Multimidia
Estou desinteressado
Em concursos e shows
Estou desinteressado
De suas filhas, de seus filhos
De seus desvios
E casuísmos padrões
Não estou interessado em seu dinheiro
Em sua política econômica
No "crash" flutuante das Bolsas
Estou desinteressado na desinteligência
De seus cosméticos e empregos
Na sua malebenevolência agônica
Como diria aquele ditado:
Melhor estar Jabôbo
Do que adversário do FHCPadrão
Como me interessar pelo cinema ?
Pela pasmaceira dessa dramaturgia ?
Pelos canais a cabo
Sua espectrometria ?
Como me interessar pela glosa
Dessa ideologia de insetos ?
Como dizia aquele cantor popular:
“Ideologia, eu quero uma pra fudê
Ideologia, eu quero uma pra fudê”
Não estou interessado na compra de um robô
Nem pelo capô do fusca da Xuxa
Na mecânica tântrica
Na ciência irracional
Nessa intolerância impune
da criminalidade global
Em comer hambúrguer de minhoca
Nas Sinagogas do McDonald’s
Nas taras e fardos
Dessa realidade inorgânica
Que o tchans da Carla Peres derrama
No banheiro das damas
Da emissora de tv
Não estou interessado nos discursos
Globalizados dos porquinhos colonizados
Como o queijo rói o rato
Estou desinteressado desses ídolos
Do descontrole remoto do charco
Estar no inferno é dose
No do Rio há, pelo menos, a paisagem
Em Sampa é a seco paradisíaco,
mormaço de amoníaco e CO2
Estou desinteressado desses modelos literários
Meu título de eleitor venceu
Meu carro foi roubado
Minha mulher faleceu
Nasci sem pai nem mãe
Dessas águas de março
Minha ex está com osteoporose
Como uma grávida
Estou nauseado da náusea
Estar desempregado desajuda
Minha quinta mulher morreu de aids
Estou de saco seco
De tanto jogar esperma na pia do banheiro
Da antropofagia dos anos de chumbo
Que devorou para sempre
A juventude desse país
Resta-me essa droga universal
Esse espelho global
A Internet no monitor do micro
Da cultura Homo sapiens/demens
Estou desinteressado
Da globalização cromagnon
Das patotinhas de saúvas
Da compulsão enganosa do marketing
Dos spas e suas musas adiposas
Por fim, estou de saco cheio
Desses ácaros no saco
Dos salões de automóveis
Da exploração gratuita
Da violência mórbida
Das fórmulas velozes
Dos vencedores a qualquer preço
Dos candidatos a frangogate
Todo esse divertimento
O mágico de Oz proporciona
Fórmula Um e tudo mais
Trush de latarias
A 360 km por hora
Visto de minha janela
O Gugu e o Faustão
Apanham de dez a zero
Da baixaria do alemão
Da FIA do Schummacher
Que fazer dessa necrose tv
Dessa metrópole de plástico
Dessa cloaca noctívaga, fogos artificiais
Dessa Vega da lata do luxo
Dessa métrica datada das latarias
A globalização do vômito
Animada pela xuxalização da criminalidade
Que futuro pode vir daí ?
Quem ganha com esse show topa tudo por dinheiro?
Com esse excesso de banalização ?
Com esse amanhã ao deus dará ?
Faz de conta que ainda é cedo
Pra fazer valer tua voz
Tua canção, tua lágrima popular
Teu futuro mil vezes adiado
Pra nunca mais
voltar
Semelhante ao desespero de Proust
"Em Busca do Tempo Perdido"
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 03/04/2010
Alterado em 03/04/2010