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CRIANÇA : História Meio Ao Contrário (I)
A literatura para crianças conduz à reflexão sobre o mercado consumidor de histórias infanto-juvenis. A história infantil não deve, presumo, ser carente de motivações ao desenvolvimento do pensamento progressista. As crianças e os jovens não são coisas totalmente independentes, sem vontade associativa própria, posicionadas à margem de seus direitos constitucionais, cívicos, políticos.

Nas histórias de Ana Maria Machado há a presença (da sugestão) literária à criança não como um ser marginalizado da vida e dos costumes políticos, mas como um ser integrado às demandas de grupos igualmente estigmatizados: índios, analfabetos, doentes mentais, excepcionais, e outros.

Suas personagens não são servis ao conhecimento e às perspectivas impostas pelas autoridades dominantes. Há relações de interdependência entre as políticas vigentes e a destinação das crianças em sociedade. As crianças de hoje serão os adultos do futuro. Os seres humanos estão em processo de transformação que nunca se interrompe ao longo da vida.

Esse ser humano, em todas as faixas etárias, está sempre precisando de educação, principalmente na infância. A percepção da criança é móvel, dependente das flutuações de comportamento ambiental, social, histórico. Suas demandas vêm sendo ignoradas há séculos, simplesmente porque ninguém, mas ninguém mesmo, falava por elas.

A representatividade do mundo da criança pelos adultos é um fenômeno social com pouco tempo de existência. Há uma dependência visceral entre comportamento natural e comportamento influenciado pelas motivações históricas. A criança é um ser social como qualquer outro. Ela possui dores, interrogações "filosóficas", nasce e cresce sob a "égide" da determinação de classe.

Há diferenças entre uma criança bem alimentada material e espiritualmente, e outra, subnutrida, carente de carinho, afeto, de atenções ao seu desenvolvimento. As histórias infantis, presumo, vêm suprir, em parte, essa lacuna, se é que ela pode ser suprida via mecanismo psicológico de compensação literária de deficiências reais e imaginárias. E a autora Ana Maria Machado é mestra na tentativa de conseguir resultados eficientes neste sentido.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 15/04/2010


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