Textos

Miriã (Semente Para Seus Olhos)
Para ela ser escrava
Virou hábito aceitar
Chorar as mães vendo
Os filhos assassinados
Os gemidos dos parentes
Sob a chibata do feitor
O ruído ameaçador
Demencial, do exército
Do mal em seu encalço
Medo e horror fluíam
Na memória. Voltar a
Ser escrava, o trajeto
Inverso à promessa de
Liberdade. Agora o mar
Vermelho se fechava.
Muralhas de água
Afogavam as armas
Cavalos, corpos e carros
Do inimigo vencido pelas
Águas. Deixa sangrar! A
Hora é de dançar e chorar
De alegria. Miriã fecha os
Dedos na palma da mão
Olha os pés cansados da
Jornada e estala os artelhos
E dança próxima à Tenda
Da União. O tempo passou
Miriã se agastou. Esqueceu
De louvar O Libertador
Foliou na ingratidão. Teve
Ciúmes de Moisés, uniu-se
A Arão. Feridas abriram-se
Sobre a pele ansiosa da
Rejeição. Descobriu que o
Inimigo havia sobrevivido
Em seu coração. Clamou
À Força. Por sete dias
Ausentou-se das tendas
Moisés pediu por ela e seu
Corpo ficou são. Foram 4
Décadas de deserto. A fé
Moveu os pés sobre as
Sandálias. Venceu o cansaço
E a solidão sobre as areias
Do Saara. O dia de chegar
À Terra da Promissão estava
Próximo. Olhou de longe o
Lugar onde não poderia
Entrar. Cantou e dançou
Desse vez sozinha, como
Se não fosse parte da
Tenda da Reunião.
Ninguém notou seu
Desamparo. Seu olho
Zarolho manteve acesa a
Chama da transgressão
Teve forças para se manter
Humilde e agradecer o
Sofrimento indizível de sua
Última punição. Lembrou
Que também Moisés não
Poria os pés na Terra da
Promessa sob nenhuma
Condição. Onde houve
Esperança a paciência
Afirmou-se forma de
Profissão. A alegria
Necessária e fugidia vem
Na chuva do maná, na
Força da intenção
Miriã, Mulher de Areia
Há décadas nessa viagem
Nutre-se de espera. E ao
Finalmente visualizar
O Oásis, a imagem da terra
Próxima não passará de
Quimera, mera ilusão
Ter de perdê-la de vista
Como se fosse miragem
Como se fosse fábula
Ou bolinhas de sabão.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 20/04/2010


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