O Templo Da Rosa Alquímica (Controle Remoto Da Solidão)
Por que haveria de me satisfazer
Esse mundo rouco
de tanto apregoar mercadorias pela tvvisão ?
Viver é possível, quando a percepção
Coletiva, global, luta por cooptar
Minha mente como se fosse eu
Um inseto sem coração ?
As pessoas não são mais que moscas
Para os conglomerados de tvvisão
As pessoas da sala de jantar (a)traídas
Pela teia de raios catódicos do inconsciente
Pelas mercadorias que se transformam em lixão
De um para outro dia
Depois de consumidas como ração
Os esquizóforos domesticados
Voltam a comprar os produtos
Em oferta na programação
A luminosidade do vídeo receptor (a)trai
Como insetos em volta da luz
Do monitor de tvvisão
A boca maquiada da “talk-show”
Promove a alegria artificial
Das madonas de auditório
Impedidas de viver um mínimo júbilo
Uma miserável satisfação
Elas aplaudem e sorriem
As momices, trejeitos e visagens
das excitantes madames da tvvisão.
Alguém já reparou na infinita tristeza
Das garotas de auditório movidas a aplauso
E a ilusão? Elas não param de bater palmas
Mecânicas como um robô, alegres como uma dor
Clap-clap-clap-clap-clap-clap
As mãos festejam o mecanismo
Do aliciamento, devaneio e delírio
Da desordem da programação
Em poucos minutos seus olhos de fogo, abrem-se
Aflitos, derretem na chama da desilusão
Enquanto as pessoas da sala de jantar
Se reúnem como réus em volta da telinha
Olhos fixos na ratazana da programação
Iridescentes miudezas feéricas
Mantêm em custódia sua atenção
Você olha a telinha, como se houvesse chance
Remota possibilidade
De não alugar seus sentidos
A toda essa lavagem. Sentado na poltrona
Você se entrega e relaxa
Entretém-se e escracha
Como se pudesse, ao mesmo tempo,
Manter alguma mínima espiritualidade
Enquanto enche o coração e a mente
Com o peixe podre, febril e fedido
De toda essa banalidade
Vem fada madrinha, pega na minha mão
Conduz este filho do homem
Para algum horizonte distante
Não quero ser outro ratinho
Na boca desse cação
Leva-me para longe daqui
Que neste auditório há mais desatino e pranto
Que as pessoas da sala de jantar
Que também fazem parte dele
Possam compreender e carpir
Quanto mais você escancara os olhos
Mais os mantém fechados
E só quem ganha com isso são as
Sereias bufarinheiras, os ratinhos bem nutridos
As tetas gordinhas do sexteto
Os piratas das caravelas
Os negociantes de farinha atrás dos bastidores
Estão se lixando para suas necessidades e dores
Que eles vivem de as faturar
Clap-clap-clap-clap-clap-clap
Clap-clap-clap-clap-clap-clap
Você acompanha a música da programação
Você, que nunca pára de “dançar”.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 03/04/2010