Transmemória Da História
Antes dos piratas descobrirem o Brasil
Pindorama havia descoberto a felicidade
As caravelhas nas caravelas navegavam
Ávidas em direção aos seios empinados
A pele morena das nativas, ingênua e nua
Corria em direção aos carrascos venéreos
A sífilis aportou na Terra da Sta. Cruz
As praias pululavam de Iracemas cor salmão
Apaixonadas, a fundirem-se com a ralé dos
Martins das galés portuguesas. Séculos mais tarde
O rei covarde migraria com a Corte novata
Malas-artes a fugir, rabo entre pernas
Do exército pequeno-burguês de Napoleão
A felicidade corada compartilhava a carne
Fresca das adolescentes das tribos com os
Habitantes do caramanchão pirata. Os
Bucaneiros haviam se lançado na aventura
Ambiciosa da suposta descoberta. Em busca do ouro
Abandonaram suas Marietas às margens do Tejo
Por sobre o mar salgado de suas lágrimas
Renunciaram às noivinhas viúvas que ficaram
A ver navios mesmo antes de casar. Chegados,
Navegavam a carne viçosa das meninas oferecidas
Madalenas caídas na terra venturosa do além-mar.
Antes dos tratantes aportarem às praias na terra solar
Os nativos haviam descoberto a bem-aventurança.
Seus fardos: o arco, a flecha e o tacape. Nada de carteira
Profissional, sindicatos, desemprego, Banco do Brasil
Nada do horror e da violência globalizadas das cidades
Viviam da arte da pesca, da caça, do canto do uirapuru
E dos gorjeios do sabiá. A história dos feitos da liberdade
Os heróis das tribos contavam em volta da fogueira
Exaltavam os guerreiros da ancestralidade sob o céu de anil
Os antepassados vinham fazer companhia aos filhos
Do sol, do trovão e da lua. Tupã, Iara, e a alegria
Ecoava em cada coração o júbilo inocente da oralidade
Sob a mata atlântica, cobertor natural das tribos. As crianças
Possuíam nada menos que as estrelas, as matas, os bosques
As palmeiras. Onde cantavam os sabiás. Pindorama havia
Descoberto a sorte, o sucesso, a igualdade, a fraternidade
A liberdade. Antes que os bois de piranha de
Portugal com suas caravelhas chegassem cantando fardos
Antes que o CO2, o efeito estufa, os hidrocarbonetos
O dióxido, o monóxido de carbono, a fuligem e as ondas
De rádio radioativas ganhassem as mentes para seus carros
Antes que o Ministério da Educação à Big-Brother
Tomasse conta das imagens de tvvisão. Até os Caetés
Canibais, que também gostavam de sardinhas
Que comeram o bispo português com farinha
Eram menos antropofágicos que uma rede de
“Fast-food” à MacDonald´s. Pindorama havia descoberto
A melhor fortuna antes que a sociedade anônima dos lobos
Colonizasse Porto Seguro, Santa Cruz, Cabrália. E a
Dominação das cidades de carne pelas armas de fogo
Dizimasse covardemente, passando a ferro e a fogo
As crianças, as mulheres, os adolescentes, os adultos,
Os idosos das nações tapuyas, pitiguaras, tabajaras
E outras muitas. A sede escatológica dos garimpeiros
De ouro chegada com as caravelhas produziram
A cultura musical do Axé que faz o júbilo dos “castores
Arreganhados” das Daniela Mercury, das Ivette Sangalo
Do chiclete com banana que exportam o carnaval da Bahia
Para o resto do país, alegria dos políticos fora de época
Fora de tudo que não seja o interesse burguês de manterem-se
Elegíveis para outro mandato no “pra lamento”. Enquanto os
Toninhos Safadezas, do alto andor de seus chiques apartamentos
(substitutos dos Sobrados das usinas de açúcar do Pelourinho)
Contemplam as gerações e gerações contaminadas pela sociologia
Das Casas Grandes & Senzalas. Os negros, cafuzos, brancos
Mulatos, morenos, caburés palacianos cantando as delícias
Do trabalho escravo dos severinos das periferias nos Mocambos.
E o país Bahia fazendo cantar e dançar e pulular
As micarinas das pessoas dominadas pelo trabalho escravo
Nas senzalas empresariais com carteira profissional assinada
Enquanto as mucambinhas de franginha da sociedade globalizada
Ensinam a pastar nas universidades que não ensinam nada
Sob a chibata dos salários minguados dos professores
Sob o açoite oportunista de seus ministros tropicalistas
Músicos d´África colonizada pelos senhorio branco das guias
Tecidas de contas de vidro, louça e missangas, made in
Península Ibérica, Holanda, França, Alemanha, América
E Bahia! Nas escolas se aprende a gramática para concursos
Públicos, o abc, a cartilha das academias para o mundo triste,
Casmurro, das meninas baianas, cada uma, tão legal, produto
Nacional tipo exportação, para o turismo do Axé, do lupanar
Do jeitinho brasileirinho que Deus, que Deus dá!
Cinco séculos depois os matadores de índios pacificam as
Gerações modernas com a musicalidade dos tios elétricos
Em nome dos exércitos de canibais filhinhos de papai
Da Capital Federal. Ah! Planalto Central, quanto de teu sal
Ainda são lágrimas de Portugal. A “alta cultura” de suas academias
De “ensino superior”, produto das travessuras “pra lamentares”
Dos “valores de Algarve” trazidos nas Caravelas institucionais
Da diplomacia do café com leite, do feijão com arroz
Os matadores de índios pacificam as novas gerações
Com a sífilis atualizada das hepatites de A a Z e as viroses
Tipo HIV. Tudo ao som da cultura nacional made in Brazil
Toda menina baiana tem um santo, oxalá, toda menina
Banana tem um jeito de “dançar”, que Deus deu, que Deus dá
Enquanto o Axé salvador deixa sangrar
O filho da dor de Iracema, mestiço nativo,
Numa parada de ônibus da Capital Federal
É queimado vivo para divertimento de moleques “chiques”
Filhinhos de papai, produtos da “educação” e da cultura
Nacionais, dos sites virtualizados pela nau Internet
Desumanizados pelo colonialismo educativo da globalização
Há cinco séculos as noivinhas à margem do Tejo
Ficaram viúvas sem casar. Seus olhos aos pares
Sozinhas
Sobraram, carpindo o horizonte longínquo do além-mar
Seus noivos embarcaram no mar, idos em direção
Às terras morenas, onde seriam pais de uma geração
De filhos da dor descendentes de Iracema
Filhos das mães baianas, das garotas de Ipanema
Que escaparam da sanha homicida de seus Martins
E de suas drogas, e que dançam e dançam parecendo
Felizes, todas atrizes das micarinas como se jamais
Quisessem pensar. Como se jamais quisessem parar.
De “dançar”.
Se parassem uma vez por mês para ler um livro...
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 19/04/2010