Textos

Senda Zen Vergonha
Eu sou você, hoje
Caminhando na chuva
Complex cidade e irreverência
Mitos e perigos de usuário
Da vida que a gente tem
Eu sou você hoje e amanhã
Na fila de emergência do INPS
De madrugada na calçada
Improviso, como um nômade do Ceasa
Uma tenda pra obter um crachá
Uma consulta para depois de 2012
Na feira da Previdência. Um dia
Depois do mundo ter acabado
Eu sou você, hoje, vexado
Os sonhos fluindo dentrededos
Em direção ao próximo milênio
Todas as bocas caladas pelo enredo
Todas as almas penadas no degredo
Pasmam com a conquista de Marte
No universo paralelo do próximo domingo
Entusiasmo de torcedor de futebol
Eu sou você, hoje, confederado
De frente para o crime semelhante ao
Peixe mordendo a isca no anzol
Nas esquinas e fronteiras
Combatente das encruzilhadas
Jogador de paraia, frescobol
Desarmado, acelero nas curvas
Tamburellos da 3ª Guerra Mundial
Protótipos invandem a sala de jantar
A 300 quilômetros por hora. Mais. Mas
Você fica no pó romântico e escatológico
Nem percebe que sua cabeça rola
Vendo os animais pastar na grama
Ganhando milhões de dólares
Para correr atrás de uma bola
Eu sou você, hoje, rola-jostas
O salário congelado, os preços altos
Defendendo-se de todo tipo de assalto
Comendo frango resfriado
Que o diabo, muito bravo, amassou
Nos conchavos entre o Planalto
E os deputados que o Judiciário mamou
Eu sou você, hoje, punido com Harry Potter
Na tela da TV. Vítima das excelências
No buraco negro da idade
Em direção à poeira do Tempo
Ao mausoléu da previdência
As esperanças o vento levou
Eu sou você, hoje, tenho de votar
E surfar nas trilhas da cidade
A cara de sertão do eleitor
Os olhos de peão, amanhã
No rio, senhor da 3ª Margem
A lua flutua sozinha, nua
Na noite transmantiqueira
Nesta cidade de carne, arde
Essa realidade de diversões e sorrisos
Do 1° de abril
Eu sou você, hoje
No carinho que se diluiu
Como um castelo de teias
À beira morna do rio
Seus ativos financeiros
Nos fios de cabelo
Nas imagens do filme noir
Afirmaram-se no continuum
As palavras do "velho de Restelo"
Vendo a telenovela na sala de jantar
Eu sou você hoje
A abrir os olhos para outro dia
Mesmo que este outro dia seja ontem
Nas bocas tagarelas
Das garotas banguelas
Que o vento da madrugada levou
Na programação tatibitate
Elas também vão ser atrizes de novela
Imitando aquelas donzelas nos motéis
Dos filmes pornôs
Via controle remoto
Chega enfim, o sábado sem fim
Porque hoje prossigo sendo você
Na pele fria do buraco negro da tv
Meu corpo sob o cobertor de elétrons
Protesta a falta de orgasmos reais
Vendo a programação do domingo
A próxima semana chegou
Os próximos sete dias estão aí
O tempo dilui-se, voa
Com sua licença, agora
O Peregrino precisa
Ganhar a segunda-feira
Vencer os medos inacreditáveis
As realidades intransitáveis
A Guerra-Fria pela sobrevivência
Como uma bomba de nêutrons
A realidade explode a cada passo
No salto alto das aparências
Bom ter em chamas este fósforo
Conduzindo este cigarro de feltro
Em direção ao fundo infinito do cinzeiro
Na grande Pirâmide da Banana
Vai começar a semana do senhor Neutro
Nem a favor nem muito pelo contrário
Correndo atrás do dinheiro
Meu filho, meu avô materno me dizia:
“O homem se mede é pela largueza dos chifres”
Outra vez apago esse cigarro
No cinzeiro fabricado de matéria lunar
Nessa seção da madrugada
Nas mucosas desse dia que nasce
Na manhã dessa 2ª feira solar.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 03/04/2010
Alterado em 08/06/2010


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