Textos

Os Degraus Do Bandeirantes (As Vésperas Do IV° Reich) 8
DE VOLTA ÀS CAMPANHAS

Quércia publicou um desmentido no qual afirma não ser da mesma cepa dos empresários milionários que só se preocuparam em tirar vantagens pessoais durante os 21 anos de governo autoritário, sem se preocuparem com a vida e a saúde de seus milhares de empregados, explorados em regime de semiescravidão.

Em discurso na praça do conjunto habitacional COHAB 2, Quércia garantiu que a vitória do PMDB em São Paulo garantirá a continuidade do governo Romão Sarney, sobretudo do Plano Cruzado e de outras medidas de caráter social. Para o vice-governador mencionar a Reforma Agrária é uma espécie de tabu, assunto inconveniente talvez, desde que o uso do eufemismo tal como "medidas de caráter social", é prática de sua campanha.

O deputado Herbert Levy, candidato à reeleição pelo PSC acusou Quércia de corrupto, dizendo que não poucas vezes denunciou o atual vice-governador quando este assumiu a prefeitura de Campinas. "Ele era paupérrimo, e ao sair de lá ficou milionário". O deputado mostrou uma Xerox da 1ª página do jornal "Correio Brasiliense" de 18/05/77 com a manchete "Quércia é corrupto" e mesmo assim o candidato do PMDB nunca processou o jornal.

Contratos ilegais da Paulipetro, evasão de divisas, vícios e irregularidades de preços: cinco empresas estrangeiras trabalhavam sem contratos com a Paulipetro e não dispunham da autorização do governo federal para operar no Brasil. Assim governava Maluf. Segundo o relatório Lages, houve substituição de listas de preços fora dos parâmetros contratados, supressão ou aumento de vantagens após a contratação, artifícios jurídicos utilizados nos procedimentos licitatórios.

Artifícios jurídicos a exemplo da cotação de preço para certos equipamentos e a oferta de outros equipamentos a preço muito superior, mas que terminavam por seu comprados. Houve aumento desmesurado dos preços pelas comissões de licitação. A inexistência de procedimento licitatório sem justificativa aceitável está comprovada, assim como as negociações isoladas com apenas uma das licitantes.

Assim desgovernava Maluf a Paulipetro e São Paulo. Segundo o relatório do procurador Eduardo de Carvalho Lages durante o governo Paulo Maluf os contratos assinados com as empresas estrangeiras e suas subsidiárias nacionais foram todos ilegais e acabaram provocando sobrefaturamento e remessa disfarçada e ilegal de lucros para o exterior em fraudes fiscais e cambiais.

As empresas estrangeiras receberam pagamento por serviços que jamais poderiam agenciar. Infrações à legislação tributária e civil eram comuns. Verificou-se que 60% dos preços eram reajustados em função dos índices alienígenas e 40% através da conjugação de índices econômicos norte-americanos e da variação da taxa do dólar pelo Banco Central.

Os contratos eram feitos à base de 60% de participação estrangeira e 40% nacional.  Isto é o mesmo que dizer serem 100% dos preços atualizados à razão de 60% dos índices estrangeiros e 40% à razão dos índices nacionais. O Tribunal de Contas do Estado, através de investigação, levantou dados sobre irregularidades contidas em dezoito volumes sobre a gestão de um cidadão acima de qualquer suspeita que desgovernou São Paulo de 1979 a 1982.

Não satisfeito, Maluf gostaria de ser reeleito para repetir suas façanhas governamentais outra vez. É Brasil. É São Paulo 1986. Fosse um país civilizado, e não mais poderia ser candidato nem à vereança em Timon, Maranhão, ou em picos, no Piauí. Há algo de podre na política de Liliput. Enquanto essas verbas foram parar nos bolsos da quadrilha de Maluf, a educação brasileira no século XXI se atrela a uma contrafacção política fraudulenta liderada por em ex-presidente Analfabeto chamada Bolsa-Bufa.

Gastone Righi voltou à carga contra Quércia e afirmou que o vice-governador entregou títulos de "cidadão campineiro" a todos os ministros da ditaduta Médici. A solução é o Socialismo? Righi cita ainda conchavos do atual vice-governador com o ex-ministro do "arrocho salarial" Delfin Netto. Completou seu ataque a Quércia com a afirmação de que, quando Fernando Henrique era candidato a prefeito contra Jânio, fora por ele Quércia prejudicado em favor da candidatura do atual prefeito.

Não se pode desprezar a afirmação de Righi, quando é do conhecimento público a admiração subreptícia que Quércia não esconde e exerce em favor do ex-presidente Jânio Quadros. Vide apoio ao pedido de ingresso deste nas hostes do Partido, o PMDB.

HUMBERTO MESQUITA MOSTROU as atuais condições de um conjunto habitacional construído com paredes de gesso na gestão Maluf. Mesquita apontou a total insalubridade das casas hoje abandonadas pelos moradores, ao derrubar parte de uma parede com um simples esforço manual com as pontas dos dedos. Pressionando um dos lados de uma das casas do conjunto habitacional construído por Maluf, a parede veio abaixo. Considerando-se que Maluf, se eleito, prometeu construir 500 mil casas populares, é bom para a população carente de moradia que ele perca estas eleições e nunca mais ouse candidatar-se a governador de São Paulo.

O SNI, reconhecendo que todos os esforços conjugados no sentido de eleger empresário Antônio Ermírio estão sendo sistematicamente vencidos pelos resultados das pesquisas de opinião, da opinião do eleitor favorável a Quércia, reconheceu, desta vez, que o vice-governador poderá sair vencedor das eleições.

38% dos eleitores indecisos não votarão em nenhuma hipótese (felizmente), no candidato do PDS segundo a pesquisa Folha. Apenas 18% dos eleitores paulistanos escolheram candidatos para a Assembleia Legislativa. Ruth Escobar continua publicando anúncios de 1/4 de página no jornal Folha de São Paulo. Quanta verba hem dona Ruth? Pra deputada muito espaço, pra Constituinte nada. Êta política sem vergonha!.

Antônio Ermírio propagou a "passeata da dignidade" pretensamente organizada pelos trabalhadores das empresas do Grupo Votorantim, em anúncios de jornais que por certo não foram pagos pelos trabalhadores de suas empresas que teriam recebido algumas mordomias do grupo empresarial ermirista em troca da participação na passeata. Em resposta a este evento, a CUT e alguns sindicatos publicaram um anúncio de 1/4 de página onde se lê este texto:

"Durante os duros anos de arrocho salarial e de elevação do custo de vida,  os trabalhadores nunca viram nenhuma atitude de dignidade do Grupo Votorantim em garantir condições dignas de trabalho e salários justos. Ao contrário, impondo baixos salários e péssimas condições de trabalho, estas empresas sempre responderam às reivindicações com intolerância e intransigência. Na luta por melhores condições de vida e trabalho a sua resposta sempre foi a demissão sumária dos trabalhadores que almejavam dias melhores para si e suas famílias. Levar trabalhadores às ruas é legítimo para a democracia, a forma de fazê-lo e os seus objetivos é que questionamos. Utilizar o poder de pressão das chefias de forma coercitiva não é legítimo, não é digno, não é democrático. É, sobretudo, a repetição do coronelismo de triste memória".

É impressionante e vergonhoso que a classe trabalhadora representada pelos funcionários da Votorantin tenha prestado este serviço à campanha do empresário candidato do PTB. Milhares de trabalhadores de empresas do Grupo Votorantim saíram às ruas para promover a campanha de Antônio Ermírio. Quantas necessidades devem estar passando, quantas migalhas devem ter recebido em troca desta vergonhosa participação. Quanta falta de politização. Quanta carência de tudo, inclusive de um mínimo de respeito à própria classe, e àqueles milhares de trabalhadores diariamente oprimidos.

Esqueceram depressa àqueles que morreram intoxicados pelos gases poluentes da Nitro Química e àqueles trabalhadores vitimados pelos acidentes de trabalho. Quanta falta de classe da classe trabalhadora. Como esses representantes dessa classe se submetem  mansamente às determinações e pressões dos patrões. Uma vergonha maior da campanha, esta "passeata da (in)dignidade".

Anúncios de, praticamente, página inteira, foram publicados promovendo e canalizando os resultados da promoção ermirista em prol da campanha do empresário. Trabalhadores de São Paulo — Uni-vos!!! Mas não dessa forma.

A baixaria continua solta na campanha. Um jornalista foi covardemente agredido por um integrante da assessoria do candidato do PMDB quando cumpria sua missão de informar a opinião popular sobre os acontecimentos públicos pertinentes à campanha. Paulo César Nascimento disse ontem, dia 27 deste, que um assessor de Quércia, prenome Sérgio, atacou-o pelas costas, agredindo sua cabeça com um truculento tapa, após o vice-governador ter respondido à uma pergunta do repórter dizendo que, se tivesse comprado uma fazenda onde haveria criação de bovinos gordos, ele poderia dar uma procuração ao repórter para que ficasse com ela. O profissional de imprensa retrucou, afirmando que "não seria um bom criador de bois". Após ser xingado de "cretino", pelo candidato, em seguida sofreu a agressão covarde de seu segurança.

Os grupos industriais Eucatex Paulo Maluf e Votorantim Antônio Ermírio, que normalmente não figuram entre os duzentos maiores anunciantes nacionais, estão investindo maciçamente em mídias impressa e TVvisiva. São campanhas institucionais visando obter a simpatia do público eleitor em relação a seus acionistas titulares, os candidatos e empresários do PDS e do PTB.

O publicitário George Gebara da MPM propaganda, declarou que esta é a maior campanha já realizada pela Eucatex. Seu valor está estimado entre 15 a 20 milhões de cruzados. O TRE não estabelece a campanha do grupo Eucatex/Maluf como sendo uma mostra de abuso do poder econômico (da empresa) de cada candidato. O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo decidiu que o PCB não poderá fazer campanha em prol do candidato do PTB no espaço reservado ao partido no horário eleitoral gratuito no rádio e na TVvisão.

A deputada Escobar do PMDB, que é também uma importante peça política da campanha do PTB, continua veiculando anúncios de 1/4 de página na 1ª página no jornal a Folha de São Paulo onde aparece demagogicamente com uma filipeta negra, simulando a censura tapando-lhe a boca, como que lhe impedindo de falar asneiras. A julgar pelo investimento, deverá sua candidatura obter os votos necessários para sua eleição, que de eleitores ingênuos e palermas, este Estado é fértil e festivo.

O radialista e locutor esportivo Osmar Santos infringiu o artigo 347 do código eleitoral e está sujeito ao cumprimento de pena de até seis meses de detenção, ou ao pagamento da multa correspondente à infração. O radialista está sendo acusado de ter feito propaganda pró-candidato Antônio Ermírio do PTB, durante a transmissão do jogo de futebol entre São Paulo versus Sport Clube de Recife no dia 5 p.p. no Morumbi.

Quem diria Osmar Santos, animador dos comícios pelas Diretas já promovidos pelo PMDB, fazendo campanha pró-Antônio Ermírio de maneira subreptícia e ilegal. O dinheiro não mede terreiro. Compra todos, em todos os espaços. No comício de Rio Claro um ovo atingiu uma mulher e uma criança no palanque no momento em que Antônio Ermírio discursava. O empresário pediu que o responsável fosse localizado. Ao saber que fora uma criança, pediu que a soltassem e o incidente não teve outros desdobramentos.

Maluf, em anúncio que ocupa o espaço publicitário de quase uma página inteira de jornal, declara ao público que registrou compromisso de governo por escrituração pública. Sem comentários. Os eleitores descomprometidos com sua tutela política, sabem, "ad nauseam", que tipo de modelo de governo se pode deduzir que ele poderia fazer, se eleito fosse.


                    OS DEGRAUS
                             DO BANDEIRANTES
                              (As Vésperas do IVº Reich)

NOVEMBRO DE 1986

Ermírio começa novembro irritado e manda a eleição, lembrando Roberto Carlos em sua melhor e única fase, para o inferno. Um repórter perguntou ao empresário se não estaria preocupado com os reflexos de sua ausência no debate entre candidatos que poderia ser realizado no próximo dia 11. Apesar de ter sido programado apenas recentemente.

Ermírio respondeu ao jornalista dizendo: "Paciência, que vá para o inferno as eleições. Eu sou um homem, em primeiro lugar, e vou lutar até a última coisa pela minha honra". Afirmou também que só compareceria ao debate se fosse para quebrar a cara desses dois salafrários, referindo-se aos adversários Quércia e Maluf.

Jânio Quadros reforçou suas simpatias particulares pelo candidato do PMDB dizendo que "Quércia é um bom candidato e um bom amigo". A operação tática denominada "boca de uma" está proibida pelo TRE. A proibição desfavorece os candidatos do PMDB desde que esse partido conta com o mais expressivo número de militantes que, junto aos eleitores em 15 de novembro, buscam influenciá-lo favoravelmente na escolha de seus candidatos pertencentes aos quadros do Partido do Movimento Democrático Brasileiro.

Uma atitude do TRE flagrantemente favorável ao candidato do PTB, Antônio Ermírio, partido que não possui um "know-how de boca de urna", capaz de fazer frente aos experimentados militantes do PMDB. O TRE, voluntária ou involuntariamente, colaborou com o empresário, com sua candidatura, em todos os momentos da campanha. Colaborou mas não levou.

O ASSESSOR CARLOS Tavares, do deputado Paulo Maluf condicionou a presença do candidato (que não houve) do PDS no debate a uma retratação de Antônio Ermírio, que anteriormente afirmara que não compareceria ao debate para não ter de quebrar a cara de seus adversários. Tavares divulgou a opinião de que "nós estamos dispostos a participar de um debate civilizado e não de um pugilato".

Antônio Ermírio mostrou que a grafóloga, que avaliou sua personalidade tinha motivos para afirmar, com comprovada razão, que o empresário tem "pavio curto". Não fossem seus excessos de agressão verbal, dirigidos a seus opositores políticos nestas eleições e por certo suas possibilidades eleitorais estariam flutuando num nível bem mais alto do que os atuais níveis de popularidade eleitoral do empresário. Ele não se policiou de maneira competente e por causa disso e da falta de influência de seus assessores sobre o candidato, no concernente a esta deficiência, Antônio Ermírio restringiu suas chances de se eleger Governador  de São Paulo.

Uma personalidade autoritária, tende a reduzir suas possibilidades eleitorais devido à intimidação que exerce sobre seus colaboradores. Intimidados pela liderança autoritária eles tendem a restringir suas críticas, temendo uma reação temperamental de seu líder, que se posiciona distante e incontestável.

O repórter Celso Závio do "Diário-Popular" teve, como resposta de Ermírio à pergunta se seria desgastante sua presença no debate do dia 11, a ameaça de que, da próxima vez que o jornalista fizesse esta pergunta, teria sua barba arrancada por ele. Quanta truculência, caro empresário. Vossa senhoria é candidato a governador e não a lutador de boxe ou "luta livre".

Essa reação prova que Ermírio não possui condições emocionais para segurar a peteca de uma campanha desgastante e "infernal". Ele mesmo admitiu a veracidade desta afirmação quando afirmou: "Estou chegando ao final da campanha em forma física excelente, mas um pouco cansado do ponto de vista do equilíbrio nervoso".

Dr. Antônio Ermírio, permita-se a pergunta: se vossa senhoria não tinha pique para conter suas metamorfoses (de candidato a incrível Hulk), por que pagou tão caro sua participação na disputa pelo governo de São Paulo? Seu objetivo, com toda certeza possível, não era perder essa eleição, ou apenas tirar de Maluf a possibilidade de sair vencedor. O montante dos investimentos em sua campanha prova isto. Excesso de poder econômico de um lado, e de pusilanimidade emocional do outro.

O PFL apelou para a mesma estratégia eleitoral do prefeito Jânio Quadros quando sua campanha usou e abusou da argumentação anticomunista para ganhar os votos de parte do eleitorado paulistano. José Maria Marin acusa Fernando Henrique Cardoso de candidato comunista e anticristão, ignorando talvez que esta tática serve mais para a promoção popular do candidato ao Senado pelo PMDB. Essa não é uma forma eficaz de destratá-lo politicamente. Quanta falta de discernimento lógico. A direita também sabe ser imbecil.

Quércia, líder nas preferências do eleitor, adiantou à imprensa que se reserva o direito de pensar se vai ou não participar dos debates que seriam realizados no dia 11. Textualmente afirmou que "se um deles não for, é preciso pensar. Eu me reservo o direito de pensar".

Claro está que, antes de reservar para si de maneira egocêntrica e oportunista "o direito de pensar se vai ou não participar dos debates”, ele deveria pensar, primeiro, no imenso contingente eleitoral que gostaria de vê-lo e a seus adversários, defendendo suas plataformas de governo e suas ideias públicas de liderança partidária.

Ao fugir do debate ele enfraqueceu a possibilidade do mesmo se realizar. Quando um posicionamento político, realmente democrático, deveria levar em conta, em primeiro lugar, a intencionalidade de seus eleitores com relação à realização do debate. Uma personalidade autoritária e oportunista prevaleceu, em detrimento da perspectiva popular de vir a conhecer, melhor e mais objetivamente, a personalidade política de seus candidatos. Seria, este debate, na pior das hipóteses, uma oportunidade de ouro do candidato do PMDB reforçar a consciência dos eleitores no concernente ao debate Constituinte.                        

Enfim. Quércia é mais um político do que uma vocação para liderar emocionalmente seus eleitores e induzi-los a crer que ele poderia, pelo menos simular ser mais honesto do que os outros. Devido a suas simpatias pela figura carnavalesca e dantesca de Jânio Quadros é preferível que o vice-governador mantenha-se posicionado no mesmo nível de "qualidade política" de seus adversários.

Ninguém quer um Hitler para o Brasil. Nem nenhum simpatizante do presidente que renunciou à Presidência por se recusar a ser menos do que um ditador. Ermírio, por ser excessivamente temperamental, facilitou sobremaneira a vitória de Quércia nas urnas. O candidato do PMDB aproveitou, de forma maquiavélica (como se fora um repentista de cordel) as deixas ou as réplicas que o empresário dirigia a seus adversários. Um dos não poucos exemplos deste oportunismo do vice-governador está em que ele aproveitou a falta de controle do candidato do PTB para depreciá-lo, afirmando que "quem não tem condições de controle emocional não tem condições de ser governador de São Paulo". Não pouco eleitores concordaram com esta afirmação assim como com seu conteúdo de veracidade.

Maluf aproveitou a deixa do empresário para compor uma sonora resposta às ofensivas declarações ermiristas. Disse ele: parece que há candidatos que desejam voltar à idade da pedra, aos tempos medievais. Alegou ainda que "o povo merece respeito e deve querer algum tipo de retratação de alguns candidatos que, por desequilíbrio emocional, impedem à população de conhecer seu próprio programa de governo".

Segundo uma tríplice charge do humorista Glauco, publicada hoje, 5 de novembro, na Folha, as razões e motivações dos "Três Mosqueteiros" da Rainha Democracia, governada pelo rei Romão Sarney (para não participarem do debate organizado pela Folha/TV Globo/"Estado de S. Paulo") se resume nas paranóias de que seriam portadores "os Três Mosqueteiros" em duelo mental para conseguir ganhar as eleições de 15 de novembro.

Numa caricatura, o vice-governador aparece afirmando paranoicamente:

Quércia (vestido de temo e gravata convencionais) — Eu não vou porque tenho medo de falar abobrinha.

Ermírio (debatendo-se dentro de uma camisa de força) — Eu não vou porque   senão eu mato um.

Maluf (ovo podre quebrado sobre a cabeça) — Não vou porque não guento ovo podre.

Afora o humor "os Três Mosqueteiros" candidatos ao Bandeirantes resolvem, cada um, de si para consigo, desconsiderando completamente seus eleitores, evitar um contato mais intimo com esses eleitores, talvez envergonhados pelo desgaste moral que sofreram durante a campanha (quer tenham ou não se apercebido disto) e reforçariam esse desgaste em presença TVvisiva no dia 11. Eles deveriam ter vergonha de fazer campanhas ignorando os interesses políticos e Constituintes de seus eleitores.

O vexame político que significa suas imagens de candidatos profissionais, privilegiados, mostrando-se aos eleitores sem nenhum compromisso em longo prazo estabelecido, de modo claro e inequívoco, com as classes menos favorecidas pela política que representam de maneira tão incômoda e bufona. Macunaíma não faria melhor. Como afirma o dito popular, política é a arte de impedir as pessoas de participarem dos assuntos de seu interesse eleitoral. Pessoal e coletivo.

Nenhum deles (nem seus assessores) pensou em propor, aos adversários, um debate que não se caracterizasse pela candinhagem de suas atitudes pouco recomendáveis ao vídeo dos TVespectadores, os eleitores em 15 de novembro. Nenhum deles lembrou que poderiam usar o tempo disponível para divulgar o debate sobre a Constituinte. Nenhum deles cedeu à vaidade pessoal e ao egocentrismo patológico de suas personalidades autoritárias. Nenhum deles lembrou de defender os interesses das classes trabalhadoras (80% dos trabalhadores brasileiros ganham de 1 a 5 salários mínimos), em polêmica sobre a Constituinte.

Ao contrário, sempre buscaram a avacalhação e a esculhambação da imagem pública de seus adversários. A exemplo da fotografia de 1/4 de 1ª página que a Folha publicou na edição de 6 de novembro: Antônio Ermírio aparece fotografado em plano americano, segurando uma câmera no ombro direito e visualizando (sintomaticamente) através do olho direito, atrás da lente da câmera, as possíveis figuras de seus  adversários.

Na legenda da foto lê-se: "Estou procurando enquadrar o Maluf na rabeira, e o Quércia atrás das grades". Exemplos de oportunismos sobram: o Exmo. presidente José Romão Sarney declarou:

"Consultei um futurólogo e ele previu
que o Brasil só terá outro presidente
nordestino daqui a 1900 anos. Então,
acho que mereço ficar os seis anos".

É simplesmente acadêmico afirmar que o deboche é flagrante na política nacional, a exemplo da declaração de Quércia de que não comparecerá ao debate para não ter a cara quebrada por Antônio Ermírio que, por sua vez, não comparecerá ao debate para não ter de quebrar a cara de Quércia e de Maluf. É uma verdadeira baixaria cada um dos candidatos passando a peteca da responsabilidade de participar do debate via declarações de mútuas ameaças, covardia eleitoral e falta de mínima consideração para com os eleitores. Consideração que nunca têm enquanto candidatos e, depois de eleitos, nem falar.

A futurologia da médium particular de Romão Sarney, assim como o Babalorixá citado no Prefácio do Autor, erraram fragorosamente em suas previsões. Lula, nordestino, seria eleito Presidente da República. Mas, como a molecagem pontifica na política nacional, tudo não passou de brincadeirinha.

Antônio Ermírio disse não voltar atrás em sua decisão e que nenhum de seus adversários quer comparecer ao debate, mas nenhum deles tem a coragem de dizer: “eu não vou”. — Eles estavam esperando a minha decisão, alegou o empresário candidato do PTB, demonstrando desta forma, estar consciente de ter servido de "boi de piranha" para seus adversários. "Os Três Mosqueteiros" não mudaram o "slogan" de suas campanhas similares: "Um por todos e todos por um."

O CANDIDATO PAULO Maluf assumiu o deboche total, a demagogia em seus trezentos e sessenta graus, redonda, completa e repleta de promessas exorbitantes. Disse ele que, se eleito for, construirá nada menos do que, repitamos a informação, 500 mil casas populares. Nem que fossem de gesso deputado, seu governo conseguiria investir em 500 mil habitações populares.

O cronista político da Folha, Cláudio Abramo comentou: "Esta mentira é realmente merecedora de figurar no Guiness Book of Records”. Maluf pelo menos é sincero e faz questão de mostrar que seu estilo é o mais autêntico, válido e inserido no contexto da atual política habitacional brasileira: quando não de promessas, de casas de gesso cujas paredes  desabam ao toque de dedos.

Luís Gonzaga pai, fazendeiro e produtor rural prestou-se a campanha de Antônio Ermírio dirigida aos nordestinos que habitam São Paulo. O sanfoneiro é coerente com seu posicionamento político anterior quando apoiou o candidato Paulo Maluf contra Tancredo nas eleições biônicas para presidente da República, via colégio eleitoral.

A sexualidade ou (pseudo) homossexualidade dos adversários, fora também alvo de exploração da propaganda política. Antônio Ermírio pronunciando-se sobre duas fotografias de Orestes Quércia candidato, nas quais o vice-governador aparece com suas mãos em posição supostamente afeminadas, teceu comentários sobre as mesmas, afirmando que vai livrar São Paulo de políticos corruptos e safados e, numa referência a Maluf, comentou que o governo do ex-governador foi um "governo de muitas mãos".

Quércia, por sua vez, defende junto a Romão Sarney o confisco do gado, do boi gordo que os criadores escondem do abate, visando fazer prevalecer a política do boicote ao Plano Cruzado I (estratégia político-econômica da UDR).

O governador Franco Montoro buscando uma forma de minorar o vexame do não comparecimento de seu vice-governador ao debate declara hoje, para ser desmentido amanhã, que "claro que o Quércia irá ao debate mas, por razões óbvias, se os demais candidatos não aparecerem, não faz sentido sua presença isolada".

Política é isso ai: quanto mais embola, mais rola. Quem é da política sabe dar valor a toda espécie de malversação do verbo, a exemplo da declaração "a Aliança Democrática não sofreu nenhuma ruptura", frase das mais (ins)piradas do ministro Marco Maciel. Quem é "da política" ria e se divertia. Ernesto Zábato, escritor, diz que “o homem é propenso ao mal”. E os mais propensos são os que mais se candidatam. Ser ou não ser candidato, eis a questão que soa (e sua) um tanto quanto maniqueísta.

“Cada povo tem os políticos que merece”. Já vimos que não é bem assim. Porque se os políticos fossem exemplos de honestidade e respeito aos interesses sociais de seus eleitores, toda a gente brasileira também se daria ao respeito. Até por uma questão de empatia política natural. E de caráter.

Cada governante cria os governados que lhes são prezados. Há quem pense e divulgue que Antônio Ermírio terá os votos das classes médias urbanas, que já teriam se decidido por sua candidatura por serem mais informadas e acreditarem que, dos males, o pior deve ser evitado.

E o pior seria se qualquer dos candidatos, adversários do empresário, ganhassem a eleição para governador. Enganam-se os que pensam poder derrubar o prestigio do PMDB, e a simpatia popular de que desfrutam o Plano Cruzado I e o presidente Romão Sarney. Enganam-se os que imaginam que Quércia não será capaz de canalizar estes dividendos da política partidária aos argumentos da campanha, de maneira a poder nivelar seu discurso tatibitate, às conquistas da política econômica do ministro Dilson Funaro.

O cantor Roberto Carlos pediu a Deus que abençoe e ilumine os eleitores de São Paulo para que venham a escolher Antônio Ermírio. E que ele possa usufruir de mais mordomias do que as mordomias de que já desfruta. O eterno, enquanto dure, "namoradinho do Brasil" acredita mesmo em padrinho rico, ainda que dele não venha a precisar. Empresário e cantor milionários, amigos de fé, irmãos e camaradas. Mais é pornografia. Viva Zapata. Viva a titia. Viva o comício petebista da tradicional Vila Maria.

Ontem à tarde no largo do Rosário, centro de Campinas, Antônio Ermírio vituperou contra seu adversário do PMDB, o vice-governador Orestes Quércia, com palavras tais como: "gatuno", "desmunhecado" e "retardado mental".

Quércia, em resposta, anunciou que a apelação do candidato empresário seria resultante do sabor amargo da derrota que Ermírio estaria a sentir, e por isto mesmo começava a fornecer mais mostras de irritação quando, em seu discurso, não poucos eleitores começaram a gritar o nome de Quércia.

O empresário irritou-se e discursou dizendo que, quando o Plano Cruzado foi decretado, os ministros Dilson Funaro e João Sayad telefonaram, pedindo que ele, Ermírio, fosse a TV explicar as medidas à população e interrogou: "Porque esses homens do PMDB não telefonaram ao candidato do PMDB?"

E ele mesmo respondeu dizendo: "Não telefonaram porque ele é um ignorante, não sabe nada do Plano Cruzado, não passa de um retardado mental, tonto, de um homem que mantém um entrevero continuo, não com a matemática mas com a aritmética: é um despreparo, desonesto, gatuno, sem vergonha e, além do que, desmunhecado".

Após o discurso assoberbado de agressões verbais a seu oponente, candidato do PMDB, Roberto Carlos atacou (e por certo agradou) de pequeno trecho da música "Amigo de Fé". Irmão e camarada de Ermírio. Qual o preço de tanta "espontaneidade?".

Lula, no discurso de encerramento da campanha do PT que reuniu cerca de 23 mil pessoas na praça da Sé, afirmou que "a classe dominante tem medo de nós, e nos ataca, porque sabe que temos três coisas que lhe falta: moral, coerência e dignidade". Disse ainda que a classe trabalhadora vai, em breve, botar a burguesia para correr, e que não haverá democracia no Brasil enquanto houver crianças morrendo diariamente de fome. Já no século XXI ele esqueceu de mencionar que não haverá democracia com uma educação estilo Bolsa-Bufa ou com golpes brancos tipo Mensalão.


Antes do resultado consagrador que deverá ser creditado mais ao PMDB do que a seu candidato Quércia, este foi publicamente acusado de ter participado de transações imobiliárias visando o enriquecimento ilícito, durante o tempo em que esteve na liderança de posicionamentos políticos: vereador, prefeito, senador e vice-governador. "O Estado de S. Paulo" e o "Jornal da Tarde" publicaram a seguinte versão dos acontecimentos:

Na tentativa de se defender da acusação de ter feito uma venda simulada de 24 apartamentos pertencentes à Sol Invest Administração e Participações Ltda., empresa de Quércia, o vice-governador publicou matéria paga nos jornais, provando que o negócio com a Delfim S/A Crédito Imobiliário, havia sido lícito. Afirmam também que Quércia omitiu de seus desmentidos que os supostos compradores dos imóveis eram todos funcionários da própria Delfim.

"O Estado de S. Paulo" divulgou que o candidato Quércia também teria se "esquecido" de dizer que os cheques recebidos da Delfim, foram depositados na conta de outras empresas do grupo dirigido por Ronaldo Levinhson. O texto de reportagem do "O Estado de S. Paulo", jornal com claro posicionamento político pró-Ermírio, publicou fac-símile de declarações feitas por supostos "proprietários" dos apartamentos e dirigidas à Comissão de Inquérito do extinto BNH que, por decreto-lei do presidente Romão Sarney, não mais existe.

As declarações contêm informações dos supostos compradores que afirmam terem sido forçados a participar da simulação de venda, não conhecendo sequer a localização dos apartamentos.

Jânio Quadros, acredito eu, para mostrar que é um político e um profeta gagá, vaticinou a vitória de Maluf. Sabe-se que os cabos eleitorais simpatizantes da candidatura janista, que derrotou Fernando Henrique Cardoso, estão muito empenhados, em sua grande maioria, em fazer campanha eleitoral pró-coligação, PTB-PSC-PL favorável à eleição de Antônio Ermírio.

Os nomes tradicionalmente vinculados ao janismo (Raphael Baldacci, Gastone Righi, Fauze Carlos e Farabulini Jr.) estão em eufórica participação na campanha do empresário. Acrescente-se a todas estas evidências do apoio janista ao candidato do PTB, que "Tutu" Quadros, filha do prefeito e candidata à Câmara Federal, é partidária do empresário e candidata por seu partido.

Jânio prossegue com a política do ébrio que sempre lhe caracterizou. Sua finalidade é inequívoca: qualquer que seja o resultado das umas, ele, de maneira trôpega e maquiavélica, alegará participação no resultado final da eleição. Macunaíma, herói nacional sem nenhum caráter, não faria melhor.

No "comício da vitória" do PMDB estiveram presentes dezoito mil pessoas e Quércia garantiu que, uma vez eleito governador vai "representar as aspirações dos humildes e dos favelados de São Paulo". Dezessete mil pessoas estiveram presentes no "comício da dignidade", no qual foram fotografados, de mãos dadas, o candidato Antônio Ermírio e o cantor Roberto Carlos em saudação às milhares de pessoas presentes ao comício da praça Fortunato Silveira, em São Miguel Paulista.

Paulo Maluf, por sua vez, decidiu não comparecer ao comício-show de encerramento de sua campanha, talvez pela simples razão de ter, tardiamente, percebido a inutilidade deste seu último esforço de campanha quando, sem dúvida, o engenheiro, calculista e político do PDS, admitiu com sua ausência, que estava fora da corrida pelo Grande Prêmio Governador do Estado de São Paulo 1986.

800 pessoas, a mais ou a menos não fariam a menor diferença em 15 de novembro. E não mais do que oito centenas de malufistas compareceram ao comício, desprestigiados que foram pela ausência de seu líder.

A VITÓRIA DE Antônio Ermírio teria sido coerente com a simulação de democracia que a Nova República de Liliput quer manter vigente? O Brasil está sendo governado por um único partido vitorioso. A União Soviética, por exemplo, é governada por um único partido parlamentar, o Partido Comunista. Imitação da política do "grande irmão", ou apenas uma tendência do fisiologismo partidário à Orwell?

Não seria este um momento oportuno para o país fazer uma transição política pacífica e gradativa em direção a uma alternativa de socialização dos meios de produção? PMDB no poder significa uma política social efetiva de ascensão das classes trabalhadoras, ou a permanência do maquiavelismo tradicional de guerra? PMDB no poder quer dizer a realização das MUDANÇAS JÁ, ou um partido que vai ceder à política estranha ao governo que se elegeu em nome da Reforma Agrária?

Sabe-se que (nunca é demais repetir esse refrão) mais de oitenta por cento dos brasileiros não sabem o que significa Constituinte. É papel social do PMDB prestigiar seus eleitores plantando (via campanhas de publicidade que divulguem em todo o território nacional onde governa), a semente do interesse popular por sua organização política, em todos os segmentos sociais do eleitorado urbano e rural.

As mudanças que este partido poderá fazer pacificamente através do texto da lei, devem ser, de maneira enfática, incentivadas pelo governo das MUDANÇAS JÁ, em nome das quais a Nova República existe e/ou o PMDB também. Quem poderá impedi-los de governar as MUDANÇAS JÁ? Oo a política do SOCIALISMO JÁ?

A sabedoria política do PMDB deve representar a sabedoria do povo pelo qual foram eleitos seus candidatos e seus candidatos Constituintes. Depois das eleições, presume-se que os parlamentares peemedebistas, após garantidos seus empregos e as mordomias deles decorrentes, não sintam-se cansados e propensos a "dormir uma sonequinha" depois dos entreveros da eleição.

Afinal não foram eleitos parlamentares para continuarem a dormir em berço esplêndido. Foram eleitos para representarem a política das MUDANÇAS JÁ que todo o povo brasileiro está pagando (votando), pra vê e ver o PMDB gerir e governar. O PMDB é governo a partir da vontade e da voz do povo eleitor que é, segundo afirmam, "a voz de Deus".

Ulysses Guimarães mui discursivamente bradou: "pela primeira vez em nossa História será a Constituinte do homem..." Todos estão votando (pagando) pra vê e ver. Todos os que votaram nos candidatos do Partido do Movimento Democrático Brasileiro. Se os políticos são os instrumentos através dos quais o povo tenta se organizar, por que, após elegê-los, os políticos alegam dificuldades em fazer valer sua vontade popular, ou a vontade dos eleitores que representam? Eleitores, candidatos e governos, são extensões de si mesmos e não vontades agindo antipodamente. Contra o interesse público.

A Constituinte não deve ser nem um pouco ambígua, em defender e justificar a participação efetiva da sociedade e garantir sua influência no comando político da nação. A Constituição, pela 1ª vez uma Constituição do Homem (e não do “homem com agá”), segundo Ulysses Guimarães, o mitológico presidente da Câmara, do PMDB e do Congresso Constituinte: e Constituinte sem participação popular é xarope.

Um comentário de um jornalista anônimo transcrito ontem dia quinze, na página 2 da Folha, dizia que a rede Globo, e os candidatos Quércia e Ermírio, melaram o debate e não sem razão: o negócio da primeira é novela, o segundo seria uma obra de ficção política, e o terceiro pode ser substituído pelo incrível Hulk.

Tal debate poderia mesmo ter acontecido. O insigne anônimo ignorou que "uma obra de ficção política" (exceto se com referência a "1984") não poderia obter 36,1% dos votos das urnas de 15 de novembro. Resultado redondo fornecido pelo Tribunal Regional Eleitoral, após a apuração de todas as urnas.

Ermírio ficou em 23,7% das preferências de voto; Maluf somou 17,2%, Suplicy, 9,7% e Teotônio Simões, 1,6% da totalidade dos votos apurados. Os votos anulados e quejandos ficaram  na faixa dos 11,7%. Este foi o resultado final divulgado pelo TRE em São Paulo. A eleição não foi de ficção, e o candidato eleito por certo não advogará a política do "grande irmão", personagem central do romance de Orwell.



                        OS DEGRAUS
                    DO BANDEIRANTES
              (As Vésperas do IVº Reich)

O DIA SEGUINTE A ELEIÇÃO CONSTITUINTE
         (CONSTITUINTE NÃO É XAROPE)
              
“Na Comissão de Ordem Econômica da Assembleia Nacional Constituinte
venceu uma concepção de empresa nacional em tudo semelhante ao grupo mais conservador. Juntos no mesmo balaio: Roberto Campos, Delfim Netto, Afif Domingos, Roberto Cardoso Alves e mais dezoito constituintes do PMDB para produzir um texto que escancara o Brasil ao capital estrangeiro como nunca em nosso passado”.
Severo Gomes
(Brasil, Junho de 1987)
                                                                          

    
O DIA SEGUINTE À ELEIÇÃO CONSTITUINTE
            (PANORAMA APOCALÍPTICO)

O Governo Central xaropou as expectativas da população brasileira com o Plano Cruzado II. Presume-se que o PMDB não fora corresponsável e conivente com a equipe sob o comando de Funaro e Sayad, o Carequinha e o Fred da política econômica brasileira.

Não bastasse o boicote ostensivo dos produtores (de carne, refrigerantes, cerveja, frango, ovos, uísque) os preços, qualquer preço, aumentaram nada menos que, em média, 100%. Se alguém está pagando por este nome político do arrocho salarial camuflado, é o bolso do trabalhador.

O lugar mais importante do corpo está vazio, diria Delfin (o ministro do arrocho salarial). E os palhaços do Planalto estão querendo fazer crer que sua política é mais do que uma xaropada, um show para o programa dominical da Eliana no SBT.

O povão vem aceitando com benevolência cada vez menor o estar sendo imolado em nome de um governo que não governa em favor do povo, mas apenas em seu nome. A "massa crítica" poderá explodir com essa farsa econômica? Acredito que não.

A “massa crítica” já implodiu suas misérias. E de tanto ser boicotada em seus interesses sociais, está sem força moral para reagir aos desmandos daqueles que deveriam representá-la no Congresso.

O problema dessa sociedade, dessa civilização e dessa cultura é o extermínio deliberado das possibilidades de educação formal e saúde mental da brava gente brasileira. A racionalidade instrumental, burocrática da “elite” nacional, racista, colonialista e globalizada, não passa de um nazismo disfarçado em ambiente supostamente democrático. Republicano.

Esse mesmo modelo de nazismo que fora afirmado no século XX pela Inglaterra e a França através de seus processos de colonização de outros continentes. A mitologia ariana da raça superior fora afirmada pela antropologia da primeira metade do século XX.

A suposta racionalidade da colonização tecnológica ocidental via informática, via satélite, via mídias, via Internet, via celulares, está a serviço da afirmação da real superioridade financeira, econômica e cultural do único poder em voga: o poder do “Reich Dos Mil Banqueiros” que concentra a renda e sucateia perversamente os corações e as mentes da sociedade dita globalizada.

Esse sucateamento provoca o infortúnio do humanismo mais elementar ao fragilizar de maneira maquiavélica e nazista os corações e as mentes das pessoas globalizadas pela programação do senhor Mercado da sala de jantar.

A sociedade globalizada está sadicamente dominada pelas promessas de palanque e os discursos parlamentares de uma suposta democracia. As pessoas da sala de jantar estão  deteriorando-se em sua estrutura mental e física, colonizadas perversamente por uma programação TVvisiva que as desvaloriza e deprecia de maneira avassaladora.

A vassalagem mental daí decorrente não pode ser a semente de uma nova ordem social globalizada em longo prazo. Não há nela a mínima possibilidade de exercitar a solidariedade social. A única consequência disso será o arrasar os corações e as mentes submergindo-os nos interesses do “princípio econômico” de lucro financeiro do senhor Mercado.

As “elites” acreditam que esse projeto em longo prazo pode ser mantido. Mas elas próprias “elites” sabem que para manter as pressões por consumo indiscriminado sem que lhes seja dada (à brava gente globalizada) o mínimo retorno em qualidade de educação, saúde e em outros serviços básicos, gera a acumulação da frustração coletiva.

A irreversibilidade de uma revolta mundializada sem precedentes está em curso. No momento, em longo prazo. Mas, até quando esse longo prazo vai se estender? Isto porque os comedores de “bola” e seus “gols” não vão dar conta da imensa cultura de sucateamento mental homogeneizante que produz na “massa mídia” o efeito de saturação horizontalizada. Efeito cada vez mais de subtração da catarse.

É possível ao espírito humano coletivo aceitar ficar prisioneiro das restrições institucionais ao seu desenvolvimento em direção à saída da “Caverna de Platão”? As “elites” acreditam que a “massa crítica” nunca vai aspirar a sair desse círculo e circo vicioso da depreciação dos recursos naturais da mente e da vontade humana de ser mais do que uma lixeira da programação das mídias via satélite.

A Nova Ordem Mundial não é mais do que uma superinstituição de controle virulento das pessoas quando uma geração imensa da comunidade de indivíduos globalizados pela propaganda de consumo, despertar para uma reação global e irreversível contra esses mecanismos de controle PSI coletivos que agenciam impiedosamente o sucateamento de seus corações e de suas mentes.  

A violência em massa contra a violência dessa dominação perversa e militar dos recursos naturais do corpo e da mente humana será sem precedentes. E os recursos em armamento disponíveis nos arsenais das lojas de armas de última tecnologia, será um convite ao Armagedon proporcionado pela produção de armamento disponível.

  Então ter-se-á em cada rua, avenida, praça, parque das cidades globalizadas pela vontade pulsional do senhor Mercado, o combate à arrogância determinista das leis que zelam pela manutenção da tendência inconsciente da vontade de consumir.

Em cada esquina estarão em luta renhida os combatentes globalizados contra o inimigo milenar. Cada cruzamento de rua um desdobramento do Monte Meguido. Cada olhar de penitência uma bomba nuclear a explodir o espectro multiplicado do inimigo.

Acontecerá (está acontecendo) quando não houver mais nenhuma possibilidade de conciliação entre a vontade e os interesses de dominação globalizada dessa “elite” e daqueles corações e mentes sucateados perversamente pela mesma vontade de dominação que vem se estendendo desde as sociedades mais primitivas do paleolítico.

A inutilidade de qualquer tentativa de catarse nas mentalidades excitadas pelo terror e a impiedade com que foram tratadas pela cultura e a civilização do animal de pulsão antepassado e mítico, nascido das sagas nórdicas e disseminado nos campos de batalha em que cada sujeito anteriormente pacificado estará transtornado e transformado num soldado do Holocausto. Do genocídio definitivo.

Nesse contexto os políticos, afinal, não conseguirão mais roubar os recursos da sociedade, nem seu bem-estar, nem mentir. E o governo do povo, pelo povo e para o povo estará buscando-se nas ruas das cidades todas do Armagedon. E a precariedade da “massa crítica” terá afinal sua oportunidade de catarse. E de se redimir da passividade a que foram induzidas a aceitar e carpir por seus antepassados e seus cambalachos que não terão mais de engolir. Através dos séculos e milênios.  

E a inflação do fogo estará a arder em todos os corações e em todas as mentes. E a paisagem das cidades será, em todos os lugares, uma metáfora de Meguido.

ESTE LIVRO TERMINA ao reproduzir a frase de Hannah Arendt "não há esperança de sobrevivência humana sem homens dispostos a dizer o que acontece. Somente podemos confiar nas palavras enquanto temos certeza de que sua função é revelar. E não esconder".

Dizer o que acontece. Simplesmente dizer um pouco do muito mais que está acontecendo na política e na economia deste país. Se este livro serviu para isto, terá servido à finalidade para a qual está escrito.


OS DEGRAUS DO
BANDEIRANTES
(As Vésperas do IVº Reich)



POSFÁCIO

EM DEFESA DO DIREITO
À DEMOCRACIA


Que a sociedade se precavenha contra a ameaça de golpes, civis (Mensalão) ou militares, que visem se apoderar inconstitucionalissimamente dos poderes públicos: Executivo, Legislativo, Judiciário e Mídias.

Fica estabelecido que todo governo militar ou não, que não tenha sido eleito pelo voto popular, é inconstitucional. Fica estabelecido que haverá GREVE DE CONSUMO em todo território nacional se a sociedade civil for surpreendida por militares ou civis golpistas, que se apropriem do poder político sem o aval da população.

Neste contexto caso fica estabelecido a constitucionalidade do DIREITO À GREVE DE CONSUMO. A população civil não consumirá bens de diversão ou outros quaisquer, até ser restabelecida a ordem Constitucional, via votação popular, destinada a eleger representantes políticos legítimos e Constitucionais.

Enquanto isto, a desobediência civil passará a ser a lei vigente na sociedade e os golpistas, militares ou mensaleiros, terão de renunciar a seus privilégios inconstitucionais e se excluírem do quadro do poder político, para que haja eleição direta e legitima, com representantes políticos escolhidos pelos partidos e votados pela brava gente brasileira. E viva o povo brasileiro, na forma da lei Constitucional:

Art. 1º — O Congresso Nacional, através desta lei, assegura o direito irrestrito de greve de consumo ou de bens de produção, em todo o território nacional, nos casos em que se configure atentado, civil ou militar, contra o poder legalmente constituído.

§ 1º — A lei supra mencionada garantirá às associações de pessoas interessadas, participação nas decisões relativas às formas de bloqueio do consumo.

§ 2º — A decisão de bloquear o consumo terá caráter local, regional e nacional e não precisará ser submetida previamente à decisão popular através de plebiscito. Exceto se desta forma considerar pertinente fazê-lo.

§ 3º — Às organizações representativas da sociedade civil assegura-se o direito de pleitear em juízo a convocação do plebiscito, na hipótese expressa no parágrafo anterior.

Art. 2° — A população consumirá, durante o período de vigência do golpe civil ou militar, apenas papa de puba, frutas e legumes em quantidades mínimas.

§ 1° — Ninguém, durante esse período, ligará a TV ou se dirigirá a ambientes de consumo de mercadorias, tipo feiras e supermercados, shoppings, mercearias e outros, exceto para a aquisição de leite, açúcar e mel e ingredientes para esta finalidade de consumo de sobrevivência.

§ 2° — Esta forma de resistência pacífica perdurará até o momento em que a democracia seja restaurada na forma da lei Constitucional anterior ao golpe civil e/ou militar.

§ 3° — Ficam revogadas todas as disposições em contrário.


At.: os leitores com conhecimento de Direito Constitucional que quiserem aperfeiçoar esta lei estão solicitados a fazê-lo via e-mail deste Autor: master.news@zipmail.com.br
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 27/03/2013
Alterado em 05/11/2013


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