Admirável Mundo Morto
“Irmão poderia chamar-lhe.
Mas irmão por quê?
A vida nova se nutre
De outros sais que não sabemos.”
(Drummond)
É divertido descobrir os pais. O país
Fácil brincar, mas cansativo
Fútil raça raiz
(forró, futebol, micarina,
alienação, insegurança e tv)
Delírio de memória
Fantasmas coletivos afins
De emergir no agora
Vidas de ontem
À base de Coca-Cola
Nostalgia, passado
Bioenergia presente
Antanho, longínquo tempo
Dos descendentes cromagnon
Sorrisos idos, emoções ausentes
Não mais verbos
Nem meias palavras
Felizmente não mais História
As canções de ninar
São via vídeo, tv, personagens
Entre uma e outra mercadoria imóvel e semovente
Para todo mundo ver e comprar
No intervalo comercial
O prêmio Nobel
E o professor Pardal, presentes
Na sala de jantar
Da terra à terra
Do pó ao pó, ciência pura, medida por medida
Ancho conforto, aplicado à sepultura
Da poltrona do “deixa estar”
Pessoas sem fabulação, sem vida própria
Sem mitologia pessoal, exceto à dos terreiros
De sábado à sexta
A mente coletiva, monitorada pela te-vê
Te-condiciona, te-faz-a-cabeça
Qualquer dia o frio mármore
A antena crucifixo
Fixa no silêncio de cimento dos edifícios
Implacável tempo. Poeira de gentes.
Pentelhando os derradeiros detalhes
Nos cabelos argenteados
A propriedade última do existir
Couraças de caráter feitas de argamassa
Portas estritamente fechadas
Mausoléus, propriedades
Bundas fixas nas poltronas
Na vaidade, na insegurança e no medo
Conta-gotas de cifrão
Pingam na mão
Do controle remoto da tv
Ávidos investidores de bugigangas
Rufiões de vermes
Corpos aderindo à fome voraz da necrópole
Internética: Os juizes, os jurados, os réus
A voracidade insaciável dos advogados do diabo
Boa parte do judiciário e suas evasivas de papel
Suas contas milionárias
Suas sentenças pagas pelas verdinhas
Caindo aos milhões das nuvens branquinhas
Do céu do narcotráfico
Matéria em transfusão, corpos nus
A corrente sangüínea
De seu Zé de Quinca
Fundindo-se à apatia dos tapurus
Sangue gélido da terra
Porvir imediato
Participação na realidade virtual
Do programa do Rato
Decomposição pessoal, social, instintiva
Metáforas. Moléculas inconsistentes
Futuro impossível, impassível, inexistente
Passado, presente porvir
Vã, inominável matéria, inaudita agonia
Parte dependente do Fantástico
De outros programas clássicos
Que o gramofone e as antenas parabólicas
Do Inconsciente coletivo propagou
Necessário estar desperto
Todo tempo, todo espaço, todo sempre
70, 80, 90, 99%
Com primazia de você
Novo tempo: Admirável Mundo Novo:
Táticas de sigilo, obstrução das mensagens
Técnicas de estilo, óbice
Das relações internacionais
Pela força bruta cromagnon
A guerra como a forma mais
Suave de diplomacia
Uso da força e da violência
Como o exemplo máximo
Da patologia dos líderes
De uma nação eleita a grande potência
Na disseminação do terror institucional
A ONU humilhada pela serpente monetária
Que faz prevalecer via força bruta
Sua vontade de dominação, e basta:
Países invadidos, como Hitler invadiria
Em nome de poucos interesses privados
Palavras armadas pela trama insana
Da patologia do grande capital
Que não quer paz social, dignidade pessoal
Seu interesse está em manter
As técnicas ilusórias da propaganda
Inibir a lealdade do sentimento oceânico
Em prol da paz. A humanidade gira em torno
Da tagarelice política para as câmaras de tv
Enquanto nas mesas redondas do poder
Conquistam o espaço e as cidades fedem
Nas fronteiras movediças de violência
A educação, a cultura, a saúde, os corações
O rei e a população de Nínive estão surdos
E as mentes sucateadas como coisas
O tvespectador permanece sentado, sem ação
Vendo seus interesses, via tv e companhia
Serem boicotados pela “elite” do Senado
Que o considera mera mercadoria
É preciso oxigenar a sala de jantar
Liberdade é trabalhar uma cultura livre
Dos interesses do mal universal globalizado
Novo tempo: Admirável Mundo Novo
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 07/04/2010
Alterado em 09/07/2010