UMA ÁRVORE
Experimente falar com uma árvore
Não com palavras
Sinta a emoção de abraçá-la
Converse em silêncio com ela
Sobre sua transitoriedade
Ela dirá que o homem é um passageiro fugaz
Momentâneo, com uma vida de delírio por viver
Ouça-a infinitamente humilde lhe dizer
Ser parte do tempo que se alimenta do húmus
Do humor nem sempre compassivo
Da natureza do vento
Do sol, da luz lunar, das águas
Suas raízes sempre em contato com a terra
À árvore não sobra tempo para delirar
Se a avidez e a alienação do homem
Não prostrar a floresta para construir um túnel
Ou uma estrada, ela nunca vai parar de se dar
Em sombras, folhas, flores, frutos
Sua história nas atas diáfanas do vento
Registra por vezes certo pesar. Afinal esse
Animal, homem, não poupa nem os de sua espécie.
Suas folhas a ondular ao sabor da aura
Satisfeita, indiferente, transmite ao poeta
A transcendência e a harmonia
Que ele não sabia existir essa racionalidade
Na vida vegetal. Nesse abraço telúrico ouviu
A vida pulsar no coração do solo, da água, do ar
A soberba racional some
Ele a se aquecer na sombra solar da árvore
A mais antiga tenda que abrigou os homens
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 03/04/2010