CONTEXTO HISTÓRICO: A transição do século XIX para o século XX foi marcada por revoluções que implicaram em transformações políticas, econômicas, sociais, culturais e artísticas, pela industrialização e desenvolvimento da tecnologia. Essa evolução proporcionou, à vida moderna, uma nova percepção da realidade sobre o modo de vida da sociedade.

Os artistas de vanguarda, através das várias correntes e estilos de renovação para a arte, tiveram como ponto de partida o impressionismo: a negação do uso das formas inteiriças dos objetos pintados, da perspectiva, do uso da luz e da sombra, do relevo, em oposição aos ensinamentos acadêmicos que transmitiam a utilização das composições clássicas.

A tendência cubista, precedida por Paul Cézanne em 1906, acreditava que todas as formas poderiam ser reduzidas às figuras geométricas perfeitas de cubos, cilindros e cones. A partir dessa influência Picasso começa a pintar ângulos e tempo, preservando o plano bidimensional (largura e altura) do impressionismo. Ele posicionava os lados de um objeto, sobrepondo-os à visão do observador, sob uma perspectiva na qual o pintor expunha todas as partes do mesmo, simultaneamente.

O Cubismo pode ser definido como um estilo de fragmentação dos objetos, até esses ficarem irreconhecíveis aos observadores, recebendo essa denominação dos críticos de arte que, ao observarem as obras, não conseguiam identificar, realmente, os objetos pintados sob as formas geométricas dos mencionados cones, cubos e cilindros.

Em 1907 iniciou-se o Cubismo a partir da primavera de 1907, a partir da obra de Pablo Picasso, "Les Demoiselles d´Avignon". Considerado o 1° grande movimento nas artes do século XX, mostrava o rompimento com os padrões aceitos da arte convencional renascentista. O artista não mais se preocupava com o ponto de fuga do qual partiam os planos da tela, nem com a cor, a ênfase nos ângulos e formas. Picasso e Braque pintavam seus objetos pictóricos em cubos cezannianos.

As três etapas do Cubismo: (1) O Cubismo primitivo (1907-1910) representado pelo quadro "Les Demoiselles d´Avignon". O estilo cubista se caracterizou pela redução às formas geométricas dos objetos pintados: casas sem portas, janelas ou pessoas, telas nas quais aparecem uma mão, ou apenas um olho. As cores principais eram o ocre, o marrom e o verde tendo por função a remodelação das formas.

(2) O Cubismo Analítico (1910-1913), apresenta a fragmentação de objetos simples, tais como guitarras, violinos, cabeças, figuras, entre outras. Os objetos fragmentados eram apresentados de diversos pontos de vista, numa perspectiva indefinida.

(3) O Cubismo Sintético (a partir de 1913), nele são utilizadas colagens de papéis diversos, jornais, folhas de livros, encadernações, papéis de parede. Há um grande interesse por texturas e materiais com cores que se afirmam com mais vivacidade. Volume e espaço são insinuados com minúsculos e leves traços sombreados. Não há procedimento imitativo.

CARACTERÍSTICAS
Representa os objetos selecionados em cubos como se fossem cristais. Geometriza formas e volumes, renuncia à perspectiva clássica; o claro-escuro não possui mais função pictórica. Na poesia, o advento do poema-pílula, do poema-piada. A linguagem é cotidiana, em ?flashes? cinematográficos. Na pintura, a utilização da arte primitiva africana; exposição dos objetos revelados em todos os seus ângulos num mesmo plano; sensação transmitida pelos quadros de uma pintura escultórica; uso de cores do branco ao negro, passando pelo cinza: o cubismo resgata a espontaneidade do ato de pintar.

VIGÊNCIA
A pintura cubista começou a declinar com o advento da I Grande Guerra. Centrado na liberdade, segundo Picasso, "o trabalho do artista não é cópia nem ilustração do mundo real, mas um acréscimo novo e autônomo". A arte enquanto a manifestação de uma "irrealidade" mais realista que o mundo real.

ANTECESSOR
O Fovismo antecede o Cubismo. Movimento surgido na França em princípios do século XX, caracterizava-se pela simplificação das formas e pela valorização da cor, que realçava os aspectos plásticos da obra, sem a preocupação de fidelidade ao mundo real ou a valores emocionais.

O movimento cubista possuía uma coerência estilística que faltou ao Fovismo. Muito depois dos artistas terem abandonado ou variado o estilo, o Cubismo persiste enquanto influência marcante na arquitetura e também nas artes decorativas do novo século. As conseqüências de um ato institucional de percepção, foram e continuam sendo incalculáveis.

INFLUÊNCIA MARCANTE
A principal influência revelada em "Les Demoiselles d´Avignon", como afirmado anteriormente, deveu-se a Cézanne. Picasso, como a maioria dos prodígios artísticos, era um eclético errante nas fases iniciais de seu desenvolvimento. Manifestaram-se influências de muitas fontes em sua obra:

A arte romântica de sua Catalunha natal, a arte gótica, a pintura espanhola quinhentista (em particular a obra de El Greco), finalmente, seus predecessores imediatos, a exemplo de Toulouse-Lautrec, dos Fauves, com quem mantivera contato quando de sua primeira estadia em Paris. Eram influências esporádicas e superficiais, ao contrário da de Cézanne, profunda, definitiva e permanente.

Os quadros de Cézanne expostos nos Salões de Outono de 1904 e 1905, e novamente no Salão de 1906, tinham suscitado críticas e a admiração geral. Em 1907, numa exposição retrospectiva, "in memoriam", de 56 telas, do agora reverenciado Mestre de Aix, encontrava-se Picasso, que havia presenciado suas outras exposições, a exemplo dos quadros de Cézanne expostos na galeria de Vollard.

Se compararmos a composição de "Les Demoiselles d´Avignon" com as numerosas Banhistas de Cézanne, a derivação do grupo é logo identificada. A diferença é que a estrutura piramidal de Cézanne fora substituída por paralelas verticais, enquanto a pose de algumas figuras individuais é idêntica.

No quadro completo aparecem inovações para as quais inexistem paralelo nas Banhistas de Cézanne, notadamente a geometrização das figuras de contornos bem marcados, e as dobras dos panejamentos contra os quais "Les Demoiselles d´Avignon" se exibem.

"Les Demoiselles d´Avignon" contém elementos de geometrização que se fundem nos mesmos elementos estilísticos do Cubismo, mas não era, ainda, uma pintura cubista. Os dois anos que separam a primavera de 1907, e o verão de 1909, quando passou algum tempo em Horta del Ebro, na Espanha, foram para Picasso um período de intensa revisão.