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Linguagem Língua Fala Discurso
As condições atuais permitem repensar o ensino de língua e linguagem. A partir da década de oitenta foi possível aprender e avançar. Houve uma democratização das oportunidades educacionais. Essas oportunidades começam a ser levadas em consideração, em sua significação política, também no que diz respeito aos aspectos intra-escolares.

Falar, ler, escrever, citar, analisar, reproduzir, repetir, resumir, criticar, narrar, imitar, intertextualizar, parodiar, são práticas em que a linguagem, enquanto discurso, materializa o contato entre o lingüístico (a língua enquanto um sistema de regras e categorias), e o não-lingüístico (um lugar de investimentos sociais, históricos, ideológicos, psi), por meio de sujeitos interagindo em situações concretas.

No enfoque de linguagem sociohistórico, o que se objetiva pesquisar não são apenas as formas de organização dos elementos que constituem o texto, mas também as formas de instituição de seu sentido, as condições em que o discurso é produzido, de modo que o aluno se torne apto a interpretar textos que circulam socialmente, e de produzir a própria literatura, nas mais variadas situações discursivas, inclusive as ficcionais.

O caráter dual da linguagem constitui-se na instância subjetiva da fala, e de uma instância objetiva, a língua. Saussure privilegiou a língua, marginalizou a fala. Este fato foi decisivo para os rumos da Lingüística da primeira metade do século XX, em que a língua, enquanto sistema, reinou soberana.

A natureza da linguagem é racional: os homens pensam conforme as mesmas leis, e a linguagem expressa esses pensamentos. O rompimento de Saussure com a escola de Port-Royal, é um rompimento com o que havia de mais racional e lógico na representação da linguagem de uma gramática universal. A partir daí foi possível definir "a continuidade da marcha necessária da evolução natural do espírito". Port-Royal consolidava a tradição gramatical instituída desde Platão: uma gramática fundamentada no cartesianismo filosófico do século XVII, no que havia de mais moderno na época.

O gerativismo chomskyano originou uma revolução nos estudos lingüísticos, uma continuidade do estudo gramatical tradicional, sobretudo os de Port-Royal. Instala-se a gramática enquanto expressão do pensamento, a busca chomskyana por uma gramática universal. Até então, para os gramáticos de Port-Royal, assim como para os do século XVIII, as categorias lingüisticas universais eram lógicas, explicadas por uma lógica extralingüística da própria natureza.

Para Chomsky (1965), as propriedades lingüísticas universais eram parte da faculdade da linguagem da mente humana, submetida a princípios independentes da lógica e da informação extralingüística em geral. O conceito de performance de Chomsky é muito próximo do de fala de Saussure.

É a partir da Escola de Copenhague que o estruturalismo lingüístico atingiu sua mais radical expressão, com o desdobramento da lingüística saussureana. Ela conduz às últimas conseqüências a tese de que a linguagem é forma e não substância: não há nada de substancial na língua.

A dicotomia saussureana língua/fala é repensada em termos de código/mensagem. A Escola de Praga considerava a língua em uso, as condições do exercício social da linguagem: a comunicação, a intenção, a função social, os atos da fala e outras.

As três funções da linguagem, tal como Bühler as concebe, de representação (símbolo), de expressão (sintoma) e apelo (sinal), são noções semânticas. No discurso, o enunciado desempenha as três funções, associando-as ao estado das coisas de que se fala (representação), com aquele que fala (expressão), e aquele de quem se fala (apelo).

Segundo Jakobson, em qualquer mensagem aparece um feixe de funções que não representam uma acumulação, desde que o falante pode fazer ressaltar um dos seis fatores envolvidos no processo de comunicação (um remetente, uma mensagem; um destinatário, um canal; um código e um contexto), impondo-lhe uma ênfase mais intensa.

Há uma hierarquia de funções implicada em cada mensagem, e é sempre importante saber qual é a função primária e quais são as secundárias. Daí, a classificação das funções de acordo com o fator que se destaca no ato da comunicação: a referencial, a emotiva; a conotativa, a fática; a metalingüística e a poética. Em outra fala: ênfase no contexto, ênfase no remetente; ênfase no destinatário, ênfase no contato; ênfase no código, ênfase na mensagem.

A fala, tal como concebida por Saussure, jamais saiu da marginalidade. O discurso não é uma reabilitação da fala, desde que ele se constitui um terceiro elemento que não é nem a língua nem a fala. O discurso é um ato intencional de enunciados, organizados de acordo com as intenções sociais do autor.

Foucault (1971) concebe o discurso como sendo um jogo estratégico de ação e reação, de pergunta e resposta, de dominação e esquiva, e também de luta: é o espaço em que o saber e o poder se articulam, pois quem fala, fala de algum lugar, a partir de um direito reconhecido institucionalmente.

Ainda segundo Foucault, o discurso é permeado não pela unidade do sujeito, mas pela sua dispersão. Diferentes indivíduos podem ocupar o lugar de sujeito no discurso. Ele não é um ego único, todo poderoso senhor da palavra, fonte poderosa da fala: é um sujeito descentrado que se cinde em muitos, ele é partícula de um corpo histórico- social.

Para ele, Foucault, a prática discursiva é um conjunto de regras anômicas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que se definem em certa época, em função de sensibilizar uma determinada área política, econômica, geográfica ou lingüística, expondo em si, o exercício da função social enunciativa.

A enunciação, é, para Bakhtin, "a verdadeira substância da língua": a síntese do processo da linguagem, o conceito chave para a compreensão dos processos lingüísticos. O ato individual, particularizado, de utilização de uma língua.

Para ele, Bakthin, a língua é uma atividade, um processo criativo, que vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta, no processo de evolução ininterrupto, demanda de evolução contínua, incessante, que se realiza pela interação verbal social dos locutores.

É no fluxo da interação verbal que a palavra se concretiza como signo ideológico, que se transforma e ganha diversos significados, de acordo com o contexto em que ela surge e o contexto em que ela é apreendida. Cada época e cada grupo social é um espelho que refrata o cotidiano das pessoas, das personagens da sociedade. A palavra é a revelação de um espaço no qual os valores fundamentais de uma certa sociedade, explicitam, conflituam e confundem-se.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 21/04/2010
Alterado em 09/07/2010


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