Sou um cara ansioso. Pegar na mãozinha, bater papinho, conversar sobre o sexo dos anjos, nunca foi meu forte. Namorada para se dá bem, permita-se levar pela vontade de ir longe no primeiro impulso. Ela quer, eu quero, sem eufemismos. Quando começa a rolar um papo tipo:

— Hoje não dá.

— Não é o momento certo.

— Na próxima semana.

— O sinal está vermelho.

— O mundo não vai acabar hoje.

Sei, sem crise, não vai rolar. Os sensores libidinais atentos, mas os sentidos do bem-bom se aplacam. Do tesão progressivo para a suspensão do interesse, um passo. Falo em “off”, conforme a fêmea em pauta:

— Bom, estou te vendo na fissura, você não vai querer admitir. Fica tirando uma de que não está carente. De que passou por essa fase de transar na primeira de copas. Que está madura o suficiente para valorizar mais e melhor a emoção de um fuque-fuque.

— Transar, só se for num lance de maior compromisso.

Acontece vezes sem conta nos mais diversos contextos. Puta velha no lance, fico sabendo pelo cheiro, através do roçar dos pelos, os dedos sentem a pele dos braços, da perna, das coxas. Da nuca, as mãos circulam no tecido das roupas. Elas não vestem nadinha: tudo vibração, interatividade. Libido afirmando meu lado feminino, ela, fortalecendo o masculino. O Tao no caos: encenando, refletindo. Ela, casada. Mulher de amigo meu pra mim é homem. Não adianta o sinal estar vermelho se o instinto está bem blue. Verde.

Pelo olhar, pelos gestos, sabe-se ao certo a seqüência do que vai rolar. Aos poucos, aqui e ali um carinho mais afoito, motivações. Muitas vezes dá para mudar a direção, tirar do “freezer” a pedra de gelo do coração.


Pelo olhar, pelos gestos, sabe-se ao certo a seqüência do que vai rolar. Aos poucos, aqui e ali um carinho mais afoito, motivações. Muitas vezes dá para mudar a direção, tirar do “freezer” a pedra de gelo do coração.

— "Nossa senhora, me dê a mão".

Ela fica querendo. Tudo muda na seqüência, os pingos vermelhos na seda do absorvente, ficando mais raros. Aos poucos se aquece o fogo. Por vezes dá pra sentir a frieza aquecendo no contato. A intenção pétrea, morna, esquentando.

     — "Nossa senhora, me dê a mão. Cuida do meu coração... "

     — Vem Madalena, fica querendo. Tudo muda na seqüência, os pingos vermelhos na seda do absorvente, ficando mais raros. Aos poucos se aquece o fogo. Por vezes dá pra sentir a frieza na fogueira do contato. A intenção pétrea, morna, esquentando.

Hoje, ela quer um cara apenas para levar um lero, tanger a incômoda companhia da solidão. Desquitada, faz voltar a rotina das fluidas linhas de pensamento com as quais está habituada a acender a chama do ritmo das ilusões.

Deseja, talvez, apenas matar a saudade de outro namorado, de uma amizade que partiu. Trazer de volta, nem que seja por instantes, sentimentos longínquos, antes que se dispersem de vez. Antes que se diluam de todo, na memória.

     — Leva tempo. Energia é igual a massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz.

     — Não complica. Viche.

O luar na estrada solar. Linda, essa lua sob essa calcinha de nuvem. Baixo o olhar outra vez. Ela está a reviver sensações trazidas pelo segundo chopinho. A lembrar carícias que um dia a fizeram sonhar, entre um e outro copos de vinho. Euzinho nesse tempo nem existia. Pra ela.

     — Estou bem aqui. Mas a memória dela está longe. Algum ficante perdido nos neurônios. Eu, passatempo. Tô aprendendo.

Tudo bem, garota. Você quem sabe. Dialogo comigo como se fosse com ela. De qualquer forma, por telepatia, sei qual a direção da botique dela. Osmótica, o solvente de seus sais passam através do suor, da saliva da língua. Ela sabe segredos de liquidificador. Adivinha a química dos lêvedos a atuar. Agora, está mais na minha. Mas nunca vai ficar definitiva. Coração dela tem dono. Nasci para corno. Com toda certeza.

Mesmo que se desdobre em muitas, jamais vai acreditar, se quiser ficar a prevalecer na argumentação, que a mágica que ela imagina estar em curso, terá talvez perdido a razão de ser. Comigo.

Melhor mantê-la acreditando que não sei, de todo, qualé a dela. Que ela não está longe estando aqui, fazendo uso e abuso de minha proximidade e companhia. Essa coisa mútua. A promessa na cara dura, de abandono.

Baixam as nêgas, supostas fulôs, de toda espécie possível de truques femininos para transar, não transar, fazer rolar o desejo. Dionysios levemente presente. Desde o muito antigo estar naqueles dias, não vai rolar nada. Calma Bete, calma.

     —  Não tô afins, nem vem que não tem, amarrei um bode, você só pensa nisso. A argumentação é vasta:  

     —Sem camisinha não, ou “sinto falta de um envolvimento maior”.

Você está aqui, querida, o que vier venha naturalmente. Cada garota tem um transe diverso. A menina quase sempre prevalece fantasiada de mulher experiente, femme fatale: fome fatal.

     — "Vai que é tua, Deo". Penso de mim para comigo.

Normalmente dou força para que ela solte o transe. Está beleza essa fantasia, esse carnaval de sensações te faz bem? Voilá, voe, curta, afirme-se. Por mais pesada seja, és uma tênue ave numa pintura verde impressionista, uma personagem transparente de Renoir em caminho ascendente pelas altas ervas do amarelo. Minha santa dançarina de Can-Can. Não for rumo ao motel, vais voar pra seu quarto, isolar-se na areia úmida da solitude.

A impressão do olhar no retrato de uma jovem, pintada por Degas. Di Cavalcanti e suas mulatas da danação. Tonalidades subliminares  tecidas gemas de ovo, cor de ouro, topázio. Gemada. Por mais que tentes ocultar esse rosto sob o véu de Maya irreal dos cosmésticos, tua cor rosa choque tão mais nua, na aparência exposta da essência indissimulável.

      — Quem te oprime? O veneno natural da rotina, o transe diário do mundo? Xoxota é sempre bem vinda, com ou sem tpm. A gente sabe fazer de conta que se ama. Nosso compromisso, tesão da libido. Funciona? Infinito enquanto não paga mico.

     — Tô nessa não, cara.

     — Ainda com o Carlão no cocoruto? Não pergunto. Pode se fazer de ofendida.

As rufas e as rugas com o sexo oposto são mais numerosas do que se poderia imaginar. Lembro uma prima, toda fácil, aparentemente. Chegava-se oferecida, na horinha do dedinho, chega pra lá, onde já se viu, sai. Apresentado. Vou dizer pra tia... Queria uma besta para amarrar cabresto.

Algum tempo mais tarde, a mesma coisa. Mocinha, vinha com tudo o que tinha direito, enamorada. O chega mais dos aconchegos terminava num chega pra lá. A noção de sexo pecado, mesmo sendo cansativamente passada por uma mãe pseudo beata e um pai farsante, moral e fisicamente impotente, nunca me fazia a cabeça.

As priminhas mais novas sim, que maturidade. Sem crise. Na hora.

Tão fácil vê o que as gurias-família queriam no início da década de setenta. Como se expunham excessivamente em cada gesto, olhar, falar. Que poderiam querer, senão o compromisso do passarinho dentro da gaiola das loucademias de suposta sevícia.

Loucas para laçar o marmanjo que nelas apostasse canalizar todas as carências do se dar bem. Se dar bem para elas era amarrar o cabresto no pescoço do boi de piranha.

Aí eu falava no Sidartha do Herman Hess. Tergiversava. Minha mente não pode estar relax, completa e plena com essa carência remoendo as entranhas.

     —“Desse jeito não dá. Minha vingança era a Paissandu. Lá no puteiro sempre há uma perereca querendo apostar em mim”.

Segregado não tinha carro. Elas se chegavam aos fernandões, aos ricardões, como hoje se chegam as migrantes do interior aos seus chefes de cozinha nos magazines dos armazéns Paraíba.

É mais ou menos a mesma coisa no limiar do Terceiro Milênio. Imaginava que aquelas garotas passavam a noite e as madrugadas piscando, piscando, como estrelinhas distantes, as mãos no firmamento das calcinhas, a ponta dos dedinhos na fresta entre as coxas entreabertas, deitadas nas redes, nas camas, embaixo dos lençóis.

Nos bares, as coxinhas cruzadas, as perninhas no balanço vai e volta. Jogando basquete com a imaginação, tocando as cordas do grelo entrecoxas como quem não está nem aí.

Certamente queimavam a fita coimbrã, mas não com o pensar em mim.

Mendigavam sob as pálpebras que abriam e fechavam nos momentos solitários, “namoro sério”, um marido pelo amor de Cristo. Os otários para consorte. Os ricardões e os fernandões para fuder adoidado. Os estudiosos e “inteligentes” para sustentar o estômago. Do umbigo pra baixo vale tudo que satisfaça o desejo insaciável de melaço. O que caia na rede delas é peixe arraia. Arreganha peão. Que os tubarões estão se acasalando entre si. Estava sobrando arraia até para mim.

Arraias, peixes de fendas branquiais por debaixo das cabeças. Característica essa que as distinguem, peixes batóides, dos legítimos tubarões. As barbatanas peitorais e os espinhos venenosos na calda. Do ponto de vista filogenético são muito semelhantes aos tubarões. De tal forma que são incluídas na mesma subclasse. Entre arraias e tubarões a divisão é meramente morfológica.

Na burocracia pública são conhecidos como indivíduos que sempre obtem cargos rendosos. De há muito incrustrados nos cargos públicos de confiança para fazer girar a roda gigante da comilança das verbas públicas. As arraias também comem muito a carne tenra das crianças e da juventude que frequentam escolas que não ensinam.

Famílias de peixes que se movimentam nos aquários governamentais das secretarias de governo, protegidos entre si pelos telhados de vidro nos quais nunca se jogam pedra mutuamente. Para não quebrarem o mútuo encanto. Qualquer que seja o governo e o partido político da hora.

Eu era peixe miúdo que se recusava a ser ingerido pela boca dos tubarões e suas arraias de estimação. Eram não tão poucas que nem mais se resguardavam na aconchegança dos entre si. Iam em busca dos peixes mais miúdos que se engrassassem por suas estrias gordurosas e decadentes. Muitas delas na esperança de tirar vantagem da ambição dos peixes menores e de sua vontade de crescer entre os cardumes de tubarões sedentos de engordar as sinecuras de pai para filho. quadrilhas dos partidos políticos.

Dentre as raias, haviam as tiazinhas de saias longas que acabavam ficando, Deus do céu, Jesus Salvador, pra titias. Mas não tão virgens assim. Enquanto outras, as mais afoitas, embarcavam sem restrições em sinecuras matrimoniais na esperança de intenso comprometimento com estratégias políticas de dominação dos feudos, arrimos e conchavos entre parentes próximos com ramificações nos três poderes. Garantia de verbas públicas nas meias, nos bolsões, cuecões, paletós e contas bancárias, holerites de salários privilegiados pelas oligarquias dos partidos políticos entre parentes. Próximos e distantes.

O sexo incestuoso, mercadoria oferecida pelas arraias e tubarões a todo aquele ou aquela que esteja disposto ou disposta a vender-se às solicitações dos chefes na hierarquia das repartições públicas. O medo, o horror da desproteção. Garantia de continuar na dependência dos barões de uma incestuosidade sadomazoquista, onde a perversidade e as taras criam uma patologia social da mais intensa e contagiosa insanidade. Aceita por todos. Em sociedade.

A sedução das arraias enquanto arma, arapuca, prisão, panacéia para atrair e pegar passarinhos, pintainhos, canarinhos. E tubarões turistas. Eles também horrorizados com o fantasma da solidão. A perversidade coletiva, uma tara aceita por todos: o inconsciente coletivo da família, da igreja, da escola, da academia, do clube da esquina, da festa de aniversário, da colação de grau, do emprego. Tudo contaminado pela pela mão que lava a outra da danação pessoal e coletiva.

Todos se usam como se fossem ingênuos e sentimentais. E se casam, ficam a manter a cara metade atrelada à própria insanidade. Sem educação pertinente, a insanidade é contagiosa. O letramento me valeu enquanto mais valia de liberdade.

A coisa do sexo surgiu enquanto guri. Precoce, 8, 9 anos. Chegava-me à rede da doméstica, de madruga. A primeira vez foi surpresa e susto. O piu-piu pequeno, durinho. O corpo magro entre as coxas da vasta terra arável. Eu, com meu tratorzinho de brinquedo. Ela cedia, abria os joelhos, como quem não quer, querendo. Os olhos como quem dormia, fazendo-se distante do que acontecia. Pouco mais que um dedinho, desfazia-me na porta da cave graúda.

A coisa toda durava uns dez corridos minutos. Depois o tempo de convívio aumentando, a vocação pra rapidinho indo embora, mesmo com o medo de ser pego em flagrante. Os pingos como que de conta-gotas, quase não saíam. Uma coisinha de nada. Ela dava dois, três fungados prus lados como quem diz: é só isso, patrãozinho?

Euzinho saltava para fora da rede sorrateiramente, os ouvidos assuntando os passos da censura materna. Se um dos dois soldados, pseudo defensores dos dez mandamentos, me pegassem, mama ou papa, me fariam dormir com o couro quente.

Após as incursões do pirulito madrugador, sentia-me, primeiramente, corajoso e heróico: havia chegado tão próximo da lotus proibida, a ponto de nela fazer uma cosquinha. Sonhava um dia conseguir abrigar na abertura colossal daquela Madalena, morena à pintura de Di Cavalcanti, algo mais substancial que esse pepino irrisório. Num segundo momento contemplava mais realistamente a aventura noturna.

De manhã, no banho, olhava o brinquedo irrelevante a fazer xixi. Lembrava da planta deliciosamente carnívora, aberta no chega-mais de ontem a noite. A sensação que euzinho, todinho, poderia nela ter adentrado. Estaria com saudades do ambiente uterino materno? Sai fora Édipo.

A imaginação funcional: como é que a coisa toda poderia ser tão desproporcional? O vinco peludo daquele tamanho, euzim, piquininim, oh. E olhava, pegava, visualizava a enorme diferença, a matutar: como é que ela arranjou adega daquele tamanhão? Parece personagem do circo felliniano. Quanto mais pensava como tinha ela aberto aquele túnel, mais me decepcionava com as comparações.

Matutava o acabrunhamento da diferença. Uma enorme ansiedade por crescer. Desejava poder ter uma coisa que pudesse satisfazer aquela mulher do venhacá, não apenas ficar na satisfação menor do desejo. Como usufruir as maravilhas que por certo guardava a urna subterrânea, sem melhormente ficar dela íntimo, devido a diferença desproporcional: areia demais pra meu caminhãozinho.

Euzinho guri, ela uma fêmea adulta. Ser homem, isso sim é incrível: portador de um membro que pudesse penetrar esse talho e fazer uma mulher desse tamanho gemer de prazer. Que incríveis sensações ímpares viriam daí.

Puxa, estou certo: não há coisa melhor no mundo que ser adulto, ter mulher. Quando acontecesse crescer, a realidade da sensação humilhante do conta-gotas, das titiquinhas de pingos mínimos, agüinha rasa, cola na ponta dos dedos, substituída pelo legítimo nhéconhéco.

Dia seguinte imaginava-me com um pinto que fizesse frente àquele colosso de frincha, entrarsair  mais vezes. Romanticamente acreditava que a diferença antropomorfa devia fazer valer o hominídeo e o homem subsequente:

Gozar, gozar de verdade. Fazer tremer a mulher passou a ser obsessão. Um homem deve ter entrepernas alguma coisa mais substancial. Olhava com visível desprezo a coisinha com a qual urinava, sempre pra cima, pra valorizar o facho. As meninas não conseguem fazer deste jeito, o mijo delas sempre pra baixo, nunca desafia a gravidade. Saber isso, um bom começo.

A fase da masturbação chegou. Euzinho a caminho de euzão. Não outro o objetivo: ter um membro que justifique o gozo e a penetração numa mulher como a Constança Madá, era este o nome do Grand Canyon.

Os sonhos infantis povoados de tesão. Não de pecado. Para mim, pecar era não poder satisfazer a gruta telúrica daquela dimensão. Pecado e vergonha. Não poderia ser homem enquanto não conseguisse o palmo para fazer frente ao desafio. Começava a desfiar o fiozinho, e nada de querer crescer no ritmo da imaginação.

Ficava a cismar: que tipo de filho da mãe abriu os caminhos para dilatar aquela coisa. Restava-me a pesquisa nas brincadeirinhas de médico, examinar as menininhas, longe da vigilância paranóica de paizão e mama repressão. Por vezes não era fácil fazer a menininha baixar um pouco a calcinha para o doutor espiar o tamanho do talho.

     — Cinco bolinhas de gude e cinco figurinhas do álbum 20.000 léguas submarinas.

     — É pouco.

     — Pouco nada. Essas cinco aqui, oh, pode pegar, são muito difíceis de conseguir, valem ouro, você pode trocar por dez estampas, até mais.

     — E se a mãe vê? Não, não. Vou apanhar, ficar de castigo, ajoelhar no milho. Quero não.

     — Mas é só uma olhadinha rápida, um segundo, prometo, nem um minuto. Assim não dá, não brinco mais nunca com você, juro. Você quer tudo que eu tenho em troca de uma espiadinha rápida. Não vou pegar, juro, pode acreditar, só vou ver. Se quiser, oh, toma mais esse pato Donald. Anda logo antes que ela venha.

     —Então me dá logo. Jura que é depressa?

     —Juro por Deus. Ela em resposta: “Sei não, sei não”. Minha ansiedade e curiosidade aumentaram sobremaneira e a única coisa que achei para dizer:

—E todos os santos. Disse com grande convicção. E sinceridade inquestionável.

Ao levantar da cama, ansiosamente baixava o olhar para ver se o diabinho tinha crescido um pouco mais de ontem pra hoje. Nada. Consolava-me provisoriamente com a idéia de que criança é criança, não pode ter um pindurucalho que fizesse frente ao Constanção. Fico mais sociável. Nos lero-leros com a turma da esquina, o problema ganhou a atenção geral.

       — A coisa só cresce se você treinar, cara.

       — Se não usar vai atrofiar.

Doméstica do interior é tudo afolozada.

      — Isso aí, já passou pela mão de mil vagabundos.

      —A Nazaré lá de casa é novinha, parece virgem.

      —Vai nessa não, é só de cara, irmão.

Aquela frase de que se não usar vai atrofiar, perturbou. Invento uma história de dever de casa, corro para o dicionário. Atrofiar: causar atrofia, não deixar desenvolver, debilitar, tolher, acanhar. Esse pinguelo vai atrofiar não. E vamos que vamos com os exercícios de mão. Quanto mais avaliava, mais o resultado parecia pouco. Comecei a ficar deprimido. Então lembrei quão fechada era a pituquinha da Ritinha. Uma menina. Ahh, graças a Deus, eu não era atrofiado, era apenas um menino. O pinto pequeno, assim, normal.

Frequentei a rede de Constança até que ela foi embora, talvez não sem antes dedurar a migração pra dentro da rede dela. Depois, nunca houve doméstica igual. Daí em diante, mama marcou em cima. Acordava altas horas para me flagrar na façanha no quarto da empregada, bater, dá lição de moral. Ameaçar com as surras do pai. Castrador. Fundamentalista.

O puteiro foi a salvação da lavoura. Arcaica. Algum tempo depois, numa hora de xixi, senti orgulhoso a iscazinha ganhar ares de minhocão.

     — "Aumentando, mano, aumentando, ufa, já não era sem tempo. Mas ainda estava longe, anos-luz, de satisfazer o desafio da primeira paixão".

Rapazinho, começo a namorar uma garota da zona. Estudante, sem emprego, Durango Kid, saído do estilo de não ter namorada. Eu não tinha de pagar as trepadas. As vezes chegava no pedaço e a Lindalva no fuzuê. Tinha de esperar pela satisfação das vontades do freguês.

Ficava imaginando: que estará o fulano aprontando com a Linda? Ela aceitando os aconchegos, eu de castigo na mesa, biritando, quando em vez a coçar o desassossego. Ela vinha e dizia que só gozava comigo. Faço que acredito, talvez apostasse que eu era meio bobo. Tudo bem. Vida de corno não é fácil, “brother”. Maldita hora em que decidi namorar.