Textos

Touro Herói
O touro ruminava capim
Enquanto também ruminava
O odor do pasto:

Minha mãe é uma vaca
Não aprendeu a ruminar racionalmente o tempo
Nem há mais tempo para isso

O mato mastigado mais lhe pesava no estômago
Rígido intestino de ruminante
O taurino estava sendo cevado
E tinha certeza disto:

Não tenho tutor
Qualquer pai é pai de todos os touros
A ruminalidade do rebanho é o coletivo rasto
Cada cabeça mija no mesmo pasto
Em conjunto. Que diferença faz?
Qualquer dia desses o carrasco
E a conta bancária do patrão
Vão engordar com minha carne
O destino do rebanho
Está por conta do carcereiro

Após assim ruminar
Os nervos do touro tremeram
De asco e de medo. Furtivo
Foi pastar na caatinga
Sertão adentro, algum tempo depois
Na jacuanga, aos olhos do touro
Os urubus mais pareciam girassóis
Amarelos, à Van Gogh
(ele gostava das artes plásticas
da paisagem plena da caatinga)

O patrão, os jagunços e os vaqueiros
Com suas casacas de couro
Encontraram-lhe: ossos sob o sol
Mas não puderam lhe digerir a carne

Quem sabe esse marruá foi para o céu
Matutou o vaqueiro:
“Que chifrudo mais que danado
Livrou-se de ser castrado
Como o pai
E de alimentar essa gente ruim.”
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 07/04/2010


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