e chorões
Tino, Timor, Temor Leste
Dos ruminados por anacondas
Devorados por tubarões do
Complexo Industrial Militar
Trinta e seis por Vinte e Um
Com sede nos EUA
Treinadas para a maratona da lida
Xuxas, michel Jackson`s e madonnas
Ícones das chuteiras globalizadas
Da pessoa da sala de jantar
Roubada da cidadania
“Voyeur” das “top-models”
Escravas bem pagas,
“Barbies” em escala industrial
Serviçais da criminalidade
Da dinastia via satélite
Do século Vinte e Um.

O fator psicológico que conduziu o poeta à criação do alopoema "Prazer em Desconhecê-lo", é a visão do mundo proletarizado, mental e coletivamente, pelas necessidades de espetáculo do mercado, do universo globlizado, do "pão e circo" do "showbiz" do novo século que se inicia. Max Planck diria: “O maior perigo da atualidade é representado pelas pessoas que se negam a admitir que a época, ora em fase inicial, é um organismo definitivamente diverso do passado”.

Presente o elemento psicológico de baixa auto-estima, instigador das grandes campanhas de propaganda e publicidade, fornecido ao mercado consumidor coletivo. A aceitação horizontalizada de todo esse lixo mental, subjetivo e objetivo, das mentiras rituais das lideranças globais, é o fator referencial da estética da gramática da poesia "Prazer em Desconhecê-lo".

Importa o modo de realização da mensagem, através da análise que envolve a relação de todos os elementos formais do poema. Indica o motivo de sua criação: o sentimento da existência desistencializada, nadificada, sartreana, globalizada pela psicopatologia dos heróis de kung-fu, dos filmes pornôs, das ficções desdobradas de uma realidade à "Psychosis City": a globalização dos processos dinásticos de exercer comunicação, comando e controle militar sobre a mentalidade globalizada das pessoas da sala de jantar. Como se a gerência desses processos fosse de natureza democrática.

O sentimento da existência incompleta, da dimensão do tempo à Proust. Aquela coisa ridícula que torna todo um país, uma população de 100% de palhaços. Uma juventude coroada pelas atrações da tv, que faz a cabeça, pessoal e coletiva de uma nação, como se essa nação existisse em função do torná-los ricos e famosos. E os eleitores tivessem apenas de bater palmas e incensar seus excessos e bandalheiras.

A poesia afirma a semântica da poesia de Cecília Meireles:

      MOTIVO

      Eu canto porque o instante existe
      e a minha vida está completa
      não sou alegre nem sou triste:
      sou poeta

As mudanças de significado, a atualização no tempo, não ocorre no conceito formal do poema, apenas na mudança de significado: amplo, diverso, atualizado. O motivo da poesia é expresso através do tema. Este se configura através de imagens e ritmo transmitidos pela linguagem poética.

A interdependência solidária entre seus conteúdos explica, através da ironia, empiricamente, todos os fatos relevantes, terríveis, observados na atualidade: suas causas e efeitos. A violência, a ultraviolência, o tráfico, a corrupção política. A adolescência correndo atrás de uma chuteira ou de uma passarela, para jogar bola ou desfilar sua ossatura nas passarelas da tvvisão.

Os governos das oligarquias globalizadas desde o antigo Egito, a assaltarem as verbas das classes desfavorecidas pela corrupção oficial de seus representantes políticos, e repassaram, no planeta Piauí, uma dívida de Estado no valor de 3,7 bilhões, para o próximo governo a ser investido na posse em 2003. A concentração de renda e a impunidade que isenta os Três Poderes de qualquer mínima responsabilidade social.

A poesia PRAZER EM DESCONHECE-LO define o código estético e literário do alopoema, realizado através da linguagem denotoconotativa: os signos sempre convergem através da estrutura primária de comunicação poética: a estética. Os efeitos expostos da criação poética, realizados através da linguagem atualizada dos significados da obra de Cecília Meireles:

      Irmão das coisas fugidias
      Não sinto gozo nem tormento
      Atravesso noites e dias
      no vento

O conhecimento (atualidade, amplitude, profundidade) transcende a sincronicidade das rimas de Meireles: atualizando-as, amplificando-as, aprofundando-as. Conhecimento das estruturas linguísticas interdependentes entre os elementos formais do poema. A análise crítica do fenômeno estéticoliterário impõe um segmento mais amplo de conhecimentos sobre a dupla estruturação da poesia ceciliana.

      Se desmorono ou se edifico
      Se permaneço ou me desfaço
     - Não sei, não sei. Se fico
     ou passo

O fator psicológico que motivou o autor a criar uma alopoesia supostamente lírica, exterioriza este estado, lírico, sim, ampliado nas expectativas e ansiedades coletivas, que impõem um clima autoritário de recolher, subliminar às vontades das pessoas: elas simplesmente têm de aceitar, na realidade de suas vidas, a metalinguagem da poesia, a ironia crítica às imposições do sistema da política da oligarquia e seus remanescentes. Milenares.

A estrutura linguística não é a condição suficiente: o fenômeno estéticoliterário funciona na base da análise do modelo poético alorealizado no significado linguístico, conforme as normas da Semana de 1922. O psicológico é somente referencial coletivo, não sendo lícito enquanto pretexto para analisar a psicologia do escritor.

O sentimento do tempo proustiano, coletivamente perdido, diluído nos fenômenos da imagem visual tvvisiva, é o motivo essencial da alopoesia deste autor piauiense, associando a vida da coletividade ao sentimento da existência, apenas virtual, no tempo real: o instante existe e a vida está completa. O tema da passagem no tempo mesmo, literal, e no tempo subjetivo, poético: ceciliano.

A concepção fugaz, irmão das coisas fugidias, a brevidade da vida barroca, das fantasias máquinavélicas. As máquinavélicas da tv, que conduzem os tvespectadores a mundos e dimensões diversos, fantasiosos, aleatórios. Que se tornam reais pela repetitividade anacrônica de seus dizeres e fazeres diários. Condicionantes.

Ele, tvespectador, sempre em fuga de sua própria realidade, mal sabe que é preciso dominar o conceito de tempo de auto-estima, de amor-próprio, que as classes sociais e as pessoas, individualmente, não proporcionam umas às outras. Elas aceitam tudo que lhes é imposto pela telinha, ignorando, muitas vezes, que são vítimas de interesses que nada têm de afirmativo de sua auto-estima pessoal e coletiva.

Nesse estado de interinidade das múltiplas interinfluências do controle remoto, as pessoas são usadas por umas poucas (pela política de venda de armas do Complexo Industrial Militar dos EUA para uma quadrilha de criminosos na Indonésia invadirem o Timor Leste e perpetrarem um dos mais sádios genocídios do século XX).

Aquelas poucas autoridades e presidentes dos partidos Democrata e Republicano a ganhar o máximo de dinheiro em suas vigências político partidárias, as custas do sofrimento e do Holocausto do povo de um país no Sudeste Asiático. Alegando motivações ideológicas quando só queriam ganhar dinheiro. Às expensas da dor, da matança e do sofrimento humano.

Às custas do máximo proveito de seu baixo sentimento coletivo de amor-próprio e auto-estima à espécie humana. Cooptando toda a Imprensa apelidada de livre de um país dito democrático, a proibir a divulgação nas mídias dos EUA do massacre sistemático, do genocídio do povo de Timor Leste.

É um tempo de perene fazer-se e desfazer-se. A única certeza desse tempo de assassinos é sermos palhaços imorais, acovardados numa poltrona da sala de estar decorada pelos patriarcas da globalização. A tristeza e a alegria não afetam seu lirismo, suas esperanças. Tudo é virtual. Inclusive as pessoas da sala de jantar. Mas as pessoas da sala de jantar...

Ambas as poesias apresentam ritmos: os ritmos de uma rede de intrigas e relações entre os elementos objetivos e subjetivos que as compõem. O ritmo de ambas é supostamente tradicional, cabe uma atualização no ato de recitação dos versos. No ato mesmo de fruição dos ritimos aleatórios na psique de cada leitor.

Os poemas são multinterativos, multinterpretativos. Multimídias. A canção popular, de modo geral, identifica-se com a redondilha maior. Estas, não são poesias de vanguarda, apenas pelo uso da versificação tradicional. Em ambas, principalmente em "Prazer em Desconhecê-lo", o ritmo musical é variável. O verso frequenta a lírica francesa ceciliana:

      Sei que canto. E a canção é tudo
      Tem sangue eterno e asa ritmada
      E um dia sei que estarei mudo:
      - mais nada.

O Estruturalismo baseando-se nos conceitos de comparação e de função, se opõe ao idiotismo (do grego idiotes: particular, individual, das realidade concretas que pretendem encerrar-se em si próprias).

Somente há ciência no que é geral? Inexiste ciência no particular? A comparação das estruturas realizadas nestas alopoesias são uma síntese das relações dinâmicas dos elementos estéticos interagindo a serviço de um estilo que se afirma a partir de modelos dinâmicos do sistema em sua diacronia: a lidar com a involução temporal de uma política que se diz e quer democrática.

O sistema das máquinavélicas, as que apenas aparentemente movimentam-se no tempo. As velas que enfunam os "pensamentos" entre aspas: máquinas não podem pensar. Não têm sentimentos, emoções, sensações. Como as pessoas da sala de jantar... “mas as pessoas da sala de jantar... são as pessoas da sala de jantar...”


A análise da segunda alopoesia:

JUDAS S/A
(Capital marketing)

Todo dia alguém crucifica alguém
Pelo leite das crianças
Da família é o pai
Tem de levar para casa
No mínimo trinta reais
Não quer o filho traficante, o outro, ladrão
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
Aquele grupo da milícia
Pra mostrar que está em ação
Esmaga trinta crianças por dia
Orgulhoso de cada condecoração
Ele quer garantir a escola dos filhos
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
No lago sul da capital federal
Um irmão nega outro irmão, orgulhoso de seu dia
Programa uma viagem, longa duração
Para visitar seus grandes amigos do peito
O pato donald, o mickey, os irmãos metralha,
E o gastão, na terra encantada da disneylandia
Quer é um pouco de divertimento nesse mundo cão
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
Com quantos dinheiros você vai passar
O próximo fim de semana?
Pensas: no litoral vais estar bem com sua dor
O que te queima não é o sol na cara
É na 2ª feira voltar a ser trabalhador
Mais que se julgue um privilegiado da pátria, um pão
Você, no fundo da alma, não passa de um cancro
Uma metástase do colarinho branco
Você quer apenas sentir-se um pouco zen
Relaxar, não pirar de vez, senão...
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
Trinta dólares no bolso você olha a tv em sua sala
Sente-se vencedor com seu salário
Toma outra dose de "whisky stick" a mão
Pensa nos HPs de seu carrão
De quantas pessoas você tem medo
Ao sair com ele da garagem
Porque o sinal vai estar sempre vermelho
O autocontrole para você é um sinal fechado
Você precisa de um passeio sem o medo por companhia
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
Seu temor está na esquina das vítimas de sua mesada
Com trinta dólares de gasolina
Na rodovia Airton Senna
Você abasteceu seu carro
Há muito ele está fora de linha
Todos aqueles veículos novos olhando dos lados
Você longe está de estar sozinho
Por que sente-se tão ilhado, rente ao chão?
Você quer apenas um pouco de privacidade
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
Se alguém puser uma arma em sua cara de sorvetão
Ninguém partirá em sua defesa, ninguém viu nada
Você quer apenas sentir-se menos inseguro
30 dinheiros do salário mínimo tornou você sem ação
Os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
Pelos dólares do depósito mensal, você vendeu tudo
Que poderia ter algum valor:
Amizade, confiança, carinho, ternura, honra
Com todo seu dinheiro você não comprou nada mais
Que sua quota de mal bocado
Pela qual paga nas suas horas de dor
Sua mulher está a querer sempre mais
Uma hora no cabeleireiro ilusão
Você está prestes a berrar, soltar o grito primal
Para quê? De aparências você está cansado
Mas ninguém nunca lhe dirá isto
Você quer apenas sentir-se menos aflito
Os trinta dinheiros do salário mínimo aqui estão
Os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
Todos vão exigir sempre mais, outra trapaça suada
Para ganhar outros mil 30 dinheiros. Você
A bola da vez a girar bolsinha na sala de jantar ilusão
Girando, girando, aumentando a tensão
Vc se segreda: "Nada disso vale a pena preservar"
Na roleta do desamor, nada seu suposto tumor
A tensão: você quer apenas um pouco de afeto
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo nada são
Os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
Você está a sentir-se agora
Como aquele executivo do colarinho branco
Com sua gravata de mil dólares
Com seu sapato de cromo alemão
Por trinta dinheiros, insone você conduz
As contas a pagar, a xícara de chá na mão
Com trinta impulsos você quita o telefone
Com outros trinta a conta de luz
A conta de água não consegue limpar as mãos
Mais trinta mil dinheiros você investe no Bolsão
Na petrobrás, na souza cruz, na cerveja da hora
Você tem tudo que o consumo seduz
Quer apenas um pouco de segurança no futuro
Ainda que se venda às rotinas do agora
Os trinta dinheiros do salário mínimo no talão
Os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
Por que você se sente tão solitário?
Com todos esses familiares ao lado
Você que alcançou tudo
Onde está sua liberdade?
Não é capaz de dar uma volta no carrão
Sem que esses olhos de Ra te observem
Sem que seus acusadores te cobrem
Seu lugar em sua casa
100 proprietários de sua alma
Seu comportamento padrão
Entre as outras pessoas da sala de jantar
Você deseja apenas relaxar

30 dinheiros do salário mínimo do cartão
30 dinheiros do salário mínimo da tensão
No videogame do micro computador
Você está inseguro com tanta segurança
Sempre vigiado por personagens de tv
Você, que por tanto tempo ouviu "boa noite"
Da lilian with fibh, do bóris casoy, do Jô
Como se fossem de casa
E comessem na sua mão
Depois do Jornal da Noite, do SBT
Na hora de fazer dormir a tesão
Você almeja um sono de arcanjo
Depois de mais um dia de cão
Os trinta dinheiros do salário mínimo do patrão
Os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
A mulher te espera na cama
Após o salão de beleza
Mas você sabe que não há viagra neste mundo
Que possa tirar a certeza
Preferias, na verdade, uma garota de programa
Que te daria algum prazer a mais na cama
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo em questão
Os trinta dinheiros do salário mínimo negam o “tesão”
O gari cata o lixo das ruas
Igual uma avestruz seminua
A boemia enche a cara nos bares
A equipe macroeconômica cobra imposto da lua
Pelo copo de cerveja e pelo câncer souza cruz
Você acha fácil livrar-se
Dessa empatia telepática?
Dos impostos do leão?
Quer fugir para outra rotina internética
Vidiar a garota performática
Achar um ponto de luz no fim do túnel
Uma resposta na sociedade hermética
Os trinta dinheiros do salário mínimo do furgão
Os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
Seu novo dia, pode esperar
É infinita a utopia da ilusão
A capacidade de sonhar
A cidade de carne é feita de sonhos
Nunca vai vir, virá sempre amanhã
Porque a sua vida adiada todos os dias
Por mais desejada que seja
Nunca vai chegar outra versão
Não passa de uma infinita negação
Seu state of mind mantém você stand by
Deseja uma fé e uma crença com paixão
Sua religiosidade de boteco, de tv
A espiritualidade de novela te trai
Sua cabeça de moinhos de vento
Você não passa de um quixote
Sem a dignidade da imaginação
Você quer sentir-se um vencedor
Os trinta dinheiros do salário mínimo sua ração
Os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não

Análise do Alopoema:

MOTIVO: O poeta faz contatos sensitivos com as "imagens em bloco", com as virtualidades, por vezes adiposas, presentes nos modelos poéticos castos, nos critérios de manifestação literária da atualidade. Se você vive a atualidade, você é um escritor potencial.

A atualidade de sua condição individual e social é tudo que importa. Desde que essa exportação que você consome enquanto mercado, faz de sua dívida eterna, um Velho Monge, Ganges, de águas barrentas e barras pesadas. Sobre seu leito correm os milhares de cavalo a vapor, os cadáveres dos corpos que, enquanto vivos, tinham por único patrimônio a esperança.

A criação, uma revelação. Há correspondência esteticamente pertinente entre a estrutura rítmica e a estrutura imagética, num intercâmbio de interdependentes essências literárias. Talvez liberadas pelas musas, descendentes diretas de Ariadne, Perséfone e Pandora.

Há a presença onipresente de uma interdisciplinaridade que ganha os extratos diversos da sociedade, para fazer-lhe interrogações. Cutuca-se tigre com vara curta. Cutuca-se a cultura que cultua o universo virtualizado das pessoas que vêem tvvisão, sem saber que estão sendo, cada dia mais, desumanizadas pelas necessidades de consumo que as transformam em números de mercado.

E o que é humano tem ganas de globalizar-se, de transformar-se em virtualidade, para poder fazer parte dos que integram as turmas de comando, comunicação e controle do sistema dos Trinta Dinheiros que simbolizam a negação de qualquer esperança, desde que à política do salário mínimo todos dizem não, mas ninguém age no sentido de aumentá-lo senão de bens de consumo e possessão.

Os congressistas ganham sempre menos do que o salário mínimo, tanto, que já estão querendo votar o aumento de seus polpudos salários de parlamentares legislando em causa própria.

A presença onipresente da ironia. Por isso talvez queiram, por força de uma dupla estruturação, da linguística e da estética da propaganda, exorbitar o caráter linear da linguagem de significados, adentrando o leitor numa espécie de dimensão paralela aos psicotrópicos não-proibidos aos inocentes da percepção visual do vídeo, às sado-mozoquistas e máquiavélicas imagens fantasmagóticas dos produtores de novelas para empregadas e empregadinhas nobres.

A poesia explora sobremaneira, os recursos de estilística fônica, a função opositiva, dialética, dos fonemas terminados em ão: hão pode ser uma expressão verbal do verbo "ter": "Mas os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não..."

O espírito de aventura, a condição de irresponsabilidade coletiva, de baixa-auto-estima social, o conduz ao beco da fome sem saída, revelando-se a vida de consumidor consumido e, de um mercado antropofágico que o consome como sobra de almoço, como um cão que rói o osso de cada dólar ao sabor da borboleta da roleta russa do mercado financeiro. À "black-tie".

A morte a todo o momento presente nos excessos de apetite por mercadorias do narcotráfico, pela virtualidade desespiritualizada sobrevivendo no espaçozinho capsular denominado sala de jantar (pombais/apertamentos), onde prolifera uma espécie de aconchego incestuoso de todos os objetos orgânicos e inorgânicos:

Corpos extensões de eletrodomésticos, vômitos do alcoolismo, misérias de liquidificador. O almoço servido é a carne coletiva do frango ao molho, com “spaghetti western”: porque hoje é o aniversário do dono da casa onde todo mundo é comilão e gosta de consumir coca-cola com hambúrguer como programa de fim de semana no "Pato Donalds..." Ou uma “pizza à Torres Gêmeas” nas votações secretas do Congresso.

Das garotas às mulheres íbis: mãe parteira, semelhante à cegonha varejeira que faz nascer uma geração de cometerras. Que vive sob sete palmos de cimento armado, em mausoléus antenados que se nutrem de serpentes, dos pensamentos dessas, dos salários pagos com a moeda dos trinta dinheiros do patrão anaconda:

Salário que por mais alto seja, sempre mínimo no manter essa situação. O salário mínimo é o significado necrológico de uma sociedade gerida pela necromanceia de Natal no mercado cotidiano e virtual. De um papai-noel com o saco cheio de dívidas para distribuir de presentes.

A motivação fônica deste Natal é a Terra onde se só-sobra, dominada pelos Mandrakes de palanque, que venderam os eleitores e seus estilos de vida vigentes, para os juros supercalientes dos produtores de petróleo e os comerciantes de armas de Wall Street.

Eles estão a dominar tudo e a todos a todo custo: no oriente médio inventam a satanização de Sadan (pesquisa de armas atômicas e químicas de extermínio coletivo), na América do Sul, a Alca e seu FFHH (o "rei Mulatinho"). Como diria Fellini: E la Dolce Vita Massina e La nave va. E La loja va.

O que sobra da riqueza do bolo da exploração indiscriminada dos recursos naturais do planeta Terra, "só-sobra" para os trinta dinheiros do salário mínimo, sua impertinência na negação. A expressividade deste alopoema constrói uma estética de elementos linguísticos no plano intra e alo. Poema.

Seu efeito estético é subliminar e simultaneamente literal, fonológico. Ele não trabalha apenas na dimensão do inconsciente, inserindo-lhe uma metalinguagem de superação de significados simbólicos, atualizando-os.

À micro-sintaxe e à micro-semântica do estilo deste autor, soma-se a problemática de um período de tempo que assemelhado aos "anos de chumbo" de uma ditadura do narcotráfico que não se cansa de ditar as regras de todas as classes pelo domínio subliminar e literal da corrupção e da violência. À New World (Dis)Order.

O Ritmo Dialético e o Ritmo Dialogal se interdependem: o colóquio entre os atores desse discurso poético é dinâmico. A partir deles se desenvolvem as unidades e as variações das linhas melódicas das frases poéticas:

Elas acompanham a revelação de uma emoção saciada pelo bagulho tvvisivo, atravessado dentro da sala de jantar do tvespectador. O problema é que essa droga está liberada como o álcool das bebidas, e as mulheres meninas prostitutas por nascimento e sina, e os cigarros micados da www. souzacruz com.br.

Os nomes das poesias "Prazer em Desconhecê-lo" e Judas S/A (O "Capital Marketing" dos 30 Dinheiros), dizem simplesmente tudo: por que o autor teria prazer em conhecer mais um habitante do mundo da Disneylândia das autoridades das estatísticas macabras? Que respeitabilidade teriam elas? Que peixe poderiam vender que não estivesse podre?

Há mercado pra tudo e para todos. É a mensagem do vídeo: seja um videota manso e tudo estará sob controle. Não participe dos movimentos coletivos contra os aumentos salariais dos Congressistas à Judas S/A, e tudo o mais estará ajustado, inclusive as migalhas de aumento do salário mínimo que você vai dizer não, mas não vai poder fazer nada para aumentá-lo substancialmente.

O poeta cria uma crítica pertinente ao sistema linguístico vigente. Confronta sua alopoesia com alopoemas de outros modelos. O observador mais atento verá, permeando o leitmotiv das poesias "Prazer em Desconhecê-lo" e “Judas S/A”, não uma agressividade gratuita, uma falta de diálogo ou um convite a um bate-papo repetitivo...

O leitor não terá um diálogo tatibitate de acordo com as referências das telhas e janelas de vidro, das operações policiais tipo "red ruby": rubi vermelho. Há uma evolução diacrônica nos modelos poéticos, em função de reestruturações sincrônicas dos significados pertinentes ao dragão da maldade do mercado.

O poeta inova e cria as interações poéticas. Sugere a pesquisa das relações fono-estilísticas da morfossintaxe, para que não fique obscurecida pelas teias de aranha e o mofo das estruturas ritmo-fônicas que sentem a ferrugem lhes comer a vulva: a carne do consumidor das virtualidades do real, a se transformar em carne pútrida, apenas para satisfazer as exigências neuro-vegetativas, antropofágicas, do mercado financeiro.

Ele mostra em ritmo poético, a necrofilia social sob comando, comunicação e controle da vontade emocional de oligarquias da pederastia, da cafungação, que nunca transcendem nada, nem mesmo o delírio, quando sob efeito das doses, que fazem os cinco sentidos saírem da letargia, para uma transcendência de saco de papai-noel, de papel higiênico.

No Natal o velhinho papa-tudo, papado pelo dragão do mercado. Os mais fanáticos fãs do "tio" Sam nacional, foram desalojados, antes da implosão dos blocos de fantasia, e da realidade da escola de samba "Unidos do Colarinho Branco do Carandiru". E os fanáticos daquela outra escola de samba, até quando ficarão alojados em suas mordomias de Unidos das Torres Gêmeas do Congresso Nacional do Planalto Central, do Carnaval Salarial de Brasília?

Conhecê-los, votar neles, desconhecê-los: é perda de tempo? Um prazer, um desprazer? Eles, os que fazem acontecer o sistema dos Trinta Dinheiros do café com pão. Do feijão com arroz. Do uivar das torcidas organizadas nos jogos de futebol.

Eles, os Judas do petróleo inflacionado pela sociedade anônima dos titulares dos governos economicamente geridos pela ditadura globalizada (dolarizada) das trevas, administrada pelo FMI, e outras instituições responsáveis pela promoção das hierarquias da negação da humanidade do outro. É preciso negar. Praticar a negação da negação. Dessas hierarquias “pra lamentares” do voto ssecreto.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 21/04/2010
Alterado em 12/05/2013


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